sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ainda sobre as eleições

Fazendo uma análise dos candidatos não só de São Paulo mas também do Rio, não há como se animar mesmo. As eleições são depois de amanhã, e temos de votar em algum deles.

Se alguém ficou mais convencido da viabilidade de algum candidato? Difícil! E os debates não ajudaram muito. Cada emissora organizou debates ao mesmo tempo para cada grande cidade. O último, da Globo, foi tedioso e constrangedor. Em São Paulo, os candidatos se atacaram e abusaram do direito de exagerar ou minimizar dados sobre os erros dos oponentes ou as realizações pessoais.

Além disso, os eleitores de Marta Suplicy devem ter ficado decepcionados com a falta de combatividade dela em relação ao líder das pesquisas, João Dória Jr. Ela e os outros, aliás, pouparam demais o candidato tucano, deixando passar acusações, verdadeiros pratos cheios para a maledicência, como o terreno em Campos do Jordão supostamente tomado por ele de forma indevida. Marta também se enrolou quanto ao seu passado petista e de ter criado taxas de péssima memória para o paulistano.

Russomanno atacou Marta e o atual prefeito, mas foi acusado de várias ações trabalhistas, como não pagar salários de seus funcionários, quando foi proprietário do Bar do Alemão, em Brasília, e não perdeu a pose de bom moço quase sebastianista.

Haddad, cuja avaliação como prefeito é abissalmente ruim, abusou do direito de exagerar nas suas realizações no governo paulistano, mas não dissipou a sombra de seu partido, o PT. Agora nem ele próprio acredita que vai para o segundo turno: nas pesquisas ele tem apenas 13%, segundo o Datafolha. Hoje, suas chances devem ter encolhido ainda mais, porque dois monumentos, o das Bandeiras e a Estátua do Borba Gato, ambos na Zona Sul, foram pichados com as inscrições "Fora Temer", mostrando o grau de negligência da atual administração e a conivência com os vândalos.

Erundina foi franco-atiradora, criticando todos, inclusive Dória, mas sabe que terá chances bem reduzidas. O Major Olímpio só ficou lembrado ao repetir o surrado bordão de Maluf: "botar a Rota na rua". 

Se formos comparar com São Paulo, o Rio de Janeiro está em situação ainda pior.

Marcelo Crivella é o líder nas pesquisas, com 34%, mas foi atacado pelos adversários devido à sua filiação partidária: o PRB, mesmo partido de Russomanno e, por ter muitos membros da IURD, a Igreja Universal do Reino de Deus, é frequentemente acusada de ser o braço político de Edir Macedo. Crivella foi também ministro da Pesca, a pasta cuja serventia foi mais posta em dúvida em todo o governo do PT, além de ainda, de certa forma, ser fiel ao lulopetismo.

Se este é o líder, os demais seriam motivo para lamentação. E é o que realmente ocorre.

Pedro Paulo, do PMDB, é o candidato do atual prefeito Eduardo Paes, do governador Luiz Fernando Pezão e foi apoiado por Eduardo Cunha, todos do mesmo partido. No debate, Crivella escancarou o incômodo vínculo do rival com o detestado ex-presidente da Câmara. Pedro Paulo empata com Marcelo Freixo, o candidato do PSOL, com 10%.

Freixo é apoiado por boa parte da classe artística, e defende um Estado socialista, embora ele seja ridicularizado por ser de classe média alta. Sua aura de honestidade é maculada pelos enormes vínculos com o PT e com um de seus assessores ter agredido a ex-mulher.

Índio da Costa (PSD) foi ex-candidato a vice por José Serra em 2010 e é filiado a César Maia, ex-prefeito do Rio que teve os direitos políticos suspensos por contratar um escritório de advocacia sem licitação. Pessoalmente, não há nada de grave contra ele, a não ser um namoro efêmero com a filha do banqueiro Salvatore Cacciola, acusado de fraude financeira e ex-dono do banco Marka.

Jandira Feghali (PCdoB) é agressivamente defensora de Dilma Rousseff, taxando os adversários de "golpistas". Ela não teve medo de receber a presidente cassada em seu palanque, e pagou o preço: caiu nas pesquisas, de 10% para 7%, quando estava em ascensão.

Flávio Bolsonaro (PSC) é o filho do famigerado Jair Bolsonaro, um dos políticos mais execrados do país. Ele defende ideias até moderadas para a fama de ser "extrema-direita", como os defensores do socialismo e até da social-democracia insistem em chamar a ele e a seu pai, a despeito de projetos esdrúxulos como a militarização de escolas consideradas indisciplinadas. Ainda assim, 5% declaram voto a ele, mostrando fidelidade a suas ideias.

Com candidatos assim, o debate de ontem no Rio de Janeiro, pela Globo, virou um verdadeiro circo de horrores, com a plateia ávida por um "barraco". Flávio Bolsonaro foi o mais aclamado, e Pedro Paulo foi o mais xingado. No debate, a situação do pupilo de Eduardo Paes também não foi nada boa, recebendo ataques de todos os lados. Ele apanhou muito, mas todos os demais também se saíram mal.

Crivella não se desvencilhou da figura de "bispo da Universal" e insinuou que Eduardo Cunha poderia vir a ser secretário de Pedro Paulo, uma acusação despropositada, pois Cunha não pode exercer cargos públicos até 2026.

Marcelo Freixo continuou a não fazer propostas viáveis e foi malhado por sua suposta defesa aos "black blocs", embora tivesse êxito em contribuir com a "surra" que Pedro Paulo estava tomando no debate.

Índio da Costa, apesar de ter feito algumas propostas sérias, ficou mais lembrado pelos "aplicativos" de smartphone, que pretende implantar, e da inviável limpeza, em quatro anos, da Lagoa Rodrigo de Freitas. Nem Héracles, o herói dos doze trabalhos, seria capaz disso.

Flávio Bolsonaro, apesar do apoio ruidoso da plateia, ficou sumido, ao largo da troca de acusações, e não disse nada de importante. Só brilhou na despedida, atacando o que ele chamou de pior governo que o Brasil já teve (o de Dilma), sem mostrar de fato que vai realmente fazer algo melhor.

Alessandro Molon, da REDE, não contribuiu em nada para deixar o debate mais palatável. O candidato da Marina Silva deve ser esquecido rapidamente.

Quem se saiu pior, contudo, foi Jandira Feghali, que ofendeu a Globo por ela ter participado do "golpe" contra Dilma e foi advertida por isso. Acabou virando "meme" nas redes sociais, além de também ser alvo de muitas críticas dos adversários. 

Estes são os candidatos das duas maiores cidades do país, e um deles tem que ocupar as prefeituras, porque não há como deixá-las vagas. Se algum deles merece? Isso me lembra a fala de Hamlet: 

Use every man after his desert,
and who should 'scape whipping?

Que foi traduzida para o português como: 

Tratai cada homem segundo seu merecimento, 
e quem escapará da chibata?  

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Ato inédito

Pela primeira vez na vida o autor deste blog não assistiu ao horário eleitoral gratuito na televisão. 

Não é recomendável ao eleitor se abster de assistir as campanhas políticas, quando não se tem a internet por perto. Caso contrário, sempre é possível acompanhá-las, informar-se sobre os projetos de governo, buscar notícias comparando o que eles fazem com os fatos reais. 

Isso não vale apenas para os candidatos à prefeito. Os vereadores, membros da Câmara Municipal, precisam ser melhor escolhidos, para não ter de aguentar projetos de lei absurdos homenageando datas que ninguém vai comemorar e atos em causa própria, isso quando não se dedicam aos desvios do NOSSO DINHEIRO, isto é, os impostos municipais. 

Parece um pouco tarde para escrever isso, quando o horário eleitoral acabou, mas ainda dá tempo para se informar, pois as eleições são no domingo.


quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Notícias intragáveis da semana

O autor deste blog teve de ler muitas notícias difíceis de ler, e digerí-las adequadamente, algo não muito fácil - e que, hoje, provocou um desarranjo intestinal e náuseas. Parafraseando o Barão de Itararé, "humor é o que faz você rir daquilo que deixaria louco de raiva se acontecesse com você!". 

Digressões à parte, eis as malditas notícias: 

1. TJ anula julgamentos que condenaram 74 PMs no massacre do Carandiru: Esta é uma decisão dura de engolir, mas baseada no fato que nenhum (repita-se: NENHUM) dos PMs condenados em 2014 cumpriu uma hora sequer de pena, ou seja, a impunidade de fato, algo abjeto, foi substituída pela impunidade de direito, com sustentação jurídica. Apenas o mandante do massacre que aniquilou 111 presos dentro do presídio do Carandiru, em 1992, foi punido, mas com a morte e não pela lei: o coronel Ubiratan Guimarães foi assassinado em 2006 após ser absolvido das acusações. O Carandiru não existe mais: foi implodido em 2002 e virou tema de filme no ano seguinte. Para ler (recomenda-se, apesar de ser um fato intolerável para muitos: clique AQUI). 

2. Padrasto condenado por tortura contra a enteada é absolvido: Não foi apenas o padrasto que fez a menina de três anos comer cebola à força, entre outras atitudes consideradas fora do normal, para dizer o mínimo: a própria mãe participou da cena grotesca. Ambos chegaram a ser presos, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo diz que não houve provas suficientes para constituir tortura. Estamos a falar de um casal de pessoas "comuns", se é possível considerar assim pessoas que sabem muito bem como "cuidar" de uma criança e não de políticos ou pessoas com influência ou dinheiro, pois neste caso os responsáveis não seriam nem considerados réus (clique AQUI).

3. Justiça nega indenização antecipada a vítimas do incêndio na boate Kiss: Do jeito que está a Justiça neste país, há a incômoda sensação que ela é controlada por pessoas que, só de ouvirem a palavra "justiça", sacam do seu revólver - ou simplesmente fingem não ouvir. O STJ considerou necessário concluir o julgamento dos donos da boate Kiss, como se eles fossem os únicos culpados (não são, embora sejam os responsáveis diretos pelo massacre - isso mesmo, M-A-S-S-A-C-R-E - de 242 pessoas dentro da boate de Santa Maria). Como a tragédia aconteceu há quase quatro anos, qualquer indenização já viria tarde demais, mesmo se fosse agora, e nem o dinheiro capaz de tapar o rombo da dívida pública brasileira seria capaz de devolver as vidas das vítimas neste país digno de ser chamado de Bananistão (clique AQUI).

4. Estatais vão gastar R$ 2,2 bilhões para contratar bancas de advogados: Isto aconteceu durante o governo de Dilma Rousseff. Obviamente, as diretorias e o pessoal executivo da Petrobras, Banco do Brasil e BNDES estão empenhadas em se defender das centenas de acusações de corrupção, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, e eles têm todo o direito de fazerem isso, mas gastar tanto em advogados é tratar NOSSO DINHEIRO como se fosse papel para imprimir santinhos de campanha eleitoral. É mais um sinal de que, se houve um golpe contra a democracia ou um crime contra o país, não foi feito pelo atual governo (clique AQUI). 

5. 'Vou fazer turnê' para lançar livro, declara Cunha: O deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha está aproveitando o ostracismo para lançar um livro onde ele revela suas verdades, no seu entender. Segundo o colunista Josias de Souza, o ex-deputado pretende contar tudo o que sabe, mas não se deu conta de que perdeu o controle sobre o próprio futuro, por ter perdido os direitos políticos por oito anos, ao contrário de sua desafeta, a ex-presidente Dilma. E muita gente se pergunta: por que Eduardo Cunha ainda não se entendeu com a Justiça, esta entidade verdadeira mãe para os injustos, como mostram os fatos anteriores? (clique AQUI). 


Outros assuntos foram mais bem digeridos, mesmo porque falam de "males necessários" ou "fatores inevitáveis", mas para muitos são terríveis:

Previdência pode ter 'gatilho' para idade mínima no longo prazo superar 65 anos: Deixaram o sistema previdenciário chegar a um estado próximo à putrefação, daquelas de feder só de pensar. Os aposentados pagam por isso, sob a forma do fator previdenciário que reduz os vencimentos para quem não possui o tempo de contribuição ou a idade suficientes, e irão pagar muito mais. Para tentar compensar o rombo e o fato da população brasileira envelhecer rapidamente, algo desafiador até se a Previdência fosse cuidada exemplarmente durante sua existência, o governo tenta aprovar uma reforma de alto custo político, pois ninguém está querendo perder votos por tentar debater um pouco mais a sério a questão. O projeto prevê ajustes para quando a expectativa de vida melhorar, de acordo com os dados do IBGE - fala-se num determinado tempo de sobrevida, por exemplo, de 18 anos (clique AQUI). 

Morre Shimon Peres: É mais do que natural uma pessoa de 93 anos morrer, mas o povo de Israel e os líderes mundiais, até mesmo Mahmoud Abbas, chefe da Autoridade Palestina na Cisjordânia, não se conformam com a morte de Shimon Peres, um dos fundadores de Israel e responsável pelas distensões entre israelenses e palestinos, fazendo um acordo de paz em 1993 juntamente com o primeiro-ministro Yitzhak Rabin e o líder palestino Yasser Arafat. Para muitos, Peres era um visionário, mas para outros ele tinha a convicção de que só uma convivência pacífica entre árabes e judeus poderá garantir a segurança de Israel. Pessoas com o senso político e a lucidez demonstradas pelo líder israelense morto fazem muita falta neste mundo infestado de sociopatas que controlam os destinos dos outros, não se importam se o mundo mergulhar numa guerra ou até desejam que isso aconteça (clique AQUI). 

