sábado, 31 de março de 2012

Da série 'Oitentolatria', parte 11 - Carros da década de 1980

Muitos se queixam dos carros atuais, mal acabados, carissimos, sem personalidade. E ao mesmo tempo falam bem dos carros de décadas passadas. Uma das épocas mais citadas foram - sempre eles - os anos 80. 

Fala-se bem de alguns carros dessa década. Mas como não existe época perfeita, pois para falar a verdade isso nunca existiu no Brasil, veremos o que se fala em confronto com alguns aspectos não muito edificantes das máquinas construídas naqueles tempos. 


1. Volkswagen Santana (fabricado entre 1984 e 2006)


O mais luxuoso carro da Volkswagen, em versão GLS 1989 (fotos: De Gennaro Motors Matérias)

O que dizem os fâs:
 - foi o melhor carro brasileiro, conciliava luxo, conforto e robustez;
- primeiro automóvel brasileiro a receber ABS (isso foi em 1991, já na década de 90);
- era o carro mais sofisticado da época, principalmente na versão mais cara. 

O que eles não dizem: 
- o carro foi o Passat da segunda geração, fracassado na Alemanha;
- sua concepção já antiga o impediu de receber outros avanços em segurança como air-bags, e mesmo assim ele foi fabricado por longos 22 anos;
- era muito caro, a ponto de seu preço, na época em que recebeu um motor mais forte (2.0, em maio de 1988), ser suficiente para comprar uma casa;
- tinha problemas de acabamento, embora o revestimento fosse caprichado (o que era obrigação para um carro tão difícil de adquirir).

Considerações
Era realmente um carro robusto, aliás, para aguentar as estradas da época precisava mesmo ser. Confiável e de ótimo desempenho com motor 2.0. Ficou bem envelhecido e precisou de uma reestilização em 1991; mesmo assim, diante dos carros importados e mesmo de alguns nacionais, continuou a ser um automóvel ultrapassado. Por sua resistência e conforto, porém, ficou em produção por mais de 20 anos, sendo um dos carros com maior tempo de produção, superado apenas pelo Opala e por carros pequenos como o Volkswagen Fusca e o Fiat Uno, além do Volkswagen Gol, que passou por duas remodelações radicais em 1994 e 2008. Tinha uma versão perua igualmente desejada na época, a Santana Quantum, versão da perua Passat Variant européia. O Santana foi um sucesso, mas devido ao nosso mercado de baixo poder aquisitivo, foi o único Volkswagen de luxo fabricado aqui.


2. Fiat Uno (fabricado desde 1984)


 O ainda hoje fabricado Fiat Uno em 1984 (acima) e em 2005 (abaixo); ele é vendido com o nome de Mille

O que dizem os fãs: 
- pequeno por fora e grande por dentro;
- resistente, avançado para a época, muito econômico;
- foi um primor por ser lançado na Itália em 1983, para vir a ser fabricado no Brasil no ano seguinte.

O que eles não dizem:
- o Uno tinha problemas de acabamento muito sérios, como constatados nos testes de longa duração das revistas especializadas - e ainda tem;
- o câmbio era terrivelmente duro e quebrava com facilidade;
- a suspensão dura deixava o carro tão desconfortável quanto o concorrente Fusca (40 cm maior porém muito mais apertado);
- as peças eram caras;
- seu formato o fez receber o apelido de "bota ortopédica";
- era avançado para a época, mas aos 28 anos já é uma velharia, pois suas reestilizações são meras maquiagens, e uma delas, em 2004, o tornou ainda mais feio;
- mudou de nome oficialmente para Mille, convivendo com um outro carro chamado de Uno, lançado em 2010, que não vende tão bem; os dois juntos ainda ficam atrás do Gol nas vendas;
- boas soluções de ergonomia traziam comodidade, mas a falta de equipamentos era estarrecedora; somente o Uno 1.5 R, a versão esportiva, podia contar com vidros elétricos e ar-condicionado, mas eram opcionais caros para a época e nem sempre funcionavam direito;
- o motor das versões comuns da época era um 1.3 fraquíssimo cujo barulho era forte e irritante;
- o Uno 1.5 R andava bem, mas seu motor, além de barulhento, tinha problemas de sobreaquecimento; ainda por cima, esta versão era muito cara e não tinha rádio nem mesmo como opcional.

Considerações
O Uno foi realmente um carro bem avançado para a época e tinha a capacidade de oferecer espaço no banco traseiro a gente grande, coisa que nenhum carro pequeno da época, fora a Volkswagen Brasília, oferecia antes dele. Melhorou muito ao longo dos anos e resolveu velhos problemas como o câmbio e a manutenção cara, mas só está até hoje porque os concorrentes têm pior custo-benefício. Deve sair de linha só no ano que vem com a carcomida carroceria Mille, mas já é um dos carros de maior tempo de produção da história automobilística brasileira. O novo Uno, lançado em 2010, é totalmente diferente do original e ainda vai continuar em linha até 2014, mas pode ser considerado o continuador da história deste carro. É o mesmo caso do Gol, que passou por remodelações radicais e continua a ser chamado por esse nome. A família do Uno incluía o sedã Prêmio, a perua Elba (esta tinha a proeza de ter o maior porta-malas da época, apesar de ser do tamanho de um Fusca, e ser citada no grande esquema de corrupção envolvendo um presidente da República, Fernando Collor, em 1991) e os utilitários Fiorino (picape e furgão, este último ainda produzido atualmente).


3. Ford Del Rey (fabricado entre 1981 e 1991)

O Del Rey versão 82 (abaixo; foto do Blog do Coronado) não nega a origem, vinda do Corcel 78 (acima; foto do Clube do Corcel de Fortaleza); usava, inclusive, as mesmas enormes portas, mas também foi vendido com 4 portas menores.

O que dizem os fãs:
- era o carro mais bem acabado do mercado;
- painel completíssimo, revestimento luxuoso, macio ao rodar;
- muito econômico. 

O que eles não dizem:
- o Ford Del Rey era nada mais do que uma versão modificada do velho Corcel, um carro simples reestilizado em setembro de 1977 como Corcel II;
- sua versão perua, a Scala, era a versão mais luxuosa da conhecida Belina, a perua Corcel; em 1986, com a saída de linha do velho Ford, acabou a hipocrisia de batizar a perua Del Rey com nome diferente, dando-lhe o verdadeiro nome (Belina);
- tinha um motor 1.6 ultrapassado e sem potência;
- pouco espaço interno para um carro dito "de luxo";
- suspensão mole (isso explicava a maciez, mas prejudicava a estabilidade);
- quando o Corcel saiu de linha, lançaram uma versão muito "depenada" do Del Rey, que vinha sem nada, nem um simples rádio;
- era para substituir o luxuoso mas ultrapassado Landau, sendo bem menor e sem oferecer a mesma classe; alguns dizem que era para substituir o Maverick (fabricado entre 1973 e 1979), mas o perfil daquele carro, um cupê esportivo, era completamente diferente.

Considerações
Conciliava economia de combustível e tinha realmente acabamento caprichado. Era dotado de um painel de instrumentos, nas versões mais luxuosas, dotado até de manômetro de óleo e voltímetro, coisas que os carros atuais não oferecem. O carro, como um filhote de um projeto da década de 1970, envelheceu rapidamente e foi substituido em 1991, pelo Ford Versailles, uma versão do Volkswagen Santana durante a vigência da Autolatina, a forçada união entre a Volks e a Ford. Vendeu bastante para a época: 350 000 unidades, segundo o blog do Coronado.


