quarta-feira, 9 de novembro de 2016

9 de novembro de 2016

Donald Trump venceu e foi eleito o novo presidente dos Estados Unidos. Isto é fato, apesar dos institutos de pesquisa apontarem até ontem a vitória de Hillary Clinton. 

O presidente eleito da América (Chris O'Meara/AP)

Foi a vitória de um candidato sem experiência política que desafiou o establishment americano e, com seus discursos radicais, populistas e extremistas, atraiu milhões de pessoas, desde trabalhadores industriais sem emprego devido à concorrência chinesa até aqueles insatisfeitos com as conquistas sociais obtidas pelas mulheres, imigrantes, homossexuais e minorias raciais, passando pelos insatisfeitos com a política externa feita por Barack Obama, ineficaz contra os conflitos no Oriente Médio e afrontada por China, Rússia e extremistas de toda sorte, principalmente muçulmanos. 

Obama apegou-se a algumas iniciativas de sua gestão, como aderir aos tratados ambientais e dar um passo mais decisivo contra o anacrônico e inútil embargo econômico a Cuba, tiranizada pelos irmãos Castro, mas o Affordable Care Act, medidas para facilitar o acesso dos mais pobres ao sistema de saúde conhecidas como "Obamacare", gerou muita insatisfação por não atingir seus objetivos e ainda ser parte de uma política mais intervencionista do que os americanos estão acostumados. Muito pior do que isso é a má qualidade dos empregos e a perda dos postos de trabalho para os imigrantes de origem latino-americana, muitos deles entrando de forma ilegal, motivando a promessa - inviável - feita por Trump, segundo a qual será feito um muro na fronteira com o México, cuja construção será paga pelos vizinhos do sul. 

Uma outra fonte de insatisfação é a política ambígua de Obama em relação aos muçulmanos e os desastres das intervenções americanas no Afeganistão, Iraque e Síria, criando vácuos de poder ocupados por extremistas como o Daesh. Muitos americanos acharam a política externa atual muito permissiva com o terrorismo e fraca demais para se impor a Pequim e Moscou, tomados por ditaduras. 

Hillary Clinton representava a continuidade de Obama, mesmo porque ela foi Secretária de Estado entre 2009 e 2013. Apesar de ser a primeira mulher candidata à Presidência, o que era visto favoravelmente no mundo ocidental, ela foi acusada de usar indevidamente e-mails oficiais, algo investigado pelo FBI. Outro fator de desgaste foi o afloramento de escândalos de corrupção como o caso Whitewater, que teria desviado milhões de dólares dos impostos pagos pelos americanos em 1992, e os desvios feitos supostamente pela Fundação Clinton em anos recentes. 

Contudo, parecia que nada disso iria fazer os americanos e os delegados dos Colégios Eleitorais votarem num candidato visto com tantos maus adjetivos: racista, misógino, antissemita, xenófobo, desastrado, falastrão, narcisista, sem tato no tratamento com as pessoas e que conseguiu falir seu vasto império quatro vezes (1991, 1992, 2004 e 2009), manobrando para driblar os credores e continuar bilionário. Desconsideraram a empatia de milhões de americanos com o seu discurso, e a falta de identificação da política tradicional com os seus eleitores, algo também visto em países como a França e o Brasil. Como consequência disso houve praticamente um empate no voto popular (com ínfima vantagem para Hillary: 47,7% contra 47,5% até agora, segundo o site da CNN) e os votos que realmente contam no curioso sistema eleitoral americano - dos delegados eleitorais - foram bem mais para Trump: 290 contra 228, ganhos em Estados cruciais como o Texas e a Flórida. 

Para quem desprezava Trump e o consideravam meramente um bufão excêntrico, só resta lamentar, embora tenham que aceitar o resultado. Mas isso não é garantia de um futuro apocalipse, pois como já foi escrito aqui o vencedor terá de se ajustar à realidade e às instituições para poder governar, ou seja, provavelmente não veremos muro algum na fronteira nem em 2020. O jeito é usar o bom humor, por meio dos memes: um deles compara a atual data, 9/11 (11/9, na notação americana, que coloca o mês antes do dia), com o 11/9 (9/11, pelo motivo anterior). De fato, depois das Torres Gêmeas explodindo em Nova York, o mundo não foi mais o mesmo. Com Trump presidente, idem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário