sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Da série "Qual é a dos super-heróis", parte 1

As impagáveis onomatopeias presentes nos quadrinhos (Shutterstock)

Para quem está querendo fugir das notícias sobre a invasão da Ucrânia, a preocupação com a economia e com a criminalidade, ou o esvaziamento do Carnaval em tempos de pandemia infindável, ler "gibis", ou histórias em quadrinhos, não parece ser algo muito mais salutar para o cérebro. Atualmente, ninguém sonha em querer chamar algum super-herói para enfrentar Vladimir Putin, e nem na ficção eles se ocupam disso, apesar de seus poderes inacreditáveis.

Os quadrinhos já foram acusados de causar preguiça mental e até de desvirtuar os costumes, como tentou provar um livro chamado "A Sedução do Inocente", de 1954, escrito por Fredric Wertham. Vou tratar melhor disso em breve. Isso quando tinham ainda conteúdo considerado infantil e inocente, salvo as histórias de terror em voga na década de 1950. Mas este blog vai se concentrar nos heróis, considerados o carro-chefe dos quadrinhos norte-americanos.

Estudiosos da chamada "nona arte" dividem a história dos quadrinhos americanos (não os europeus ou os brasileiros, e muito menos os mangás japoneses) em cinco: 

- a Era de Platina, anterior ao lançamento da revista do Superman, pela National Comics (atual DC Comics), em 1938; 

- a Era de Ouro, entre 1938 e 1956, quando publicaram a primeira história de Barry Allen, o Flash, pela DC, logo após a repercussão do livro "A Sedução do Inocente"; 

- a Era de Prata, entre 1956 e 1973, antes da Marvel Comics publicar a morte de Gwen Stacy, a namorada do Homem-Aranha; a moderna Marvel, aliás, surgiu neste período e logo tomou a liderança no setor; 

- a Era de Bronze, entre 1973 e 1985, quando os quadrinhos começaram a perder rapidamente a inocência das épocas anteriores; terminou com a chamada "Crise das Infinitas Terras", da DC; 

- a Era Moderna, ou Era Sombria, a partir de 1985; posteriormente, este blog vai tentar justificar este apelido. 

Assim, o blog vai tentar destrinchar este assunto, sem tentar se meter a especialista. Assim, podemos entender como esta arte enveredou por caminhos tão lamentados pelos saudosistas. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Começa a invasão!

Infelizmente, mais uma potência militar exibiu o velho argumento da força bélica contra um país mais fraco. 

Não adiantaram as pressões internacionais exercidas pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental. Vladimir Putin, novamente, não estava blefando quando fez suas ameaças contra a Ucrânia, e explicitamente considerou o vizinho como um vassalo rebelde de Moscou. 

Aviões e tropas invadiram o território ucraniano com alvos específicos, visando sobretudo as forças militares. Embora longe de ser indefeso, o país não pode competir com o poder russo. 

As potências ocidentais, temendo causar um conflito global, não estão intervindo. Isso pode evitar tornar o continente europeu mais um palco para banhos de sangue, mas encorajará países mais fortes a atacarem os outros. A China poderá querer fazer o mesmo com Taiwan. O Irã, também alinhado de certa forma com o Kremlin, ficará tentado a atacar Israel, ou vice-versa. 

Todo o mundo sentirá os efeitos da ira de Putin, até mesmo o Brasil, graças ao aumento no preço do barril de petróleo e na disparada do dólar. Ou seja, combustíveis e matéria-prima a base de petróleo (como plásticos, asfalto e parafina) encarecerão ainda mais, assim como todos os produtos importados ou vinculados ao valor de alguma moeda estrangeira (soja, milho, minério de ferro, carne), deixando o povo vulnerável à inflação e à escassez de insumos. 

A invasão afeta até mesmo o mercado de dispositivos eletrônicos, já fortemente prejudicado pela quebra na produção de semicondutores e circuitos integrados, graças à pandemia. Boa parte do neônio, gás nobre usado em lasers, é extraído na Ucrânia. 

Como até a Rússia sairia prejudicada desse conflito, mesmo sem as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais, Putin espera fazer uma intervenção tão rápida quanto possível. Vejamos se a fome do urso irá saciar logo, e se ele irá continuar a fazer os vizinhos e o resto do mundo tremerem. 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Da série "Asno pergunta, jumento responde" (outra vez!)

Pergunta: A situação tá russa, mesmo, hein? Vocês acham que o Bolsonaro teve alguma coisa a ver com a invasão da Ucrânia?

Resposta: 

a) Sim, porque o Bozo é culpado de tudo de ruim que acontece no mundo!

b) O mito nunca erra, e ele quis persuadir o Putin a não invadir a Ucrânia, em troca de umas vodcas para fazer caipiroska. 

c) A KGB detectou a Sara Winter, que quer "ucranizar o Brasil", com os seios de fora em Kiev e o Putin, excitado, prepara tanques só para raptá-la. 

d) Assim como o Ed Motta foi responsável pela morte do Raul Seixas, depois de tomar um porre de vinho Sangue de Boi. 

e) Sei lá! So sei que o Palmeiras não tem Mundial!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Nova pesquisa mostra acirramento da polarização

Para desespero dos que ainda se iludem com o fim das radicalizações políticas, a nova pesquisa, feita pela CNT (Conferência Nacional do Transporte), aponta para um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. 

O ex ainda está na frente, com 41%, mas o atual está diminuindo a diferença, e agora está com 28%. Ciro Gomes e Sérgio Moro têm apenas 6%. Os dois últimos são chamados de "terceira via", embora estejam, nominalmente, distantes entre si no espectro político: Ciro é dito de "esquerda" ou "centro-esquerda", enquanto Moro é alinhado com a "direita" ou a "centro-direita", apesar das acusações de ser um "tucano" (como até a estátua do Borba Gato sabe, o termo significa partidário do PSDB) pelos bolsonaristas. 

Segundo as pesquisas, Lula e Bolsonaro têm motivos para sorrir quando o assunto é eleição (Divulgação)

Muitos temem um segundo turno entre "extremistas". De um lado, o presidente, cujos filhos elogiam a ditadura húngara de Viktor Orban, os perfis truculentos de um Donald Trump ou de um Vladimir Putin e simpatizam com o regime assumidamente despótico, embora mais modernizante em relação ao passado, de Mohammed bin Salman na Arábia Saudita. De outro, um aliado da tirania venezuelana e do totalitarismo cubano, além de ser apontado como financiador de obras da Petrobras e da Odebrecht (via BNDES) em regimes amigos, como os da Argentina, Angola, Moçambique e República Dominicana. Um quer as mídias sociais livres para divulgarem conteúdo duvidoso, e outro quer controlar todas as mídias. Os críticos gostam de apontá-los como populistas e narcisistas, embora os representantes da "terceira via" não sejam nem de longe exemplos virtuosos. São seres humanos, com defeitos e qualidades, embora partidários de um e outro tenham a tendência de demonizar adversários. 

É este o perfil para 2022, mas vamos conviver com isso. Ainda por cima, ainda há muito pouco destaque para os outros cargos: governadores, senadores e deputados. Este blog volta a falar sobre isso em breve. 


N. do A.: Continua repercutindo mal a visita de Bolsonaro à Rússia, cujo governo está prestes a mandar tropas para a Ucrânia, seu ex-satélite no tempo da União Soviética, e já reconheceu formalmente a independência do Dombass, a região separatista no leste do país vizinho, formada por parte das províncias de Lugansk e Donetsk. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Como está o "metaverso"

Há algum tempo se fala em "metaverso", principalmente os executivos das empresas de tecnologia. Mas para muita gente, isso é grego. 

De fato, meta significa, em grego, "além de". Desse modo, a palavra significa "além do universo". Significa, na prática, a união de todos os ambientes virtuais explorados, como a realidade virtual, os simuladores digitais e os hologramas, permitindo a exploração de "avatares", como no relativamente longínquo filme Avatar, de James Cameron, de 2010. Esses avatares convivem uns com os outros, em um ambiente projetado, e poderão movimentar um comércio virtual por meio de troca de criptomoedas, mesmo que as pessoas reais por trás dos personagens estejam a milhares de quilômetros de distância entre elas.

Óculos de realidade virtual serão instrumentos para interação com ambientes virtuais (Artlabs/Divulgação)

No entanto, essa ideia ainda está apenas no início, e depende da expansão da tecnologia 5G, e isso poderá levar um tempo considerável em países como o Brasil. 

Alguns conglomerados gigantes, das "big techs", saíram na frente para explorarem o metaverso, como o Facebook, ao criar o Meta Plataforms, no ano passado. Contudo, a empresa ainda precisa amadurecer, e por enquanto está sofrendo no mercado. Hoje, as ações da Meta despencaram 26% na Nasdaq, fazendo Mark Zuckenberg perder bilhões de dólares num único dia. Mesmo assim, ela ocupa a décima primeira posição entre as empresas mais valiosas, valendo US$ 565 bilhões, ainda longe de uma Microsoft, cujo valor de mercado é de US$ 2,2 trilhões, e da Apple, e seus US$ 2,8 trilhões. 

Por outro lado, mais empresas de games como a Epic estão investindo em jogos interativos, como o Fortnite. E fabricantes mais tradicionais estão vendendo produtos virtuais, como tênis e até artigos de luxo, como a versão digitalizada da bolsa Dionysus da Gucci, custando a bagatela de US$ 4.115. Para muitos, isso não passa de loucura. Mas, num futuro não muito distante, produtos assim poderão ser comuns.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Enquete: O que seria mais inútil?

a) Esperar que a CPI da Covid resulte em alguma punição. 

b) Ver algo de construtivo no BBB 22. 

c) Uma visita rápida de um presidente a um país irrelevante para o comércio. 

d) O dinheiro gasto na campanha eleitoral (inútil para o povo, não para os partidos)

e) Perder tempo lendo esta enquete. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Situação de Petrópolis é terrível

Petrópolis, na região serrana do Rio, já foi considerada a cidade imperial no tempo de D. Pedro II, mas está em ruínas graças à negligência crônica das autoridades locais, à ocupação desordenada dos terrenos e também aos fenômenos climáticos mais violentos e irregulares ocorridos em todo o mundo e não só por aqui. 

As tempestades de ontem destruíram parte da cidade, inclusive a antiga residência de verão do imperador, mas principalmente o bairro Alto da Serra. Famílias perderam suas casas, e infelizmente 94 morreram. Ainda há soterrados após as enchentes e os desmoronamentos das encostas. 

Cidadãos de todo o Brasil estão fazendo doações para minorar o sofrimento das famílias. Eles sabem que não podem depender das autoridades e nem confiar nelas. De qualquer forma, a prefeitura da cidade decretou luto oficial de três dias, o governo carioca prometeu fazer um plano para retirar as famílias das encostas e o presidente Jair Bolsonaro, que está na Rússia cumprindo agenda definida vários dias antes, disse que vai liberar o FGTS para as famílias atingidas. 

A destruição no bairro Alto da Serra, em Petrópolis, com as chuvas de ontem (Bruno Kaiuca/Zimel Press)

Há onze anos atrás, Teresópolis também foi assolada pelas enchentes, mas nada foi aprendido desde então, e o custo desse comportamento relapso pode aumentar mais, com futuras tragédias. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Assunto COVID-19 está perdendo espaço na mídia

A pandemia de COVID-19 parece estar próxima do fim, mesmo com a variante ômicron. Houve um agravamento momentâneo no número de casos e mortes, mas os números voltaram a ficar menos alarmantes. 

Com isso, notícias sobre esse flagelo perderam espaço para outros temas. Nem todos eles são agradáveis, como o BBB 22 e a recente expulsão de uma das participantes, Maria. Ou a morte de Arnaldo Jabor, o talentoso cineasta de Eu Sei Que Vou Te Amar e comentado polemista. Ou a nova etapa nos debates políticos, marcados pela polarização e pelos debates sobre ideologias que deveriam estar sepultadas, como o nazismo (e o comunismo). 

Deveríamos tratar de propostas para melhorar a vida do povo e fazer o Brasil trilhar o caminho da prosperidade sem as velhas e sedutoras ilusões populistas. Isso passaria pela melhoria na educação, após a normalização das atividades escolares para crianças e adolescentes. Temas construtivos ainda precisam de mais espaço na mídia. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

União Brasil quer lançar candidatura conjunta à Presidência com PSDB e MDB

Luciano Bivar, ex-presidente do PSL e agora chefe do mais recente partido do país, o União Brasil, fruto da união entre o PSL e o DEM, quer conversar com o MDB e o PSDB para lançarem candidatura única para a Presidência da República, o que não será nada fácil. 

