quarta-feira, 31 de maio de 2017

Balanço de maio

Maio termina, e o saldo foi negativo para o Brasil e talvez para o mundo. 

Foi o mês de mais uma grande crise política, provocado pelas gravações do dono da JBS para tentar incriminar Michel Temer e Aécio Neves. Enquanto no caso deste houve desgaste acentuado e um afastamento temporário, para Temer houve o recrudescimento da oposição e ameaças de ruptura na base aliada. Partidos menores romperam. O PSDB, porém, continuou apoiando o presidente, com crescente ressalva. 

Na pior parte da crise, os mercados reagiram em grande pânico, chegando a forçar um circuit-breaker, e ainda não há sinais de que tudo voltou à normalidade por causa da expectativa por reformas, as quais foram paralisadas devido à crise.

Antes, houve o tão falado depoimento entre Lula e Sérgio Moro, com uma sensação de frustração para os defensores da Lava Jato, que veem Lula como o grande beneficiário do Petrolão e, também, do esquema envolvendo o BNDES, lesado por ações de dirigentes de certas empresas como a JBS, e também para a militância petista, que não viu Lula "destruir" Moro (o contrário também não aconteceu).

Para o brasileiro comum, a convivência com o desemprego crescente - o número de pessoas a procura de emprego cresceu 23,1% entre abril de 2016 e abril de 2017 - aflige, e o desconforto piora com a sensação de falta de ordem e segurança. Em São Paulo, a desastrosa operação para desalojar habitantes da Cracolândia resultou no espalhamento dos viciados em crack em outros pontos da cidade, principalmente na Praça Princesa Isabel, que já sofria antes com a higiene e o risco de assaltos e roubos para sustentar o vício.

A boa notícia foi a queda nos juros: a reunião de hoje decidiu pela forte redução na taxa Selic, de 11,25% para 10,25%. Como sempre, o brasileiro comum vai demorar para sentir os efeitos da decisão, pois os juros do crediário e dos empréstimos não diminuem imediatamente com a medida - isso depende também do nível de inadimplência, que permanece alto: aumentou 4,3% entre as empresas, e entre as pessoas físicas o número é bastante alto: 58,3 milhões, em janeiro.

No exterior, cresceu a tensão na Coréia do Norte, com novos testes de mísseis e o envio de mais um porta-aviões para o Mar Amarelo, na costa da Coréia do Sul. Houve também atritos entre os Estados Unidos e a Europa, principalmente a Alemanha: Angela Merkel reclama do desrespeito americano aos tratados internacionais, enquanto Donald Trump fala em déficit crescente, com a Alemanha e outros países europeus contribuindo "pouco" para a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, cuja influência está perdendo terreno para a Rússia em questões como a guerra civil na Síria.

Junho começa agora e poderemos esperar por mais (más) notícias. Este ano está nos deixando com saudade de 2016!

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Da série 'Noventolatria - parte 8'

Com todos esses acontecimentos na política, envolvendo a JBS e a Lava-Jato, o governo Temer e Lula, ministros do Executivo, parlamentares e Judiciário, muita gente está com saudade da monarquia. 

Em 1993, o Brasil teve a oportunidade de escolher o regime de governo: além da monarquia, havia os dois tipos de república: parlamentarismo e presidencialismo, num plebiscito previsto na Constituição. 

Felizmente, a monarquia parlamentar não foi escolhida. E infelizmente, a república parlamentarista, adotada nos países mais adiantados do mundo não representados por uma realeza (com a exceção dos Estados Unidos), também não. 55,67% dos votos computados (inclusive brancos e nulos), segundo o TSE, votaram no presidencialismo. 13,66% optaram pela república parlamentar. Apenas 10,25% votaram no retorno da monarquia, derrubada em 1889. Os dados podem ser consultados clicando AQUI

Se o Brasil tivesse escolhido a volta da família imperial, dos Orléans e Bragança, para ocupar o trono, talvez não estaríamos nesta crise, mas o ruim da proposta dos monarquistas é a implantação do Poder Moderador, um mecanismo discricionário vigente no antigo Império que dava poderes extraordinários ao imperador. Por isso, foi bom a monarquia sofrer uma derrota humilhante naquele plebiscito. 

Eles poderiam alegar: "a monarquia é parlamentar", mas com o Poder Moderador seria uma espécie de absolutismo atenuado. No parlamentarismo, o Executivo é obrigado a dividir as decisões de governo com o Parlamento, que escolhe o primeiro-ministro, cujo nome é submetido à aprovação do presidente ou do rei. Com a imposição de um "quarto poder", não previsto pelas ideias republicanas vigentes nos países avançadas, o primeiro-ministro seria esmagado pelo arbítrio de possíveis monarcas tentados a abusarem de seu poder. 

Por outro lado, o roubo ao NOSSO DINHEIRO seria menor, pois governos centralizados estimulam o tráfico de influência e a corrupção, e isso seria minorado com uma distribuição maior do poder, mas isso seria mais garantido numa república parlamentarista do que numa monarquia como foi proposta durante o plebiscito. Logicamente, seria ainda melhor com reformas, as quais dependeriam da mobilização popular, como a reforma política com sistema distrital misto e repressão ao caixa 2 com regulamentação dos financiamentos de campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas (e não simplesmente restringindo-as, como irá acontecer no pleito de 2018). 

Assim, o melhor mesmo era manter a república, mas implantar o parlamentarismo. Em 1993, infelizmente, a rejeição ao Congresso, naquela época envolvido em um escândalo que atingiu alguns parlamentares (a "máfia dos sete anões" do Orçamento), falou mais alto e assim continuamos a sofrer com um presidencialismo centralizador, sempre assolado pela mentalidade patrimonialista daqueles que desejam ocupar o Planalto, como se a coisa pública se tornasse sua propriedade (vide Sarney, Collor e Lula, só para citar três exemplos). 

