sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Estamos vivendo tempos estranhos

Como explicar certos aspectos bizarros que vêm acontecendo no Brasil?

Ver no Rio de Janeiro um sujeito armado com uma faca, fazendo reféns, não deve ser definitivamente encarado como normal. Ainda estão tentando negociar com o sujeito, que definitivamente não pode ser considerado psicologicamente sadio.

O criminoso invadiu um bar na Lapa e fez reféns antes de ser imobilizado; o Bope cercou a região (Tânia Abreu/Agência Brasil)

Outra pessoa também com a capacidade cognitiva questionável é o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, recém nomeado presidente da Fundação Palmares. Seria aceitável ter um negro que não fosse de "esquerda" para endossar o vitimismo alimentado por setores da militância e a versão fantasiosa de Zumbi, o rei dos Palmares, como libertador, mas ele deu mostras de não ter preparo algum para lidar com outras pessoas. Argumenta a respeito do racismo e da escravidão como se não compreendesse nada o que ele próprio diz, e faz isso sem a necessária educação e capacidade de lidar com críticas. Seu modo de se expressar o fez ser comparado aos antigos capitães do mato. Até mesmo os familiares o criticam. 

Pior do que isso é atropelar deliberadamente os protocolos e anunciar a nomeação de alguém sem comunicar previamente a quem ele deseja substituir. A presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo, sofreu esse processo heterodoxo de "fritura", quando soube pela imprensa que será substituída pelo professor Rafael Nogueira. Ele é conhecido por ser monarquista, produtor de vídeos do canal Brasil Paralelo, responsável pelas informações estudadas pelo deputado Eduardo Bolsonaro para se preparar para o cargo de embaixador em Washington. Rafael é auto-intitulado discípulo do filósofo Olavo de Carvalho.

O responsável pela forma hedionda de tratar a presidente da Biblioteca Nacional, e também pela nomeação de Sérgio Nascimento, é o secretário da Cultura, Roberto Alvim, o mesmo que proferiu ofensas escandalosas contra a atriz Fernanda Montenegro, depois de se dizer convertido pelo credo bolsonarista após passar boa parte da carreira defendendo ideias "esquerdistas" e ter sido amigo de Chico Buarque. Não, ele não induziu o criminoso da faca a fazer os reféns no Rio, mas ambos, sequestrador e o excelentíssimo secretário (por extensão, o novo presidente da Fundação Palmares), são taxados de doentes mentais para baixo.

Não é possível encarar com naturalidade esses acontecimentos. Os autores precisam sofrer as consequências pelos seus atos, como, aliás, todos nós, que temos obrigação de agir com responsabilidade.

O secretário da Cultura, Roberto Alvim, alvo de críticas por seus métodos para demitir subordinados - inclusive gente graúda, nomeada por aliados do governo Bolsonaro (Divulgação)

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Versões desencontradas sobre a decisão do STF

Segundo O Globo e o portal Uol, o placar ficou em 9 a 2.

Pelo Estadão e sites como Congresso em Foco, 8 a 3.

O site O Antagonista falou em 8 x 2 x 1.

Parece que a imprensa enlouqueceu como o dólar e outros elementos neste país, mas esta é a decisão sobre autorizar a troca livre de informações entre o UIF, antigo Coaf, e o Ministério Público.

No final, o STF votou por não impor ao MP (e à Lava Jato) autorização judicial para pedir informações ao UIF, ex-Coaf (Nelson Jr./SCO/STF)


Com isso, o presidente do STF, Dias Toffoli, precisará desbloquear todas as movimentações nesse sentido, inclusive as responsáveis pela paralisação dos processos, envolvendo dados do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente.

Para esclarecer melhor, os ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luiz Roberto Barroso, Carmen Lúcia, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Luís Fux. Gilmar Mendes e Dias Toffoli fizeram objeções, mas acabaram votando a favor da maioria, e Toffoli, inicialmente contrário à liberação, mudou de ideia no final do julgamento. Marco Aurélio e Celso de Mello votaram pela autorização prévia da Justiça.

Crítico ferrenho do STF, o Antagonista ironizou a posição do presidente da instância máxima do Judiciário, daí o placar inusitado acima.


N. do A.: Outra decisão judicial importante, aquela feita pelo TRF-4 para condenar Lula em segunda instância pela acusação de "lavar dinheiro" na reforma do sítio em Atibaia, repercutiu muito e é encarada como um desafio ao próprio STF, mas representa uma dificuldade a mais para a defesa do ex-presidente. Ainda resta uma acusação em andamento, sobre o dinheiro da Odebrecht para o Instituto Lula, e outras ainda não formalizadas, mas capazes de gerar uma sentença fabulosa para a "alma mais honesta do Brasil".


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Da série '(Des)industrialização no Brasil atual', parte 12 - Indústrias metalúrgica e siderúrgica

Até agora este blog não havia exposto a indústria de base, importantíssima na História do Brasil desde o governo de Getúlio Vargas. 

Foi durante essa época ditatorial e nacionalista que surgiu a primeira grande siderúrgica brasileira, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Esta empresa foi a pioneira na fabricação do aço brasileiro, e até agora, já privatizada e atualmente nas mãos de Benjamin Steinbruch, é a responsável pela maior parte das ligas ferrosas no país. Teve uma história acidentada, principalmente quando era estatal: foi palco da morte de três trabalhadores por forças do Exército em 1988, episódio explorado politicamente e que levou à vitória da oposição em boa parte das grandes cidades nas eleições municipais.

A partir de 1946, a Gerdau, empresa tradicional fundada no século XIX por Johann Heinrich Kaspar Gerdau, imigrante alemão, passou também a se destacar no ramo, não se limitando mais à fabricação de pregos. O Grupo Gerdau é um dos maiores impérios privados da América Latina e um dos maiores recicladores de sucata do mundo.

