quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Da série Mondo Brasile - Parte 1

Este blog já escreveu muito sobre "Mondo Cane" e resolveu fazer uma derivação utilizando charges sobre certas coisas no nosso país, chamado de "Monde Brasile" (Mundo Brasil, também em italiano, e isso também nos lembra da frequência anormal de casos que terminam em pizza...). 

Estamos ainda sentindo a terrível catástrofe com o time da Chapecoense, e os deputados aprovaram as medidas anti-corrupção, mas não sem alterá-la em vários pontos, literalmente na calada da noite, aproveitando a atenção dada pela imprensa e pela opinião pública àquele desastre.

Do jeito que ficou, o projeto anti-corrupção, se não era perfeito (como nenhum outro, pois leis foram criadas por humanos e não por entidades oniscientes), tornou-se algo pitoresco para dizer o mínimo.

A alteração mais debatida e criticada foi a responsabilização de juizes e procuradores que cometerem erros em processos e abusarem de autoridade, vista como uma forma de retaliar a Lava Jato. Acontece que, além de ser um texto escrito às pressas, seria redundante se considerarmos a lei contra abusos de autoridade em discussão no Senado, que também está acuado pelas investigações. Assim, há um risco, embora limitado, dessa emenda aprovada ao abrigo da cúpula convexa ir para o lixo já sob a cúpula côncava ou, se aprovada, sofrer veto presidencial.

Não foi só isso: para deformarem a lei suprimiram a tal figura do "reportante do bem" (sugerida pela Polícia Federal no texto de Onyx Lorenzoni) para dedurar quem tunga NOSSO DINHEIRO, rejeitaram o aumento no tempo de prescrição das penas, entre outras várias modificações feitas na surdina para "embelezar" a lei (no entender deles), deixando-a "linda de morrer" (de raiva dos políticos). 

Na charge, imaginemos um pronunciamento do presidente, sobre a decisão dos deputados: 

(Do autor)


P.S.: #ForçaChape!

terça-feira, 29 de novembro de 2016

A maior tragédia do futebol mundial

Hoje é um dia horrível para os torcedores de futebol da Chapecoense, time de Santa Catarina. E também para todos os torcedores brasileiros, aliás, do mundo inteiro. 

A tragédia foi a maior catástrofe aérea na história do futebol mundial, vitimando justamente um time querido por todo o Brasil por ser pequeno, mas ficar sempre entre os grandes no Campeonato Brasileiro (estava em nono neste ano) e disputar pela primeira vez em sua curta existência (43 anos) uma final na Copa Sul-Americana. 

O escudo da Chapecoense

O que restou do avião, na região de La Union (Luiz Benavides/AP)


Os corpos removidos do avião (Luís Benavides/AP)

Alan Ruschel, lateral da Chapecoense, foi um dos poucos sobreviventes (Guillermo Ossa/Reuters)

A Conmebol não confirmou, mas o próprio rival da Chape na Sul-Americana, o Atlético Nacional, atual campeão da Libertadores, é favorável a dar o título para o clube catarinense. Clubes grandes como o Palmeiras, o São Paulo, o Corinthians, o Coritiba, o Vasco, o Fluminense, o Cruzeiro e outros podem emprestar de graça jogadores para o clube. 

Espera-se que logo o "Verdão do Oeste" possa recuperar-se e continuar a fazer história, brigando por títulos, como aconteceu com outros clubes que sofreram tragédias aéreas, como o Torino e o Manchester United. No passado, esses clubes perderam vários jogadores em desastres: o clube italiano perdeu quase todo o seu elenco em 1949 em uma colisão com uma torre de Turim, e a equipe inglesa perdeu oito jogadores quando o avião colidiu ao aterrissar em Munique.

A superação por parte do clube devolverá a alegria para o torcedor, embora não compense a perda de 71 vidas humanas, entre jogadores, o técnico Caio Júnior (conhecido em todo o Brasil como treinador de várias equipes, como as do Botafogo, Grêmio, Vitória e Bahia) e 21 jornalistas e comentaristas esportivos, como o ex-jogador da Seleção Mário Sérgio.


#FORÇACHAPE!


N. do A.: A tragédia não pode desviar o foco da população, que pode vir a sofrer algo pior do que um desastre aéreo se os deputados não aprovarem o projeto para punir a corrupção. E ainda temos outros incidentes graves, como manifestações de início pacíficas que se tornaram violentas, em frente ao Senado, contra a PEC 55, que limita os gastos públicos, obrigando a polícia a intervir com dureza para impedir o descontrole. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Fidel Castro, Rosberg, Palmeiras, Temer...

Os acontecimentos surgem aos borbotões nos últimos dias, dispersando a atenção da imprensa. 

Primeiro, a morte de Fidel Castro, el Comandante, um dos personagens mais icônicos do século XX, líder da Revolução Cubana que derrubou o corrupto ditador Fulgêncio Baptista quando ainda não era claramente comunista, para depois ser um dos mais impiedosos ditadores no pós-guerra. É difícil dizer se as conquistas na área da saúde pública e educação poderiam ser as mesmas se a ilha caribenha fosse uma democracia, algo que nunca foi, mas decerto não haveriam tantos exilados e presos políticos. Em 2006, o velho e já anacrônico barbudo, sofrendo já de câncer devido ao hábito de apreciar os afamados charutos locais, começou a abandonar o poder, entregando-o progressivamente ao irmão Raúl, que está bem longe de ter o seu carisma mas também entrou para a História por abrir-se diplomaticamente com os Estados Unidos, com quem estavam rompidos desde a consolidação do poder castrista. Aquele que ajudou os guerrilheiros angolanos contra as forças da UNITA, apoiada pelo apartheid sul-africano, quase desencadeou uma nova guerra nuclear ao aceitar bombas vindas de Moscou após uma tentativa frustrada de golpe apoiada pela CIA (o episódio da Baía dos Porcos, em 1961) e se tornou um ídolo para os defensores do "socialismo tropical", entre eles muitos intelectuais brasileiros, já faz parte do passado. 

Fidel Castro (1926-2016)

No domingo, terminou a temporada na Fórmula 1, com a vitória de Lewis Hamilton em Abu Dhabi. Esta vitória, porém, foi acompanhada pelo segundo lugar de Nico Rosberg, o campeão da temporada. Com isto, o alemão leva o troféu de 2016, deixando o inglês inconformado. Foi também a última corrida de Felipe Massa, que terminou em nono lugar, conseguindo dois pontinhos. Outro Felipe, o Nasr, não terminou bem a prova, e pode também ficar de fora em 2017, deixando os brasileiros se remoendo, pois ficamos mal acostumados com as vitórias e campeonatos conquistados por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna.

 O filho de Keke Rosberg ganha um campeonato pela primeira vez (Clive Mason/Getty Images)

Depois, o pronunciamento do presidente Michel Temer, em entrevista conjunta com os presidentes da Câmara e do Senado, assegurando seu veto a uma ideia destrambelhada vinda de congressistas com medo da Lava Jato, a "anistia ao caixa 2"; mesmo se ela vingasse, provavelmente o STF a consideraria inconstitucional. Não teve a repercussão desejada por defensores e detratores do presidente. Nada de elogios aos três por um suposto gesto de boa vontade para com a opinião pública, e muito menos o bater de panelas em protesto contra um governo para muitos tão indigno de confiança quanto o de Dilma. Isso porque ao mesmo tempo muitos estavam anestesiados com outro fato. Foi...

Eles disseram que vão enterrar a tal "anistia", mas ainda falta aprovar o conjunto de leis anticorrupção (do Youtube)

... a conquista do título brasileiro para o Palmeiras, com uma vitória simples sobre a Chapecoense. O time de Cuca, Dudu, Gabriel Jesus e cia. construiu o resultado ao longo do tempo, a ponto de passar a maior parte da temporada na liderança; o time mostrou solidez, apesar de alguns percalços, como a contusão e afastamento do então capitão Fernando Prass, que só voltou no jogo de ontem, e os conflitos de interesses entre o clube e a WTorre, construtora do Allianz Parque e também investigada pela Lava Jato (mas bem longe de estar como a Odebrecht, construtora da Arena Corinthians e envolvida visceralmente com o mar de lama); o time alviverde soube aproveitar seu elenco e conta com uma administração melhor do que a da maioria dos clubes brasileiros.

 A festa do Palmeiras, que esperava ganhar um Brasileirão desde o fim de 1994 (Divulgação)

E hoje houve a repercussão do julgamento de Elize Matsunaga, a assassina do marido e executivo da Yoki, Marcos Kitano Matsunaga, morto a tiros e esquartejado em maio de 2012 (ou, segundo a acusação, retalhado logo após levar o tiro, e ainda vivo). Muitos creem numa pena mais leve do que 22 anos, devido ao juri ser formado por 4 mulheres, contra 3 homens, mas não se pode reduzir isso a um mero caso de resposta desproporcional a maus-tratos por parte do executivo, que a traía sistematicamente. Afinal, nada pode ser comparado a um esquartejamento. Não punir severamente um assassinato desse tipo poderia estimular novos atos com este nível de crueldade, e o Brasil está brutalizado com tanta violência. 


N. do A.: Outros assuntos ganharam também certo destaque, como a Argentina conseguir heroicamente ganhar da Croácia na Copa Davis, e em boa parte por causa de Juan Manuel Del Potro, um dos maiores tenistas da atualidade, e destaque nas Olimpíadas do Rio.  

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Recado

Um recado não pessoalmente feito pelo autor deste blog, mas de alguém muito conhecido principalmente em Curitiba, onde está atuando o juiz Sérgio Moro, por sinal elogiado por ele. Infelizmente, ele já faleceu, mas se estivesse vivo falaria a mesma coisa. É o saudoso radialista Luís Carlos Alborghetti (1945-2009). 

É válido para: 

- as 'super' promoções da 'Black Friday' deste ano;

- os ilustres parlamentares que tentaram melar a votação das medidas contra a corrupção;

- o excelentíssimo senhor, agora ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima; 

- o nosso digníssimo governo na condução do caso envolvendo o ministro acima.  

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

De São Paulo a Miami num Boeing 737

A Gol vai utilizar uma versão do Boeing 737 para fazer um voo sem escalas entre São Paulo e Miami. 

Para muitos, a situação é um tanto inusitada. O Boeing 737 é utilizado mais em voos domésticos, devido ao seu tamanho. Este foi o avião no qual o autor deste blog viajou para ir até Belo Horizonte, num evento acadêmico, a SBMicro. Voos internacionais são feitos em aviões maiores, como o 767 e o Airbus A330 e A350, por exemplo.

Mesmo considerando que a versão escolhida para as viagens é a MAX, ligeiramente maior que a convencional, ela não parece ser a mais adequada para atender à demanda, lembrando que Miami é uma das cidades americanas mais visitadas pelos brasileiros. Vejam os números do 737 MAX 9 (existem três tamanhos, e este é o maior) com o 767-300:

Passageiros: 220 contra 263
Comprimento: 42,2 m contra 54,7 m
Largura da cabine: 3,5 m contra 4,7 m
Velocidade de cruzeiro: 839 km/h contra 913 km/h

Para os passageiros, mais interessantes que as medidas são a comodidade e os serviços a bordo. Aguentar oito horas de voo na base de biscoitos, barras de cereais e água não é uma experiência agradável,  para quem não tem recursos suficientes para viajar na classe executiva.

A Gol, no entanto, espera oferecer um serviço compatível com o mercado, além de esperar que o 737 MAX corresponda às expectativas de maior economia com motores mais eficientes e asas com menor arrasto aerodinâmico. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Revoltas e revoluções

1381. Os camponeses da Inglaterra se revoltam contra a injustiça social sob a liderança de Wat Tyler, e até obtiveram algum sucesso, aproveitando-se da fraqueza do governo, chefiado por um rei adolescente de 14 anos, Richard II. A nobreza dotada de privilégios feudais reagiu e matou Tyler e outros líderes, esvaziando o movimento. 