Abaixo, alguns vídeos da campanha pela mudança do regime, 24 anos atrás: 

Presidencialismo (com o ator Milton Gonçalves): 


Parlamentarismo republicano (notem o conteúdo do vídeo, muito atual): 


E, finalmente, a campanha da monarquia, com o jingle mais grudento daquele pleito: 


quinta-feira, 25 de maio de 2017

Da série 'Mondo Brasile', parte 5


Para não se prender ao tema da crise política e institucional do Brasil, vou falar de outros assuntos, também referentes ao país, em mais uma postagem da série 'Mondo Brasile', adaptação da série 'Mondo Cane' deste blog por mostrar aspectos macabros, patéticos, satíricos, bizarros ou simplesmente estranhos e curiosos em nossas plagas. Desta vez, trata-se de um livro, ou melhor, o seu conteúdo, considerado macabro por muitos.

O Último Abraço, de Vítor Hugo Brandalise, mostra a história real de um casal de idosos com problemas de saúde, principalmente a mulher, Neusa Golla, internada  em uma clínica geriátrica devido a um AVC. 

O marido, Nelson Irineu Golla, atormentado por problemas financeiros, abandono dos filhos e com um dos braços imobilizado devido a um problema neurológico, percebeu que ela queria morrer. Para atender ao desejo, ele criou um artefato com o qual pretende dar seu último abraço e por fim ao sofrimento de ambos: uma bomba caseira, para garantir uma morte fulminante e dramática. 

A tragédia ocorreu em setembro de 2014, e virou notícia em vários jornais. Detalhe: o homem conseguiu sobreviver e se recuperar dos ferimentos, mas seu ato gerou novos problemas, desta vez com a Justiça. 

Como se pode notar, não é um livro para qualquer um, principalmente para pessoas muito suscetíveis, com tendências depressivas e já abaladas pelo difícil momento pelo qual passa o Brasil. A obra de Brandalise aborda, como uma reportagem jornalística, a questão da eutanásia, dos desejos suicidas e do abandono que afeta milhões de pessoas no Brasil. 

quarta-feira, 24 de maio de 2017

O Brasil sem rumo novamente

Depois de um período difícil enfrentado pelo povo brasileiro durante os dois mandatos do governo Dilma, até o processo de impeachment, o Brasil parecia voltar à tranquilidade com o governo do vice, Temer, considerado tíbio pelos conservadores e "golpista" pelos antigos partidários da presidente destituída. 

Mesmo assim, os protestos contra o governo eram pacíficos e ordeiros, até agora. 

Black blocs voltaram a agir e provocaram violência, em atos comparáveis a 2013, quando eles se aproveitaram do descontentamento para causarem baderna. Agora, eles ousaram: colocaram fogo dentro do Ministério da Agricultura, com o pretexto de dar um basta às reformas trabalhista e previdenciária. Escolheram o Ministério da Agricultura e não o do Trabalho e da Previdência Social, por mero detalhe: eles querem a queda do "usurpador" Temer. Consta que outro prédio, o do ministério da Fazenda, também foi atacado. 

Fogo afeta o prédio do Ministério da Agricultura, em Brasília (Marlene Gomes/Correio Braziliense)

Em resposta, o Ministério da Defesa Raul Jungmann disse que vai colocar o Exército para proteger os ministérios, até o próximo dia 31. O problema é alegar uma razão falsa: Rodrigo Maia teria pedido a intervenção, para evitar tumultos que possam atrapalhar a votação das reformas. O presidente da Câmara desmentiu Jungmann. 

Enquanto isso, chovem pedidos de impeachment de Temer, e a chapa Dilma-Temer pode ser julgada no mês que vem, para considerar todo o período 2014-2018 como ocupado por governos fraudulentos, e não só de Temer, com chances razoáveis de cassar os direitos políticos dos envolvidos.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Roger Moore (1927-2017)

Roger Moore nunca mais se livrou da fama do agente com licença para matar (Divulgação)


Roger Moore, ator britânico, fez vários papeis em sua carreira, mas por aqui ele só ficou conhecido como o segundo James Bond. 

Ele fez o agente secreto sedutor de belas mulheres e envolvido nas mais arriscadas missões em sete filmes: 

007 - Vive e deixe viver (1973)
007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro (1974)
007 - O Espião que Me Amava (1977)
007 contra o Foguete da Morte (1979)
007 - Apenas para os Seus Olhos (1981)
007 contra Octopussy (1982)
007 - Na Mira dos Assassinos (1985)

Ninguém se lembra de sua atuação na televisão, como o lorde Brett Sinclair em The Persuaders, sucesso na TV no começo dos anos 1970, e em outros trabalhos, ao contrário do primeiro e mais carismático dos 007, o escocês Sean Connery, que conseguiu se livrar da imagem do agente a serviço de Sua Majestade Britânica para fazer outros papeis memoráveis. 

Tanto um como outro foram ativistas: enquanto o escocês luta pela independência da Escócia, Roger Moore, inglês e defensor do Reino Unido, foi embaixador da Unicef contra a pobreza extrema. Depois, viveu na Suíça até sua morte, minado pelo câncer. Tinha 89 anos. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Assuntos em mais uma semana tensa

1. O perito Ricardo Molina analisou as gravações de Joesley Batista e Michel Temer e desqualificou-a inteiramente. Em termos contundentes, disse que elas não servem como prova (clique AQUI e AQUI). Molina, contratado pelo advogado Antônio Mariz de Oliveira, amigo do presidente, catalogou os trechos inaudíveis e questionou a Procuradoria Geral da União por aceitar o áudio como indício de crime de responsabilidade por parte de Temer. 

2. Aconteceu no fim de semana o Grand Slam de Judô em Ecaterimburgo, Rússia. O destaque foi Erika Miranda, que ganhou ouro na competição ao derrotar a russa Alesya Kuznetsova. Erika era uma das esperanças de medalha na Rio-2016, mas não conseguiu, ao ser derrotada pela japonesa Misato Nakamura. Depois, David Moura derrotou o georgiano Levani Matiashvili nas finais dos pesados, e também ganhou ouro. 