4. Chevrolet Monza (fabricado entre 1982 e 1996)


O Opel Ascona na primeira versão e o Ascona C, conhecido aqui como Monza

O que dizem os fâs:
- carro bonito, confortável, moderno, de excelente acabamento;
- bom desempenho, principalmente com motor 2.0;
- dava status e era o sonho de consumo durante a década de 80.

O que eles não dizem: 
- o Monza, nas versões básicas (SL) e intermediárias (SL/E), era um carro mal equipado onde quase tudo era opcional e precisava ser comprado à parte; ar-condicionado e direção hidráulica eram acessórios muito caros na época e opcionais até mesmo na versão de luxo, a Classic;
- era o velho Opel Ascona, lançado em 1970 e reestilizado até chegar à versão "Ascona C", de 1981, mas com relativamente poucas mudanças em relação ao original;
- confortável porém tinha suspensão meio "mole" e não tinha muito espaço interno por ser bem menor do que o veterano Opala;
- em certas ocasiões, a versão 2.0 tinha problemas, como mostrava um teste de Quatro Rodas (edição de dezembro de 1987), onde o carro teve o motor retificado antes de terminar o teste dos 50 000 km; depois da injeção eletrônica (1991), esse problema acabou;
- o acabamento interno era bom, mas favorecia a geração de eletricidade estática; se o motorista ou um passageiro sair do carro e encostar na lataria, corria o risco de levar um choque - e esse problema era ainda pior na versão Classic; 
- tinha outros problemas sérios no motor, como o comando de válvulas, que se desgastava logo, principalmente quando não passava por manutenções periódicas; na época, ir à concessionária fazer reparos era algo raríssimo (relatado no site Monzeiros.com). 

Considerações
Agradou em cheio os consumidores, tanto é que foi o carro mais vendido em 1984, 1985 e 1986, até ser superado pelo Volkswagen Gol. Na época de seu lançamento era realmente um carro bonito e relativaemente moderno, diante de verdadeiras relíquias como o Volkswagen Fusca e o Chevrolet Opala, e carros horrendos como o Fiat 147. Realmente caprichava no acabamento interno, apesar do material dos bancos favorecer mesmo a geração de eletricidade estática, e com seus vários opcionais ficava muito agradável. Teve de se modernizar em 1991, com uma reestilização e a injeção eletrônica, porém a chegada de seu sucessor, o Vectra, em 1993, mostrou que a época do Monza já havia passado. Mesmo com a fama de não ser muito resistente, os vários Monza que ainda rodam provam o contrário.


5. Ford Escort (fabricado entre 1983 e 2003)


O Escort Conversível (acima) era um dos carros mais desejados e caros; abaixo, o XR3 na época de seu lançamento. 

O que dizem os fâs: 
- moderno, econômico e pequeno;
- era o único carro a ter uma versão conversível;
- seu esportivo, o XR3, era o mais bonito que existia na época.

O que eles não dizem: 
- o Escort usava o mesmo motor do Corcel, o CHT, embora montado transversalmente e não longitudinalmente, como era mais comum nos carros da época, e por isso era um carro de desempenho fraco;
- havia realmente o Escort conversível era caríssimo, aliás, mais caro do que o Santana e o Opala Diplomata, carros bem mais luxuosos e confortáveis; estranhamente, foi um relativo sucesso;
- o XR3 era bonito de fato para a época, mas usava uma versão do motor CHT que, embora mais potente (86 cv), o deixava mais lento do que os humildes Volkswagen Gol 1.6;
- a suspensão dos Escort comuns era mole demais, quase como no Ford Corcel; já a do XR3 era muito dura;
- o carro tratava melhor a bagagem, por ter porta-malas de porte bem razoável, do que os passageiros; no conversível, viajar no banco de trás era mais difícil do que num Fusca;
- tinha manutenção cara demais para um veículo pequeno, conforme constataram as revistas especializadas.

Considerações
O Ford Escort é um carro que justificava a permanência no mercado e seu grande sucesso no Brasil pelos vários aperfeiçoamentos recebidos, como reestilizações, amortecedores eletrônicos na versão XR3 e motores mais fortes, vindos principalmente da Volkswagen durante a vigência da Autolatina, até chegar ao Zetec nas últimas versões. Foi, em geral, um veículo muito caro pelo que oferecia, mas seu preço foi se ajustando à realidade com o tempo, além de ganhar mais espaço interno e equipamentos de conforto, principalmente com as remodelações de 1993 e 1997. Como era tradição na montadora americana, tinha um ótimo acabamento, superior à concorrência e praticamente no mesmo nível do Ford Del Rey, modelo mais luxuoso porém mais antigo.



 6. Chevrolet Opala (fabricado entre 1968 e 1992)

 O Opala Diplomata ficou com esta aparência a partir de 1987, como modelo 1988.

O que dizem os fâs: 
- um dos melhores carros do Brasil, com motor 6 cilindros de 135 cv e manutenção muito fácil;
- embora antigo, era elegante e imponente;
- a tração do Opala era traseira, privilégio de poucos carros mesmo na época; por isso, era bem melhor para rodar em estradas ruins; 
- confortável e espaçoso, não perdia em requinte para o Volkswagen Santana, que era menor, e muito menos para o Ford Del Rey, uma simples variante do Corcel.

O que eles não dizem:
- lançado em 1968, o Opala já era muito ultrapassado em 1980, e seus motores, mesmo o fraco 2.5 de 4 cilindros, bebiam muito combustível;
- sua suspensão macia limitava a condução esportiva, sobretudo na versão perua, a Caravan;
- como todo projeto da década de 1960, não tinha maiores preocupações com a ergonomia;
- na década de 80, recebeu poucos avanços, e suas reestilizações nunca disfarçaram sua idade;
- o motor, além de ultrapassado e gastador, entregava pouca potência para a cilindrada, daí muitos Opalas terem recebido turbocompressor; tinha potencial para render mais, conforme provou o sucessor, o Omega 6 cilindros, equipado com o velhíssimo motor, com injeção eletrônica e cabeçote de alumínio para render 168 cv;
- o requinte valia para o Opala Diplomata, tanto que ele era chamado simplesmente pela versão, sem mencionar o carro, mas a versão intermediária, conhecida como Comodoro, precisava de muitos opcionais para o deixarem realmente confortável;
- como no caso do Monza Classic, os bancos do Diplomata tinham revestimento que favorecia a ocorrência da eletricidade estática; 
- a perua Caravan nunca recebeu as quatro portas, devido à resistência do consumidor brasileiro na época, que preferia os carros com duas.

Considerações
Era de fato um dos carros mais elogiados da história do automóvel no Brasil e a prova de sua robustez é a existência de vários Opalas e Caravans ainda rodando no país, alguns ainda das décadas de 1960 e 1970. Chamava a atenção tanto pelo conforto quanto pelo estilo típico de um carro dos anos 60. A tração traseira permitia realmente ao carrão enfrentar muitos terrenos que os modernos "aventureiros" não aguentariam, mas roubava (não muito) espaço para bagagem. A linha Opala 6 cilindros andava bem, ao contrário dos lentos e igualmente gastadores 4 cilindros. Os Diplomatas, na versão 4 portas, eram carros muito requisitados pelas autoridades, mas o consumo de combustível pesava no orçamento da União, e era pago com o NOSSO DINHEIRO. Seu sucessor foi o Omega, um dos carros mais sofisticados do mercado brasileiro, com nível de requinte próximo dos importados de luxo de sua época (1992 a 1998); o Omega tinha conforto e espaço interno nitidamente superiores ao do velho Opala, embora sua carroceria fosse um pouco menor. Infelizmente, não teve o mesmo sucesso do antigo carro, e continua a ser vendido, embora só importado da Austrália e em pequenas quantidades, a preços bastante proibitivos.