Não se pode esquecer outras grandes siderúrgicas, como a Usiminas e a COSIPA (Companhia Siderúrgica Paulista), fundadas na década de 1950. A Usiminas se tornou a primeira estatal a ser privatizada na Nova República, em 1991, e melhorou ainda mais seu desempenho. É a líder na fabricação de aços planos na América Latina. Em 1993, a COSIPA foi adquirida pela Usiminas ao ser privatizada, e agora é uma subsidiária da gigante mineira. 

Recentemente, em 2008, a Votorantim passou a produzir aço, com capacidade para 2,7 milhões de toneladas por ano. 

Pode-se dizer que o Brasil ainda está muito bem neste ramo, apesar da forte concorrência de multinacionais como a Arcelor-Mittal e a ARMCO. 

A siderurgia é, no entanto, apenas um ramo da metalurgia, a arte de fabricar metais cultivada desde a Pré-História, inicialmente para fabricar armas brancas de ferro, cobre e bronze (liga de cobre e estanho). Depois, foram produzidos utensílios de outros metais, como ouro, prata, chumbo e mercúrio. Os metais "nobres" foram e ainda são muito empregados em joalheria. A metalurgia conheceu grande avanço na Revolução Industrial, quando houve uma grande demanda por matérias primas para diversas máquinas e ferramentas. Depois, os metais foram empregados nos veículos, utensílios domésticos, fios e cabos elétricos, computadores e diversos equipamentos com graus variados de sofisticação. Metais antes pouco explorados como o alumínio e o titânio tornaram-se fundamentais para a humanidade.

No Brasil, a metalurgia em geral ficou nas mãos de várias empresas, muitas delas de pequeno porte e boa parte delas sofrendo com as incertezas da economia, como a maior parte do setor industrial. A exceção é a Votorantim, já citada, referência na produção de alumínio com a sua subsidiária, a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio). Ela tem concorrência forte das multinacionais Rio Tinto Alcan, Alcoa e Rusan. 

Um caso à parte é a indústria de metais sanitários, que não faz parte das indústrias de base: a Tigre e a Itaúsa (Deca, Hydra) são as referências. Outro é a indústria de utensílios de cozinha, com destaque para a Mundial e a Tramontina. O sofisticado mercado de joias está concentrado em poucas e pequenas empresas (Dryzun, A Suissa, H Stern). Já a produção de bijuterias é dividida entre outras fábricas também de porte reduzido, algumas de "fundo de quintal". Ferramentas, máquinas e autopeças foram abordadas anteriormente. Materiais elétricos terão um post mais adiante.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Chega de polarização!

O PT ganhou força com Lula novamente solto, mas ainda com sérias pendências na Justiça, e aposta na polarização do Brasil. 

Enquanto isso, o governo Bolsonaro, eleito para governar a todos e não apenas para alguns, acena com verdadeiras aberrações como o excludente de ilicitude em casos de "garantia da lei e da ordem", a tal GLO, e alusões ao AI-5, como fez o ministro da Economia, Paulo Guedes, de forma descabida e destemperada. 

Não vamos chegar a um caminho com um país dividido entre os acólitos do atual presidente e os asseclas do ex (Divulgação)


Estamos caminhando para ser uma nação dividida, fraca, sem coesão!

A quem interessa esse clima de desordem iminente?

O dólar está tão louco quanto a situação reinante, acima dos R$ 4,20. Não há projetos de longo prazo. Não temos rumos para fazer o país voltar a ter um crescimento sustentável e sair do grau especulativo. Não há esperança de melhorias na educação, a ferramenta mestra para fazer o país deixar de ser um país de ignorantes, dependentes, semi-alfabetizados, vulneráveis. 

Não há dúvida: o PT quer fazer de tudo para voltar ao poder, do qual foi tirado por causa da revolta contra a corrupção e o populismo que fez melhorar a vida dos pobres à custa da acentuação ainda maior do secular e nefasto patrimonialismo. Seria melhor se o governo não reagir, apenas agir. Não dar mais holofotes às forças que fracassaram na tentativa de aparelhar a nação. 

As outras forças que movem o Brasil também não ajudam: a imprensa, o Congresso, o Judiciário. Aonde vamos parar?

Quem vai convencer o povo a viver de maneira normal, trabalhando e cuidando dos seus entes queridos, com menos pessimismo com o que há de vir?

Quem vai estimular os mais pobres a continuarem lutando para saírem da pobreza e terem uma vida mais digna?

Quem está realmente interessado em fazer os investidores realmente aplicarem seu dinheiro no Brasil e fazer a economia se desenvolver para gerar mais riqueza?

Quem está ajudando o país a preservar as instituições e a salvaguardar-nos das forças malignas que nos atrapalham o caminho, como a corrupção, a injustiça, o analfabetismo funcional, a criminalidade, o atraso?

Pois os arautos do "nós contra eles" não vão mesmo dar as respostas para estas perguntas. Apenas os realmente preocupados com o nosso país. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Fim de semana rubro-negro

Nunca na história recente do futebol um clube conseguiu ganhar as taças da Libertadores e do Brasileirão em menos de 24 horas, até o último fim de semana.

O Flamengo, dono da maior torcida do Brasil, conseguiu ser campeão do torneio mais prestigiado das Américas mesmo sendo dominado pelo River Plate, o adversário mais temível dos últimos anos e dono das taças de 2015 e 2018 graças a Marcelo Gallardo e seu elenco. Até os 43 minutos do segundo tempo, parecia tudo perdido para os rubro-negros, mesmo com as substituições feitas por Jorge Jesus para dar mais agilidade e confiança ao time. Os argentinos fizeram o primeiro gol com o colombiano Borré, ainda no primeiro tempo, e o Flamengo virou presa fácil. Porém, o time argentino, cansado de tanto sufocar os cariocas e de perder gols, cometeu um erro crucial, quando Lucas Pratto, o mesmo que jogou no São Paulo e foi um dos destaques da campanha de 2018, foi desarmado por Diego, e Gabigol foi acionado, para empatar o jogo. Três minutos depois, nos acréscimos, Gabigol aproveitou nova chance e virou o jogo.