3. Na Virada Cultural, acontecida no final de semana, não houve um único local: os eventos musicais e artísticos voltaram a acontecer no centro da cidade, mas também no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte, e no Parque do Carmo, na Zona Leste, quase tão longe do centro quanto o Autódromo de Interlagos (Zona Sul), palco da Virada no ano passado. A chuva e o frio atrapalharam bastante, e a descentralização não ajudou a atrair o público, além de ter havido menor divulgação. Muitos artistas aproveitaram para fazer críticas a Michel Temer. 

4. Donald Trump está em Israel para reforçar os laços entre os Estados Unidos e o estado judaico, além de tentar promover a paz na região, algo difícil ainda mais para ele. Antes, ele visitou um dos aliados muçulmanos da região, a Arábia Saudita. Ele também vai visitar Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina, para convencê-lo a dialogar com o governo israelense. Mais tarde, ele irá visitar o Vaticano, a Itália e a Bélgica, cuja capital, Bruxelas, é a capital de facto da União Européia. 

sábado, 20 de maio de 2017

Novo pronunciamento do presidente

Michel Temer fez uma acusação dura contra o presidente da JBS, Joesley Batista, dizendo que ele conspirou contra o Brasil, em novo pronunciamento. 

Leia a íntegra AQUI

O próprio Temer não explicou o seu envolvimento com Joesley, o que era esperado, mas, essencialmente, as acusações contra o executivo e delator têm fundamento. As chances de suspender o inquérito contra o presidente são boas, mas isso não vale para Aécio Neves, golpeado seriamente pelas gravações e obrigado a recorrer à Mesa Diretora do Senado contra o próprio Supremo, que mandou suspendê-lo.

Cabe fazer uma observação pertinente aqui: mesmo com a suspensão ou mesmo o arquivamento do inquérito, a vida de Temer seguirá difícil, pois a pressão em favor de uma renúncia continuará forte. 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Reflexões sobre o atual momento

Os formadores de opinião precisam repensar um pouco mais a respeito de sua conduta nesta crise. 

Jornalistas, juristas, procuradores (inclusive os envolvidos na Lava Jato) e cientistas políticos precisam obedecer as leis, são fiéis aos fatos, ignorar a torcida e não dar tanto crédito para a militância. 

No Brasil em crise, existe muita gente nas categorias aludidas que obedecem à militância, são fiéis à torcida, ignoram as leis e não dão tanto crédito para os fatos. 

Cada um precisa ficar um pouco mais em seu lugar: militância e torcida são para quem têm direito a isso. E os formadores de opinião não têm exatamente esse direito. Devem expressar sua opinião, mas não devem tentar induzir os leitores a acreditarem em algo diferente do que realmente acontece. 

Andam confundindo jornalismo crítico com o do tipo hay gobierno soy contra. Há muitos motivos para criticar, às vezes com bastante severidade, as atitudes do atual governo, mas não devemos demonizá-lo, assim como não se demoniza qualquer outro governo, mesmo o anterior de Dilma, tão combatido (de forma justificada, diga-se, pois foi um fracasso) até mesmo por muitos que enxergam em Temer uma espécie de anticristo. Governos, assim como os seres humanos, erram e acertam em diferentes medidas.

Enquanto isso, os procuradores da Lava Jato e do caso JBS (que NÃO faz parte da Lava Jato) devem lidar com a lei sem se preocuparem tanto em serem "celebridades", os juristas devem preservar a lei e corrigir os rumos de quem impõe a Justiça neste país, inclusive as operações anti-corrupção, abstendo-se de favorecer os "justiceiros", e os cientistas políticos precisam subordinar a sua ideologia aos acontecimentos e à busca da verdade, embora, neste último caso, isso se torne uma tarefa mais difícil, principalmente para os adeptos do socialismo e simpatizantes do petismo. 

Existem milhares de pessoas em grupos políticos organizados que apontam a Lava Jato como um movimento revolucionário e as eleições diretas (com uma notável falta de nomes viáveis como alternativa a Lula, Marina Silva, Jair Bolsonaro e João Dória Jr.) como o remédio para a crise. Não é função do jornalismo e da análise política dizer “amém” a elas descuidadamente. Caso contrário, tornam-se meros simpatizantes da militância, e não profissionais. 

A Lava Jato é revolucionária até certo ponto, mas sua função é investigar todos os crimes políticos, econômicos e financeiros vindos de Brasília nos últimos anos, sem exceção e dentro da lei, e não tentar fazer justiça a qualquer custo, sob pena de abalar sua própria credibilidade. Quanto às eleições diretas, elas simplesmente não estão previstas na Constituição, a qual impõe intervalos certos e regulares, e precisam ter nomes viáveis escolhidos com critérios, pois estão decidindo os destinos do país: eleições diretas agora sem candidatos formalizados dão chances para os aventureiros e “salvadores da pátria”. 

Se os formadores de opinião querem ter visão crítica, não podem brigar com a realidade nem querer agradar a plateia só para ter audiência. Caso contrário, correm o risco de distorcer a verdade e se tornarem deformadores, não formadores. Isso é um perigo, ainda mais diante da crise decorrente do maior esquema de corrupção já visto neste século, que dilapidou avidamente o NOSSO DINHEIRO. 

Por que Temer se safou e Aécio não?

O teor das conversas entre Michel Temer e Joesley Batista não mostra muita coisa a respeito da suposta tentativa de calar o deputado cassado Eduardo Cunha. Logo, apesar de ter afetado de forma impetuosa a normalidade do Brasil como país, não serve para dizer que o presidente cometeu crime. Logo, é bem possível que o nervosismo da quinta feira se reverta hoje, e a opinião pública fique  mais interessada nas intenções do dono da JBS, que já havia feito acordos de delação premiadas com garantias especiais para ele e seu irmão. 