7. Volkswagen Passat (fabricado entre 1974 e 1988)

 O Passat passou por uma reestilização, em 1982, para tentar reverter as vendas em declínio. Não deu certo.

O que dizem os fâs: 
- era um carro que deixou saudade na época, apesar de ser lançado na década de 1970;
- tinha a conhecida mecânica Volkswagen, considerada robusta, andava rápido e era mais confortável do que o Gol, da mesma montadora, além de ser mais barato;
- no começo da década de 80, era um dos carros mais vendidos.

O que eles não dizem: 
- na década de 1980, o Passat, cujo estilo já era muito datado, recebia pouca atenção da Volkswagen: poucos opcionais, acabamento em geral descuidado;
- carroceria barulhenta e muito suscetível à corrosão; 
- a partir de 1984 suas vendas caíram tanto a ponto de ser muito mais vendido no Iraque, então governado pelo tirano Saddam Hussein, do que no Brasil;
- além disso, não oferecia sequer a área envidraçada dos modelos mais novos, fruto de seu projeto antigo.

Considerações
Trata-se do primeiro Passat, concebido em 1973 pelo consagrado Giorgeto Giugiaro, e era um carro de porte médio, bem longe do que viria a tornar-se ao longo do tempo: um automóvel de preço elevado, cheio de requinte e tecnologia. Era um dos melhores carros da década de 70, mas perdeu rapidamente terreno com a chegada do Gol. O lançamento do Chevrolet Monza, bem mais moderno e atraente para a época, contribuiu para a sua decadência. Não adiantou contar com motores fortes, principalmente o AP-800S que equipou o Passat esportivo, chamado de Passat Pointer, relativamente veloz.


8. Chevrolet Chevette (fabricado entre 1973 e 1993)

O velho Chevette tinha esta aparência na linha 1987, que não diferia muito da versão de 1983 (foto do Best Cars)

O que dizem os fâs:
- foi o carro mais barato do Brasil por vários anos, e mesmo assim tinha bom acabamento, conforto, porta-malas espaçoso;
- sua mecânica era simples e tinha baixa manutenção;
- entre os opcionais, havia até câmbio automático;
- oferecia tração traseira.

O que eles não dizem:
- o Chevette tinha sérios problemas de projeto, como espaço interno muito reduzido e ergonomia falha, típica de projetos ultrapassados;
- sua mecânica era simples porque era obsoleta e carecia de tecnologia;
- o motor em geral era bastante fraco (73 cv, aumentados para 82 cv em 1987);
- opcionais como câmbio automático e ar-condicionado deixavam o carrinho com preço maior do que o de um Opala 4 cilindros;
- a tração traseira roubava muito espaço da cabine e do porta-malas, que nem era tão grande assim; não era muito melhor nas estradas ruins do que o Gol, que tinha tração dianteira;
- seu descendente direto, o Kadett, foi lançado em 1989, em um segmento superior; o Chevette era a antiga versão daquele carro, na Europa;
- uma reestilzação feita em 1983 ajudou-o a ganhar em vendas, a ponto de, naquele ano, ser o carro mais vendido, suplantando Gol, Fusca e Monza, mas piorou ainda mais seu projeto ao implantar quebra-ventos, adereços de gosto duvidoso muito populares na época.

Considerações
Contemporâneo do Opala, este Chevrolet também só recebeu melhoramentos na parte mecânica e mudanças na frente e na traseira, permanecendo o mesmo carro até ser tirado de fábrica, aos 20 anos, para dar lugar ao Corsa. Teve fôlego no mercado, a ponto de ser o primeiro carro popular 1.0 da GM brasileira, mas era "presa fácil" para o Uno Mille; o Corsa, muito mais moderno, era superior ao carro da Fiat em vários aspectos mas também não o superava em espaço interno e robustez, os maiores trunfos do concorrente. Durante sua trajetória no mercado, o carro teve como derivados a perua Marajó (versão da antiga perua Kadett européia lançada em 1975 para só estrear no Brasil em fins de 1980) e a picape Chevy, de 1983, todos com tração traseira.



9. Volkswagen Fusca (fabricado entre 1959 e 1986, e entre 1993 e 1996)

 O Fusca, em sua versão Última Série, de 1986 (foto tirada do blog Autozani); em seus 27 anos de produção contínua, fez história também no Brasil

O que dizem os fâs: 
- nunca houve um carro tão charmoso e carismático;
- o Fusca era imbatível para enfrentar as estradas ruins e era bastante ágil, apesar de não conseguir ganhar muita velocidade;
- seu motor refrigerado a ar era muito simples de operar e não precisava de água.

O que eles não dizem:
- conviver com um projeto dos anos 30 significava padecer de vários problemas de ergonomia e espaço interno, além do Fusca ser conhecido, infelizmente, pela falta de segurança ao rodar;
- o motor era fraco, barulhentíssimo e ultrapassado, e era constantemente vítima de sobreaquecimentos por falta de um arrefecimento mais eficiente;
- quando um Fusca colidia, ele sofria poucos danos, mas seus ocupantes frequentemente morriam porque o pára-brisa fica muito próximo do motorista, todos viajavam muito juntos devido ao espaço acanhado e não havia equipamento de segurança algum, a não ser o cinto de segurança (o qual, nos anos 80, era pouco utilizado);
- a popularidade do Fusca era um dos vários entraves ao desenvolvimento de novos projetos automotivos no Brasil, ao lado da precaríssima situação econômica, movida por baixo crescimento, miséria e inflação sem controle.

Considerações
Apesar de seus defeitos, o Fusca é realmente imbatível no ítem "carisma" e merece fazer parte da história do automóvel. Era quase imbatível ao enfrentar as estradas ruins durante o tempo de fabricação. A durabilidade do carro é comprovada pelos inúmeros Fuscas que ainda rodam em pleno século XXI. Foi o carro que as classes sociais menos favorecidas podiam adquirir na década de 1960. Por longos anos, até 1982, foi o carro mais vendido do Brasil, sendo um grande sucesso. Em 1973, sofreu forte concorrência interna da Brasília, um projeto brasileiro derivado do próprio Fusca, com espaço interno muito maior embora com os mesmos problemas de motor barulhento e fraco, e falta de segurança. Na década de 1980, o Fusca foi marginalizado, graças ao lançamento do Gol e de concorrentes modernos. Saiu de linha na época em que a Volks deixava de fazer carros "do povo" e investia no Gol e no Santana, mas voltou graças a uma idéia do presidente Itamar Franco; ficou por pouco tempo, devido às baixas vendas, mas deixou saudades quando se "aposentou" definitivamente.


10. Volkswagen Gol (fabricado desde 1980)


O Gol foi talvez o carro que mais evoluiu na década de 1980: era um simplório modelo com motor 1.6 refrigerado a ar em 1980 (acima) e no início de 1989 ganhou um vigoroso motor 2.0 com injeção eletrônica

O que dizem os fâs: 
- ser campeão de vendas desde 1987 até hoje não é por acaso: o Gol é robusto, econômico, veloz e de preço acessível nas versões mais baratas;
- as versões esportivas da década de 1980 eram feras;
- em 1989, foi o primeiro carro a receber a injeção eletrônica, na versão GTi 2.0.

