quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Pautas para setembro

Espera-se que em setembro não haja tantas pautas repetidas. Este ano de 2022, por exemplo, teve muito de economia, personalidades mortes sendo homenageadas, jogos de futebol (como a goleada do Flamengo sobre o Vélez por 4 a 0 na semifinal da Libertadores em plena Argentina...) e outros assuntos já avidamente comentados pela mídia. 

Infelizmente, não há como não abordar as eleições, sobretudo a presidencial, mas este blog deverá falar algo mais além disso. É preciso dar espaço para os comentários sobre os candidatos a deputado, principalmente os do estado de São Paulo. 

Por falar em eleições, elas continuam dando motivo para muitas calúnias e fake news, e os candidatos à Presidência parecem nem se importar com o fato de serem "vidraças", enquanto jogam pedras nos adversários. E os setores da mídia atuam ativamente, procurando explorar temas escabrosos. 

O maior deles envolve a compra de 51 imóveis pela família Bolsonaro ao longo dos anos, com dinheiro vivo, algo realmente insólito por se tratar de valores elevados demais para serem custeados com uma maleta de notas. Seria necessário investigar com coragem, profundidade e racionalidade, mas parte da imprensa já chegou a conclusão segundo a qual Bolsonaro e seus filhos agiram de forma criminosa, supostamente "lavando dinheiro sujo". Mas Lula também não deverá ter sossego com o recorrente tema da corrupção nos governos petistas, inclusive a enorme rapinagem envolvendo as empreiteiras, a Petrobras e o suado dinheiro do povo, 

Enquanto isso, continua de pé o compromisso de manter o blog como merecedor do nome "Assuntos 1000". Este espaço pode dar espaço para algum tema completamente inexplorado. Pelo menos não se pode dizer que não houve tentativas de diversificar as pautas, como se pode notar em alguns artigos recentes. 


Ainda tem mais 4 meses

O mês de agosto terminou, mas 2022 ainda não. Ainda teremos as eleições, a Copa do Mundo no Catar, o prosseguimento da guerra na Ucrânia, as epidemias de COVID-19 e da tal "varíola dos macacos", além de haver espaço para muitos acontecimentos. 

2022 está sendo um ano daqueles. Preparemo-nos!

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Da série "Oitentolatria", parte 33, e "Noventolatria"', parte 30 - Gorby

Mikhail Gorbachev (1931-2022) chegou a ser o estadista mais popular entre o final dos anos 1980 e 1990. Com seu carisma e afabilidade, ele rompeu com a tradição dos secretários-gerais da antiga União Soviética de serem mal-humorados e temidos. Ele também foi o último dirigente do "império" comunista, entre 1985 e 1991. 

Gorbachev morreu aos 91 anos (Pascal Guyot/AFP)

Durante essa época, muito se falou em "Glasnost", a política da transparência nas decisões do governo soviético, e "Perestroika", a reconstrução econômica, com maior abertura para os produtos vindos da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Isso funcionou mais como uma propaganda para angariar a simpatia dos ocidentais do que como uma melhoria real, pois a situação do povo nas repúblicas soviéticas, em geral, era precária. Essas repúblicas incluíam a Ucrânia, agora ameaçada novamente em sua soberania, as repúblicas bálticas (Lituânia, Letônia e Estônia), a Bielorússia (atual Belarus), a Moldávia (atual Moldova), os países do Cáucaso (Armênia, Geórgia e Azerbaijão) e as afastadas nações da Ásia Central (Cazaquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão, Taidjiquistão). 

Mesmo assim, a liderança de "Gorby", como foi apelidado, contribuiu para a destruição da Guerra Fria, com maior pressão por liberdade nos antigos países socialistas da Europa Central e Oriental, dissolvendo a chamada "Cortina de Ferro", fronteira entre os países ocidentais e orientais. Assinou importantes acordos com Ronald Reagan, o ex-ator e presidente norte-americano, lembrado por oitentólatras (governou entre 1981 e 1989) e defensores do conservadorismo, para arrefecer a produção de artefatos nucleares, resolver os conflitos na Ásia Ocidental (Guerra Irã-Iraque) e o apartheid, o regime racista na África do Sul. Também contribuiu para a quebra (literal) do Muro de Berlim, em novembro de 1989, e as manifestações contra a ditadura chinesa em maio do mesmo ano. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1990, a maior prova de reconhecimento por seu trabalho, quando a Guerra Fria estava praticamente morta. 

Gorbachev sofreu uma tentativa de golpe de Estado em agosto de 1991, provocado por quem procurava restaurar o antigo regime de força do gigante comunista. Resistiu graças à ajuda de Bóris Yeltsin, o presidente da Rússia. Percebendo que seu poder estava irremediavelmente abalado, e renunciou em dezembro. Sem ele, a União Soviética desmoronou, e as repúblicas proclamaram suas independências, mas com o compromisso de estarem filiadas à Comunidade dos Estados Independentes, a CEI. As repúblicas bálticas, primeiras a recobrarem sua plena autonomia, recusaram-se a integrar esse novo grupo. 