Para ler e ouvir o conteúdo, clique AQUI

Por outro lado, a situação de Aécio Neves é muito pior. Está bem clara a gravação entre ele e o denunciante, com direito a insultos contra o presidente do Senado Eunício Oliveira e o ministro da Justiça Osmar Serraglio. As expressões empregadas são tão apropriadas para um senador quanto um estupro numa igreja. Leia AQUI

O senador tucano pode correr o risco de ver sua carreira política ser aniquilada. Já Temer, se depender apenas do áudio liberado pelo STF, pode se considerar ainda no cargo e ficar mais tranquilo, mas não muito, porque setores da sociedade, até mesmo os defensores das reformas e os que vociferavam e ainda vociferam contra o PT, considerado o grande beneficiado pelo mega-esquema de corrupção que devastou o Brasil, vão continuar furiosos com o atual presidente e seus aliados.

Enquanto isso, os Batista estão em Nova York, quando deveriam ser investigados mais a fundo. Afinal, a cúpula da JBS é acusada de várias irregularidades tanto no "Petrolão" quanto no BNDES, desde o início do governo Lula, e não faltam indícios de que eles se beneficiaram, mais do que foram prejudicados com a queda de 14% nas ações, com toda essa confusão que deixou o Brasil de novo num clima transtornado. 

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Volta da catatonia

Estampa de uma marca carioca de camisetas - adequada ao momento do Brasil nesta década

Ações derretendo, dólar explodindo, e pedidos para tomada de medidas extremas. Isso ocorreu em 2015 e 2016, e repete-se em 2017, no ameaçado governo Temer. 

Quando tudo parecia caminhar para uma recuperação lenta demais, gradual em excesso e não muito segura, parafraseando o famigerado mote da abertura política no período final da ditadura militar, as relevações do dono da JBS revelaram os podres do governo atual, derivado do antigo por ser Temer o antigo vice-presidente de Dilma. 

O senador tucano Aécio Neves e Guido Mantega, antigo homem forte da economia sob Dilma, foram também citados por Joesley Batista. Aécio já foi suspenso do cargo por ordem de Edson Fachin, e pode ser cassado. Por enquanto, Mantega ainda está pouco exposto nos holofotes, mas é questão de tempo até ele ser incomodado de verdade. 

Quanto ao principal nome, Temer, pronunciou-se hoje e confirmou o encontro com Joesley, mas nega categoricamente ter comprado o silêncio de Eduardo Cunha. Ele também fez questão de dizer que não renunciará, embora isso seja, para muitos, uma saída honrosa, defendida pelo MBL, pelo Movimento Brasil Livre, pela líder do movimento pró-impeachment de Dilma, Janaína Paschoal, e até por Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil. Este último fez um apelo para o Congresso, o Judiciário e o governo preservarem as instituições e a lei. 

Enquanto isso, os brasileiros estão vendo, desolados, a rápida e aterrorizante deterioração do sistema político-partidário no país, mal sustentado durante todo esse tempo até a ascensão de Lula, que conseguiu piorá-lo ainda mais em nome da "governabilidade", e se tornou pútrido com Dilma e Temer. O país está entregue à catatonia, de volta a um caminho sem rumo, à espera de milagres impossíveis e soluções ora fáceis e por demais ilusórias, ora efetivas mas cuja implementação parece muito difícil. 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Novo escândalo abala governo Temer

Esta semana foi terrível para o governo Temer. Além da chapa estar prestes a ser julgada pelo TSE, o dono da JBS, Joesley Batista, denunciou o presidente por ter comprado o silêncio de Eduardo Cunha, notório sabedor de muita coisa em Brasília, inclusive um possível (mas ainda não provado) envolvimento do presidente no maior escândalo de corrupção deste século. As denúncias são baseadas em gravações ocultas. 

Apesar dos avanços econômicos e nas reformas, Temer não tem razão para estar tranquilo (Marcelo Camargo/Ag. Brasil)

Joesley ainda afirmou que pagou R$ 5 milhões ao deputado cassado após sua prisão e mais R$ 20 milhões por "agradecimentos" a um projeto de lei aprovada por aliados de Cunha para desonerar produtos de frango. 

Isto ainda precisa ser bem apurado. Enquanto isso, o governo, como sempre, tratou de se defender, negando as acusações. Membros do Planalto esperam que o STF considere isso uma confissão obtida por meios não autorizados pela Justiça, e, portanto, seu valor como prova seria questionável. 

Por outro lado, a oposição pediu o impeachment do presidente, pregando eleições diretas, mas isso depende fundamentalmente de uma ampla maioria (dois terços) do Congresso. Na verdade, é mais um ato de desespero dos petistas e simpatizantes do antigo governo, pois não têm nem de longe condições para realizar um impeachment e muito menos propor outro tipo de eleições senão as indiretas, pois já se está bem além da metade do período definido entre 2014 e 2018. 

Mesmo assim, é algo terrível, capaz de abalar o otimismo do governo com reformas consideradas impopulares e amargas (para evitar tomar medidas piores no futuro) e uma recuperação econômica pífia (embora obviamente melhor do que a recessão vivida entre 2013 e 2016). 

terça-feira, 16 de maio de 2017

TSE decidirá no próximo dia 6

Os ministros do TSE vão decidir o futuro da chapa Dilma-Temer no próximo dia 6 de junho, de acordo com a decisão de seu presidente, Gilmar Mendes, também ministro do STF. 

Nada está decidido ainda, mas também não se pode descartar a condenação da chapa, com a convocação de novas eleições indiretas. Contudo, a decisão final caberá mesmo aos senhores juízes do tribunal superior eleitoral. As penalidades serão brandas: Dilma fica definitivamente inelegível por oito anos, sentença que não foi aplicada no final de agosto, durante a etapa final de seu impeachment, no Senado. E Temer não terá seus direitos políticos cassados, mesmo se for apeado da presidência.

Enquanto isso, a repercussão do primeiro ano de governo do presidente e antigo vice da petista reeleita em 2014 é morna e desanimada, apesar dos avanços nas reformas, em novas diretrizes para a educação no país e uma discreta retomada da atividade econômica.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Navegar é perigoso

Se ainda existe gente despreocupada quando usa a Internet, e isso ainda é um fato, melhor encarar a realidade o quanto antes.