Apesar de ter sido expulso por tirar a camisa no primeiro gol e provocar a torcida do River Plate com gestos obscenos após o gol do título, o marrento "cunhado do Neymar" foi considerado o herói da partida. Um anti-herói, diga-se.

Após 38 anos, repetiram o feito de Zico e companhia, mas com um adversário bem mais perigoso. Em 1981, o chileno Cobreloa, dono de uma campanha notável, foi derrotado por 2 a 0. Agora, o poderoso River, que esteve por um triz de ganhar seu quinto troféu e chegar perto do número de Libertadores ganhas pelo seu arquirrival, o Boca Juniors, por sinal sua última vítima antes do jogo em Lima. O Boca ganhou pela última vez em 2007, mas se tornou vice duas vezes, após perder para outro brasileiro com torcida gigante - o Corinthians - em 2012, e para o próprio River, no ano passado.

Gabigol, Bruno Henrique, Diego, Diego Alves, Everton Ribeiro, Filipe Luís, Rafinha, Reinier, Rodrigo Caio e outros foram receber as medalhas e a famosa taça. Depois, eles e o técnico Jorge Jesus, nova referência de qualidade técnica, voltaram para o Rio de Janeiro para festejarem junto com milhares de pessoas. Infelizmente, houve confusão e a polícia tratou de reprimir as brigas, sendo também alvo da violência de alguns vândalos.

Flamengo foi campeão da Libertadores no sábado... (Torcedores.com)
 
No dia seguinte, o Palmeiras brigava para adiar o título do rubro-negro, mas fracassou diante do Grêmio. A tarefa era ingrata, pois o time de Renato Gaúcho queria a vitória para brigar por uma vaga direta na próxima Libertadores. Conseguiu, com Everton Cebolinha e Pepê. Bruno Henrique (homônimo do atacante flamenguista) marcou o gol para os alviverdes, mas o desastre aconteceu. Sem ter jogado, o Flamengo se tornou campeão brasileiro. Novamente o time gaúcho foi fundamental para a campanha dos cariocas, após o 5 a 0 humilhante no Maracanã, pelas semifinais da Libertadores.

... e do Brasileiro no domingo (Alexandre Vidal)


A conquista da América e do Brasileirão foi o assunto do fim de semana, superando a trágica morte de Gugu, na sexta-feira.


N. do A.: Por falar em tragédia, o Flamengo começou muito mal o ano, após a morte de 10 garotos da base durante o incêndio no Ninho do Urubu. Reinier, por sorte, não foi uma das vítimas, e agora está visado na Europa. Alguns críticos maldosamente comparam o incêndio aos antigos "sacrifícios humanos". De qualquer forma, a diretoria do Flamengo fez questão de homenagear novamente os jovens mortos naquela madrugada de 8 de fevereiro.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Morte!

Este ano terrível ainda não acabou. Faltam 40 dias, tempo suficiente para alguém ilustre morrer, além dos nomes abaixo.

Henry Sobel (1944-2019) (Wilson Dias/Ag. Brasil)
Augusto Liberato, o Gugu (1959-2019) (Divulgação/Rede Record de Televisão)
Fábio Barreto (1957-2019) (Divulgação)

Morreu Henry Sobel, o rabino americano que lutou pelos direitos humanos no Brasil e foi uma voz corajosa contra os desmandos do regime militar. Ele denunciou a morte do jornalista Vladimir Herzog, judeu, como um assassinato cometido pelo Doi-Codi, e não como um suicídio. 

Depois, Gugu Liberato, um dos mais queridos apresentadores do Brasil. Foi vítima de um acidente ainda mal explicado, em Orlando. Vai fazer muita falta para quem ainda assiste à TV aberta, e mesmo para quem deixou de assistir televisão há tempos. 

Antes, também perdeu a vida o cineasta Fábio Barreto, após dez anos de coma. Ele fez O Quatrilho, um dos melhores filmes brasileiros, e também Lula, o Filho do Brasil, uma das propagandas políticas mais descaradas e infames. O acidente que o vitimou não foi um castigo do destino por este último filme.

Quem vai morrer até o fim do ano?

a) Silvio Santos (para enlutar de vez o mundo da tv)
b) Lula (vão matá-lo)
c) Bolsonaro (o Adélio vai agir novamente)
d) Luciano Hang (o velho da Havan)
e) O sonho do Flamengo ser campeão da Libertadores (pela marra do River Plate)
f) O autor deste blog (peguei pesado desta vez hehehe!)
g) Do jeito que caminha a humanidade, será todo mundo!

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Da série '(Des)industrialização no Brasil atual', parte 11 - Indústria bélica e armamentista

Continuando a série sobre a atual situação da indústria brasileira e, particularmente, da indústria bélica, este blog vai expor a situação de um setor não muito considerado, mas importante para a economia do país. 

Este setor ainda é relativamente controlado por brasileiros desde os tempos da Fábrica da Estrela, nos anos 1930. Mas a maior parte das armas em circulação não é fabricada aqui, e boa parte delas é contrabandeada. O tráfico de armas é um dos maiores problemas de segurança do Brasil. 

Já antecipei o caso da Avibrás, fabricante de veículos militares. Sua especialidade, porém, é a fabricação de armas, como mísseis e foguetes, além de sistemas de rastreamento e radares. É uma das maiores indústrias do ramo na América Latina, e possui instalações próximas ao CTA - Centro Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos. 

