Ao contrário das classes anteriores de animais, aves e mamíferos, os répteis não despertam tanto interesse. Na verdade, eles são considerados seres rastejantes, escamosos, asquerosos, horrorosos, desprezíveis, amaldiçoados, etc., etc. Por isso, existe até uma fobia específica para este tipo de criatura, a tal da herpetofobia.
Estas "coisas" também não são complicadas de se classificar, aparentemente, quanto as aves, com quem tem um laço em comum: os dinossauros deram origem a elas, embora muitos ainda não engulam essa.
Contudo, vamos nos ater aos répteis atuais. Os únicos aparentados com os referidos dinos são os crocodilianos, como os crocodilos sempre mostrados como comedores de gente e dotados daquela técnica especial de lidar com suas presas, chamadas de "giro da morte". Eles são da família Crocodilidae, enquanto que os jacarés, bem menos poderosos, e os aligatores, estes também capazes de incluir um humano no cardápio, são os aligatoridae. Não há muito drama nessa classificação. Drama mesmo é se encontrar com essas verdadeiras feras, que se mantiveram mais ou menos parecidas desde o fim do Cretáceo, ou seja, quando os dinossauros ainda reinavam. Apesar de parecerem mais primitivos que os dinos, por andarem de rasto enquanto os outros eram, muitas vezes, bípedes e corredores, eles conseguiram de alguma forma se esconder enquanto o asteroide dava cabo de seus "aparentados" famosos. Na verdade, não tão aparentados assim, pois eles são do grupo dos Pseudosuchia, um nome bem esquisito, ainda mais porque, traduzindo, seria "falso crocodilo", uma contradição evidente. Enquanto isso, os dinos, seus "descendentes" penosos e bicudos, e os pterossauros, formavam outro grupo, os Avemetatarsalia.
Lagartos e serpentes são os Squamata, ou escamados. As serpentes, os mais odiados de todos os répteis, por causa da má reputação vinda desde a Bíblia, ocupa apenas uma das subordens de escamados, dentro do grupo Toxicofera, ou os produtores (em potencial) de veneno. Segundo os herpetólogos, ou seja, os estudiosos de seres rastejantes, quanto mais evoluída a serpente, mais ela tende a ser peçonhanta, e as mais evoluídas estariam na família Viperidae, a das víboras, cascaveis, surucucus, jararacas, urutus e outros nomes empregados para xingar alguém. Mas em geral essas serpentes não querem saber de briga, e só dão o bote para se defender. E quando fazem isso, usam seus dentes muito eficientes, a tal da dentição solenóglifa, ou de dentes com canal, para injetar a peçonha. As najas e as corais (Elapidae) não têm um sistema não eficiente, pois suas presas são pequenas, típicas da dentição proteróglifa, mas tentam compensar isso com veneno mais forte e letal; boa parte delas têm cabeça redonda, olhos grandes e cauda comprida, para mostrar o quanto algumas das velhas cartilhas são uma furada neste ponto, pois só consideram as cobras parecidas com as víboras europeias como perigosas. Cabeça triangular e olhos pequenos são características também das cobras mais primitivas, dentro das famílias Pythonidae (pítons, cobras capazes de crescer a mais de 10 m) e Boidae (as sucuris e as jibóias), todas sem veneno e dentes usados só para morder, sendo áglifas. Outro grupo intermediário, este mais complicado de classificar, é o dos Colubridae, aquelas cobras que podem ser ou não perigosas, por terem uma glândula de líquido digestivo para injetar nas vítimas, a tal da "glândula de Duvernoy", com suas presas no fundo da boca, tendo uma dentição opistóglifa (esta é a última palavra grega terminada em -glifa no artigo). Uns falam de uma família em separado, os Dipsadidae, onde estão a cobra-cipó e a muçurana, a cobra que come cobra. O Google e a Wikipedia não se dão ao trabalho de explicar o porque disso, pois só os herpetólogos têm coragem de estudar as diferenças entre os Colubridae e os Dipsadidae.
Ainda dentre os escamados, existem uns animaizinhos parecidos com minhocas, as "cobras-de-duas-cabeças", mas elas ficam no grupo dos Anfisbenidae. Esses bichos não despertam muito interesse, a não ser para quem tem problemas com saúvas, pois essas criaturas inofensivas gostam de se enfiar em locais bem escondidos e protegidos, como os sauveiros.
O resto dos escamados são todos lagartos, mesmo aquelas coisas esquisitas sem patas, as "cobras de vidro", da família Anguidae, seres que costumam piscar (não é picar, é piscar mesmo, pois eles têm pálpebras) e soltar a cauda, como os lagartos "normais" fazem.
E as tartarugas? Elas ficam num grupo separado, o dos Chelonia, ou quelônios (do grego Chelone, tartaruga), cujos antepassados se separaram do grupo dos arcossauros no meio do Triássico, quando nem os dinossauros existiram ainda. As cascudinhas, no entanto, só apareceram bem mais tarde, quando os dinos já reinavam sobre a Terra. A lentidão dessas criaturas calmas e já com a "casa embutida", como se diz popularmente, é mais própria dos jabutis (Testudinidae), que passaram a viver na Terra após a extinção dos dinossauros. Os outros grupos de quelônios preferem viver no mar ou nos rios (os cágados), onde são até bastante rápidas para escapar dos perigos.
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Esta serpente, a Oxybelis brevirostris, parece estar sorrindo forçado tentando achar graça deste artigo. Ela é um réptil escamado colubrídeo opistóglifo (mas considerado inofensivo) |