O que eles não dizem:
- o Gol realmente cativava pelas suas qualidades, mas seus defeitos eram muitos;
- o porta-malas era muito pequeno, e só o Fusca era pior neste sentido;
- o espaço traseiro, mesmo para a época, era acanhado, e servia apenas para crianças pequenas;
- o preço do seu sucesso era o alto índice de roubos (assim como no caso do Fusca);
- faltava vários ítens de conforto nas versões mais populares, que ainda sofriam com o acabamento pobre; 
- as versões mais básicas eram mais desleixadas do que um Fusca;
- as versões esportivas GT e GTS 1.8 gastavam tanto combustível quanto um Santana 2.0; 
- além disso, não era tão barato assim, pois havia menos facilidades na compra e as versões mais simples tinham frequentemente ágio.

Considerações
Lançado em maio de 1980, o Gol é o maior sucesso da Volkswagen brasileira em todos os tempos. Sucessor legítimo do Fusca, realmente conquistava pela agilidade e robustez, mas fazia os ocupantes sofrerem por conta do pouco espaço interno. A partir de 1994, esse problema foi resolvido com o lançamento da segunda geração do Gol, chamada de "bolinha", completamente diferente por fora e por dentro, embora mantendo a mesma robustez; o Gol passou por reestilizações, chamadas de "Geração 3" e "Geração 4", até passar por uma renovação completa em 2008, quando passou a ter motorização transversal e a plataforma do Polo. Tem atualmente como variantes o sedã Voyage, que antes só existia como "quadrado" entre 1981 e 1995, a perua Parati (atualmente em decadência, não passou pela reestilização em 2008) e a picape Saveiro (único derivado do Gol a passar por todas as mudanças).



Com a exceção do Del Rey, derivado do Corcel, não falei em separado das variações de cada carro. Também não falei de modelos como o Fiat 147, o Ford Landau, os Volkswagen Brasília e Variant, e nem os Dodge, todos eles vindos da década de 1970 e sem maior repercussão nos anos 80.

A oitentolatria, pelo menos no mercado de automóveis, parece não ter muita razão de existir devido aos tipos de veículos produzidos aqui. Estávamos assolados pela crise econômica, e os projetos em geral careciam de modernidade, em parte devido ao isolamento provocado pela proibição de importações. O famigerado Fernando Collor, antes de tomar posse como presidente, chamou os carros da década de 80 de "carroças", ao justificar a volta das importações, uma das primeiras medidas que adotou ao lado de atrocidades como o confisco da poupança. Assim, vieram carros muito mais avançados na década de 90, com tecnologias como ABS, air-bag, motores com 4 válvulas por cilindro, a popularização da injeção eletrônica, entre outros.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millor (1924?-2012)

 Depois do Chico, Millor (fonte: G1)

Millor Fernandes nasceu quando o Brasil era governado pelos 'coronéis' e grandes fazendeiros, os EUA tinham o cinema mudo mas com conteúdo e a Europa tentava apreciar as aparentemente estranhas obras de arte feitas por Matisse, Picasso e outros. A Rússia estava unida a outras repúblicas para formar a URSS, enquanto a China era um país miserável e superpopuloso e o continente africano era um amontoado de colônias européias miseráveis. O papa era Pio XI, que não viajava. As missas eram em latim, e eram bastante frequentadas nos países católicos, embora relativamente pouco compreendidas. No Brasil idolatrava-se o Padre Cícero e temia-se a excomunhão. As Torres Gêmeas de New York não existiam. Bater em mulher era normal, assim como discriminar os gays, os negros e os judeus. Divorciar-se parecia, para a cultura da época, um ato de Satanás. Democracia era palavrão por aqui, e temia-se muito o comunismo. Não havia televisão nem Internet, mas havia jornal. O Brasil não sabia o que era futebol (invenção dos ingleses com o nome de football). A Copa do Mundo de futebol ainda não passava de uma idéia.

O mesmo Millor morre quando o Brasil é governado pelo PT e pelo PMDB, os EUA lançam uma infinidade de filmes em 3D cheios de falas e sem conteúdo, enquanto a Europa está falida e culturalmente não traz nada de novo. A URSS acabou faz tempo, e sua vizinha China continua superpopulosa (mas cheia de dinheiro). O continente africano deixou de ser um amontoado de colônias miseráveis para se tornar... um amontoado de países livres e miseráveis. O papa é Bento XVI, que viaja bastante como o antecessor, e agora está em Cuba, a pátria de Fidel. As missas são dadas em várias línguas, para cada vez menos gente, e ainda continuam a ser pouco compreendidas. No Brasil idolatra-se Lula e teme-se o demônio nos cultos evangélicos. As Torres Gêmeas de New York não existem (mais). Bater em mulher agora dá punição, assim como discriminar os gays, os negros e os judeus. Divorciar-se é encarado como coisa normal (normal demais, pela quantidade de casamentos desfeitos). Democracia é normal por aqui, mas para muitos continua a ser um palavrão, e o comunismo não assusta mais ninguém porque está morrendo até na já citada pátria de Fidel. Há televisão de todos os tamanhos e tipos, a Internet está em quase todo lugar, e continua a haver jornal. O Brasil sabia o que era futebol (agora está deixando de saber). A Copa do Mundo de futebol será no Brasil e parece uma má idéia.

Em seus 87 (ou 88, já que ele teria nascido em agosto de 1923 e não em maio de 1924) anos de vida, o cartunista e escritor falou de (quase) tudo isso. E agora foi se juntar ao Chico Anysio e outros humoristas da velha guarda que conciliavam o riso com a inteligência.

As máximas do imortal Millor (Fonte: iG)

terça-feira, 27 de março de 2012

Da série 'Mentiras que contam na Internet', parte 2

Já faz muito tempo que escrevi a primeira postagem da série 'Mentiras que contam na Internet', falando sobre a abrangências dos televisores com painel IPS da LG. Neste tempo, a empresa coreana tratou de lançar mais produtos com essa tecnologia, embora ainda haja alugns televisores com o velho painel TN, principalmente os chamados 'monitores-TV', com a dupla função de ser monitor (grande) e televisor (pequeno). 

Este post nada tem a ver com tecnologia e trata de alguns tipos de morte entre as personalidades da História, motivadas por fanatismo religioso. Eis alguns exemplos: 

VOLTAIRE, o famoso zombador, teve um fim terrível. Sua enfermeira disse: “Por todo o dinheiro da Europa, não quero mais ver um incrédulo morrer!” Durante toda a noite ele gritou por perdão.

N. do A.: O comentário desta frase feita pelo site "Ceticismo.net" é primoroso e assino embaixo. Só posso acrescentar que a frase da enfermeira não cita fonte alguma e portanto é, possivelmente, inventado.


DAVID HUME, o ateu, gritou: “Estou nas chamas!” Seu desespero foi uma cena terrível.

N. do A.: Esta é, também, uma frase cuja autoria não é do filósofo inglês. Ele era possivelmente um agnóstico. Sendo assim, não era propriamente ateu, ou pelo menos não era um descrente dogmático.

 
HEINRICH HEINE, o grande zombador, arrependeu-se posteriormente. Ao final da sua vida, ele ainda escreveu a poesia: “Destruída está a velha lira, na rocha que se chama Cristo! A lira que para a má comemoração, era movimentada pelo inimigo mau. A lira que soava para a rebelião, que cantava dúvidas, zombarias e apostasias. Senhor, Senhor, eu me ajoelho, perdoa, perdoa minhas canções!”

N. do A.: Heinrich Heine, poeta alemão do Romantismo, era um judeu convertido ao luteranismo. Muitos quiseram apodá-lo de ateu devido à sua mordacidade.

 
De NAPOLEÃO escreveu seu médico particular: “O imperador morre solitário e abandonado. Sua luta de morte é terrível.”

N. do A.: Alguém deve ter inventado essa história, que não consta nas biografias oficiais. Provavelmente um simpatizante do Antigo Regime, que Napoleão e a Revolução Francesa trataram de desmantelar, entre 1789 e 1815 (datas correspondentes ao início da Revolução e ao fim do império napoleônico, respectivamente). Napoleão, após ser derrotado em Waterloo e perder a coroa, foi deportado para a ilha de Santa Helena, onde ficou quase seis anos, até morrer de uma causa contravertida - provavelmente, câncer. 

 
CESARE BORGIA, um estadista: “Tomei providências para tudo no decorrer de minha vida, somente não para a morte e agora tenho que morrer completamente despreparado.”

N. do A.: Cesare Borgia era odiado por seu amoralismo e seu governo movido pela violência; filho ilegítimo do papa Alexandre VI, participava ativamente das atividades políticas do pai e manipulava a irmã, Lucrezia, esta também considerada pérfida, mas na verdade ela obedecia ao irmão principalmente pelo medo de sofrer a sua ira, e não por más intenções. Esta frase também não consta das biografias oficiais do político italiano, que foi morto no cerco de Viana, em Navarra (atualmente província espanhola), no ano de 1507.


TALLEYRAND: “Sofro os tormentos dos perdidos.”

N. do A.: Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord ficou conhecido por sua atuação política, principalmente durante o Império Napoleônico. Era um ex-bispo que participou da Revolução Francesa e, após sua atuação no governo de Napoleão, passou a colaborar com os Bourbons e, nos últimos anos de sua longa vida, apoiou Louis Philippe, o 'rei burguês' posto no poder após a queda de Charles X, o último dos Bourbons (1830). Sua capacidade de adaptar-se a diversos governos era notável, de fazer inveja a muito político brasileiro. A frase acima não corresponde ao que ele disse antes de morrer, aos 84 anos. Também é apócrifa, talvez com a intenção de dramatizar a morte de um "mau político".

 
CARLOS IX (França): “Estou perdido, reconheço-o claramente.”

N. do A.: Segundo o livro "A História da França", de M. Guizot, Carlos, ou Charles IX, não disse essa frase. Ele teria agradecido a Henri III, seu irmão, por ser seu sucessor. Charles IX morreu tuberculoso, e não exerceu efetivamente o poder, nas mãos de sua mãe, Maria de Medicis. 

 
MAZARINO: “Alma, que será de ti?”

N. do A.: Mazarino foi um cardeal que exerceu o poder durante a minoridade do rei Louis XIV. Morreu em 1661, quando o rei tinha 23 anos e já tinha condições de governar, iniciando um longo e contravertido reinado. Não há registros dessa frase em nenhuma biografia oficial dele. Curiosamente, ele é citado juntamente com os "infiéis" precedentes, já que Mazarino nunca renegou a fé.
 

HOBBES, um filósofo inglês: “Estou diante de um terrível salto nas trevas.”

N. do A.: Thomas Hobbes foi um dos grandes filósofos do séc. XVII e defendeu um Estado forte para coibir os maus instintos dos homens. Era ele que instituiu o "contrato social", criticado por nomes como Rousseau. De fato, Hobbes teria dito essas palavras, segundo o historiador Norman Davies ("Europe - A History"), mas em decorrência de um acidente vascular cerebral fatal e não por um castigo divino, pois Hobbes não renegou sua fé anglicana só por ter negado o direito divino dos soberanos.

 
SIR THOMAS SCOTT, o antigo presidente da Câmara Alta inglesa: “Até este momento, pensei que não havia nem Deus, nem inferno. Agora sei e sinto que ambos existem e estou entregue à destruição pelo justo juízo do Todo-Poderoso.”

N. do A.: Não existem provas de que Sir Thomas Scott, parlamentar do séc. XVI, teria dito essas palavras. Seria muita coragem da parte dele, mesmo no leito de morte, dizer isso durante o governo de Elizabeth I, que impõs punições terríveis a quem não fosse anglicano. Scott foi um ardososo adversário do Catolicismo.  


GOETHE: “Mais luz!”

N. do A.: Goethe foi um grande intelectual e poeta, e ele realmente teria dito essa frase, mas sem nenhuma conotação religiosa, como querem os supersticiosos. Homem de seu tempo, o autor de "Fausto" e "Wilhelm Meister" era tido como "devasso", inclusive cortejando uma jovem nobre de 18 anos durante uma de suas viagens, quando ele tinha 73. Morreu com 83 anos incompletos, em 1832.

 
NIETZSCHE: “Se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens.”

N. do A.: Atribui-se a Nietzsche a famosa frase: "Deus está morto!". Na verdade, ele teria dito isso num contexto mais amplo, no livro "A Gaia Ciência". Quem matou Deus não foi o filósofo alemão, mas sim, segundo ele, os homens; isto era um reflexo da falta de fé de sua época, o final do séc. XIX. Aliás, as tais "últimas palavras" não existem nas biografias do "bigodudo", que morreu de sífilis em 1900.
 

LÊNIN morreu em confusão mental. Ele pediu pelo perdão dos seus pecados a mesas e cadeiras. À nossa juventude revolucionária se assegura insistentemente e em alta voz, que isso não é verdade. Pois seria desagradável, ter que admitir que o ídolo de milhões se derrubou a si mesmo de maneira tão evidente.

N. do A.: Segundo este trecho, Lênin teria se matado. Na verdade, ele morreu de um acidente vascular cerebral, que realmente provoca confusão mental. E Lênin, nos últimos momentos, não conseguia falar, quanto mais pedir perdão a mesas e cadeiras.
 

SINOWYEW, o presidente da Internacional Comunista, que foi fuzilado por Stálin: “Ouve Israel, o Senhor nosso Deus é o único Deus.”

N. do A.: Não existia um Sinowyew, e sim um Zinoviev, que não teria dito nada disso quando foi fuzilado a mando de Stalin.
 

CHURCHILL: “Que tolo fui!”

N. do A.: Essa frase não aparece quando se faz pesquisas no Google usando as palavras chave "Last words" e Churchill. Em algumas fontes, ele teria dito "I'm so bored with it all" ("Estou tão entediado com tudo") antes de entrar em coma e morrer nove dias depois, em decorrência de um acidente vascular cerebral, em 1965. Também não há fontes seguras sobre quaisquer "últimas palavras" do grande político inglês. Só há rumores e não provas de que ele fosse um agnóstico. Mas o que isso importa, se foi um dos mais capazes estadistas do séc. XX?  
 

YAGODA, chefe da polícia secreta russa: “Deve existir um Deus. Ele me castiga pelos meus pecados.”

N. do A.: Genrikh Yagoda foi um cruel chefe da NKVD, sigla para "Comissariado do povo para assuntos internos", durante a tirania de Stalin. Foi defenestrado do poder e sucedido por Nikolai Yezhov, que mandou espancá-lo e fuzilá-lo em 1938. Essa frase consta apenas em sites ditos 'religiosos'. 


YAROSLAWSKI, presidente do movimento internacional dos ateus: “Por favor, queimem todos os meus livros. Vejam o Santo! Ele já espera por mim, Ele está aqui.”

N. do A.: Este movimento não existe e é mais uma lenda urbana criada por fanáticos religiosos. E se a intenção era criticar os soviéticos, esse sobrenome é polonês, e a Polônia, embora comunista durante a Guerra Fria, jamais abrigou um 'movimento internacional de ateus'. 


JESUS CRISTO: “Está consumado.”

N. do A.: Jesus disse "Está consumado", segundo o evangelista João (Jo 19 : 30). Mas, segundo Lucas (Lu 23 : 46), o Mestre teria dito: "Pai, Em Tuas mãos entrego o meu espírito", morrendo a seguir.