Outra fábrica de material bélico pesado é a IMBEL, estatal criada em 1975. Contudo, já havia outras fábricas, como a Indústria Nacional de Armas, a Lerap e a Caramuru (pertencente ao grupo dos famosos fogos Caramuru, os tais que "não dão chabu" e ainda estão firmes no mercado de fogos de artifício). 

Uma fabricante de armas leves e portáteis, muito em evidência atualmente devido à polêmica em torno do Estatuto do Desarmamento, questionado pelo presidente Bolsonaro e seus apoiadores, é a Taurus, de São Leopoldo. Praticamente domina o mercado de pistolas, algo contestado pelos parlamentares defensores de uma maior comercialização de armas, a chamada "bancada da bala". Foi fundada em 1939. 

Outra empresa de destaque é a CBC, a Companhia Brasileira de Cartuchos, líder hegemônica no mercado interno de munição leve. Começou como subsidiária de multinacionais (a americana Remington e a britânica ICI), mas se tornou nacional em 1979.

A indústria bélica do Brasil tem esperança de vender mais produtos no mercado interno, já que a maior parte vai para a exportação, mas teme uma possível abertura para as armas importadas legalmente. Ela sofre com o contrabando e o Estatuto do Desarmamento, um empecilho aos seus negócios. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A consciência negra de José do Patrocínio

No dia 29 de janeiro de 1905, morreu José do Patrocínio, um dos maiores abolicionistas. 

Alegoria de José do Patrocínio, por Rodolfo Amoêdo

Sofreu na pele os horrores da escravidão, pois nasceu na senzala, filho de uma jovem escrava, no dia 9 de outubro de 1853. Portanto, teve uma vida curta mesmo para a época, apenas 51 anos. Conseguiu a liberdade aos 14 anos, após sofrer nas mãos do pai, um sacerdote católico, que, no entanto, deixou-o ir ao Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como servente. Apesar dos preconceitos, não se deixou abater e se tornou jornalista, farmacêutico, político e ativista. 

Como jornalista, exerceu intensa pressão para acabar com uma vergonha nacional da época. O Brasil, em sua época, era o único país oficialmente escravista das Américas. Conta-se que, após a assinatura da Lei Áurea, ele fez breve discurso e exclamou aos presentes: "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão!". Também foi um divulgador dos ideais republicanos. Durante uma reunião do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, logo após o marechal Deodoro mandar prender o primeiro-ministro, visconde de Ouro Preto, durante o golpe militar do dia 15 de novembro de 1889, Patrocínio declarou que estava instalada a República no Brasil. Sofreu, porém, com o regime, pois foi preso por ordem do Marechal Floriano Peixoto, sucessor de Deodoro, por atrever-se a fazer oposição aberta ao governo, considerado uma tirania. Em 1896, colaborou para a fundação da Academia Brasileira de Letras, junto com outro famoso descendente de escravos - Machado de Assis - e seu companheiro de lutas pela Abolição - Joaquim Nabuco. 

Seu último artigo não tratava de política, e nem do racismo. Em um artigo no jornal A Notícia, ele escreveu, prenunciando outra causa para ser debatida muitos anos depois, os direitos dos animais: 

“Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro...”

Consta-se que ele, pobre e tuberculoso, não terminou o artigo acima. Teria morrido após uma forte hemorragia. Foi chamado de "O Tigre da Abolição", por um jornal da época (ler AQUI). 

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Pergunta intrigante

A nossa Bandeira Nacional, um dos símbolos pátrios do Brasil

Por que o Dia da Bandeira, sendo uma data cívica, não é um feriado nacional?

Muitos atribuem isso ao fato de estar próximo da data da proclamação da República. De fato, a elaboração da atual bandeira, com o lema "Ordem e Progresso", foi feita apenas quatro dias depois do ato que derrubou a monarquia no Brasil. O gesto de Deodoro, desde 1890, é comemorado como feriado, e isso foi reforçado pelo decreto assinado por Fernando Henrique Cardoso em 2002. Não haveria sentido em tornar o Dia da Bandeira como um feriado, pois isso poderia resultar num período ocioso com consequências ruins para o comércio. 

Outros fazem esta mesma pergunta, considerando que, em muitos países, o dia da bandeira, um símbolo pátrio, é comemorado por meio de feriado, como ocorre nos Estados Unidos, no dia 14 de junho. Esta data fica distante dos outros feriados, como o 4 de julho, dia da Independência naquele país. 

Muitos, por outro lado, observam a vizinhança com um feriado municipal, o Dia da Consciência Negra, para lembrar da morte de Zumbi, soberano do quilombo dos Palmares, e visto como um símbolo de liberdade e dignidade para muitos militantes da causa afrodescendente. Mas este feriado só foi oficializado em 2011, e não vale para todas as cidades. Isto não responde à pergunta feita acima. 


N. do A.: O presidente Bolsonaro não fez muita questão de enfatizar o valor da nossa bandeira neste dia. Muitos membros do governo e seguidores não fizeram nenhuma objeção e nunca farão, por serem simpatizantes da antiga monarquia. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Seleção sub-17 conquista o tetra

Neste domingo, enquanto muita gente prestava atenção no Flamengo e bem menos gente falava mal do deplorável desempenho da Seleção principal, outros acompanharam a trajetória da Seleção sub-17 na campanha pelo tetracampeonato. 

Curiosamente, a Copa do Mundo sub-17 era para ser no Peru, onde o time brasileiro não conseguiu vaga. Porém, por manobra da CBF, nosso país passou a ser a sede. A entidade chefiada por Rogério Caboclo aproveitou a desistência do país vizinho e fez questão de atender as exigências da Fifa, entre as quais a não cobrança de impostos sobre os eventos (o motivo pelo qual nuestros vecinos andinos se recusaram a sediar o torneio). Arranjaram estádios pouco conhecidos, sem muito alarde. Só fizeram barulho quando sofreram a resistência do Flamengo, que não liberou o jovem Reinier, envolvido nas disputas de gente grande - Brasileirão e Libertadores.