 Shimon Peres (1923-2016)

Realmente é necessário ter cérebro, nervos, estômago e intestino funcionando direito para poder viver.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Divagações

O acordo feito entre o governo colombiano e as FARC, assinado ontem, vai trazer paz à Colômbia?...
... ou será a consagração da impunidade para um grupo que sequestrou, matou e traficou drogas?

Hillary Clinton, que teria vencido o debate também ontem na CNN, vai finalmente deslanchar nas pesquisas?...
... ou Donald Trump conseguirá reagir nos debates futuros?

A tendência de crescimento de João Dória, agora com 30% nas pesquisas do Datafolha, é só momentânea?
... ou ele vai crescer ainda mais e confirmar isso nos votos, podendo se eleger prefeito de São Paulo?

E o Marcelo Crivella, no Rio? Ele é o líder nas pesquisas, e vai disputar o segundo turno com quem? Marcelo Freixo, o socialista apoiado pela inteligentsia carioca?...
... ou Pedro Paulo, apoiado pelo atual prefeito Eduardo Paes?

A morte do Sérgio "Sombra" foi realmente uma fatalidade causada por um câncer?...
... ou foi uma "queima de arquivos" para encobrir os verdadeiros mandantes da morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado em 2002?

O futuro irá responder!

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Continuam os trabalhos na Lava Jato

Hoje, prenderam o ex-ministro Antônio Palocci, na nova operação da Polícia Federal, a trigésima-quinta, destinada a aprofundar as investigações sobre os contatos da Odebrecht com políticos e ministros dos governos Lula e Dilma. O nome da operação é Omertà, cujo significado perturba: é a denominação do código de honra das diversas máfias no sul da Itália, impondo silêncio e não-colaboração de seus membros com a polícia. 

Veículos de comunicação, porém, dizem que o nome está ligado ao fato de Palocci ser supostamente referido na Odebrecht como "o italiano". 

Palocci saíra ileso dos escândalos nos governos Lula e Dilma, mas agora seu sossego acabou (Dida Sampaio/Ag. Estado)

Ele foi um dos poucos políticos a não ser molestado durante o Mensalão, apesar das acusações que recaem sobre ele. Foi coordenador político da transição entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, e depois ministro da Fazenda, tentando assegurar a tranquilidade dos mercados. Conseguiu acalmá-los e fazer diminuir todos os indicadores negativos, como o risco Brasil e o dólar. No caso do primeiro, caiu bastante, de 1.446, no início do governo Lula, para 233, quando o ministro se demitiu por envolvimento na quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos, que o acusou de se reunir com lobistas para controlar os interesses do governo. A moeda americana caiu de R$ 3,52 para R$ 2,17 no mesmo período. Depois, foi nomeado chefe da Casa Civil no primeiro governo Dilma, e ficou apenas seis meses no governo, até junho de 2011, desta vez por suspeita de enriquecimento ilícito. Seu patrimônio aumentou 20 vezes, segundo o jornal Folha de S. Paulo. 

Com tudo isso, ele ainda conseguia escapar de se tornar réu. Ele não está nessa condição, e cumprirá prisão temporária, podendo ser solto em cinco dias. Poderá revelar, durante este período, muito sobre os seus atos no governo Lula, podendo ser formalmente acusado, e aí sim ser passível de condenação. Ele não é o único figurão do governo passado a ser alvo da "Operação Omertà": Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil em 2010, e Luciano Coutinho, do BNDES, também podem ser presos temporariamente. Eles também foram deixados em paz, até agora, e podem prestar esclarecimentos acerca do envolvimento da Odebrecht e outras empreiteiras com Lula e Dilma, e dos desvios no banco usado para o financiamento de vários projetos dos governos. Suspeita-se que o rombo no BNDES seja comparável ao Petrolão. 


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

(Falso) Dilema sobre a reforma do ensino médio

Muita gente não filiada a determinada corrente de pensamento acaba vendo na reforma do ensino médio proposta pelo governo como uma espécie de dilema. Afinal, o que é pior? Um projeto feito por uma medida provisória que torna educação física e artes meras disciplinas optativas, ou deixar tudo como está?

Este é um dilema falso: não mexer no ensino médio é manter uma estrutura fracassada, com altíssima evasão escolar, má formação e desinteresse dos estudantes. 

Qualquer coisa para mudar isso é melhor, mesmo que a iniciativa seja por uma medida provisória e não por um projeto de lei vindo do Congresso. Isso, porém, mostra o grau de interesse do Legislativo no assunto, o que é lastimável. Colocar apenas português, matemática e inglês como matérias obrigatórias, enquanto a carga horária diária aumenta para 7 horas, parece um contrassenso com a intenção de criar um "admirável mundo (no caso, Brasil) novo", onde os alunos são vistos como mera força de trabalho para as indústrias, gerando uma sociedade alienada e mecanizada. Ao mesmo tempo, os tigres asiáticos fizeram algo parecido e se tornaram economias pujantes - é certo que este é só um dos vários fatores para isso.

Outra questão em aberto é a má formação e a desvalorização dos professores. O projeto nada fala sobre isso. É necessário discutir isso também, pois sem professores qualificados e motivados o novo sistema não vai funcionar satisfatoriamente.

Há na iniciativa do governo Temer o mérito de forçar o debate sobre o hediondo sistema educacional brasileiro. Deve ser aperfeiçoado, e muito, para entrar em vigor em 2018. Não é a opção ideal, mas é bem melhor do que deixar o ensino médio como está.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

João Dória surpreende

Muitos não deram muito crédito à candidatura de João Dória Jr., do PSDB, devido à sua falta de experiência administrativa e pouca identificação com a maioria do eleitorado paulistano. Aos poucos, porém, a sua rejeição relativamente baixa e o fato de não ser um político profissional o tem ajudado. 

Por ora, ele ainda não pode ser considerado o favorito, pois os números da pesquisa mais recente apontam para um empate técnico entre os três favoritos. A Datafolha aponta 25%, contra 22% de Russomanno e 20% de Marta, com margem de erro de 3 pontos percentuais. 

Dados das últimas pesquisas para a prefeitura de São Paulo, segundo o Datafolha

Pelo comportamento do gráfico considerando os últimos índices, Dória cresceu consideravelmente. Russomanno caiu nas pesquisas, e Marta ficou estagnada. Fernando Haddad continua com chances remotas de ir para o segundo turno, pois não tem progredido muito: de 8% em agosto, para 10% em setembro. 