Todos esses exemplos mostram que a Internet está cheia de informações incompletas ou mesmo falsidades. É preciso tomar muito cuidado antes de fazer qualquer pesquisa, como fazem boa parte dos estudantes, principalmente os do ensino fundamental e médio. Não se pode confiar cegamente nas "fontes" encontradas pelo Google ou qualquer outro site de busca. 

Também não podemos acreditar em tudo o que dizem os sites motivados por fanatismo religioso, seja ele qual for. Segundo o conteúdo dessas "últimas palavras" acima, os não-crentes acabam por crer em Deus diante da morte, como se ela fosse um castigo para a infidelidade e não um fenômeno natural pelo qual todos os filhos de Deus passam neste mundo.

sábado, 24 de março de 2012

O alarde em cima do filho de Elke Batista

O filho de Elke Batista e da modelo Luma de Oliveira, Thor Batista, 20 anos, atropelou e matou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos, 30, e agora é um dos alvos da mídia, mesmo uma semana após a tragédia.
Existem várias versões sobre o caso: Elke estaria em alta velocidade e não prestou socorro, o ciclista teria bebido e trafegado na via, ou seja, a culpa recai ora para o filho do bilionário, ora para o morto. As evidências indicam que Thor realmente correu demais, mas não bebeu nem usou drogas. E o ciclista, segundo os exames feitos, teria realmente ingerido bebida alcoólica.

Ele não é o filho de Odin, mas do bilionário Elke Batista. E ainda tem que fazer novos depoimentos à Justiça sobre o atropelamento de um ciclista (Fabiano Rocha/O Globo)

Por outro lado, Elke fez questão de entrar na polêmica, defendendo o filho e acusando a vítima de ser a culpada. Para muitos, a intervenção de Elke foi mais prejudicial do que benéfica, para a imagem de ambos, pai e filho. Corroborou-se a fama de "filhinho de papai" de Thor Batista, ainda por cima filho de um senhor destemperado e prepotente. 

Não é a primeira vez que o jovem criado em "berço de ouro" atropelou um ciclista. No ano passado, um deles, e ainda por cima com 85 anos na época, foi atingido pelo carro de Thor Batista, que fez questão de socorrer a vítima e pagar as despesas médicas. O idoso conseguiu sobreviver, embora com sequelas (fraturou a bacia e teve de ser operado e depois submetido a fisioterapia), e há poucas horas conseguiu emitir uma nota, segundo o colunista Ancelmo Góis, do jornal O Globo, dizendo que o acidente deste ano não pode ser atribuído nem a Thor, e nem a Wanderson.

Infelizmente, este é só mais um dos vários casos de atropelamento com morte no Brasil. Milhares de ciclistas e pedestres são mortos, sem repercussão alguma na imprensa e nem as devidas providências das autoridades. Tanto motoristas quanto ciclistas e pedestres arriscam suas vidas ao não seguirem as leis de trânsito.


sexta-feira, 23 de março de 2012

A morte do mestre do humor

Chico Anysio finalmente pôde descansar em paz após uma longa luta contra seus vários problemas de saúde.

Ele morreu, mas sua técnica em fazer rir não morrerá jamais. Seus personagens, a maioria concebidos entre as décadas de 1970 e 1990, também são imortais. O professor Raimundo Nonato Canavieira e sua escolinha cheia de impagáveis alunos, o corrupto Valfrido Canavieira (filho do precedente), o vetusto Popó, o mentiroso Pantaleão, o canastrão Alberto Roberto, o machista Nazareno, o 'craque' Coalhada, o malandro Azambuja, o bêbado Tavares, a sábia Salomé, o 'hétero' Haroldo, o 'econômico' Gastão, o vampiro brasileiro Bento Carneiro, o deputado Justo Veríssimo ("quero que pobre se exploda!") e tantos outros que alegraram milhões. 

Ele era do tempo do velho humor, "politicamente incorreto", movido por bordões e sem deixar de alfinetar a dura realidade. Vai fazer falta. 

 E o salário... Ó! (Um dos bordões do professor Raimundo, o mais conhecido dos personagens do inesquecível Chico)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Essa foi ótima, ou melhor, péssima

O governo sírio está tão desesperado para se manter no poder com unhas e dentes que dá mostras evidentes de loucura. 

É incrível, mas ele acusou nada menos que o time do Barcelona de ajudar rebeldes a contrabandearem armas. Insinua-se que o passe de Iniesta para Messi, aos 43 min. da partida entre o incrível time catalão e seu arqui-rival Real Madrid era o sinal para os contrabandistas. 

Toda essa paranóia vem de uma tirania que só terá um destino: a destruição. Seu líder, Bashar al-Assad, pode terminar de uma forma ainda mais ignominiosa do que o colega da Líbia, Muhammar al-Gaddafi.

A novela das 9 vai acabar antes da outra

A novela da Globo Fina Estampa vai acabar nesta sexta-feira prometendo finais felizes ou pelo menos surpreendentes, como convém a um folhetim de ficção. 

Outra novela, esta na vida real, está bem longe de acabar: é a da Copa do Mundo no Brasil. 

A votação da famigerada Lei Geral da Copa foi adiada novamente, e não há mais tempo hábil suficiente para a procrastinação. Além disso, tudo está atrasado, como se os envolvidos estivessem fazendo isso de propósito, apenas para forçar a liberação de mais dinheiro. E a recente saída de Ricardo Teixeira, como esperado, ainda não muda o quadro e nem é gerantia de melhor gestão, como já tratei em uma postagem anterior. 

Aguardemos os próximos capítulos desta novela. Não há garantias de final feliz algum, muito pelo contrário. Os vilões dessa trama vão sair impunes e as vítimas (o povo brasileiro) poderão ter um fim terrível nas mãos deles.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O desafio de um aprendiz de investidor a lidar com seu dinheiro

Já havia feito um post sobre educação financeira e o modo de fazer aplicações ou saques nos seus investimentos é parte dessa tarefa. Não sou economista e muito menos tenho condições de nadar em dinheiro (muito pelo contrário, estou entre os milhões que quebram a cabeça para pagar as contas...), mas os conhecimentos a seguir podem ser úteis para quem ganha o seu suado salário.

Fazer o dinheiro render é uma arte que requer alguma técnica. No caso de investimentos, é preciso saber lidar com o efeito dos juros.

Como se sabe, um investimento que fica por x meses sem movimentação acaba aumentando seu valor conforme a taxa de juros mensal. Assim, considerando uma taxa de juros fixa por mês (o que geralmente NÃO acontece, mas é só para simplificar a conta), temos: 

Início: um certo valor y. 

Após o fim do primeiro mês: esse valor y passou a aumentar de acordo com a taxa de juros ( j ), passando a ser y', ou: 
 y + j * y = y * (1 + j) = y'.
Após o fim do segundo mês: o valor y' aumentou de acordo com a mesma taxa j, passando a valer y'': 

y' * (1 + j) = y''

Mas y' = y * (1 + j), então: 

y'' = y * (1 + j) * (1 + j) = (1 + j)^2

Ao final do terceiro mês, o valor passa a ser de y''', que vale: 

y''' = y'' * (1 + j)

Ou seja, y''' = y * (1 + j) * (1 + j) * (1 + j) = (1 + j)^3


Como se pode notar, em n meses, o valor da aplicação, que antes era y, foi multiplicado pelo fator (1 + j) n vezes. Por exemplo, ao final de 6 meses, com uma taxa de juros de, digamos, 0,70% (vamos esquecer as taxas de juros para pagamentos, que são SEMPRE maiores do que isso...), e uma aplicação inicial de mil reais, teremos:

Valor final = R$ 1000,00 * (1 + 0,007)^6

(lembrando que 0,70% = 0,007)

Valor final = R$ 1042,74. 