Por isso, foi dada a chance da Seleção de meninos mostrarem que fazem jus à camisa amarela. Trataram de jogar como não jogaram nas eliminatórias e golearam os canadenses por 4 a 1, venceram os neozelandeses por 3 a 0 (mesmo com um a menos) e não tomaram conhecimento dos angolanos por 2 a 0. Isso na fase de grupos. 

Nas oitavas-de-final, suaram para vencer os chilenos por 3 a 2. Nas quartas, venceram os italianos por 2 a 0. Enfrentaram dificuldades e sofreram contra os franceses, quase estendendo a freguesia da seleção principal ao perderem de 2 a 0 - antes de reagirem e fazerem três gols, com Kaio Jorge, Gabriel Verón (considerado o destaque da Copinha) e Lázaro.

Na final, no Bezerrão (estádio do Gama), mais uma vez houve sofrimento e, após um primeiro tempo sem gols, Bryan Alonso marcou para os mexicanos e deixou os meninos da CBF atrás. O retrospecto com o time mexicano não era nada animador - foram eles que tiraram com certa facilidade o ouro olímpico em 2012 - e a ameaça de um novo revés pairou até o final do jogo, quando um pênalti duvidoso foi marcado (e validado pelo VAR), sendo cobrado por Kaio Jorge. Nos acréscimos, Lázaro salvou a pátria e fez a garotada verde-e-amarela chorar de alegria. 

Foi o fim de uma campanha sofrida e acidentada, mas onde os garotos deram uma certa esperança no futuro da Seleção. 

Os meninos da Sub-17 foram comparados à Seleção principal, principalmente após a conquista do tetracampeonato (Miguel Schincariol/AFP)

Novos protestos

A imprensa não deu a devida atenção aos protestos feitos em algumas cidades do país, principalmente São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, a favor da prisão em segunda instância, da Lava Jato, da volta de Lula para a cadeia e, também, do impeachment dos ministros do STF, Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

No caso de Gilmar Mendes, teoricamente é possível convencer o Senado a iniciar um processo de afastamento, mas para Toffoli é muito mais difícil porque ele é o presidente do STF. No entanto, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, não aceitará dar seguimento a isso, mesmo porque ele está muito influenciado pelo ex-desafeto e agora aliado Renan Calheiros, um oponente da Lava Jato.

Como se pode notar nos últimos tempos, principalmente neste ano de governo Bolsonaro, é mais uma manifestação do direito de se expressar, inclusive apelando para o chamado "jus esperneandi". Ainda há muita gente que não aceita a impunidade vigente entre as pessoas públicas que cometem malfeitorias, e para elas o Supremo está mais atrapalhando do que ajudando. 

Alguns milhares de pessoas foram para a Avenida Paulista para protestar contra o STF (Fábio Vieira/Estadão)

No Rio, Gilmar Mendes é alvo do descontentamento (Bruna Rocha/Estadão)
Centenas foram às ruas em Curitiba, o maior reduto da Lava Jato (Andrea Torrente/Gazeta do Povo)

O número de participantes destes protestos ficou reduzido, dificultando maior repercussão. Mas é possível notar uma minoria entre os manifestantes, flagrada batendo continência para a estátua da Liberdade da Havan, comandado pelo folclórico Luciano Hang, apoiador ferrenho de Bolsonaro e seguidor de Olavo de Carvalho. Opositores da Lava Jato e simpatizantes de Lula tomaram essa parte pelo todo, para desqualificar o movimento. 

Em Araçatuba, alguns poucos fizeram papel ridículo ao bater continência para a estátua da Havan (Divulgação)

Enquanto isso, o pacote anti-crime elaborado pelo ministro da Justiça, que poderia satisfazer os descontentes, está minguando no Congresso, e pouco restará dele para ser efetivamente posto em vigor, caso ele não for descartado de vez.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Mais respostas cretinas para perguntas imbecis

Pergunta: onde estão o cabo e o soldado que iam arranjar para fechar o STF depois que o ministro Dias Toffoli pediu dados sigilosos do UIF (ex-Coaf)?


Respostas: 

a) Ainda estão falando com o Eduardo Bolsonaro para traçar o plano de ação. 

b) Foram dar escolta ao irmão mais velho do Eduardo Bolsonaro, aquele senador cujos dados constam no UIF. 

c) Estão ocupados demais tentando coordenar a limpeza do óleo no litoral do Brasil. 

d) Estão lavando as privadas dos prédios onde está havendo a reunião dos BRICS. 

e) O General Dureza ficou de arranjar e tentou convencer o Zero e o Tainha para virem ao Brasil. 


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Da série "(Des)industrialização do Brasil atual", parte 10 - Indústria de aeronaves e veículos militares

Depois de algum tempo sem postar um artigo da série "(Des) industrialização do Brasil atual", é com certa comoção que este blog chega a dois setores onde o Brasil teve uma história gloriosa: o de aviões e veículos militares.

Quando se pensa em fábrica de aviões no Brasil, logo se pensa na ex-estatal Embraer, mas parte do negócio dela, relacionado à aviação civil de jatos comerciais de médio e grande porte, está associado à Boeing, por meio da difamada joint-venture entre essas duas empresas, ainda não efetivamente consolidada devido às questões levantadas pela Europa. Quanto aos aviões militares, estes ainda estão resguardados da gigante americana, mas a demanda já foi bem maior. Felizmente, na área de jatinhos executivos, a empresa ainda fabrica os Praetor, pequenos e luxuosos aviões expostos na feira Labace, em agosto passado. 

Ainda existem pequenos fabricantes, pouco conhecidos mas dignos de nota, como a Volato (ex-fornecedora da Embraer), a Seamax, a Impaer, a Scoda Aeronáutica, a Novaer e a ACS Aviation. Esta última está para fabricar o primeiro avião elétrico tripulado do Brasil. 