Ele foi o mais beneficiado pela queda de Russomanno, que não conseguiu fazer a opinião pública esquecer que ele foi julgado pelo STF por improbidade administrativa - e absolvido por uma margem apertada, 3 votos a 2. Ainda por cima, os adversários exploram um vídeo onde ele aparece insultando e constrangendo uma caixa de supermercado. O vídeo é de 2009, mas o candidato do PRB tenta se defender, dizendo que era uma edição manipulada com a intenção de prejudicá-lo. Marta não conseguiu se aproveitar da queda do antigo líder nas pesquisas, pois é identificada como ex-petista pelos adversários do PT, e traidora, pelos simpatizantes da estrela vermelha, além de sua gestão ficar marcada pela cobrança de taxas de lixo e iluminação. Luísa Erundina é prejudicada pela sua reputação como ex-prefeita, além de também ser ex-filiada do PT, partido do prefeito atual e cujo governo é muito mal avaliado. 

Resta saber até quando Dória crescerá, pois seu discurso não deixou de ser elitizado, falando em gestão, venda de patrimônio público, racionalidade. Fala como empresário, não como político. Suas propostas para saúde, segurança, habitação e educação são genéricas, sem perspectiva de que sejam cumpridas integralmente. E nisso ele é igual aos demais. 


N. do A.: Enquanto isso, Guido Mantega, apontado por várias denúncias, entre as quais a de Eike Baptista, que pagou R$ 2,35 milhões ao PT a pedido do então ministro da Fazenda sob Dilma, chegou a ser preso, na portaria do hospital Albert Einstein, onde sua mulher sofreu uma cirurgia para tratamento de câncer. Mantega foi ministro quando as contas da Petrobras sofreram um estrago colossal, fruto dos vários desvios financeiros. Foi também quando o Brasil enfrentou sua crise econômica mais séria desde 1929, condenando milhões ao desemprego e destruindo os esforços de combate à miséria. Sérgio Moro mandou soltá-lo logo depois, pois julgou que o ex-ministro não iria atrapalhar as investigações de várias empresas envolvidas nas construções de duas refinarias, P-67 e P-70, e bilhões de reais envolvidos. A nova fase da Operação, chamada de "Arquivo X", devido à identificação com "X" das empresas investigadas, causou fúria entre os petistas, que compararam os membros da PF com a ditadura, o nazismo e até o stalinismo. Porém, boa parte da opinião pública não pensa dessa forma e continua a apoiar os trabalhos para investigar e punir os corruptos, embora tenha questionado as circunstâncias da prisão de Mantega e se esse procedimento tinha respaldo na lei. Juristas como Walter Maierovitch e o ministro Gilmar Mendes, do STF, disseram que não. 

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Moro acolhe denúncias e ex-presidente Lula vira réu

Sérgio Moro acolheu parte das denúncias feitas na quarta-feira passada pelos procuradores da República - corrupção e lavagem de dinheiro, mas não formação de quadrilha, como apontaram Deltan Dallagnol e seus companheiros - e agora o ex-presidente Lula tornou-se réu a ser julgado pelo mais temido juiz de primeira instância do Brasil. 

Lula (dir.) terá mesmo de ajustar contas com o juiz de Curitiba (divulgação)

Esta decisão foi comemorada pelos adversários do PT e bastante lamentada e criticada pelos seguidores do ex-presidente. Com certeza haverá uma reação forte a esta decisão, mas não vai haver paralisia no Brasil. É mais certo ainda que a defesa de Lula tentará argumentar desqualificando as denúncias dos procuradores e dos depoimentos feitos até agora, uma tática já tentada para livrar Dilma do impeachment. A chance de fracassarem novamente com este expediente não pode ser desprezada. 

Graças a estes acontecimentos, a imagem de Lula foi bastante abalada, a ponto de sua hipotética candidatura para 2018 ficar comprometida irremediavelmente, e o ex-presidente pode acabar na prisão por algum tempo. Um triste destino para alguém que queria ser lembrado como o redentor dos mais pobres. 

Enquanto isso, o alvoroço em Brasilia continua, com uma tentativa de votar um projeto de lei cheio de brechas para, na prática, legitimar a prática do "caixa 2", que virou um fiasco, estragando ainda mais a imagem da Câmara, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, visivelmente inquieto, criticando o "exibicionismo" da Lava Jato e tentando esconder as suas acusações de ter recebido propina da Mendes Júnior, além de outros atos comprovados, como aprovar o fatiamento no processo contra Dilma, cassando-a sem tirar dela os direitos políticos por oito anos - um ato à margem da Constituição. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Rapidinhas no começo da semana

1. O presidente Michel Temer, na conferência da ONU em Nova York para debater os efeitos do aquecimento global e da crise humanitária envolvendo refugiados, disse que os países devem "facilitar a inclusão" dos que tentam a sorte na Europa e nos Estados Unidos após fugirem de países em guerra ou assolados pelo terrorismo e pelas perseguições políticas. Disse que o Brasil recebeu, nos últimos anos, 95 mil refugiados. Este número, além de ser bem menor do que a quantidade de pessoas recebidas nos países desenvolvidos, ainda inclui gente que fugiu por causa de desastres naturais, fugindo do termo aceito pela ONU. Desses 95 mil, 85 mil são haitianos, que foram desalojados por causa do terremoto de 2010, e não por fatores políticos. 

2. Ainda em Nova York, e também em Nova Jersey, estão investigando os diversos atentados terroristas acontecidos no fim de semana. No caso mais grave, 29 pessoas se feriram, mas não houve mortes. Um suspeito foi preso, o afegão Ahmad Khan Rahawi, de 28 anos. Resta saber se agiu sozinho ou teve ajuda de comparsas, caso ele realmente for o autor dos crimes. As evidências e o modo como reagiu à ação policial indicam que sim. Ele conseguiu cidadania americana e trabalhou no restaurante do pai, que também tinha problemas com a Justiça por irregularidades trabalhistas e conflitos com vizinhos e policiais. O crime tem a ver com a visita dos chefes de Estado para a conferência da ONU. 

3. 1.900 ex-trabalhadores da Vasp e seus familiares receberão a verba indenizatória no total de R$ 70 milhões, por não receberem nenhum benefício trabalhista após a falência da empresa, em 2008. O dono, Wagner Canhedo, teve os bens bloqueados em 2012, mas só chegou a ser condenado à prisão por duas das acusações, de fraude na Previdência e fraude fiscal; Canhedo recorreu em liberdade e pagou parte da dívida tributária, para a Justiça de Santa Catarina. A Vasp, assim como a Varig e a Transbrasil, foram empresas muito conhecidas no passado, entre os anos 1960 e 1990, mas foram vítimas do Plano Collor e das falhas de gestão, principalmente durante o Plano Real, dando lugar a novas companhias como a Gol e a TAM. 