Os caciques do ex-PMDB pretendem lançar Simone Tebet (MS), enquanto os tucanos querem João Dória (SP), atual governador paulista. Contra a primeira, pesa o fato de ser um nome relativamente desconhecido fora do Mato Grosso do Sul, enquanto a alta rejeição a Dória atrapalha. 

Muitos querem um nome forte para a chamada "terceira via", para evitar uma polarização entre Bolsonaro e Lula, mas mesmo nomes considerados fortes e bem conhecidos como Sérgio Moro e Ciro Gomes estão sofrendo para emplacar. 

Enquanto isso, Bolsonaro ainda usa o atentado cometido por Adélio Bispo dos Santos para bancar a vítima dos "esquerdistas", enquanto prepara visita a Rússia em um péssimo momento (vale lembrar que o presidente francês Emmanuel Macron também visitou o dirigente russo apenas três dias atrás). Por outro lado, uma aliança entre Lula e Geraldo Alckmin, considerada por muitos uma bizarrice devido aos perfis muito diferentes dos envolvidos e de seu eleitorado, está perto da consolidação.  

sábado, 12 de fevereiro de 2022

O melhor time brasileiro no Mundial desde 2012

Este blog abordou com frequência o desempenho dos times brasileiros no Mundial de Clubes e não será diferente agora. 

Desde 2012, quando o Corinthians venceu o Chelsea na última final do torneio, os brasileiros amargaram insucessos. Mesmo o Flamengo, com Jorge Jesus e tudo, não conseguiu superar o Liverpool, em 2019. 

Neste último Mundial em formato consagrado desde 2005, o Palmeiras foi o mais parelho em relação ao seu adversário europeu, novamente o Chelsea. O alviverde podia apregoar ter ganho um Mundial no longínquo ano de 1951 (título da Copa Rio), e o time inglês, nem isso, apesar do vice de 2012. 

Durante quase todo o primeiro tempo, houve equilíbrio nas jogadas e na qualidade dos jogadores, apesar da diferença enorme no orçamento dos clubes. Rony e Dudu conseguiram assustar a zaga dos blues, enquanto o belga Lukaku e o francês Kanté, normalmente perigosos, foram anulados pela marcação. Apenas no início do segundo tempo, Lukaku marcou. 

O Palmeiras não se intimidou e ainda foi beneficiado por uma falha já consagrada do zagueiro Thiago Silva, que pela terceira vez colocou a mão na bola em partidas (a primeira foi pelo PSG contra o mesmo Chelsea, e a segunda na Seleção Brasileira contra o Paraguai). Raphael Veiga cobrou o pênalti e empatou. 

Os dois times estavam esgotados fisicamente no fim do tempo normal. Thomas Tuchel fez substituições providenciais, como Pulisic, enquanto o Palmeiras acabou ficando sem os seus jogadores mais ofensivos. Na prorrogação, outro pênalti infantil, semelhante ao de Thiago Silva, foi cometido por Luan. Karl Havertz converteu sem chance para Weverton, e foi o nome decisivo, assim como aconteceu na final da UEFA Champions League de 2020/2021 contra o City. Luan acabou expulso no final da prorrogação, mas isso não fez tanta diferença: o Chelsea, desprezado por não ter a tradição de um Real Madrid ou a força de um Bayern de Munique, acabou vencendo por 2 a 1. 

No final, os palmeirenses puderam comemorar o primeiro gol de um clube brasileiro em finais de Mundiais em quase dez anos, mas ainda precisaram ouvir as velhas piadas sobre a falta de um Mundial e comparar o título de 1951 com a cachaça 51. Igualmente risível foi o critério da Fifa em premiar os melhores jogadores do torneio. Havertz, Lukaku e Kanté não foram lembrados, e nem algum jogador do egípcio Al Ahly, que fez bonito e terminou em terceiro lugar após golear o saudita Al Hilal por 4 a 0. Danilo e Dudu, do Palmeiras, ficaram com as bolas de bronze e prata, enquanto a bola de ouro ficou com... Thiago Silva. 