Nestes 6 meses, o dinheiro terá crescido um pouquinho. Uma aplicação de mil reais terá mais de quarenta reais a mais no final desse período. 
Vale lembrar que aplicações tradicionais de baixo risco como a poupança, em valores de hoje, possuem rendimentos ainda menores do que esses 0,70%.

Mas nenhum investidor que se preze deixa seu dinheiro parado. Muitas vezes ele vai ter de aplicar um valor a mais para fazer engordar sua "grana". Para isso, uma planilha, como o conhecido Excel, ajuda bastante. É preciso levar em conta o montante que já estava aplicado somando com os novos valores. Assim, se por três meses aplicamos R$ 100,00 mensalmente sobre o valor investido que originalmente eram estes R$ 1000,00, e sabendo que os juros se mantêm em 0,7%, teremos: 

Primeiro mês: R$ 1000,00
Segundo mês: R$ 1000,00 * (1 + 0,007) = R$ 1007,00
Aplicando R$ 100,00: R$ 1007,00 + R$ 100,00 = R$ 1107,00

Terceiro mês: R$ 1107,00 * (1 + 0,007) = R$ 1114,75
Aplicando R$ 100,00: R$ 1114,75 + R$ 100,00 = R$ 1214,75

Quarto mês: R$ 1214,75 * (1 + 0,007) = R$ 1223,25
Aplicando R$ 100,00: R$ 1223,25 + R$ 100,00 = R$ 1323,25


Mas e se aplicarmos os R$ 300,00 de uma vez já no primeiro mês, poupando-nos do trabalho de ter de colocar mais dinheiro nos outros meses?

Primeiro mês: não muda nada (R$ 1000,00)

Segundo mês: o dinheiro rendeu juros e ficou em R$ 1007,00
Aplicando R$ 300,00: R$ 1007,00 + R$ 300,00 = R$ 1307,00

Terceiro mês: R$ 1307,00 * (1 + 0,007) = R$ 1316,15

Quarto mês: R$ 1316,15 * (1 + 0,007) = R$ 1325,36


A diferença entre um procedimento e outro é de pouco mais de R$ 2,00 a favor do investidor que resolveu colocar mais dinheiro no início do período. Quanto maior o dinheiro aplicado e maior o prazo, também maiores serão as diferenças nos ganhos. 


Efeito contrário ocorre quando precisamos sacar o dinheiro investido. Se tivermos um valor inicial de R$ 1000,00 e quiséssemos comprar um objeto cujo valor (ex: R$ 300,00) pode ser parcelado em três meses, naturalmente haverá perdas, mas elas podem ser compensadas pelos juros (como se 0,7% ao mês fizessem milagres...). Vejamos duas situações: 

Primeiro, o investidor afoito já saca os R$ 300,00 para comprar o objeto:

Primeiro mês: R$ 1000,00 - R$ 300,00 = R$ 700,00

Segundo mês: R$ 700,00 * (1 + 0,007) = R$ 704,90

Terceiro mês: R$ 704,90 * (1 + 0,007) = R$ 709,83

Quarto mês: R$ 709,83 * (1 + 0,007) = R$ 714,80


Segundo, um investidor que vai "sangrando" seu patrimônio aos poucos: 
Primeiro mês: R$ 1000,00 - R$ 100,00 = R$ 900,00
Segundo mês: R$ 900,00 * (1 + 0,007) =R$ 906,30
Sacando: R$ 906,30 - R$ 100,00 = R$ 806,30

Terceiro mês: R$ 806,30 * (1 + 0,007) = R$ 811,94
Sacando: R$ 811,94 - R$ 100,00 = R$ 711,94

Quarto mês: R$ 711,94 * (1 + 0,007) = R$ 716,93


A diferença, neste caso (bem) pequena, também foi a favor do investidor menos afoito. Logicamente, valores maiores de saques fazem maiores estragos, assim como a frequência deles.

Investidores mais experientes consideram muito mais fatores, como as tendências do mercado, a dinâmica das ações, o efeito das crises e das medidas governamentais, etc. Este espaço é para quem está aprendendo a administrar seu suado "tutu". 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Da série 'Marcas famosas desconhecidas no Brasil', parte 2

Já faz algum tempo que não falo sobre marcas famosas. Ao contrário da Sara Lee, esta é nacional e está em Itatiba. O nome é bem estranho: chama-se a "A Rela".

Quase ninguém sabe sobre ela. Talvez nem os próprios moradores daquela cidade paulista. Só conhecem os produtos de madeira, que vão desde espetos de churrasco até os palitos de dentes.

Aliás, estes últimos utensílios são o carro-chefe da empresa. Obviamente não são comercializados com o nome "A Rela", pois assim a empresa seria muito mais conhecida com este nome. Adotaram o nome comercial de... isso mesmo, Gina!

 Quem nunca pelo menos viu esta caixinha? (foto: divulgação)

Os palitos Gina estão nos lares de milhões de pessoas, desde 1947. Mas só em 1975 passou a ter a moça loira estampada nas caixinhas.

E ela não se chama Gina, como diz o folclore. É a ex-modelo Zofia Burk, atualmente aposentada. Recentemente, ela disse à revista IstoÉ em 2004 sobre a sua relação com a empresa e com a marca Gina.


segunda-feira, 12 de março de 2012

O lado bom e o lado mau da notícia do dia

Ricardo Teixeira não é mais o presidente da CBF.

 O inacreditável aconteceu (foto tirado do site www.aldeiagaulesa.net)

Após 23 anos chefiando a CBF, o ex-genro de João Havelange renunciou alegando "problemas de saúde". Esteve desde 1989, quando o sogro era o presidente da Fifa, e sempre foi alvo de denúncias:

- nepotismo para preencher alguns cargos de confiança da entidade;

- permissão para jogadores e comissão técnica trazerem muamba após a vitoriosa Copa de 1994 nos EUA;

- favorecimento de dirigentes e políticos, a chamada "bancada da bola" no Congresso;

- permissões para os patrocinadores exercerem influência, para muitos excessiva, sobre a Seleção Brasileira, sobretudo a Coca-Cola e a Nike;

- investigações em 2000 e 2007, que deram em coisa nenhuma, e uma tentativa mal sucedida de investigá-lo no ano passado.

Além disso, houve um recorde de êxodo de talentos para o exterior, mas isso poderia ocorrer em qualquer gestão, mesmo se a CBF fosse uma casa de virtudes.

O fato de Ricardo Teixeira sair é a parte boa. A parte ruim da história é seu sucessor, José Maria Marin, antigo colaborador do regime militar, ex-partidário do integralista "anauê" Plínio Salgado, ex-governador biônico (1982-1983), ex-presidente da Federação Paulista de Futebol (1982-1988) e responsável por um episódio polêmico recente, que lhe valeu o apelido de Zé das Medalhas.


Muita gente tem esperança de moralização da CBF e menor ingerência da politicagem no esporte. Porém, ela não é a fina flor das aberrações neste meio. Outras entidades esportivas, desde a Fifa até a FIA, fazem atos de constranger um Don Corleone ou um Al Capone. Assim, de um ponto de vista realista, não se espera grandes mudanças com a saída do polêmico dirigente.

quinta-feira, 8 de março de 2012

As radicais do Femen atuam no Dia Internacional da Mulher

No Dia Internacional da Mulher, as polêmicas ativistas do movimento feminista ucraniano Femen foram protestar contra a violência doméstica, que fere e mata milhares de mulheres por dia. 