1492. Após a morte de Lorenzo de Médici o já citado neste blog Girolamo Savonarola instituiu um governo moralista para combater a corrupção vigente em Florença, cidade da Toscana (a Itália não existia). Esta história já foi contada antes. 

1525. Os camponeses se revoltaram nas cidades alemãs, tomando ideias do reformador Martin Luther. Conseguiram apavorar bastante os poderosos com suas táticas de luta, e desencadearam uma guerra terrível, mas não só não conseguiram seus objetivos como milhares deles foram mortos. Os líderes sofreram martírios terríveis. 

1689. Desta vez uma revolução deu certo: a Gloriosa, na Inglaterra, que depôs James II, cuja sede de poder e religião católica o tornaram impopular. Ele tentou reimplantar o catolicismo e o absolutismo, mas não conseguiu, e os seus inimigos, chefiados por William de Orange, o depuseram após batalhas com um número relativamente baixo de mortes. A partir daí, a Inglaterra firmou o regime parlamentarista e se tornou uma nação próspera. 

1776. Outra revolução deu certo: os americanos conseguiram se libertar graças a uma tenaz guerra contra os ingleses. O general George Washington liderou o exército das Treze Colônias, enquanto estadistas como Benjamim Franklin e Thomas Jefferson assinaram a Declaração de Independência. Mais tarde, Washington se tornou o primeiro presidente e a jovem nação sofreu um pouco até se tornar um grande país, conseguindo se tornar mais tarde a grande potência de hoje. 

1788. O Brasil começou a viver uma época de revoltas pela emancipação política, com a Inconfidência Mineira, malograda antes de realmente ter começado, e a Conjuração Baiana, que mobilizou muito mais gente. Em ambas, a revolta com uma nobreza parasitária que concentrava os privilégios políticos e sugava o dinheiro dos impostos, e o fracasso que resultou no enforcamento de Tiradentes e dos quatro mártires baianos, enquanto os privilégios foram mantidos. 

1789. Surgiu a Revolução Francesa, que depôs o rei Louis XVI e implantou a República, de início implantando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas degenerando mais tarde em conflitos políticos e o Terror jacobino, que tentou implantar ideias radicais com o pretexto de destruir os privilégios da nobreza, do clero e dos inimigos políticos, os girondinos representantes da alta burguesia; a Revolução se tornou um festival de mortes na guilhotina e foi perdendo apoio até degenerar na ditadura napoleônica, em 1799. 

1804. No Haiti, uma revolução expulsou os franceses do país e implantou uma breve monarquia sob Jacques I, um ex-escravo e partidário do líder e mártir Toussaint L'Ouverture, capturado pelos franceses em 1802. Seria a primeira nação de ex-escravos, mas deu errado: Jacques I foi assassinado e o país conheceu uma série de ditaduras e governos fracos, enquanto permanecia na miséria e na ignorância, até a dolorosa situação atual. 

Início do século XIX. Na América Latina, houve uma série de revoluções para expulsar os europeus e transferir os privilégios destes para a nova elite nativa, chamada de criolla, enquanto a maior parte da população livre, embora entusiasta da independência, continuava na pobreza, sem falar nos escravos. Simón Bolívar foi o grande chefe revolucionário, ao lado de San Martin na Argentina, Artigas no Uruguai e Bernardo O'Higgins no Chile. Os países continuaram dependentes economicamente e não resolveram suas mazelas de forma satisfatória. 

1817. No Brasil, surgiram revoluções contra os privilégios da elite escravista e da nobreza em torno dos monarcas, em boa parte com o intuito de implantar repúblicas nos Estados de origem, como a Revolução Pernambucana e, mais tarde, a Confederação do Equador no Nordeste, a Cabanagem no Pará, a Sabinada na Bahia, a Farroupilha no Rio Grande do Sul, a Balaiada no Maranhão e a Praieira novamente em Pernambuco. Todos estes movimentos anti-monarquia fracassaram. 

1830. Na mesma França, houve uma revolta contra o rei Charles X, irmão de Louis XVI (a dinastia dos Bourbons foi restaurada após a queda de Napoleão em 1814-1815) e que representava a manutenção dos privilégios dados aos nobres. Conseguiram depô-lo sem muito esforço, para colocar no lugar Louis Philip, que atendeu aos anseios da incipiente indústria francesa, mas manteve os privilégios e os políticos corruptos, até...

1848. O rei Louis Philip é derrubado numa série de revoltas populares, insatisfeitos com a enorme desigualdade social que teimava em persistir na França. Foi instituída uma nova República, a "Segunda", que não durou muito tempo e permitiu a ascensão de um salvacionista, sobrinho de Napoleão Bonaparte, coroado mais tarde com o nome de Napoleão III (o II, filho do primeiro, nunca foi efetivamente um monarca, morrendo muito jovem) e fez um governo desastroso. 

1871. Ainda na França, sempre ela, Napoleão III foi derrotado na guerra contra a Prússia e obrigado a abandonar o poder. Houve uma revolta chamada de "Comuna de Paris", muito exaltada pelos marxistas até hoje, mas fracassada. Tentaram implantar o socialismo a partir de uma Paris cercada por barricadas, mas logo as elites recobraram o controle e instituíram a Terceira República. 

1910. No México, uma Revolução derrubou a ditadura de Porfírio Diaz e tentou corrigir a corrupção e a imensa desigualdade social vigentes, mas houve um período de forte instabilidade política, com governantes depostos e mortos, ou simplesmente assassinados enquanto exerciam o poder, até a normalização política, com o PRI, Partido Revolucionário Institucional, que não significou o fim dos problemas na vida mexicana. Ainda houve líderes guerrilheiros como Emiliano Zapata e Pancho Villa, fatores de instabilidade institucional e alimentados pela miséria e desespero do povo. 

1911. A China derruba uma monarquia decadente, representada por uma criança, Pu'Yi, e implanta um regime nacionalista, chefiado por Sun Yat Sen, que tenta resolver os gravíssimos problemas sociais do país, ainda ameaçado pelas intervenções das potências ocidentais e do Japão. Logo, houve conflitos entre os nacionalistas e os comunistas, com a vitória destes últimos após a invasão japonesa e a II Guerra Mundial, com a consequente expulsão dos invasores. Mao Tsé Tung implantou um regime que minorou sensivelmente as desigualdades sociais, mas à custa de uma tirania onde as liberdades políticas não tinham espaço, e a morte de milhões de pessoas. 

1917. Na Rússia, a carcomida monarquia absolutista dos czares foi derrubada pelos socialistas: é a conhecida Revolução Russa. Após breve governo dos moderados "mencheviques", os "bolcheviques" os tiraram do poder e, com Lênin, criaram a União Soviética, a maior potência comunista. A opressão dos czares deu lugar à do Partido Comunista, e isso piorou muito com a ascensão de Stalin, responsável pelos expurgos e pela coletivização forçada na economia, resultando em milhões de mortes. 

1936. Na Espanha, os socialistas e anarquistas tentaram implantar um governo pretensamente igualitário após a queda da monarquia, mas houve a reação dos falangistas, nacionalistas alimentados pela ideologia nazi-fascista, e a revolução se transformou na Guerra Civil Espanhola, vencida pela Falange. Francisco Franco veio a ser o ditador do país por quase 40 anos, sufocando a liberdade.

1956. Na Hungria, estudantes queriam liberalizar o regime comunista, e depois de uma revolta severamente reprimida, conseguiram derrubar o governo. A União Soviética interveio e esmagou a Revolução, colocando um político leal à Moscou, Janos Kadar. Imre Nagy, apoiado pelos revolucionários, acabou fuzilado.

1959. Para derrubar uma ditadura cleptocrática, os revolucionários cubanos se mobilizaram sob a chefia de Fidel Castro. Fulgêncio Baptista refugiou-se na República Dominicana, para depois embarcar para a Espanha franquista, enquanto Fidel, de libertador, tornou-se um ditador, prendendo e fuzilando vários opositores, enquanto a ilha passou a sofrer um embargo imposto pelos Estados Unidos.

1968. Em outro país socialista, a então Tchecoslováquia, realizaram a Primavera de Praga, um movimento para democratizar o regime, comandado por Alexander Dubcek. A liberdade durou pouco, e tropas soviéticas invadiram o país, massacrando centenas de pessoas. Gustav Husák tomou o poder, e Dubcek foi abduzido pelas forças de Moscou, retornando anos depois sem direitos políticos.

1974. Após anos de ditadura sufocante, os portugueses organizaram a Revolução dos Cravos, uma revolta pacífica que colocou em fuga o sucessor de Antônio Salazar e fez voltar a democracia no país. Portugal ainda hoje se ressente do atraso imposto pelo regime salazarista, e mesmo integrado à União Européia é um dos membros mais frágeis, social e economicamente.

1979. Setores progressistas da sociedade iraniana tiveram de se aliar aos islâmicos xiitas para derrubarem o corrupto e ditatorial xá Reza Pahlevi, governante do Irã. A roubalheira do antigo regime deu lugar a uma teocracia anti-ocidental e moralmente rígida, abolindo quase todos os costumes ocidentais. O chefe xiita, aiatolá Khomeini, tornou-se inimigo do Ocidente e fez o país entrar em guerra com o Iraque, governado pelo ditador Saddam Hussein, aliado dos ocidentais.

1989. No mundo socialista, vários países quiseram se libertar do jugo soviético, e conseguiram. Queriam o direito de se expressarem livremente, terem liberdade política e econômica, como nos países ocidentais, e estavam cansados dos abusos de poder enquanto a maioria da população estava na pobreza, apesar do apregoado "igualitarianismo socialista". Na Alemanha Oriental, derrubaram o Muro de Berlim. Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo. Na Polônia, o movimento Solidariedade derrubou o governo. Somente na Romênia houve violência, com a execução do tirano Nicolae Ceaucescu. Estes países se livraram do comunismo, mas ainda permaneceram muito atrasados em relação ao Ocidente e seus povos não se livraram da corrupção política e dos abusos, apesar dos progressos.

Década de 2010. A "Primavera Árabe" tomou conta de muitos países da Ásia Ocidental e da África, derrubando regimes de força como o de Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia, Muhammar Ghaddafi na Líbia e Hosni Mubarak no Egito. Porém, ao invés da democracia, até agora só conseguiram a anarquia, criando vácuos de poder e dando espaço a movimentos fundamentalistas islâmicos como a al-Qaeda e o Daesh, vulgo "Estado Islâmico". Um dos regimes que resistem à liberalização, o da Síria, se vale do genocídio contra seu povo. A Arábia Saudita resiste em manter sua teocracia islâmica, e o Iêmen está na mão dos xiitas houthis, sendo submetido aos bombardeios sauditas.



N. do A.: Diante deste quadro, é necessário pensar e refletir muito bem antes de querer fazer uma revolução no Brasil. A tentação é muito grande, e não faltam motivos para isso. A corrupção, o desprezo pelos eleitores, a desfaçatez mais deslavada, a demagogia e as atitudes mais vis e torpes cometidas por quem deveria zelar pela sociedade mas acabam por quererem manter suas regalias a qualquer custo induzem os brasileiros a quererem vingança e pensarem num salvador da pátria. Contudo, as consequências, como se pode ler acima, podem ser terríveis. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Breves no mundo

1. O presidente eleito Donald Trump voltou atrás em mais promessas de campanha, dizendo que não vai processar Hillary pelo uso indevido de e-mails oficiais, e diz também ter a mente aberta sobre os problemas ambientais, ou seja, nada de sair por aí vociferando contra o tratado de Paris, que tenta frear as causas do aquecimento global. 

Boa parte das promessas de Trump podem ser consideradas mero expediente eleitoreiro típico de países ao sul do Rio Grande (divulgação)

2. Mais uma vez, houve um terremoto no Japão, de 7,4 graus Richter, bem na região onde está Fukushima e sua usina nuclear, seriamente danificada pela catástrofe de 2011. Desta vez, não houve feridos graves, e o alerta de tsunami logo foi desativado, apesar de algumas ondas fortes terem ameaçado a região. 