Raphael Veiga não teve medo do goleiro senegalês Mendy, um dos melhores do mundo, e deu esperanças para a torcida (Getty Images)


O alemão Karl Havertz foi o heroi do Chelsea de novo, ao cobrar pênalti cometido por Luan (Suhaib Salam/Reuters)


Azpillicueta ergue a taça do primeiro título mundial para o time londrino (Getty Images)

Thiago Silva "mete a mão" na bola de ouro (Getty Images)

O Mundial de Clube provavelmente terá novo formato, para ficar mais parecido com a Copa do Mundo, enquanto esta edição derradeira termina como as outras: sem um time brasileiro como vencedor. Porém, o Palmeiras teve méritos e atuou melhor do que os outros campeões de Libertadores, abrindo reais possibilidades para a quebra da hegemonia europeia. 


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

100 anos da Semana de Arte Moderna

No dia 13 de fevereiro de 1922, portanto há quase cem anos, São Paulo recebeu o maior choque cultural de sua História com a Semana de Arte Moderna. 

Acostumado com o academismo nas artes plásticas, o parnasianismo na literatura e o romantismo musical, o público ficou estarrecido com as obras expostas. O primeiro dia da exposição foi marcado por uma conferência dada pelo poeta Graça Aranha, "A Emoção Estética da Arte Moderna". O poeta maranhense, então membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), era um dos representantes da transição do Parnasianismo para o Modernismo, sendo um dos poucos a romper com a ABL, dois anos depois de ter participado deste evento. 

Três cartazes feitos por Di Cavalcanti para a divulgação do evento, e uma charge com caricaturas irreverentes dos expoentes do evento feita por Belmonte, o criador do Juca Pato

Depois, o estranhamento só piorou. Muitos torceram o nariz para obras como "Cabeça de Mulher", escultura de Victor Brecheret, "A Estudante", pintura de Anita Malfatti, e outros trabalhos "futuristas", como fizeram questão de frisar a mídia da época. Mário de Andrade deixou muita gente furiosa com o recital de seu poema Ode ao Burguês, e Ronald de Carvalho foi alvo de escárnio por fazer o mesmo com Os Sapos, de Manuel Bandeira, que não compareceu pessoalmente. Ainda havia a música de Heitor Villa Lobos, que apresentou obras como Girassol, Danças Africanas e Terceiro Quarteto, que não agradaram os ouvintes. Guiomar Novaes tentou se recusar a tocar a obra Embriões Dissecados, de Eric Satie, uma paródia de Chopin, e foi elogiada pela imprensa ao tocar obras de Claude Debussy, já falecido na época. 

Não foi só aí que o público foi obrigado a engolir os "futuristas", pois haveria novas obras para consolidar o movimento modernista, entre as quais o famoso Abaporu, pintado por Tarsila do Amaral em 1928. Romperam-se os laços com o tradicionalismo herdado da Europa, principalmente da França, e surgiram o Manifesto Antropofágico de Mário e Oswald de Andrade, e o Verde-Amarelismo de Plínio Salgado e Menotti del Picchia. 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Ucrânia em perigo

Apesar das negativas por parte de Moscou, os exercícios militares na Belarus, aliada do dirigente Vladimir Putin, indicam uma pressão militar bastante forte sobre a Ucrânia, para dissuadi-la da ideia de ingressar na OTAN. 

Para o Kremlin, a medida seria uma afronta insana por parte da antiga república soviética no Leste Europeu. E, como ocorria na antiga União Soviética, a resposta a isso é por meio das armas. 

A Europa Ocidental e os Estados Unidos desejavam mais membros na OTAN, criada para fazer uma contrapartida ao antigo Pacto de Varsóvia, e isso está colocando em risco a soberania ucraniana e o fornecimento de gás para países fortemente dependentes desse combustível, como a Alemanha e a Polônia. 

Diante desse cenário, o governo brasileiro ainda não desistiu de querer visitar a Rússia, apesar de políticos e estudiosos da diplomacia internacional tentarem convencer o presidente Jair Bolsonaro a suspender a viagem, pois isso poderia significar um respaldo para atos de violação de soberania de outros países e apoio a regimes autoritários como o da Rússia, apesar das diferenças ideológicas com Putin, um ex-oficial da KGB, a temida polícia política do antigo regime comunista, mas agora um governante pragmático e não apegado a dogmas, pois não precisa deles para manter-se no poder. 

Enquanto isso, o povo ucraniano está apreensivo, vítima da agressão psicológica do gigantesco vizinho, de acordo com as palavras do presidente Volodymyr Zelensky, que não consegue lidar com os problemas causados pela guerra separatista nas províncias ocupadas no leste do país - Donetsk e Luhansk. Estender o conflito para o restante do país seria um teste pesado, talvez demais, para a capacidade de sobrevivência do país. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A final mais esperada para os palmeirenses

Ontem, o Palmeiras, campeão da Libertadores em 2021, fez bonito e derrotou o Al Ahly, campeão africano, por 2 a 0, gols de Raphael Veiga e Dudu. Jogando bem, eles espantaram a zebra egípcia. 

Precisaram esperar pelo jogo de hoje, entre o campeão da Champions League 2020/2021, o Chelsea, e o Al Hilal, que conquistou o título da Champions asiática. Com um jogo burocrático, o time inglês não convenceu, e Lukaku fez o único gol da partida. 

O Palmeiras pretende repetir a conquista de 2012, quando o arquirrival Corinthians derrotou o time da Premier League por 1 a 0. 

Este resultado pode animar o Verdão para a grande final, para ser realizada no sábado. Logo após o jogo, haverá uma postagem sobre o resultado. 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Para pensar sobre os limites da liberdade de expressão

Nossa Constituição assegura a liberdade de expressão, de acordo com o artigo 5, inciso IV, da Constituição: 

IV - É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato

Por isso, enquanto não se revoga esta Carta por meio de uma Assembleia Constituinte, o direito de opinar sobre algo, mesmo sem um conhecimento prévio do assunto, é assegurado. 

Muitos querem calar quem, por exemplo, fala sobre supostos perigos das vacinas contra a COVID-19, taxando-os com termos genéricos como "negacionista", insulto dirigido, antes desta pandemia, a quem nega o Holocausto infligido pelo governo nazista de Adolf Htiler para exterminar os judeus. O uso de palavras-chave para criticar acaba não ajudando a desmascarar a estupidez dos alvos, mas pode revelar as limitações na capacidade de argumentação do crítico. 

Por falar em Holocausto, veio à tona uma discussão acerca do Flow Podcast e do youtuber Bruno Aiub, o Monark, que, ontem, se manifestou durante debate entre os deputados Kim Kataguiri (DEM-SP) e Tábata Amaral (PDT-SP), e fez observações sobre a proibição do nazismo, chamado por ele de "direita radical", enquanto a "esquerda radical" (o comunismo) tem atividades consideradas legais no Brasil. Ele teria defendido o direito de ser "anti-judeu". Mais tarde, ele tentou se retratar, mas foi inútil: Monark foi obrigado a abandonar o Flow Podcast após o Sportsbet e o Insider suspenderem o patrocínio a esta empresa de mídia digital. 

Aqui no Brasil poucos se atreveram a ir tão longe na defesa da ideologia de Hitler, quando há farta documentação e provas a respeito de sua devastadora atividade criminosa. 

Em boa parte do mundo civilizado, inclusive na Alemanha, os partidos nazistas estão fora da lei, embora não os neofascistas, declaradamente xenófobos e defensores de uma pretensa "superioridade racial" (pois, ao contrário do Brasil, alguns países não proíbem o racismo). O nazismo defendia abertamente o extermínio de minorias étnicas e foi responsável por milhões de mortes e pela eclosão da II Guerra Mundial. Além disso, trata-se de um regime onde as vozes discordantes eram silenciadas. 

Por outro lado, não se pode negar que as ditaduras comunistas também mataram milhões e igualmente calavam os críticos à força, mas os partidos comunistas não têm sua existência proibida, e muito menos gente critica quem defenda Cuba ou Venezuela, velhos fantasmas apregoados por quem tem sincero horror ao comunismo, mesmo com a constatação segundo a qual o Brasil, sendo muito maior e bem mais complexo do que esses países, não decairia tão facilmente a um estado de ruína como os países citados. 

Isso porque os partidos comunistas moldaram-se às exigências da lei e não pregam explicitamente a destruição do inimigo, enquanto os nazistas, via de regra, são mais intransigentes na adoção de métodos violentos e antidemocráticos. 