74 países e milhões de internautas viram essa tela (divulgação)

A Internet nunca ficou tão ameaçada como na sexta-feira passada, quando um ransomware, programa desenvolvido para sequestrar dados de usuários, contaminou milhões de computadores em 74 países. Especialistas descobriram tratar-se de uma versão mais virulenta do WannaCry. 

Sites de governos, empresas e pessoas comuns foram inutilizados e os bandidos cibernéticos exigiram bitcoins para liberarem os dados. Na maior parte das vezes, porém, eles levam o dinheiro virtual e os usuários não conseguem reaver seu conteúdo armazenado com sacrifício em seus discos rígidos. 

Para piorar, o ramsomware agiu sem interferência do usuário. Basta o PC ou o notebook ser ligado e conectado, e o invasor passou a controlá-lo, tornando a máquina uma espécie de intermediário para facilitar os ataques a outros aparelhos. 

As vítimas eram, via de regra, donas de máquinas com Windows desatualizado ou proveniente de cópias ilegais. Por isso, os especialistas recomendam categoricamente a atualização dos computadores, instalação de antivírus eficientes e cuidado especial com sites desconhecidos.  

Por sorte, um programador descobriu, por acidente, como deter a ameaça, descobrindo a vulnerabilidade do perigo, e o desativou, usando a Namecheap.com. O nome do "herói" está em sigilo. No entanto, outros ataques poderão ocorrer a qualquer momento.

Usar a Internet nunca foi tão perigoso.


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Três (na verdade, quatro) empresas em pauta nesta semana

Nesta semana se falou de quatro grandes empresas em três eventos. Um deles envolve venda de ativos de uma empresa para outra, daí o número de eventos não ser igual. 

Trata-se da venda de 49,9% das ações antes pertencentes à XP Investimentos, a maior corretora do país, para o poderoso banco Itaú, por quase US$ 6 bilhões. Fundada em 2001, a XP teve uma ascensão fabulosa, e tornou-se sinônimo de confiabilidade e rentabilidade em setores como o Tesouro Direto, ações e fundos de investimentos, sem cobrar taxa de manutenção. Embora se assegure que a corretora e o banco terão independência entre si a curto prazo, muitos analistas econômicos e clientes da XP estão seriamente preocupados, ao verem seu dinheiro aos cuidados de uma empresa que poderá vir a ser absorvida pelo maior banco do país. 

Nesta semana o Hopi Hari também virou assunto: com R$ 700 milhões em dívidas, o tradicional parque de diversões de Vinhedo fechou. A empresa assegura que o fechamento é temporário, embora haja motivos para imaginar quanto tempo o parque vai permanecer assim - não há prazos disponiveis, por enquanto. O Hopi Hari corre o risco de ter o mesmo destino do Playcenter, fechado em 2012 e provavelmente desativado para sempre, apesar das promessas de reabertura em outro local (as instalações do parque na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, próximo à Marginal Tietê, foram retiradas completamente). Problemas de gestão, brinquedos mantidos sem o devido cuidado (que já provocaram mortes, como este blog já relatou) e falta de sintonia com o público nos últimos anos selaram o destino dos dois concorrentes na área de entretenimento.

Outra empresa, desta vez americana, é a General Motors, mais precisamente a sua filial por aqui, a Chevrolet do Brasil. O modelo Onix, o mais vendido da categoria por reunir boas qualidades como espaço interno, conforto e recursos tecnológicos, embora fique devendo em acabamento, custo-benefício e design, seguindo o exemplo de quase toda a concorrência em sua faixa de preço. Deixou a desejar principalmente no ítem "segurança", como mostrou o teste da NCAP latina. Recebeu nota ZERO em impacto lateral, um verdadeiro atentado à vida dos ocupantes e também à imagem da montadora, que não demorou em se defender, com base nas vendas do modelo, nos equipamentos de segurança (que todo carro novo é obrigado a ter, como ABS e air-bags) e ao OnStar, basicamente um serviço de atendimento a distância em caso de acidentes, que não é levado em consideração nos testes da NCAP. 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Da série 'Mondo Brasile', parte 4

Nosso país está assolado pela má qualidade da educação formal e deficiências na formação de mão-de-obra, mas não precisamos nos estressar muito com isso. Na verdade, isso pode até ser (involuntariamente) engraçado. Eis algumas pérolas do comércio (divulgação): 

Oh, my God!

Coelho é ave?! (Obs.: o nome da loja não nos interessa)

Nunca ouvi falar de caspa dental!

Evangélicos não vão comprar nesta loja

Que marca estranha para um panetone!

Essa parte do frango é barulhenta e fedida!

Carne Friboy?! Cadê a Operação Carne Fraca que não vê isso?

Cuidado com a flor!

Coisa de pé-de-chileno... ops! de chinelo!

Para aquele momento íntimo esquentar de verdade! (O nome da loja não importa mesmo)

Isto não é problema de falta de formação. Quem escreveu deve ter curso superior, com certeza...
Sem comentários!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Não foi o que pensavam

Partidários da Lava Jato e do ex-presidente Lula quiseram transformar o depoimento em Curitiba em um ato político ou uma luta maniqueísta. Não aconteceu nada disso. Foi apenas um procedimento normal da Justiça por um juiz de primeira instância contra um réu.

Os militantes pró-Lula se juntaram em Curitiba: foram pouco menos de 7 mil pessoas, bem menos do que se poderia esperar. Partidários da Lava Jato resolveram continuar com os seus afazeres e não foram se manifestar, a não ser alguns grupos pequenos. 

A audiência durou cinco horas, e neste tempo os dois lados mostraram seu repertório. Lula negou ter posse do triplex no Guarujá e disse que não recebeu propina da OAS, e se queixou do "Power Point" feito pelos procuradores com a intenção de apontá-lo como beneficiário do maior esquema de corrupção ocorrido neste século. Continuou a dizer que o Ministério Público não tem provas contra ele. No final de tudo, não houve um "xeque-mate" feito por um dos lados, um ato de desespero do réu ou uma arbitrariedade do juiz, mandando prender o investigado após o interrogatório. 