4. Nos Estados Unidos, o Emmy premiou as melhores séries de TV, e a produção Veep se consagrou entre as comédias, mas quem brilhou mesmo, de forma previsível, foi Game of Thrones, escolhido como melhor série dramática, direção e roteiro, embora os atores e atrizes premiados nos quesitos onde a série sobre Westeros concorria sejam de outros trabalhos: Maggie Smith (Downtown Abbey), como atriz coadjuvante e Ben Mendelsohn (Bloodline), ator coadjuvante. Peter Dinklage (Tyrion Lannister), Kit Harington (Jon Snow), Emilia Clarke (Daenerys Tangaryen "Khaleesi") e Maisie Williams (Arya Stark) não foram escolhidos. 

domingo, 18 de setembro de 2016

Da série Paralimpíadas no Rio, parte 6 - O que houve no último dia

As Paralimpíadas terminaram, também. 

Deixam saudade, sem dúvida, mas não tanto quanto as Olimpíadas, principalmente porque a repercussão das Paralimpíadas é bem menor. Infelizmente muitos não estão habituados a assistir cadeirantes, deficientes visuais e pessoas com paralisia cerebral disputando competições, e as emissoras não fizeram questão alguma de mudar isso, apesar dos discursos mais regidos pelo "politicamente correto" e pelo coitadismo demagógico e sentimentalóide do que por uma verdadeira convicção de que os deficientes são pessoas como nós, que enfrentam os mesmos problemas, têm os mesmos objetivos e possuem as mesmas qualidades e defeitos, além de terem as particularidades de enfrentar as limitações físicas que a maioria não tem - e não quer ter. 

Como sempre, os atletas paralímpicos conquistaram bem mais medalhas do que os olímpicos. Foram 14 ouros, contra 7. Os paratletas ganharam 72 medalhas, e os atletas, 19. Muitos ficaram decepcionados pois a meta de ficarem entre os cinco melhores do mundo não foi atingida, e, comparados aos 21 ouros de Londres ou mesmo os 16 de Pequim, houve uma piora. Por outro lado, não só a delegação brasileira aumentou: as demais, em geral, também. A falta da Rússia e do mais conhecido paratleta do mundo, Oscar Pistorius, atualmente preso por assassinar a namora, foi compensada pela vinda de muito mais esportistas, boa parte deles disposta a superar seus limites. A China ganhou 239 medalhas, sendo 107 de ouro. É tão assustador que chega a gerar questionamentos sobre as causas do incrível desempenho da delegação asiática. 

Hoje, tivemos apenas um bronze, de Edneusa Dorta, maratonista categoria T12, para pessoas com deficiência visual moderada. É a primeira Paralimpíada da brasileira. A espanhola Elena Congost venceu a prova, seguida pela japonesa Misato Michishita. 

Quanto à cerimônia de encerramento, ela tentou sair da pieguice e mostrar alegria, mas teve de fazer uma homenagem ao ciclista iraniano Bahman Golbarnezhad, morto ontem durante competição de ciclismo de estrada. Tirando isso, além das exibições dos porta-bandeiras (entre eles Ricardinho, do futebol de 5 campeão paralímpico) e de algumas performances de artistas deficientes físicos, como Johnatha Bastos, guitarrista que toca com os pés por não ter os dois braços, tudo foi um imenso musical, com Vanessa da Mata, Nação Zumbi, Gaby Amarantos e, para terminar, Ivete Sangalo, após o espetáculo do apagamento da pira paralímpica com simulação do vento. Fora isso, a cerimônia não foi tão vistosa quanto a abertura, com muitos momentos tediosos, como o discurso requentado do chefe da organização para os Jogos, Carlos Arthur Nuzman. Também não houve humor como naquela ocasião, e nas cerimônias olímpicas, o que deixou muita gente frustrada. A aparição de vozes do Google Tradutor, embora interessante, não chega a ser engraçada. O mascote Tom fez uma última e discreta aparição.

 Saulo Laucas, tenor deficiente visual que ainda enfrentou o autismo, cantou o Hino Nacional (André Durão/Globoesporte.com)

 Johnatha Bastos, em solo de guitarra, bem no início da festa (Reuters)

 Ricardinho, estrela do futebol de 5 que ganhou o ouro paralímpico, é o porta-bandeira (Getty Images)

A homenagem ao ciclista morto Bahman Golbarnezhad (Reuters)

 O cartaz das Paralimpíadas de Tóquio (Reuters)

Vanessa da Mata (André Durão/Globoesporte.com)

Tom, o mascote paralímpico (Pablo Jacob/O Globo)

Artistas fizeram performance durante o apagar da chama paralímpica (Reuters)

Ivete Sangalo animou a plateia no final da cerimônia (Francisco Cepeda/AGNews)

sábado, 17 de setembro de 2016

Da série Paralimpíadas no Rio, parte 5 - Tragédia macula os Jogos

Numa semana marcada pela morte trágica do ator Domingos Montagner, submerso no Rio São Francisco, outro acidente chamou a atenção da mídia: o iraniano Bahman Golbarnezhad, ciclista da classe S4-5, daqueles que sofreram amputações menores. Ele saiu da pista na descida de Grumari, durante a prova dos 15 km, caiu e bateu a cabeça, morrendo a caminho do hospital. O atleta tinha 48 anos e já sofrera outros acidentes. Ele participou das provas em Londres, e embora não fosse parte da elite do ciclismo paralímpico, era estimado em seu país. 

Na mesma prova, o brasileiro Lauro Chaman chegou em segundo lugar, e o holandês Daniel Abraham venceu. 


N. do A.: Outros brasileiros também se destacaram. Clodoaldo Silva anunciou que não irá mais disputar as provas de natação, após ter ficado em oitavo nos 100 m livres, vencido pelo compatriota, Daniel Dias, que se tornou o maior medalhista na natação paralímpica brasileira. Outro ouro foi conquistado pelo futebol de 5, para deficientes visuais: a equipe brasileira venceu o Irã por 1 a 0, gol de Ricardinho. Jefinho, considerado o craque do time, também jogou, e foi comparado a Neymar durante a competição.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Da série Paralimpíadas no Rio, parte 4 - As premiações continuam

Está certo que no "ranking" o Brasil não está mais tão bem e perdeu até o sétimo lugar para a Holanda, mas pelo menos os atletas paralímpicos estão fazendo sua parte. 

Primeiro, as decepções, como o "goalball" feminino, que prometia empolgar, mas acabou perdendo para a China na semifinal após partida dramática decidida na prorrogação, por 4 a 3, e agora perdeu para os Estados Unidos na disputa da medalha de bronze, por 3 a 2. No vôlei sentado, modalidade que, ao contrário do vôlei convencional, o Brasil não tem muita tradição, decepção dupla tanto no masculino quanto no feminino: ontem, as meninas do vôlei paralímpico sucumbiram ao favoritismo das americanas, e perderam por 3 sets a 0 (25-13, 28-26, 25-18), e disputará o bronze com as ucranianas; hoje, foi a vez do time masculino enfrentar um time superior, o Irã, e perder por 3 sets a 0 (25-20, 25-19, 25-17). 