3. O presidente turco Rayyip Erdogan está querendo autorizar o casamento de menores de idade com seus estupradores, algo visto com certa naturalidade em certos países muçulmanos mas não no Ocidente, que ainda está abismado com o crescente autoritarismo do presidente, visto como um tirano por muitos. 

4. Na vizinha Síria, Aleppo está perto de ser retomada pelo governo sírio após intensos bombardeios que destruíram todos os hospitais da cidade e mataram milhares de pessoas, não só membros de milícias ligadas à al-Qaeda e insurgentes também considerados terroristas, mas também civis inocentes. Isto foi considerado uma vitória da Rússia e uma derrota da Otan. 

5. O presidente da Venezuela Nicolás Maduro voltou a ameaçar as chamadas "oligarquias" do Mercosul por tentarem aplicar a cláusula que pune um signatário no caso de haver desrespeito à democracia, um elemento frágil demais na região. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Quem vai dançar bonito em Brasília?

a. Geddel Vieira Lima, o ministro acusado de atropelar decisões do ex-colega Marcelo Calero para a construção de um prédio em benefício pessoal?

b. Renan Calheiros, que acumula inquéritos no STF e é visto como um inimigo por alguns membros da Lava Jato?

c. Onyx Lorenzini (DEM-RS), que poderia ver seu projeto de lei anticorrupção, as "dez medidas", ser rejeitado pelos colegas deputados?

d. Michel Temer, o presidente, atualmente em processo controlado de desgaste, mas ainda pouco popular e ainda sujeito a ser citado em alguma denúncia feita por delatores na Lava Jato?

e. Nenhum deles. Será o povo brasiliense, juntamente com todo os demais brasileiros desprivilegiados. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A cratera de Fukuoka que sumiu

Existem aspectos muito inusitados que acontecem neste mundo, mas não dá para abordar na série "Mondo Cane", como ontem. 

Um dos assuntos do mês foi aquela cratera enorme que se formou em uma avenida de Fukuoka, no Japão, dia 8 deste mês. Parecia um desastre, e poderia ser mesmo, vitimando muitas pessoas. O orifício era pouco menor do que uma piscina olímpica. Felizmente, ninguém se feriu. 

Mais tarde, a mesma cratera virou motivo para um viral da Internet: ela teria sido tampada, completamente, sem deixar vestígios, em apenas DOIS dias. 

A história, porém, era mirabolante demais, mesmo num país conhecido pela eficiência em consertar locais arrasados, devido ao enorme risco de terremotos devastadores que assolam o território. Descobriu-se a verdade: o conserto não levou só dois dias, mas uma semana inteira. "Muito" mais tempo...

Onde foi parar a enorme cratera que destruiu uma avenida em Fukuoka? (divulgação)

Para consertar o estrago, provocado por um misto de manutenção deficiente na rede de esgoto, obras no metrô local e excesso de umidade no solo, precisaram mobilizar um grupo grande de trabalhadores, que restauraram os dutos rompidos, taparam o buraco e refizeram o asfalto no local. O prefeito da cidade, Soichiro Takashima, disse que a avenida está "trinta vezes mais resistente do que antes". 

Como discurso de político é bem parecido em qualquer lugar, resta nos ater aos fatos: realmente, os consertos no Japão são para valer, apesar de toda a celeridade. Por aqui, em uma semana não dá nem para terminar o jogo de empurra-empurra envolvendo os culpados pelos desastres. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Da série 'Mondo Cane', parte 45 - O museu mais bizarro do mundo (e outras aberrações)

O "mundo cão" da política brasileira ganhou um novo capítulo com a prisão dos ex-governadores do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (ontem) e Sérgio Cabral, este último acusado de desviar R$ 225 milhões dos cofres públicos e o primeiro, por compra de votos para eleger sua mulher como prefeita de Campos dos Goytacazes. Este país deixará de ser motivo para ser explorado nesta série quando punir com o devido rigor as más práticas administrativas e políticas. 

Com Donald Trump, o mundo inteiro corre risco de virar um imenso hospício, mas só resta lamentar e constatar que ele é o vencedor, apesar da gritaria por causa de 200 mil votos populares a mais a favor de Hillary Clinton. Acontece que metade dos eleitores americanos não compareceu, o que favorece a decisão dos delegados representantes dos distritos, cuja maioria votou em Trump. Parece bizarrice do sistema eleitoral de lá, mas a mudança depende dos sobrinhos do tio Sam, e a maioria deles acha que funciona (de fato, é melhor do que o sistema proporcional e o voto obrigatório adotados no Brasil). 

Isso motivou a criar um outro post sobre um assunto relativo ao "mondo cane", mas não será sobre a cachorrada na política, e sim para abordar um museu. 

Não, os museus não podem ser considerados bizarros, exceto quando expõem o inusitado. É o caso de um deles, na longínqua Reykjavik, capital da Islândia, um dos países mais isolados e frios do mundo. Seu nome, The Icelandic Phallological Museum (sim, ainda por cima é escrito em inglês e não no idioma nativo, o islandês), significa Museu Falológico Islandês. Em termos mais simples, é um museu que expõe... pênis!

286 exemplares do órgão sexual masculino de diversos espécimes de mamíferos. Há desde o diminuto cortado de um rato até o enorme instrumento das baleias cachalote para fecundar as fêmeas. 

Mulher safada olha para um órgão extraído de um elefante (do site Amusing Planet, extraído do original Phalus.is, cujo acesso não é permitido para os brasileiros)

O museu foi fundado a partir de uma brincadeira, feita por um simples professor local, Sigurður Hjartarson. Ele começou a juntar órgãos de bois e de baleias, e depois partiu para outras espécies. Após reunir 62 falos, ele resolveu expô-los em 1997, não sem muita resistência local. Não chegaram a processá-lo por atentado ao pudor, expondo tantos órgãos, mas temiam que a Islândia, já vista como um país exótico e isolado do mundo, acabe virando motivo de riso no resto do mundo. Hjartarson não cedeu, e agora o tal museu virou uma atração turística internacional, atraindo sobretudo as crianças, por incrível que isso possa parecer.

Para a decepção de muita(o)s visitantes, não há representantes da espécie humana, a não ser de um senhor que aceitou doar seu órgão após sua morte, aos 96 anos. Assim, além de ser o único, o pessoal ainda vai ter de se contentar com um extraído de um "espécime" quase centenário.

Apenas por curiosidade, eis a comparação de uma pessoa com o órgão do animal mais "bem dotado" do museu, a baleia cachalote.

Só para usar em baleias mesmo... (divulgação)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Não vai ter golpe!

Um grupo invadiu o Congresso Nacional para pedir intervenção militar!

Está certo que os deputados estavam tentando votar obscenidades como anistia para o caixa 2, mas nada justifica uma agressão às instituições, ainda mais para reivindicar algo totalmente antidemocrático!

Tentaram justificar proclamando o nome do juíz Sérgio Moro, como se ele aprovasse uma patifaria dessas!

Hoje também servidores estaduais protestaram junto à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para protestar contra as séries de medidas do governo do Rio para serem votadas pelos deputados. Essas medidas chegam ao absurdo de querer o confisco de 30% do salário dos servidores para cobrir o rombo deixado pela desastrosa administração do Estado e os gastos com a Copa e as Olimpíadas. Não invadiram por conta da polícia, mas na semana passada outros servidores chegaram a fazer isso. 

Invadir as sedes dos Legislativos não é uma maneira sensata de protestar. É ato próprio dos seguidores de Mussolini e outros facínoras do passado. Vamos exercer o direito de nos manifestarmos dentro da lei.

Não há desculpa para isso, muito menos para o grupelho que pediu golpe em Brasília!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Da série 'Noventolatria', parte 3 - Aqui Agora

Existiu um telejornal no SBT execrado pela crítica e muito assistido pelo público, movido a reportagens policiais, casos escabrosos de violência e bizarrices, e exploração de dramas particulares. Foi o arquétipo do atual jornalismo popularesco, atualmente apresentado pelo Datena e pelo Marcelo Resende, e continua a ser falado por muitos saudosistas. 

O Aqui Agora não foi um primor de jornalismo, mas fez sucesso e marcou a década de 1990. Surgiu em 1991 e foi tirado do ar seis anos depois, para voltar em 2008 e durar bem pouco tempo. 

Luís Lopes Correa bombasticamente apresentava o programa ao lado de Ivo Morganti, Patrícia Godoy e Cristina Rocha. Esta última ainda faz relativo sucesso no programa Casos de Família, na mesma emissora. Morganti foi o âncora, anunciando as notícias "mostrando a vida como ela é". Correa morreu em 1999. 

Tinha como repórteres a chorosa Magdalena Bonfiglioli, o indefectível Gil Gomes e seu gesto típico da mão espalmada e o "defensor do povo" Celso Russomanno, atual candidato derrotado à prefeitura de São Paulo que sempre terminava o serviço dizendo: "Estando bom para ambas as partes..." após brigar com muitos lojistas e prestadores de serviço. 

Ainda havia o impagável Feliz, Felizberto Duarte, já falecido, dono do bordão "E piriri, e pororó", após fazer as suas jocosas previsões do tempo. 

Também chocava pela ousadia em trazer o Maguila, como comentarista político e não esportivo, ameaçando dar porrada nos políticos que lesavam o povo. Isso não durou muito tempo. 

Outros participantes eram Jacinto Figueira Jr., conhecido como "O homem do sapato branco" desde os tempos do também popularesco O Povo na TV (programa de 1981 também do SBT), Ney Gonçalves Dias, Wagner Montes e, por bem pouco tempo, o folclórico Dr, Enéas, imortalizado nas propagandas políticas da época ao vociferar a frase "Meu nome é Enéas!". 

Abaixo, uma coletânea de alguns inícios, disponível no Youtube (canal do EIJaimito): 


Desde então, o jornalismo policialesco e sensacionalista não saiu mais da TV aberta, graças à má qualidade da educação e cultura do povo brasileiro e à violência crônica, com o número de assassinatos maior do que qualquer guerra civil mesmo na Síria ou no Afeganistão. 


N. do A.: Por falar nisso, o assunto do momento é a morte de cinco jovens moradores da extrema Zona Leste paulistana, assassinados por policiais em um ato de vingança, pois três deles foram envolvidos no latrocínio de um colega. Os telejornais não param de falar sobre o crime. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Jogando no Mineirão contra a Argentina e...

... GANHARAM!

Para frustração dos que queriam ver Messi castigando a seleção da CBF e impor um "Mineirazo" dois anos após o "Mineiratzen" (o 8/7 da Copa), Neymar brilhou, e não só ele: Philippe Coutinho, também, ao fazer um gol brilhante para abrir o placar quando os adversários tinham maior posse de bola. Neymar ampliou, aproveitando falhas na defesa "albiceleste", no final do primeiro tempo. 

No segundo tempo, os argentinos continuaram a valorizar a posse de bola, mas quem marcou um gol foi... Paulinho, o contravertido meio-campista que participou da "tragédia" na Copa. E Messi? Ele até apareceu e deu trabalho para a nossa defesa, mas... nem ele, nem os seus companheiros conseguiram balançar as redes.

Entre os dois grandes astros das Seleções sul-americanas (e do Barcelona), só um deles brilhou (Léo Correa/AP)

Outros jogadores também fizeram bem seu papel, como Marcelo (outro personagem do 8/7 que está se redimindo), o goleiro Alison e, para não variar, a dupla de zagueiros Miranda e Marquinhos. As substituições foram na etapa final: Firmino, Douglas Costa e o contestado Thiago Silva, bem no finalzinho do jogo, no lugar do trio Gabriel Jesus (discreto e ainda na seca de gols), Philippe Coutinho e Miranda, respectivamente. Agüero jogou o segundo tempo no lugar de Pérez e Di Maria, apagado, foi substituído por Correa no fim. 

Os comandados de Tite estavam com uma faixa em sinal de luto pela morte de Carlos Alberto Torres, o imortal "Capita" da Copa de 1970, morto no mês passado. Daniel Alves, lateral direito como o falecido, jogou com a mesma camisa 4 e com a faixa de capitão, como homenagem. Parece que estão fazendo o que o eterno capitão gostava de ver: a Seleção jogando como se esperava dela. 

Com isso os canarinhos estão mais próximos da vaga para a Copa na Rússia, com a liderança provisória, mesmo com a vitória do Uruguai sobre o Equador por 2 a 1 (com Suárez caçado em campo e gols de Rolán, Caicedo e Coates). Com Messi e tudo, a Argentina só não está pior do que a sexta posição porque o Peru goleou o Paraguai por 4 a 1 em pleno Defensores del Chaco (um dos gols do são-paulino Cueva). Só não é a goleada do dia: a Venezuela destruiu a Bolívia em casa por 5 a 0.

Atenção: isso não redime, nem de longe, os 7 a 1 na Copa, e provavelmente só um êxito completo de Tite vá acalmar os críticos de forma mais decisiva - leia-se, a conquista do hexa na Rússia. Até lá, o ceticismo é melhor do que a euforia. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

9 de novembro de 2016

Donald Trump venceu e foi eleito o novo presidente dos Estados Unidos. Isto é fato, apesar dos institutos de pesquisa apontarem até ontem a vitória de Hillary Clinton. 

O presidente eleito da América (Chris O'Meara/AP)

Foi a vitória de um candidato sem experiência política que desafiou o establishment americano e, com seus discursos radicais, populistas e extremistas, atraiu milhões de pessoas, desde trabalhadores industriais sem emprego devido à concorrência chinesa até aqueles insatisfeitos com as conquistas sociais obtidas pelas mulheres, imigrantes, homossexuais e minorias raciais, passando pelos insatisfeitos com a política externa feita por Barack Obama, ineficaz contra os conflitos no Oriente Médio e afrontada por China, Rússia e extremistas de toda sorte, principalmente muçulmanos. 

Obama apegou-se a algumas iniciativas de sua gestão, como aderir aos tratados ambientais e dar um passo mais decisivo contra o anacrônico e inútil embargo econômico a Cuba, tiranizada pelos irmãos Castro, mas o Affordable Care Act, medidas para facilitar o acesso dos mais pobres ao sistema de saúde conhecidas como "Obamacare", gerou muita insatisfação por não atingir seus objetivos e ainda ser parte de uma política mais intervencionista do que os americanos estão acostumados. Muito pior do que isso é a má qualidade dos empregos e a perda dos postos de trabalho para os imigrantes de origem latino-americana, muitos deles entrando de forma ilegal, motivando a promessa - inviável - feita por Trump, segundo a qual será feito um muro na fronteira com o México, cuja construção será paga pelos vizinhos do sul. 

Uma outra fonte de insatisfação é a política ambígua de Obama em relação aos muçulmanos e os desastres das intervenções americanas no Afeganistão, Iraque e Síria, criando vácuos de poder ocupados por extremistas como o Daesh. Muitos americanos acharam a política externa atual muito permissiva com o terrorismo e fraca demais para se impor a Pequim e Moscou, tomados por ditaduras. 

Hillary Clinton representava a continuidade de Obama, mesmo porque ela foi Secretária de Estado entre 2009 e 2013. Apesar de ser a primeira mulher candidata à Presidência, o que era visto favoravelmente no mundo ocidental, ela foi acusada de usar indevidamente e-mails oficiais, algo investigado pelo FBI. Outro fator de desgaste foi o afloramento de escândalos de corrupção como o caso Whitewater, que teria desviado milhões de dólares dos impostos pagos pelos americanos em 1992, e os desvios feitos supostamente pela Fundação Clinton em anos recentes. 

Contudo, parecia que nada disso iria fazer os americanos e os delegados dos Colégios Eleitorais votarem num candidato visto com tantos maus adjetivos: racista, misógino, antissemita, xenófobo, desastrado, falastrão, narcisista, sem tato no tratamento com as pessoas e que conseguiu falir seu vasto império quatro vezes (1991, 1992, 2004 e 2009), manobrando para driblar os credores e continuar bilionário. Desconsideraram a empatia de milhões de americanos com o seu discurso, e a falta de identificação da política tradicional com os seus eleitores, algo também visto em países como a França e o Brasil. Como consequência disso houve praticamente um empate no voto popular (com ínfima vantagem para Hillary: 47,7% contra 47,5% até agora, segundo o site da CNN) e os votos que realmente contam no curioso sistema eleitoral americano - dos delegados eleitorais - foram bem mais para Trump: 290 contra 228, ganhos em Estados cruciais como o Texas e a Flórida. 

Para quem desprezava Trump e o consideravam meramente um bufão excêntrico, só resta lamentar, embora tenham que aceitar o resultado. Mas isso não é garantia de um futuro apocalipse, pois como já foi escrito aqui o vencedor terá de se ajustar à realidade e às instituições para poder governar, ou seja, provavelmente não veremos muro algum na fronteira nem em 2020. O jeito é usar o bom humor, por meio dos memes: um deles compara a atual data, 9/11 (11/9, na notação americana, que coloca o mês antes do dia), com o 11/9 (9/11, pelo motivo anterior). De fato, depois das Torres Gêmeas explodindo em Nova York, o mundo não foi mais o mesmo. Com Trump presidente, idem. 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

O primeiro dia da nova era na América (e no mundo)

Depois de uma campanha acompanhada por todo o resto do mundo, a eleição norte-americana finalmente chegou ao seu clímax, com a apuração dos votos no Colégio Eleitoral. 

Toda a humanidade foi ver o entrevero entre a primeira candidata mulher pelo Partido Democrata e o primeiro não-político (em anos), pelo Partido Republicano. Ambos podem fazer história pelo que representam, mas também por serem os candidatos mais difamados dos últimos anos, na campanha mais feroz desde a Guerra Civil. Pesaram contra ambos acusações pesadas de corrupção e negligência para um lado, despreparo e desfaçatez de outro.

Com um ou outro, os Estados Unidos não acabarão, porque eles não teriam a ousadia de destruir as instituições e a economia, ainda a maior do mundo. Não poderão passar por cima das leis para fazerem o que querem, e muito menos tomarem medidas unilaterais sem a resistência dos outros países, ainda que sejam a maior potência financeira e militar, só comparáveis à China, em termos de cifras, e à Rússia, em poderio bélico. 