Na área de helicópteros temos a Helibras, fabricante de veículos civis e militares de Itajubá, mas esta nunca foi propriamente brasileira, sendo subsidiária da francesa Aérospatiale entre 1978 e 1992, e da Airbus Helicopters, após a fusão da Aérospatiale com a DaimlerChrysler Aerospace AG, da Alemanha.

História bem menos feliz é a dos veículos militares. Sua maior representante foi a Engesa (Engenheiros Especializados S.A.), criada em 1958 durante os "anos dourados" do governo JK. Era conhecida pelos tanques de guerra, como o Urutu e o Cascavel, mas também fabricava veículos menores para trafegar em terrenos difíceis. Infelizmente, faliu em 1992, devido às incertezas econômicas da época e à queda na demanda. Há um projeto para a ressuscitação da empresa, com capital da EADS (grupo Airbus) parado desde 2009. Talvez ganhe novo impulso neste governo. 

A Avibras, empresa de material bélico, foguetes e veículos blindados, também deve ser lembrada. Fundada em 1961, teve seus anos de glória entre as décadas de 1970 e 1980, e no setor de veículos militares destacou-se em pequenos blindados como o Tupi e o AV-VBL. Será abordada no próximo post da série, sobre a indústria de armamentos.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A importância do Brasil na paleontologia

O Brasil não é muito destacado na mídia por causa da descoberta de fósseis, talvez pela ausência de exemplares considerados impressionantes. Por exemplo, a América do Norte abrigou ossos do famoso Tyranosaurus rex, enquanto na Ásia Central foram descobertos muitos restos de outros dinossauros chamados de "raptores", e, na Rússia, haviam vestígios dos mamutes. 

Por outro lado, nosso país foi lar de alguns animais dentro da linhagem dos mamíferos, os chamados terapsídeos cinodontes, ou "feições de fera com dentes de cachorro". Já abordei um desses exemplares recentemente, ao abordar o "problema" dos humanos (e quase todos os mamíferos) não trocarem os dentes quando eles se estragam e só ter dois tipos de dentição, ou difiodontia. Entre as exceções, estão os elefantes. 

Riograndia guaibensis, um cinodonte que viveu em terras do atual Brasil há cerca de 210 milhões de anos atrás
Infelizmente, para desgosto daqueles que apreciam fósseis chamativos, nada de elefantes nem animais parecidos, e sim pequenas criaturas, menores do que um cão de tamanho médio. Contudo, eles não deixam de ser nossos "parentes". Viveram entre 200 e 230 milhões de anos, no período Triássico, quando os dinossauros começaram a dominar a Terra.

Dentre os chamados terapsídeos, erroneamente conhecidos como "répteis mamiferóides" (a linhagem que os separou dos répteis datava de mais de 300 milhões de anos), os cinodontes foram os mais parecidos com mamíferos. Ainda não possuíam algumas características típicas, como a amamentação dos filhotes (as glândulas mamárias ainda estavam em desenvolvimento e serviam para umedecer os ovos), a já citada difiodontia e a mandíbula única, formada apenas pelo osso dentário. Já tinham dentes bem diferenciados, pernas relativamente retas (nisso eles se assemelhavam não só aos mamíferos, mas também aos dinossauros), pelos e sangue quente. Embora muitos sejam representados artisticamente sem orelhas, provavelmente eles já as tivessem, devido ao desenvolvimento mais avançado do sistema auditivo. E eles precisavam ouvir bem, para escapar dos predadores, inclusive os dinossauros.

Dentre as espécies descobertas em solo brasileiros, havia o Brasilitherium, ou "besta do Brasil", um minúsculo animal insetívoro, e o Riograndia, um pouco maior e com feições de um preá, mas com uma cauda longa e reptiliana. Restos desses seres foram descobertos nos sítios arqueológicos de Santa Maria e Caturrita, no Rio Grande do Sul. Não só os terapsídeos, mas também répteis primitivos contemporâneos dos primeiros dinossauros (Hyperodapedon, um rincossauro aparentado com os atuais lagartos), insetos e plantas pteridófitas (antepassadas das samambaias).

Brasilitherium riograndensis, ancestral dos mamíferos, viveu há cerca de 215 milhões de anos atrás

Além desses fósseis, foram encontrados no Rio Grande do Sul restos de um dos dinossauros mais antigos que surgiram na Terra, um Herrerasauridae, datado de 230 milhões de anos. Era carnívoro, da mesma linhagem dos tiranossauros e das aves.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O fim abrupto do governo Evo

Depois de um processo eleitoral confuso e considerado suspeito, durante o qual 83% das urnas estavam apuradas e, após uma pausa inquietante, voltou com um salto para 95% na apuração, Evo Morales, o atual dirigente boliviano, teve a sua vitória contestada, e a oposição protestou. 

Por aqui muitos imaginavam que Evo iria endurecer o regime e conseguir reunir um número suficiente de adeptos, entre sindicalistas, mineradores e plantadores de coca, para resistir à crescente insatisfação contra ele. Não conseguiu. A polícia e as Forças Armadas negaram-lhe apoio depois que a OEA comprovou fraudes na eleição, e a oposição se enfureceu, deixando definitivamente de acreditar em qualquer mudança pela via politica. Setores radicais promoveram badernas e vandalismo, chegando a incendiar a casa de uma irmã do "ditador". Cresceu a influência do opositor mais intransigente de Evo, o empresário Luís Fernando Camacho, assumidamente conservador e comparado até aos bolsonaristas, seguidores do presidente do Brasil. 

O presidente boliviano tentou uma última cartada, anunciando novas eleições. Os militares sugeriram a renúncia, e Evo, notando a perda do controle em suas mãos, atendeu. Não sem antes dizer-se vítima de um golpe de Estado promovido pelas "forças oligárquicas". O ex-presidente do Brasil, Lula, também abraçou a tese do "golpe". 