Lula ainda teve ânimo para se juntar à militância e continuar a sua campanha antecipada para as eleições do ano que vem, provando que Sérgio Moro não lhe tirou o ânimo. Não ainda. A disputa do ex-presidente para voltar ao Planalto ficou ainda mais incerta, e o juiz está pronto para analisar as informações colhidas antes e agora - e também nos próximos dias - para o ato seguinte: a possível sentença. 

Até lá, as opiniões tendem a continuar as mesmas, como foram até ontem: quem apoiou Lula vai continuar "lulista", e quem é partidário da Lava Jato não abre mão de ser "morista". 

A página da Exame.com no Youtube mostra o vídeo do depoimento. A Exame é revista de propriedade da Editora Abril, vista como "inimiga" do petismo. 


Vai começar

Hoje às 14h vai acontecer o evento mais esperado do mês aqui no Brasil. 

Em Curitiba, o juiz Sérgio Moro vai interrogar o ex-presidente Lula. Os partidários de ambos esperam por eventos dramáticos e pouco prováveis de acontecer, como a prisão do ex-presidente. Embora os seguidores do juiz, com exceção de alguns poucos, tenham obedecido ao apelo para não irem à Curitiba, os lulistas foram até lá para tentar fazer do evento uma ação política. 

Mais tarde, quando o interrogatório terminar, volto a este blog

segunda-feira, 8 de maio de 2017

E se Marine Le Pen ganhasse a eleição na França?

Emmanuel Macron ganhou as eleições presidenciais na França, derrotando a extremista Marine Le Pen, em um confronto entre duas visões bem distintas de dois políticos relativamente jovens: a Europa unida pautada pelo realismo de um contra o nacionalismo marcado por ousadia e certo idealismo de outra.

O nacionalismo xenófobo foi derrotado, mas não está morto, e vai atrapalhar o eleito, Emmanuel Macron

Mas o que iria acontecer se fosse Le Pen, e não Macron, a ganhar as eleições?

Quando a França iniciaria um processo de saída da União Europeia (UE)?

Até que ponto ficaria difícil para o Brasil estabelecer novos acordos comerciais com a Europa?

Como Le Pen iria lidar com o Parlamento? Ela faria as reformas econômicas ou causaria um estrago na economia francesa?

Os possíveis atritos com o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve poderiam causar uma crise institucional?

Ela seria mesmo um antídoto contra o terrorismo, principalmente o islâmico, com seu nacionalismo extremado e anti-imigrante?

Aliás, ela conseguiria mesmo desestimular o fluxo migratório no país?

Estas perguntas não serão respondidas, porque a filha do histórico líder Jean Marie Le Pen não foi eleita. A União Europeia está salva, por enquanto, mas depende das futuras atitudes do novo presidente. E ele certamente vai responder, espera-se com ações efetivas e não com discursos e palavras, a outras perguntas, mas, tirando a questão sobre a agora improvável saída da UE e o fato de Macron não ser nacionalista extremado, embora também tenha sérias divergências com seus aliados (de ocasião) socialistas, são muito parecidas com as formuladas acima.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Da série 'Noventolatria', parte 7

A política no final do século XX era marcada por uma pitoresca figura cuja aparição era em geral bem rápida no horário político, mal passando de um minuto no máximo, e terminava sempre com a frase, aos berros: 

- MEU NOME É ENÉAS!

 
Enéas (1938-2007) foi um dos nomes da política brasileira nos anos 1990: Meu nome é Enéas!!! (Divulgação)

Faz exatos 10 anos que sua fisionomia excêntrica, calva, adornada com óculos grossos e uma grande barba tingida de preto, não aparece mais, pois a 6 de maio de 2007 uma leucemia pôs fim à vida do doutor Enéas Ferreira Carneiro, médico cardiologista nascido no Acre em 1938 e orgulhoso de ter sido um dos melhores alunos desde o ensino fundamental, antigo primário, até a faculdade.

Fundou o pequeno Partido da Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, um dos vários partidos "de aluguel" que infestaram e ainda infestam a nossa política, só para concorrer às eleições de 1989. Sem coligações, ele teve só 15 segundos para falar, quase aos berros e ostentando uma gramática pouco comum de tão castiça, cheia de termos pouco empregados pela maioria dos brasileiros. Até surpreendeu, com 360 mil votos, sendo o mais votado dos candidatos ditos "de aluguel", e superando alguns nomes mais tradicionais como Fernando Gabeira. 

Contudo, os anos 90 foram o auge da carreira do Dr. Enéas. Enquanto se preparava para a próxima eleição, fez pequenas aparições em comerciais e como comentarista político no sensacionalista "Aqui Agora". Para se tornar mais conhecido, aproveitou as propagandas políticas da época, longuíssimas (cerca de 1 hora de duração), para expor suas ideias: nacionalismo, defesa da família e dos valores tradicionais e, principalmente, ser contrário a todos os demais políticos e outros fatores que ele considerava geradores de "desordem" como: aborto, homossexualidade, drogas, ação de multinacionais e potências estrangeiras, patrimonialismo, comunismo e desvalorização das escolas. Logo os analistas políticos perceberam que não se tratava apenas de um político folclórico, mas de alguém alinhado com a chamada "direita política", em sua vertente antiliberal (a chamada "direita tradicional" defende valores mais democráticos e a favor da livre iniciativa e das multinacionais). 

Em 1994, sem tantos candidatos à Presidência, ele conseguiu "bem" mais tempo: 77 segundos, contra os 15 anteriores. Foi o suficiente para ele expor seu programa nacionalista e conservador, criticando os outros candidatos em termos duros como "pacóvios", "apedeutas", "pascácios", "biltres", "caterva", "súcia" e usando seu vasto vocabulário, sem concessões às palavras de "baixo calão". Insinuava que Fernando Henrique Cardoso se baseava numa fraude chamada "Plano Real" (o responsável pelo controle efetivo da inflação em nosso país) para se eleger, e destratava Lula, chamando-o de despreparado e sem instrução. Muita gente que não se identificava com um ou outro deu razão às críticas do doutor e deu a resposta nas urnas: 4,6 milhões de votos. Um fenômeno eleitoral, que o estimulou a ousar mais nos anos seguintes, mas com resultados contraproducentes.