Estão contando os votos dos Colégios Eleitorais, e Trump por enquanto está na frente, mas a vantagem é ainda apertada para o republicano: 60 votos a 48, quando é preciso ter 270 votos dos delegados representantes dos eleitores em cada um dos 50 Estados. Quem irá suceder Barack Obama, que irá deixar a Casa Branca depois de oito anos?

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Andy Murray é o novo número 1

Depois de vencer o Masters 1000, o britânico Andy Murray pôs fim a uma longa espera e tornou-se o número 1 no ranking da ATP, ocupado até agora pelo sérvio Nowak Djokovic, desde 2014. 

"Djoko" está numa má fase, perdendo logo na estreia o mesmo torneio, após também fracassar nas Olimpíadas do Rio, vencida por Murray, o único tenista bicampeão olímpico da história. A final entre ele e o argentino Juan Del Potro foi disputadíssima, e a qualidade do argentino só serviu para coroar a ótima fase do britânico, especializado em quadras de piso liso, como a do Centro Olímpico, mas também ganhou importantes competições em grama (Wimbledon), não se destacando muito no saibro. 

Andy Murray segurando o troféu dos Masters 1000 de Paris, disputa que lhe valeu o topo do ranking ATP pela primeira vez (Gonzalo Fuentes/Reuters)

Curiosamente, dentre os quatro grandes do tênis, que incluem também o espanhol Rafael Nadal e o suíço Roger Federer, o britânico é o detentor de menos troféus no Grand Slam, as maiores disputas mundiais: ganhou o US Open de 2012 e o torneio de Wimbledon de 2013 derrotando Djokovic e, novamente, ganhou em Wimbledon três anos depois, ao enfrentar o canadense nascido em Montenegro (leste europeu) Milos Raonic. Chegou a final em outros oito torneios: um US Open no início da carreira (2008),cinco Australian Open, o Wimbledon de 2012 e Roland Garros em 2016. 

O ranking da ATP chegou a ser liderado pelo brasileiro Gustavo Kuerten na virada do século, entre dezembro de 2000 e janeiro de 2001, voltando algumas vezes ao topo ao longo daquele último ano. 




sexta-feira, 4 de novembro de 2016

1 ano da tragédia em Mariana

Completa-se um ano da tragédia em Mariana, neste sábado. 

Até agora a Samarco, joint venture que reúne a Vale do Rio Doce e a anglo-australiana BHP, não indenizou devidamente as vítimas da maior tragédia ambiental. Enquanto isso, acumula multas que ainda não está pagando, e milhares de processos pelos quais ainda não é oficialmente ré. Seria muito melhor ter apenas um ou dois processos, e a empresa já ser oficialmente indiciada, mas estamos num país onde a Justiça é disfuncional. 

 Rio Doce dias após a tragédia; um ano depois, a situação não é muito melhor (imagem do Youtube)

Lama continua a jorrar para o rio Doce, mantendo-o praticamente morto. Não houve esforços suficientes para conter a enxurrada, e isso pode piorar com a chegada das chuvas. 

O Brasil se gaba de ter uma natureza exuberante, mas nutre uma relação quase psicótica com ela. Muita gente por aqui comemora o tratado de Paris, que entra em vigor hoje para conter o aquecimento global, um dos assuntos ambientais em voga, mas já está esquecendo o rio Doce, vítima de um crime ambiental sem precedentes.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

ENEM em mais uma encrenca

Por muitos anos o ENEM foi motivo de discussões e debates, mas desta vez não é devido às fraudes como aquelas que aconteceram anos atrás, em 2009 e 2010, sob a gestão de Fernando Haddad e Lula. 

Como se sabe, alguns alunos ocuparam centenas de escolas principalmente no Paraná, chegando a 752 delas no auge do movimento (26 de outubro), mas também em outros estados, como o Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal e Rio de Janeiro. É uma minoria, mas que paralisou as escolas total ou parcialmente.
 
Segundo as lideranças estudantis, é uma forma de protesto contra a PEC 241 e a reforma do ensino médio. A PEC limita os gastos públicos como um todo e a educação infelizmente está neste rolo, apesar do texto determinar um piso para os gastos no setor. Já a reforma tem como objetivo adequar o conteúdo do ensino médio às necessidades de um país que necessita melhorar urgentemente a formação de seus jovens. Esperam reverter essas duas decisões do governo impedindo o funcionamento de algumas escolas e comprometendo o uso delas para a realização das provas, no próximo fim de semana. 

A prática está se revelando inútil, só servindo a alguns secundaristas poderem folgar no decurso do ano letivo, sob o pretexto de lutarem por "causas justas". Não vou entrar no mérito das acusações sobre uso de drogas nos locais, mas já ficaram tempo demais nas ocupações - alguns estabelecimentos ficaram mais de três semanas paralisados - enquanto, dentre os governos, inclusive o federal, somente o do Paraná tomou uma atitude mais firme e deu uma importância maior para o problema, mandando desocupar as escolas, por ser o Estado mais afetado.

Mendonça Filho, atual ministro da Educação, durante este tempo limitou-se a pedir a lista dos alunos participantes, medida não posta em prática, fazer um discurso acusando o PT, o PSOL e o PCdoB (partidos aos quais as lideranças estudantis estão filiadas) de estarem por trás das manifestações, e ameaçar o cancelamento do ENEM se os locais não forem desocupados até o último dia 31. A data chegou, as ocupações continuaram, e a Justiça tratou de agir, acionando as PMs. Mesmo assim, o ENEM terá de ser remarcado parcialmente.
 
Ontem, o procurador Oscar Costa Filho, do Ministério Público Federal do Ceará, disse que adiar as provas que seriam nas escolas paralisadas fere o princípio da isonomia, e declarou a suspensão do exame para todo o Brasil. Porém, a Justiça do mesmo Estado julgou o pedido improcedente. 

Enquanto isso, os estudantes das escolas ocupadas terão mesmo de fazer as provas nos dias 3 e 4 de dezembro, datas muito coincidentes com os vestibulares, por conta de uma minoria de colegas "idealistas".