Por outro lado, houve alegrias, como a inédita medalha no "goalball" masculino, mas da forma mais dramática possível: estavam sendo goleados por 4 a 0 pelos suecos, mas conseguiram reagiram e, de forma incrível, viraram o jogo e conseguiram o bronze por 6 a 5; foi um sofrimento a mais para quem foi massacrado pelos norte-americanos por 10 a 1. Teresinha Guilhermina ganhou o bronze nos 400 m T11, voltando a fazer bonito após decepções iniciais nas provas mais curtas. Daniel Dias voltou a mostrar por que é apelidado de "Phelps paralímpico" e ganhou o ouro nos 50 m costas. A medalha mais comemorada, porém, foi a da atleta Silvania Costa, que fez 4,98 m no salto em distância para pessoas com cegueira total e ganhou o ouro. Lorena Spaladore conseguiu o bronze na mesma prova, ao saltar 4,71 m. Foi com Silvania que o Brasil quebrou o jejum de ouros nesta edição dos Jogos. 

Silvania Costa contou que precisou começar a praticar o esporte para sustentar a família (Christophe Simon/AFP)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Quinta turbulenta

Esta quinta foi marcada por acontecimentos difíceis de esquecer e duros de engolir. 

Primeiro, a repercussão de ontem, quando o Ministério Público Federal acusou Lula de ser o chefe do grande esquema responsável por infestar o Brasil de parasitas - verdadeiros, não os apontados pela ex-presidente e discípula de Lula, Dilma Rousseff. Não podia ser diferente com o PT, que se mobilizou fortemente para defender o seu líder e desqualificar as acusações. A Procuradoria Geral da República e as lideranças da Lava Jato, ao que parece, devem redobrar o cuidado nos seus trabalhos, para não dar mais munição aos interessados em sabotar as investigações. 

O ator Domingos Montagner (1962-2016)

Segundo, a terrível morte de Domingos Montagner, ator que deu vida ao personagem Santo, um dos protagonistas da novela das nove da Rede Globo, Velho Chico. As gravações terminariam no final do mês, mas sem Montagner, afogado no Rio São Francisco enquanto nadava e cujo corpo foi encontrado a 30 m de profundidade entre as pedras, os rumos do trabalho assinado por Benedito Ruy Barbosa ficaram incertos. É uma perda considerável para o meio artístico. Montagner é um dos representantes de atores que brilharam nos últimos tempos, em trabalhos como a novela Cordel Encantado e a minissérie O Brado Retumbante

Terceiro, o desempenho modesto de muitos atletas paralímpicos do Brasil. Houve expectativa exagerada a respeito, já que não contavam com a qualidade dos esportistas vindos de fora, principalmente da China e da Ucrânia. A delegação brasileira estacionou um pouco nos 10 ouros, tendo ainda 25 pratas e 18 bronzes. É um número bastante grande de medalhas, mas hoje o país foi superado pela Austrália, com 14 ouros, e pela Alemanha, com 12. Dificilmente voltará à quinta posição, como quer de forma mais política do que realista, o Comitê Paralímpico (CPB), mas novas medalhas vão surgir, inclusive as douradas, nos últimos três dias de competições. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Lula na mira da Lava Jato

O ex-presidente Lula nunca ficou tão próximo da prisão desde a ditadura militar, quando ele foi preso por crime contra a segurança nacional e ficou 31 dias no Dops. Em 2016, no regime democrático, embora os partidários dele insistam no contrário desde o impeachment da "companheira" Dilma Rousseff, Lula poderá ser condenado por algo bem mais grave: ser o chefe de uma quadrilha que dilapidou a Petrobras e afanou NOSSO DINHEIRO. Por isso, ele vai ficar muito mais do que meros 31 dias na cadeia. 

 O então líder do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em 1980, quando foi preso pela ditadura

Segundo o Ministério Público Federal, Lula recebeu R$ 3,7 milhões da OAS, em forma de propinas, e o procurador Deltan Dallagnol fez acusações gravíssimas contra ele: o chefão petista seria o "comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava Jato". 


 Os "slides" mostrados pela Procuradoria explicando o envolvimento de Lula no chamado "Petrolão" (divulgação)
Devido à forma da acusação e aos poucos indícios apresentados, sem nada de novo que desse solidez à tese da Procuradoria, a defesa de Lula não tardou em chamar as acusações de Dallagnol de serem políticas, visando destruir as chances do ex-presidente ser candidato em 2018. Por outro lado, juristas já enxergam melhor a possibilidade de Lula sentar no banco dos réus. E não só ele: sua mulher, Marisa da Silva também foi denunciada pela história mal contada do triplex em Atibaia. Léo Pinheiro, já preso, foi denunciado por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Outros nomes, como Paulo Gordilho, ex-executivo da OAS, e o chefe do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também foram denunciados por práticas de legalizar o dinheiro adquirido de forma ilícita. 

Por outro lado, o governo Temer, mais uma vez, mostrou um misto de cautela prudente com previsões furadas, ao dizer que o episódio irá enfraquecer os protestos contra os atuais mandatários. Poderemos ver o recrudescimento dos protestos, com desfecho potencialmente perigoso para a vida de alguém. 

A Lava Jato deve aproveitar para não só fundamentar as acusações contra Lula, mas também investigar a fundo os demais participantes do esquema, principalmente aqueles que não tem ou perderam o foro privilegiado, como Eduardo Cunha e sua mulher, Cláudia Cruz. Deputados, senadores, ministros, considerados culpados de terem participado deste megaescândalo que feriu seriamente o nosso país, também não podem ficar a salvo, apesar de seus privilégios jurídicos e do histórico amplamente favorável à impunidade.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Para lembrar

Depois de um ano agitado no Congresso, vale lembrar dos acontecimentos mais marcantes até agora: o impeachment da Dilma e a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Por isso, é bom conferir os nomes dos deputados e senadores envolvidos, e se lembrar deles em 2018. 

Para ver os deputados que votaram  contra o impeachment de Dilma, clique AQUI

Para ver os senadores que votaram a favor de Dilma (contra o impeachment ou a cassação de seus direitos políticos), clique AQUI e AQUI

Para ler o nome dos deputados que se mantiveram fieis a Eduardo Cunha, votando a favor dele ou se abstivendo, clique AQUI

Para saber quem se ausentou na votação de ontem (e foram 42 nomes, não 43 como cheguei a escrever), clique AQUI

De agora em diante, caso houver alguma votação de interesse nacional, poderei divulgar a lista dos votos de cada parlamentar, representante do povo, segundo a nossa Constituição. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Tchau, querido!

Eduardo Cunha foi cassado. 