Por fim, nossa Constituição deixa clara que existem vários tipos de liberdades, e estas devem coexistir, impedindo que o mau uso de uma prejudique as demais. 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Ford completa um ano apenas como importadora

Oitentólatras e noventólatras recordam os carros da Ford produzidos no Brasil: Corcel e seus derivados (Belina, Del Rey, Pampa), Escort, Fiesta, a picape F-1000, entre outros. Sem falar nos grandes modelos anteriores, como o Maverick, a Rural (antes da Willys) e o Galaxie, este último considerado por muitos o mais requintado da nossa indústria automotiva. 

Isto é passado. Atualmente, a Ford só importa veículos, como a SUV Bronco e a picape Maverick (homônima do clássico esportivo, já citado acima e também numa postagem anterior), vindas do México, enquanto a picape Ranger vem da Argentina. Ou seja, para desespero dos chauvinistas, a Ford continua ativa nesses países governados por gente acusada de seguir a cartilha vermelha, igualando-os à tirania "bolivariana" da Venezuela e as ditaduras cubana e nicaraguense. Pior para os trabalhadores demitidos das fábricas de Camaçari (Bahia) e São Bernardo do Campo (São Paulo), fechadas no início de 2021. 

Enquanto isso, a Ford, mesmo fora do Brasil, amarga prejuízos milionários por aqui, devido aos incentivos fiscais a serem devolvidos e aos custos de se importar qualquer coisa, graças ao dólar alto, aos efeitos devastadores da pandemia de COVID-19 e aos crônicos problemas macroeconômicos, que desestimulam quem produz e penaliza os trabalhadores. Parte da culpa também recai sobre a própria empresa, acusada de privilegiar a produção de carros compactos, cuja margem de lucro é menor, em detrimento dos veículos maiores, sobretudo os SUVs. O Fiesta e o Ka, últimos modelos produzidos no Brasil, não eram bem aceitos, e a SUV Ecosport, que já passou por um melhor período de vendas, enfrentava concorrência feroz. Isso custou à empresa R$ 61 bilhões, em valores estimados, nos últimos oito anos. 

Ford Bronco, SUV vinda do México, não seria fabricada no Brasil nem se a empresa americana resolvesse manter as fábricas de Camaçari e São Bernardo do Campo (Motor Show)



A Ford é apenas uma das grandes empresas multinacionais a não mais aproveitar a mão-de-obra brasileira para fabricar seus produtos. Isso não se reverterá no curto prazo, seja quem for eleito nas eleições presidenciais deste ano. 

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Mais uma tragédia envolvendo "remédios milagrosos"

Como costuma ocorrer com certa frequência, embora pouca gente tenha consciência disso, um caso de intoxicação severa com "produtos milagrosos" aconteceu. Infelizmente, a história terminou em morte. 

Uma mulher de 50 anos, Mara Abreu, tomou um chá em cápsulas contendo 50 ervas. O rótulo prometia "emagrecimento sem dietas", atuando "nas causas da obesidade". Na composição, realmente havia cinquenta vegetais, o que para muitos é bom por ser "produto natural". (*)

Há vários relatos e publicações científicas apontando para a toxicidade das plantas envolvidas, desde o prosaico chá verde até a carqueja, passando pelo chapéu de couro, salsa parrilha, dente de leão, centelha asiática, pau ferro e outros. Esta mistura provou ser hepatotóxica, e possivelmente a mulher deve ter tomado uma dose maior do que a recomendada, levando a uma hepatite fulminante, destruindo seu fígado e obrigando-a a submeter-se a uma cirurgia de emergência para transplante. Por fim, o órgão sofreu rejeição do organismo, selando o destino da vítima. 

O remédio "50 Ervas Emagrecedor", proibido pela Anvisa desde 2020, mas ainda vendido no Brasil, causou a morte de uma mulher (Divulgação)

Este é mais um exemplo, extremo, de como se trata certas substâncias como uma espécie de agente milagroso para curar doenças. A falta de conhecimentos e o hábito de não consultar profissionais especializados, como médicos, confiando em propagandas e conselhos de leigos, pode resultar em consequências terríveis. 


(*) Quando se fala em produto natural como algo que não faz mal, demonstra profundo desconhecimento da natureza e alienação da realidade, ou então procura justificar procedimentos errados usando argumentos pueris como este. Chamar isto de "crença popular" é um insulto a uma boa parte da população, pois nas zonas rurais muita gente lida com ervas medicinais e conhece seus perigos. A ricina é um potente veneno, capaz de matar com apenas uma gota, e é extraída da mamona, sem falar na cocaína extraída das folhas de coca e da heroína como subproduto da papoula, só para citar alguns exemplos. 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Estreia de André Mendonça no STF

André Mendonça vota pela primeira vez no plenário do STF, julgando as operações policiais no Rio de Janeiro. Sem surpresa alguma, defendendo a polícia. 

Mesmo com a proibição do Supremo, as incursões dos PMs continuavam, adentrando pelas favelas em busca de criminosos ou desmontando quadrilhas, mesmo porque vetar estes procedimentos se mostra inviável. O problema não está nas incursões, mas nos abusos cometidos por elementos da polícia acostumados à truculência, não sabendo ou não querendo saber a diferença entre ser representante da justiça e fazer justiça. Esse comportamento é tratado, muita vezes, com complacência pelos superiores. 

Mendonça e os outros ministros do Supremo concordam na elaboração de um plano para diminuir a letalidade policial, regulamentando o uso de armas de fogo e helicópteros, de acordo com o relator Edson Fachin, que defendia maior ação do Ministério Público, além de restrições maiores para os helicópteros. Alexandre de Morais, Nunes Marques, Rosa Weber e Dias Toffoli já deram seus pareceres. 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Da série 'Mondo Brasile', parte 19 - São Paulo indo para o buraco

Por aqui, mais uma vez mostramos a nossa dificuldade patológica de aprender com os erros, com a formação de nova cratera causada por falha na construção do metrô. 

Em 2007, há quinze anos, formou-se uma cratera que engoliu casas e pessoas, matando sete pessoas e causando prejuízo milionário à cidade, além de atrasar a conclusão da linha 3 (amarela). O trecho aidentado, envolvendo a estação Pinheiros, entre Faria Lima e Butantã, ficou concluído em 2011, no final da primeira fase das obras. Foram indiciados cinco funcionários do metrô e nove da ViaAmarela, mas todos foram absolvidos, aumentando o rol de grandes crimes sem punição. 

A linha acidentada agora é a Laranja, entre Brasilândia e São Joaquim (Liberdade), e passaria próximo a locais como a Puc e o Mackensie, além de atender com o metrô, pela primeira vez, bairros como Perdizes e Freguesia do Ó. Depois do antigo consórcio, formado pela Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC (as duas primeiras envolvidas no Quadrilhão investigado pela Operação Lava Jato), ser afastado do projeto, a espanhola Acciona foi contratada para continuar as obras. Por algum motivo, seja o desconhecimento do terreno ou erro operacional do "tatuzão" (a escavadeira responsável pela construção dos túneis sob a cidade), uma adutora de esgoto foi rompida, e o solo acabou cedendo sob a pista local da Marginal Tietê, sentido Ayrton Senna, entre as pontes Piqueri e Freguesia do Ó. 

A cratera faz parte de mais um acidente de grandes proporções envolvendo o Metrô e suas parcerias. Não houve mortes, mas a sensação é de ver a negligência e a corrupção mandando a cidade para o abismo (Carla Carriel/Reuters)


Foi estimado em R$ 15 bilhões o custo total da obra, e provavelmente este montante vai se tornar ainda mais pantagruélico com os atrasos e as obras de restauração da Marginal, sem falar na piora significativa de algo já absurdo, como os congestionamentos crônicos no local. Por ora, a linha 6, projetada para facilitar o transporte do paulistano, está, por ora, dificultando muito mais. 

Além de ser um martírio para São Paulo, ainda irá comprometer seriamente a imagem do governo paulista, desde 1994 ocupado pelo PSDB. Quando o acidente for melhor investigado, certamente descobrirão algo a mais, capaz de gerar muita munição para o PT e para os bolsonaristas, no intuito de tirar os tucanos do comando de nosso Estado e deixá-los afastados por um bom tempo. Os descalabros envolvendo o Metrô, entre obras superfaturadas e propinas milionárias para assaltar NOSSO DINHEIRO, já eram suficientes para mandar vários empresários e políticos para a cadeia, o que ainda não aconteceu. Com o acidente desde começo de fevereiro, não faltará quem queira mandar João Dória e seus companheiros do PSDB para o cadafalso.