As ativistas, naturalmente, chamaram mais a atenção por causa dos corpos seminus do que pelo conteúdo da mensagem. 

As ucranianas da Femen protestam novamente (AFP/Mustafá Ozer)

Fizeram isso num país onde as atrocidades contra as mulheres são comuns, em parte pela cultura islâmica, tradicionalmente machista: a Turquia. Mais precisamente, na maior cidade turca, Istambul. 

A polícia turca agiu rapidamente e retirou as loiras do local. 

Ainda bem que a Turquia não é como os vizinhos muçulmanos Iraque, Irã e Síria (Getty Images)

Recentemente, elas foram protestar na Rússia, contra a reeleição de Vladimir Putin como presidente, na verdade a volta de seu governo pessoal, após o Kremlin ser chefiado por seu seguidor Dmitri Medvedev entre os anos de 2008 e 2012, com o próprio Putin como primeiro-ministro. 

Também protestaram na época do último Fórum Econômico, em Davos. Sempre com os seios de fora. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Um ano após o desastre

O terremoto, seguido de tsunami e o pior acidente nuclear desde a catástrofe de Chernobyl (1986) deixaram marcas profundas no norte do Japão, principalmente Fukushima.

 Na usina de Fukushima, ainda falta muito para fazer (foto retirada do site House of Japan)

Ainda há toneladas de entulho guardadas em locais provisórios como terrenos baldios, estádios de beisebol e praças, principalmente nas áreas mais afetadas. Sem falar na usina afetada, cuja solução ainda vai demorar (pelo menos até o ano que vem) para ser solucionada. 

Pelo menos, como costuma acontecer, os japoneses não costumam discutir se aquela região vai voltar à normalidade completamente, mas quando. Não é como a região serrana de um certo país, ainda devastada depois das chuvas torrenciais do começo de 2011. Essas chuvas aconteceram pouco ANTES da tragédia nipônica, e eram muito menos apocalípticas. 

Demandou muito dinheiro para reconstruir as cidades afetadas pelo grande cataclismo. E esse dinheiro foi corretamente aplicado, sem os problemas que nós, brasileiros, conhecemos. Pode-se dizer que tudo está se recompondo rapidamente. Mas ainda é preciso mais tempo. 

Para ver a diferença entre as cidades atingidas pela catástrofe um ano atrás e agora, clique aqui.

domingo, 4 de março de 2012

Por falar em CBF...

... o presidente Ricardo Teixeira resolveu aparecer com uma nota pedindo que a Fifa respeite o governo brasileiro. Ele também atribuiu as discussões (intermináveis, segundo a Fifa) à democracia, e não à falta de organização, pois os outros países que sediaram Copas, em boa parte das vezes, eram democracias e não mostraram tanta falta de planejamento nem tanta sede de dinheiro público.

Ele está também querendo jogar para a platéia, posando de herói. Acontece que os tipos 'heróicos' deste teatro todo são de moral mais duvidosa do que o Dexter, aquele do seriado americano de mesmo nome. Sim, é aquele mesmo. Uma pessoa aparentemente dentro das normas de conduta e, na verdade, um criminoso que quer eliminar seus concorrentes.

sábado, 3 de março de 2012

Guerra verbal

O governo está irritado com as cobranças da Fifa, ditas em tom menos diplomático do que deveria. 

Aldo Rebelo quer a cabeça de Jérome Valcke. O francês chegou a dizer que os organizadores da Copa no Brasil precisam "levar um pontapé no traseiro", pois "nada parece estar funcionando". 

Se é verdade que as obras no Brasil estão bastante atrasadas, elas também vão sair caro demais para o bolso dos brasileiros. Muito custo para pouco benefício. Estamos correndo sério risco desse devaneio virar um pesadelo, com direito a quebra-quebra e "Maracanazo". 

Por outro lado, a Fifa falar mal do Brasil, ou vice-versa, é o caso do "roto falar do esfarrapado". Tanto a entidade máxima do futebol quanto o governo brasileiro estão envolvidos demais em denúncias de corrupção. Não existe ninguém merecedor de uma canonização, mesmo se considerarmos a moral duvidosa de muitos santos católicos. 

O ministro do Esporte não fica atrás do secretário-geral da Fifa quando o assunto é falar demais, para uma platéia enfastiada. Se ele está interessado em rebater os ilustres senhores de Zürich, deveria fazer mais e falar menos, e mostrar por que foi escolhido ministro do Esporte. Ele e os outros responsáveis pelo espetáculo deveriam fazer as empreiteiras cumprirem os cronogramas das reformas e construções dos estádios. Também a Lei Geral da Copa, que deveria estar pronta faz tempo, está dando muita dor de cabeça, pois muitos artigos são tão constitucionais quanto uma quartelada. 

Por outro lado, a língua de monsieur Valcke vai lhe tornar uma espécie de persona non grata do Brasil, e não vai ajudar a melhor a imagem da Fifa no Brasil. 

Quem assiste a tudo de camarote é a CBF. Ricardo Teixeira pode merecer todas as acusações que lhe fazem, mas está conseguindo o que quer sem fazer barulho. Conseguiu uma sobrevida como chefe da "Casa Bandida", como diz Juca Kfouri, e saiu dos holofotes graças à rixa.

Uma rixa verborrágica, onde os dois lados estão dando 'bom dia' aos burros. Aos milhões deles que vão acabar pagando a conta do espetáculo.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Isto era esperado em São Paulo!

Uma ciclista foi vítima da selvageria na nossa cidade. Juliana Dias, bióloga e cidadã paulistana, foi atropelada por um ônibus após ser hostilizada por um motorista de carro e de um outro ônibus, em plena avenida Paulista. 

Seria surpresa se não acontecesse uma morte assim, em uma cidade onde os ciclistas não têm vez. Por aqui, a bicicleta é encarada apenas como lazer, brinquedo de adultos. Não é vista como deveria ser: um meio de transporte econômico, por não gastar combustível e exigir pouca manutenção. 

Como o acidente aconteceu na mais importante avenida da nossa cidade, local de várias manifestações, alguns ciclistas protestaram por lá. Tiveram de ser retirados pela polícia, mas deram o seu recado, de acordo com suas possibilidades. 

A cidade vai ter de discutir, urgentemente, o problema da falta de ciclovias. Ela faz parte de um problema maior: o sistemático e francamente inconstitucional desrespeito ao direito de ir de vir, devido aos congestionamentos gritantes, à violência e às contínuas afrontas à lei no trânsito paulistano, somados à falta crônica de um transporte público digno de ser considerado como tal. 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Uma decisão a cada dia mais árdua

Votar para prefeito em São Paulo é uma responsabilidade muito grande, por ser a maior cidade do país. O chefe do Executivo paulistano possui tarefas duríssimas pela frente: violência, congestionamentos, déficit habitacional, lixo, drogas, educação, transporte público, saúde, apenas para citar as mais importantes. 

Conforme o tempo passa, deveria ser mais fácil definir um candidato, à medida que os partidos políticos e suas coligações anunciam seus candidatos. 

Todavia, neste ano a decisão é ingrata e árdua. E piorou ainda mais nestes últimos dias. 

O PT está com Fernando Haddad, o ministro "Enem". O PSDB vai iniciar as prévias e o mais cotado é o José Serra, o da "fidelidade" ao cargo. O PMDB quer Gabriel Chalita, o escritor. Agora, o PR pode vir a escolher quem para o cargo? Nada menos do que Tiririca. 

Prevejo um número recorde de abstenções, votos nulos e em branco. Só falta o Kassab imitar Luís XV e dizer: 

- Depois de mim, o dilúvio!