Foi o fim de um processo demorado e marcado por inúmeras manobras, inicialmente para manter-se na Presidência da Câmara, e depois para preservar o mandato de deputado. Tudo isso levou quase um ano, um tempo absurdo.

Pesaram contra ele as acusações de lavagem de dinheiro, participação no Petrolão, contas secretas na Suíça, abuso de autoridade, achacamento de colegas e testemunhas, e envolvimento no escândalo de offshores conhecido como "Panama Papers". Contra tudo isso, não adianta ter o fato de ser decisivo para cassar o mandato da agora ex-presidente Dilma Rousseff e contribuir para a derrocada do PT, um partido que traiu a confiança dos brasileiros ao praticar um ato que sempre condenaram quando estava na oposição, para depois fazer com ainda mais avidez predatória quando se tornaram governo: a corrupção.

Muitos deputados faltaram à sessão: a casa tem 513 componentes, mas 43 deles faltaram, a grande maioria partidários do peemedebista carioca. Dentre os que compareceram, 9 se abstiveram e 10 votaram a favor de Cunha. Mais tarde poderei divulgar os nomes. A imensa maioria, quando era necessária apenas metade mais um, votou contra ele: 450 votos. É um número maior do que os votantes contra Dilma no processo de impeachment em abril (367), e chega a surpreender.

Alguns fieis aliados de Cunha tentaram fazer algo feito centenas de vezes antes: manobras políticas, para tentar garantir uma pena mais branda, como fez Carlos Marun (PMDB-MS). Fracassaram, e só tornaram a votação ainda mais demorada.


Com isto, Cunha perde o mandato e, também, fica oito anos sem direitos políticos. Não vale para ele a manobra inconstitucional de ter fatiado o processo, autorizada pelo Senado e pelo agora ex-presidente do STF Ricardo Lewandowski, que garantiu à Dilma a possibilidade de exercer algum cargo público mesmo sem a Presidência. Pior: dependendo da decisão do STF, Cunha se tornará alvo das investigações de Sérgio Moro ou qualquer outro juiz envolvido na Operação Lava Jato. A chance dele ir para a prisão aumentou consideravelmente. 

Da série Paralimpíadas no Rio, parte 3 - Medalha inédita no tênis de mesa e mais ouros

Hoje, enquanto fora do mundo esportivo acontecem fatos importantes para o Brasil como a posse da ministra Carmem Lúcia como presidente do STF e a votação para cassar (ou não) o mandato de Eduardo Cunha e, de forma vinculada e não separada, deixá-lo sem os direitos políticos por oito anos, dentro das Paralimpíadas os atletas brasileiros mostram superação e espírito competitivo. 

Por conta disso, eles não param de ganhar medalhas, principalmente de prata, devido à qualidade dos adversários. Um exemplo disso foi o mesa-tenista Israel Stroh, estreante em competições paralímpicas, que chegou longe e só foi derrotado na final, para o favorito, britânico Will Bayley, na categoria atletas com deficiência motora moderada. O Brasil nunca ganhou uma medalha nesta modalidade. 

Outros mostraram ainda mais qualidade e ganharam o ouro. O experiente Daniel Dias cansou de ganhar pratas e foi buscar o ouro nos 50 m livres. Alessandro Silva, totalmente cego (T11), arremessou o disco numa distância de 43,06 m e também adquiriu sua medalha dourada. 

Na bocha para portadores de deficiência física categoria BC4, atletas que não precisam de cadeira de rodas mas apresentam limitações de locomoção, o time brasileiro acabou perdendo na final para a Eslováquia por 4 a 2. O trio formado por Dirceu Pinto, Eliseu dos Santos e Marcelo dos Santos, já havia ganho uma medalha de ouro paralímpica em Londres. Em outra categoria, BC3 misto, onde os atletas precisam de assistentes para se locomoverem, mas não necessariamente precisam de cadeiras de rodas, a dupla formada por Antônio Leme e Evelyn de Oliveira venceu a dupla sul-coreana na final por 5 a 2. Na fase inicial, eles haviam perdido para a mesma dupla. A bocha paralímpica é algo diferente da bocha convencional: eles usam bolas menores, que também devem ser arremessadas em direção a uma pequena bola, chamada de "bolim", até encostar nela, garantindo um ponto. 

Equipe de bocha BC3 vibra com a vitória (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ainda restam muitas medalhas a disputar e muitas competições, portanto é cedo para dizer se a delegação paralímpica brasileira vai atingir a audaciosa meta de se manter entre os cinco primeiros no ranking. Até agora, estão dentro do objetivo, mas a concorrência é acirrada: Austrália e Nova Zelândia estão com apenas dois ouros a menos, enquanto os Estados Unidos, quarto lugar, tem muito mais ouros: 16, contra 9 do Brasil. 

domingo, 11 de setembro de 2016

15 anos do 8/9

O século XXI está só no começo, e efetivamente se iniciou com o 8/9 (divulgação)

Já fazem 15 anos desta data que marcou o futuro da humanidade para sempre.

A partir daí, ficou mais difícil viajar de avião, a paranoia contra os muçulmanos aumentou e muitas pessoas passaram a ver o futuro como uma ameaça e não uma esperança. Os Estados Unidos aumentaram os esforços para combater os extremistas, mas tudo o que fizeram foi multiplicá-los: depuseram Saddam Hussein, e seu país tiranizado por ele, o Iraque, tornou-se uma terra sem lei, berço do Daesh ("Estado Islâmico") e vários grupos terroristas; intervieram no Afeganistão, mas aquele país continua ingovernável; seu vizinho, o Paquistão, viu os atos violentos aumentarem.

Osama Bin Laden, o chefe da al-Qaeda, responsável pelo crime que feriu Nova York e o resto do Ocidente, foi morto pelas tropas americanas no Paquistão, mas sua organização continua a atuar em várias partes do mundo muçulmano e fora dele.

Continuamos à mercê do extremismo islâmico, mais do que nunca. Felizmente, até agora o Brasil não foi atacado, mesmo nas Olimpíadas e agora nas Paralimpíadas. Ainda assim, devemos estar alertas. O Ocidente deve continuar a tomar medidas efetivas e aperfeiçoar seus métodos, procurando preservar as liberdades dos civis e concentrar os ataques em quem efetivamente é uma ameaça. Os serviços de inteligência e as Forças Armadas têm se preocupado com essas questões, embora alimentem justas reservas a este respeito. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O quadro negro da educação brasileira

Nesta semana divulgaram os dados do Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Como era de se esperar, infelizmente, os dados não animam. 

Nenhum Estado cumpriu a meta para 2015 de forma integral, que é atingir uma nota mínima média nos quesitos leitura, matemática, taxa de aprovação, desempenho geral e índice de evasão. Para o ensino público, onde as metas são bem menos ambiciosas, apenas os estados do Amazonas e Pernambuco conseguiram superá-las. As metas desses dois estados não chegam a 5,0 (a maior nota é 10,0) nas duas amostras colhidas no ensino fundamental (quarto-quinto e oitavo-nono anos). Para os demais, nem isso foi atingido. No ensino particular, onde as metas ficam entre 6,0 e 7,0 para estas faixas, o que não é nada extraordinário, nenhum dos Estados conseguiu atingir as notas estipuladas. O Ideb ainda liberou as notas para as escolas privadas do fim do ensino médio. A meta média é de 6,3, podendo variar consideravelmente conforme o Estado. Em nenhuma das 27 unidades da federação brasileira os valores foram atingidos.

Existem algumas exceções, como a Escola Emílio Sendim, de Sobral (CE), nota 9,8 no quarto-quinto ano. É um desempenho fantástico, ainda mais vindo do interior de uma Estado pobre como o Ceará. Infelizmente, as escolas com bom desempenho parecem, em termos poéticos, algumas flores que cresceram em imensos depósitos de lixo. 

Quanto ao nosso Estado, São Paulo, com o maior orçamento do país, cerca de R$ 23 bilhões só em Educação segundo o Orçamento de 2014, os números são alarmantes. Em 2015, a nota mínima foi superada apenas na faixa de menor idade (6,2, quando exigiram um mínimo de 5,8). Nas outras faixas, o Estado mais rico do país fracassou vergonhosamente. É o que diz os dados. Para consultar, clique AQUI. É para pensar o que está sendo feito com a verba destinada às escolas paulistas, além de alimentar a "Máfia da Merenda" e outras aberrações. 

Nosso país está condenado sem um esforço mais decisivo para melhorar a nossa educação. Estamos mais do que nunca mantendo um sistema execrável de tão ineficiente. Nossas crianças - e nossa pátria - sentirão os efeitos da nossa atroz negligência. 


Da série Paralimpíadas no Rio, parte 2 - Primeiras medalhas

Farei um pequeno apanhado do que aconteceu no primeiro dia das competições paralímpicas. 

O Brasil já começou ganhando medalhas, como era de se esperar, embora China e Grã-Bretanha já tivessem levado, cada um, pelo menos cinco ouros. 

Odair Santos ganhou a primeira medalha, prata na categoria 1.000 m com guia categoria T11, mas o Comitê Paralímpico Brasileiro foi recorrer por causa de uma suposta irregularidade do queniano Samwei Kimani, que teria corrido com a venda fora do lugar, permitindo que ele enxergasse as formas amorfas em volta - deficientes visuais na categoria T11 não conseguem enxergar nada além disso.

Caio Vinícius, do arremesso de peso categoria F12 (visão subnormal grave), ganhou o bronze. Lopez Gonzalez, espanhol, ficou com o ouro.

Ricardo Costa de Oliveira, categoria T11, saltou 6,52 m, uma marca impressionante. Foi o bastante para ganhar o primeiro ouro para um paratleta brasileiro. Outro ouro veio, este mais esperado, com Daniel Dias, o "rei da natação paralímpica", fazendo 2m27s nos 200 m nado categoria S5 (amputados). É a décima sexta medalha na carreira do nadador, um dos maiores atletas da história das Paralimpíadas. 

Daniel Dias ganhou o primeiro ouro no Rio, e pretende conquistar mais (Buda Mendes/Getty Images)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Da série Paralimpíadas no Rio, parte 1 - Começou!

Após as Olimpíadas, que deixaram saudade apesar de todos os problemas e recursos do NOSSO DINHEIRO dilapilados sem dó por conta das reformas feitas no Rio de Janeiro e dos desvios de verbas decorrentes dessas obras, por conta do mesmo problema abordado centenas de vezes por aqui (sim, aquele...), começaram as Paralimpíadas, de certa forma continuação do maior evento esportivo já feito em nosso país. 

Fizeram uma abertura mais ou menos no nível daquela feita nas Olimpíadas, com importantes diferenças além dos tipos de atletas encontrados nas delegações: 

1. A ênfase na inclusão social dos deficientes físicos e mentais, principalmente num dos pontos altos do evento, quando o Maracanã ficou às escuras mostrando dezenas de pessoas de bengalas.

2. A presença da mascote paralímpica, Tom, com a participação especial da outra mascote, Vinícius, cujas participações nas cerimônias olímpicas de abertura e encerramento passaram despercebidas. Vinícius imitou Gisele Bündchen. 

3. A ausência de Thomas Bach, presidente do COI, e a presença de Philip Craven, do Comitê Paralímpico Internacional. Ele e Carlos Arthur Nuzman fizeram a parte mais protocolar - e menos interessante - do evento. 

4. As vaias a Michel Temer foram mais constantes e chegaram a um tom de agressividade que fez Carlos Arthur Nuzman interromper o discurso, quando ele se referiu ao "governo federal". 

Algumas fotos mostraram os melhores momentos: 

 Tom, Adriana Lima e Marcelo Rubens Paiva (André Durão)

 Dançarinos fizeram do Maracanã uma praia carioca (Reuters)

 Vinícius imita Gisele Bündchen - ele faz participação especial, já que ele é a mascote olímpica (André Durão)

 Porta-bandeiras de Tonga em trajes típicos seguiram o exemplo do folclórico "besuntado" da abertura olímpica (Reuters)

 Sirlene Coelho foi a porta-bandeira da delegação brasileira (André Durão)

Com as peças do quebra-cabeça trazidas pelas delegações, um coração se formou no Maracanã (Pablo Jacob/O Globo)

 Dançarinos imitaram cegos na escuridão (Reuters)

 Amy Purdy, modelo biamputada, dança com um robô (AFP)

 Clodoaldo Silva, multimedalhista paralímpico da natação, acende a pira paralímpica (André Durão)

 A pira paralímpica tem o mesmo formato da olímpica, tão elogiada (André Durão)

Perto do final da abertura, já na parte do revezamento dos atletas paralímpicos, uma cena comoveu os espectadores: a atleta Márcia Malsar, participante das Paralimpíadas de 1984 e 1988 e ganhadora de quatro medalhas (1 ouro em 1984, 1 bronze em 1988 e 2 pratas nas duas edições) como corredora na categoria S6 (pessoas com paralisia cerebral), sofreu com as limitações de seus movimentos e com a chuva, deixou a tocha cair e tombou na pista, para depois se levantar sozinha e, com a ajuda de alguns funcionários da equipe de apoio, foi pegar a tocha de volta e completar o percurso, entregando o fogo paralímpico para Ádria Santos, campeã na categoria T11 (cegueira total) de corridas em curtas distâncias (até 400 m rasos). Esta revezou com Clodoaldo Silva, responsável pelo acendimento da pira. 

Márcia Malsar deu lição de persistência e determinação (Youtube)

O evento terminou com Seu Jorge cantando É preciso saber viver, de Roberto e Erasmo Carlos.