Gritou contra o Plano Real, foi contra a globalização vigente na época, viu ações das potências estrangeiras (em tom de teoria conspiratória) para sugar os recursos do Brasil, principalmente o nióbio, metal usado na alta tecnologia e cujas maiores reservas se encontram no Brasil. Passou também a utilizar o primeiro movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven para dar mais "dramaticidade" às suas falas. Aumentou os ataques à imprensa, chamando-a de "podre", reagindo aos jornalistas que o viam como antiliberal, defensor do autoritarismo e profissional relapso, por supostamente faltar muito às suas obrigações como médico. Sobretudo, passou a defender o aumento dos gastos militares e a fabricação da bomba atômica. Isso e mais o fato de ter menos tempo na próxima campanha presidencial - 35 segundos - o fez perder votos e ser visto como um neofascista esquisitão. Ganhou "apenas" 1,4 milhão de votos.

Nesta época, seu bordão foi modificado para Meu nome é Enéas, 56!, para reforçar o número da legenda de seu partido. 

Depois, pressentindo novos fracassos como candidato à Presidência, resolveu violar a sua promessa, registrada em cartório, e candidatar-se a outros cargos. Em 2000, foi candidato a prefeito, sem sucesso, mas conseguindo eleger como vereadora a Dra. Havanir, sergipana que imitava bem o modo irritado de falar do seu mentor político, inclusive com o bordão Meu nome é Havanir!

No século XXI, como deputado federal. Foi eleito, com 1,57 milhão de votos, e ainda conseguiu eleger cinco outros partidários, no famigerado "quociente eleitoral" que beneficia políticos sem expressão e sem votos atrelados a uma figura popular. Todavia, já não teve o mesmo apelo junto ao eleitorado e sua saúde piorou, devido a uma leucemia. Por fim, foi obrigado a raspar a barba e adaptar seu jargão para Com barba ou seu barba, meu nome é Enéas, 5656! 

Por fim, ele faleceu, deixando o horário eleitoral menos interessante, mas ainda com um monte de candidatos bizarros "puxadores de votos". Para os seus seguidores, o Dr. Enéas era uma figura brilhante, cujas ideias poderiam trazer ordem e progresso ao Brasil (a doutrina do doutor, publicada em folhetos, tem influência positivista, como em certos pensamentos militares no século XX). Para outros, não passava de um fascistóide amalucado, embora não neguem sua capacidade intelectual. Mas deixou saudade, ainda mais em um tempo onde os valores conservadores e tradicionalistas estão voltando a ganhar força após o trágico legado de um governo dito "progressista" do PT. 


Abaixo, alguns vídeos onde ele aparece com sua barba, óculos e a famosa frase. São apenas as dos anos 90, para não fugir da temática "noventólatra", portanto não veremos o ilustre político sem barba e nem as primeiras aparições da eleição presidencial de 1989 - elas também estão disponíveis no Youtube. Também é de 1989 uma declaração marcante dada no final do programa do Jô, então no SBT, que já mostra o seu gosto pelo vernáculo, mais evidente nos anos 1990 e 2000:

"O dado mais importante que separa o ser humano de todos os seus irmãos e primos da escala filogenética (os macacos) é o conhecimento; só o conhecimento liberta o homem, só através do conhecimento o homem é livre e em sendo livre: ele pode aspirar uma condição melhor de vida para ele e todos os seus semelhantes. Só consigo entender uma sociedade na qual o conhecimento seja a razão de ser precípua (principal) que o governo dá para a formação do cidadão. Minha mensagem é positiva, é de que o homem tem de saber, conhecer e em conhecendo ele é livre. Muito obrigado, meus amigos! E meu nome é Enéas! (risos)" 

 Uma das propagandas do barbudo em 1994, que expõe seu arraigado nacionalismo

Trechos da propaganda de 1998, onde ele faz duras críticas aos outros partidos

Em entrevista com o também contraverso Boris Casoy, Enéas defendeu a bomba atômica, mote de sua campanha em 1998

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Avisos aos governadores

O STF e o TSE não foram complacentes com os governadores nesta semana. 

Hoje, o Tribunal Superior Eleitoral mandou cassar o mandato do governador do Amazonas, José Melo (Pros), acusado de compra de votos para se eleger. Ele conseguiu 55,5% dos votos válidos no segundo turno. Ainda cabe recurso.

José Melo, governador do Amazonas com o cargo em xeque, nega as acusações de crime eleitoral (Reprodução/Twitter)
O Supremo também mandou recado aos demais governadores: eles podem ser processados criminalmente mesmo sem aval dos Legislativos locais. Apenas Celso de Mello votou contra. Dias Toffoli não participou, e todos os demais - Carmen Lúcia, Gilmar Mendes, Edson Fachin, Marco Aurélio, Luís Fux, Luiz Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo Levandowski e Alexandre de Moraes - facilitaram o trabalho do STJ, o Supremo Tribunal de Justiça, responsável pelo julgamento de autoridades do Poder Executivo estadual e municipal, para apurar irregularidades.

Boa parte dos governadores está envolvida com alguma acusação, entre os quais Pezão (Rio de Janeiro), Fernando Pimentel (Minas Gerais), Geraldo Alckmin (São Paulo), Tião Viana (Acre), Renan Filho (Alagoas), Beto Richa (Paraná), Flávio Dino (Maranhão) e outros citados na "lista da Odebrecht". Cabe ao STJ definir se existem provas para tornar réus alguns desses nomes.


P.S.: O juiz Sérgio Moro foi derrotado por uma decisão em segunda instância, feita em Porto Alegre por determinação do desembargador Fernando Brunoni, da Quarta Vara do TRF. Moro havia obrigado Lula a comparecer a todos os 87 depoimentos de testemunhas, mas Brunoni entendeu que o ex-presidente ainda responde em liberdade e o comparecimento do réu aos tribunais para ouvir testemunhas é facultativo e não obrigatório. Isso não livra o ex-presidente de ser preso a qualquer momento.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Os brasileiros na Libertadores

Nunca houve tanto time brasileiro na fase de grupos, mas a maioria não está fazendo uma campanha tranquilizadora para seus torcedores. 

Flamengo e Botafogo, os cariocas do torneio, estão fazendo sua parte, mas caíram nos dois "grupos da morte". 

O pior deles, o Grupo 4, reune o rubro-negro, o Atlético Paranaense, o San Lorenzo e a Universidad Católica do Chile. Hoje, o rubro-negro venceu o chileno por 3 a 1 com dois gols do peruano Guerrero (o ex-ídolo do Corinthians que fez o Chelsea sofrer e perder no Mundial de Clubes em 2012), e está em primeiro, com 9 pontos, enquanto a Católica está com 5, em último, mas ainda com chances. O Flamengo é um dos favoritos ao título, mas ainda não tem vaga garantida. 

Aliás, na penúltima rodada da fase de grupos, NENHUM brasileiro está assegurado na fase seguinte, e isso pode ser visto ao longo deste texto. 

No mesmo grupo, o "Furacão" paranaense acabou de perder feio do San Lorenzo por 3 a 0, e ainda deve encarar os chilenos. Com 5 pontos, suas chances não são grandes, precisando vencer no Chile e ainda torcer por uma derrota dos argentinos para o rubro-negro. 

Quanto ao outro carioca, o Botafogo, está tentando sobreviver num grupo terrível, com o atual campeão Atlético Nacional da Colômbia, e o surpreendente Barcelona de Guayaquil, do Equador, não tão badalado como o time homônimo com o trio MSN (que, mais uma vez, vai ter de esperar a próxima temporada para tentar ganhar a Champions League...). Ontem, o alvinegro carioca, da "estrela solitária", perdeu por 2 a 0 dos equatorianos que não são catalães, e está com 7 pontos. 

Santos e Palmeiras representam o futebol paulista. O Santos está no grupo 2, e ainda vai jogar, contra o Santa Fé da Colômbia. Por enquanto é o líder, com 5 pontos. Já o Palmeiras acabou de perder do Jorge Wilstermann, da Bolívia, por 3 a 2, na altitude de Cochabamba, e vai ter que esperar a próxima rodada para jogar com o Atlético de Tucumán, pelo grupo 5. O alviverde é considerado o maior favorito entre os brasileiros para levar a taça mais cobiçada da América, e está em primeiro, com 10 pontos, mas ainda precisa de pelo menos um ponto e depende de outros resultados para avançar mesmo se perder. 

Por outro lado, o Atlético Mineiro também está muito cotado, ainda mais porque goleou os Sport Boys Warnes, da Bolívia, fora de casa, por 5 a 1, mesmo sem Fred e Robinho. Em seu grupo, o de número 6, está empatado com o Godoy Cruz, com 10 pontos, mas o Galo tem maior saldo de gols: 8, contra 5 do time argentino.

Entre os sulistas, além do Atlético Paranaense já citado, ainda temos a Chapecoense e o Grêmio. O Verdão catarinense está em má situação, com apenas 4 pontos e está junto com times fortes como o Lanus e o Nacional do Uruguai, no grupo 7. Eles já têm 7 pontos e dificilmente perderão as vagas; a Chape jogou na semana passada e perdeu de 3 a 0 dos uruguaios e precisa vencer a Lanús na Argentina, ou estará fora, sem direito a lamentar o fato de ter um apanhado de jogadores formado às pressas após aquele horrível 28/11.

Já o Grêmio não pode se queixar neste ponto, mas tropeçou diante do Iquique do Chile, por 2 a 1. Os gaúchos ainda estão na frente no grupo 8, com 10 pontos, mas dependiam da vitória para serem o único time brasileiro a conquistar nesta semana a vaga para as oitavas-de-final.


N. do A.: Enquanto isso, em um torneio bem mais grandioso, a Champions League da Europa, a situação é bem confortável para o Real Madrid, que derrotou ontem o Atlético de Madrid por 3 a 0 com hat-trick de Cristiano Ronaldo, e também para a Juventus, que derrotou o Mônaco com dois gols de Higuaín em pleno principado. Os merengues e a Vecchia Signora estão quase conquistando a vaga para uma final cujo desfecho será imprevisível, caso eles confirmarem a tendência. Porém, tanto o Atlético quanto o Mônaco ainda têm chances de estragarem esse prognóstico. 

terça-feira, 2 de maio de 2017

Notícias inadequadas para cardíacos e gente normal

Existem notícias para deixar a gente rugindo de raiva só de pensar. Só nos últimos dias várias dessas pérolas irritantes aparecem para ameaçar a saúde de cardíacos e não cardíacos: 

1. A agressão contra índios no interior do Maranhão, e um deles foi baleado e teve as mãos praticamente decepadas. 

2. Idosa de 78 anos sofreu cirurgia, e enquanto se recuperava foi agredida por um enfermeiro. Ela acabou morrendo. 

3. Nicolas Maduro vai criar uma Constituinte sem a participação do Legislativo, sepultando a democracia de vez. Detalhe: a atual Constituição foi praticamente criada por Hugo Chavez, em 1999.

4. Bandidos atearam fogo a ônibus na Baixada Fluminense, deixando estudantes sem transporte. 

5. Por 3 votos a 2, a segunda turma do STF mandou soltar José Dirceu expedindo um habeas corpus. Neste caso, por mais fúria e frustração que isso gere, cumpra-se a decisão, pois ele estava cumprindo prisão preventiva por acusações de participar do Petrolão e não houve sentença definitiva. Mesmo assim, é bom lembrar que ele foi considerado o líder do Mensalão, e sua soltura repercute muito mal para os defensores do combate à corrupção.  Os responsáveis por isso foram os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Gilmar Mendes, este último desmentindo a fama de ser anti-PT. Neste caso, na visão de muitos, ele e os outros foram "apenas" anti-Lava Jato. Edson Fachin e Celso de Mello votaram contra Dirceu.

😡😬😤