Evo Morales pouco antes da renúncia; ele poderá encontrar refúgio no México enquanto a Bolívia mergulha na anomia (Enzo de Luca/AFP)

Mesmo com a renúncia, os ânimos não arrefeceram. Muitos queriam o agora ex-mandatário na prisão. O vice-presidente Álvaro Garcia Linera e os presidentes das Câmaras dos Deputados e dos Senadores também renunciaram, deixando um vazio de poder. 

Os países vizinhos precisarão preparar-se, pois partidários de Evo organizam feroz resistência para se contrapor aos inimigos, e ambos estão dispostos a matar e a provocar uma guerra civil potencialmente difícil de controlar. A pseudo-democracia boliviana, "bolivariana", populista, pró-indígena e "cocalera" pereceu. O que eles colocarão no lugar não será nem um pouco melhor. 


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Abriram a caixa de Pandora?

O presidente do STF, Dias Toffoli, deu o voto de Minerva em favor da prisão só após o chamado trânsito em julgado (Nelson Jr./STF)


Por 6 a 5, o Supremo Tribunal Federal disse que o artigo 5, inciso LVII

"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória"


impede a execução das penas de prisão após a segunda instância. 

Com isso, os "peixes mais graúdos", "pescados" pela Operação Lava Jato, foram soltos. Além do maior deles, o ex-presidente Lula, a Justiça mandou libertar José Dirceu, um dos principais líderes do PT e considerado o chefe do "mensalão", e o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, condenado em segunda instância por chefiar um grande esquema de corrupção em Minas Gerais, quando exercia a chefia do governo local. 

Isso não os absolve das penas, e sim lhes garante o direito de recorrer em liberdade enquanto não se esgotam os recursos. No Brasil, o trânsito em julgado, para quem tem dinheiro para pagar advogados, vai até o STF ou a prescrição das penas, o que vier por último. Em países civilizados, a instância máxima do Judiciário só trata de questões de ordem constitucional e não é utilizada para postergar o cumprimento das sentenças. 

Para quem imaginava o fim da impunidade, o STF parecia abrir uma espécie de "caixa de Pandora", trazendo mais males a um país já infestado de malfeitorias, e arruinando um trabalho árduo exercido pela Operação Lava Jato para punir a corrupção e a rapina, em níveis escalafobeticamente colossais, contra o NOSSO DINHEIRO. 

Soltarão mais algumas dezenas de condenados em segunda instância com a prévia autorização da Justiça, a não ser para casos onde o réu é considerado perigoso para a sociedade. E sabe-se lá quando eles irão cumprir suas penas, a partir das decisões do STJ (terceira instância, normalmente a última em países dignos desse nome) ou mesmo do Supremo. 

Caberá ao Congresso definir até em qual instância serão permitidos os recursos. Muitos se julgam sem esperanças de haver algum progresso, pois para eles o Legislativo é uma cafua de corruptos e outros famintos pelas coisas alheias. Mas é parte da regra do jogo no nosso sistema republicano, onde cabe à Câmara e ao Senado fazer as leis para os outros cumprirem (e, em teoria, eles próprios também). 

Até sair algo neste sentido, o ex-presidente Lula irá percorrer boa parte do Brasil afirmando ser a alma mais inocente deste mundo e se dizendo a representação da esperança neste país, um contraponto ao governo Bolsonaro, considerado o promotor da miséria, da fome, do preconceito, do autoritarismo e de outros males supostamente trazidos em 2016, como se a eleição do atual presidente não fosse consequência dos maus feitos ocorridos na época do governo petista. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Respostas cretinas para perguntas imbecis (inspirada na finada revista MAD)

Você acha que o Augusto Nunes teve razão ao bater no Gleen Greenwald após levar dedo em riste e ser chamado de covarde por envolver os filhos adotivos do americano com o marido dele, David Miranda, na discussão exibida no programa Pânico, da Jovem Pan?


a) Sim, o Augusto Nunes está completamente certo de bater no Verdevaldo, esse comunista divulgador de fake news.

b) Não, o Augusto Nunes é um fascista antidemocrático que ficou nervosinho porque o Gleen Greenwald disse a verdade. 

c) Eu acho que a violência não leva a nada, e eles poderiam conversar como gente civilizada... que mania de polarizar tudo, pessoal! P.S.: sou isentão. 

d) Eu quero é que ele partisse logo para a porrada! Quero ver sangue, para dar audiência neste programa da Jovem Pan!

e) Quando vai passar o próximo asteroide para colidir com a Terra e levar esses idiotas e todos os outros para o inferno?

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Quais cidades paulistas podem sumir?

Uma das três PECs capazes de transformar radicalmente o cenário administrativo brasileiro fala em extinguir as cidades com até 5 mil habitantes e incapazes de se manterem sem ajuda da União e dos Estados aos quais pertencem. O critério é 90% de dependência, ou seja, o quanto de verba é necessária para a manutenção das atividades normais do município.

Parece que Paulo Guedes resolveu "pegar leve" com os municípios considerados excessivamente dependentes, mas a realidade é bem mais séria.

769 cidades estão neste critério. Não é pouco. São geralmente lugares sem recursos, onde a arrecadação mal consegue pagar os salários dos servidores, por excesso deles ou por má gestão. Muitos destes locais foram emancipados recentemente, graças às manobras políticas, mais do que pelo desejo popular. Uma situação terrível, intolerável se fosse em outro país.

Mais de uma centena desses municípios são paulistas. Ei-los: 

 
Município Habitantes Dependência
Alfredo Marcondes 4.118 92%
Alvinlândia 3.182 95%
Aparecida d'Oeste 4.362 90%
Arapeí 2.516 94%
Arco-Íris 1.873 93%
Areias 3.869 92%
Barão de Antonina 3.380 93%
Bento de Abreu 2.902 93%
Bom Sucesso de Itararé 3.860 92%
Boracéia 4.675 91%
Borebi 2.548 94%
Borá 838 97%
Brejo Alegre 2.790 93%
Buritizal 4.377 91%
Campos Novos Paulista 4.870 90%
Canitar 4.956 93%
Cruzália 2.185 94%
Cássia dos Coqueiros 2.607 94%
Dirce Reis 1.779 90%
Dolcinópolis 2.139 94%
Flora Rica 1.602 96%
Gabriel Monteiro 2.791 94%
Indiaporã 3.960 91%
Inúbia Paulista 3.907 92%
Iporanga 4.316 91%
Itaju 3.655 90%
Jeriquara 3.209 96%
Lourdes 2.260 93%
Lucianópolis 2.372 93%
Lutécia 2.717 95%
Macedônia 3.741 93%
Marapoama 2.917 90%
Mariápolis 4.079 96%
Mesópolis 1.928 91%
Mirassolândia 4.714 92%
Motuca 4.642 93%
Nantes 3.014 93%
Narandiba 4.702 91%
Oleo 2.605 92%
Oscar Bressane 2.615 93%
Piquerobi 3.686 92%
Platina 3.461 92%
Pracinha 3.659 97%
Presidente Alves 4.167 92%
Queiroz 3.217 93%
Ribeirão Corrente 4.612 93%
Ribeirão do Sul 4.572 91%
Rifaina 3.608 90%
Rubiácea 3.015 93%
Sagres 2.454 96%
Sandovalina 4.126 93%
Santa Cruz da Esperança 2.097 92%
Santa Mercedes 2.941 95%
Santa Salete 1.530 90%
Santo Expedito 3.035 93%
Santópolis do Aguapeí 4.650 91%
São José do Barreiro 4.183 90%
Taquaral 2.821 90%
Timburi 2.695 93%
Torre de Pedra 2.385 95%
Trabiju 1.677 92%
Ubirajara 4.711 94%
União Paulista 1.773 92%
Uru 1.218 92%
Vitória Brasil 1.827 91%


Até a vigência da lei, caso ela for aprovada (o que será difícil, pela forma como está), muitos destes locais podem arrumar suas contas e existirem de forma digna, com zonas urbanas dignas de serem chamadas de cidades e áreas rurais menos entregues ao desamparo. Por outro lado, outros municípios poderão estar nesta lista, para infelicidade de seus habitantes.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Plano Mais Brasil apresentado por Guedes

Hoje, o ministro Paulo Guedes apresentou um pacote de medidas cuja proposta é racionalizar os gastos públicos, mexer com o funcionalismo público e alterar profundamente as relações entre a União, Estados e Municípios. 

O resumo do plano pode ser lido AQUI

Não há garantias de haver um cumprimento efetivo das metas ambiciosas do governo, mesmo porque haverá resistência. Prefeitos e vereadores de municípios com menos de cinco mil habitantes, principalmente aqueles com problemas de caixa (infelizmente, é o caso de boa parte deles), prometem ir até Brasília para tentar impedir a extinção e a incorporação a cidades maiores vizinhas. Funcionários públicos também não ficarão quietos por causa da possibilidade de redução de salários e fim da estabilidade, e nem aqueles que temem o contingenciamento de gastos sociais, como saúde e educação, pois as despesas com inativos serão incluídas no orçamento mínimo dessas e das outras pastas. 

Na hipótese pessimista, os Estados e municípios, acostumados ao atual sistema de centralização na gestão dos recursos, terão maiores problemas com o custeio de suas atividades. Na hipótese otimista, eles se habituarão a ter maior responsabilidade fiscal, e os serviços públicos ficarão mais eficientes. De qualquer forma, é preciso reconhecer que o poder público gasta mal e o status quo administrativo é inviável mesmo a curto prazo. Aproveitemos esta chance de definir como o NOSSO DINHEIRO será gasto.


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

(Quase) tudo em ordem no Enem

Depois de uma história de polêmicas e fraudes, a primeira parte do Enem aconteceu ontem, com questões de Língua Portuguesa, Inglês/Espanhol e Ciências Humanas (Geografia, História, Filosofia).  

Logotipo oficial do Enem (Divulgação)


Ao contrário do que muita gente temia, não houve tentativa de defender o regime militar nas questões, nem algo parecido. Os textos foram sóbrios, e a prova foi considerada adequada, segundo professores que analisaram seu conteúdo. 

O tema da redação foi até surpreendente: "Democratização do acesso ao cinema no Brasil". Esta é uma pauta típica dos chamados "progressistas", e a UNE não perdeu tempo em apontar a ironia: segundo a entidade estudantil, sempre acusada de "esquerdismo" e "parasitismo", o governo é o maior responsável por atrapalhar um ambiente democrático para o setor, ao entrar em atrito com artistas e produtores. 

Houve divulgação de uma foto da prova, vazada. Nada comparado com as fraudes sistemáticas do Enem em 2009 e 2010. Também não houve complacência por parte do ministro da Educação: no seu habitual estilo, ele ameaçou fazer o responsável pelo vazamento "se arrepender amargamente de um dia ter vindo ao mundo". Nada comparado ao procedimento do ministro da época das fraudes, Fernando Haddad.

Não houve tumultos nem incidentes graves envolvendo estudantes, e o índice de abstenção pode ser considerado baixo: 23%. 

Ainda é cedo para fazer um balanço da prova, porque no dia 10 ainda haverá a segunda parte, com questões relativas às Ciências da Natureza (Física, Biologia, Química) e Matemática. É possível, porém, constatar o erro crasso daqueles que previram o caos, com base nos problemas ocorridos após a falência da antiga gráfica, a RR Donnelley, em abril deste ano, e dos vários eventos provocados pela desordem administrativa no MEC e no Inep.