Também num mês de agosto veio a falecer o mais popular dos dirigentes vermelhos, mais comentado pela sua careca enfeitada com uma mancha na pele, do que pelas carrancas feitas por seus antecessores, responsáveis por tornar o comunismo um pesadelo, a partir do sonho de igualdade pregado pelos líderes da Revolução Bolchevique de 1917. Ele também foi uma das personalidades mais queridas pelos saudosistas das décadas de 1980 e 1990. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

E agora, o debate!

O debate na Band, ocorrido no domingo (28), foi o tema mais comentado atualmente (Divulgação/Rede Bandeirantes)

Quem viu o debate na Band percebeu um tom mais sério nos candidatos, sem declarações (muito) estranhas como a do folclórico cabo Daciolo, agora candidato ao senado pelo PDT do Rio, que falou de uma certa URSAL ("União das Repúblicas Socialistas da América Latina") para denunciar os governos socialistas na América Latina em 2018. 

Não houve candidato folclórico, apenas Bolsonaro (PL), Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT), Soraya Thronicke (União Brasil) e Felipe D'Avila (NOVO). Os dois primeiros honraram o compromisso de participarem do debate, como líderes nas pesquisas. No Ipec, por exemplo, Lula está com 44% e Bolsonaro, com 32%. 

No entanto, as declarações mais próximas da estranheza foram as do presidente candidato à reeleição, cujo ataque mais comentado não foi contra Lula, a quem chamou de "ex-presidiário" e "mentiroso", mas contra uma das organizadoras do debate, a jornalista Vera Magalhães, notória desafeta do presidente, acusada de "sempre pensar em" Bolsonaro, "divulgar mentiras" e "ser uma vergonha para o jornalismo". Bolsonaro deu motivos para ser apontado como "misógino" quando as duas candidatas mulheres, Tebet e Thronicke, foram defender a jornalista, reagindo agressivamente, mas sem conseguir intimidá-las. Também causou espécie Bolsonaro se referir ao seu maior adversário, Lula, como "presidente". 

Outra fala comentada foi dizer "nossa Argentina", "nossa Colômbia", "nosso Chile", para criticar os regimes bolivarianos desses países. Não faltaram memes para ironizar o presidente, comparado até ao cabo Daciolo. Também houve troças a respeito de se falar de "nossa Argentina" em época de Copa do Mundo. Fora isso, destacou o Auxílio Brasil e a importância do agronegócio, por ser a principal responsável pelo PIB brasileiro. 

Lula não se saiu bem no debate. Na verdade, foi até pior que Bolsonaro, pois não foi convincente ao se defender das acusações de corrupção perpretradas por todos os seus oponentes. Ele dedicou pouco tempo a fazer propostas, e não animou nem a sua equipe de campanha. Foi chamado de "ladrão" logo no começo por Bolsonaro, que se recusou a apertar-lhe a mão. 

Ciro Gomes foi o mesmo de sempre, atacando os adversários e fazendo promessas em tom populista, ao estilo dos dois principais oponentes. falando em seu plano "antiganância" para combater os lucros dos bancos, sempre apontados como exorbitantes pelos candidatos a algum cargo público. Ele foi duro com o presidente candidato à reeleição, culpando-o pela condução da pandemia de coronavírus pelo governo federal, embora ele só tivesse parte da responsabilidade pelo trágico fiasco, dividida com os Estados, municípios, Congresso e STF. 

Simone Tebet foi destaque ao criticar as declarações de Bolsonaro a respeito das mulheres, e por isso foi bem avaliada, principalmente pelo eleitorado feminino. Também não poupou de críticas a condução da pandemia, como ex-integrante da CPI da Covid-19. Por outro lado, também atacou o "calcanhar de Aquiles" de Lula, a corrupção nos governos petistas. Destacou a importância da educação e da pesquisa acadêmica, mas escorregou ao propor uma poupança para estudantes, para estimulá-los a continuar os estudos. 

Soraya Thronicke preocupou-se na imagem de defensora das mulheres e da iniciativa privada. Ela tem como vice-presidente o economista Marcos Cintra, ex-integrante da equipe econômica de Paulo Guedes. Defendeu o imposto único, e disse não ter visto melhoras quando Lula foi presidente. O petista retrucou, dizendo que a empregada dela sentiu a melhora. Em troca, Thronicke engrossou os ataques generalizados contra a corrupção nos tempos do PT no governo. 

Felipe D'Avila teve como alvos principalmente Lula e o fundo eleitoral, considerado uma afronta contra o dinheiro pago pelo contribuinte. Ele também defendeu maior liberdade econômica, defendeu os empresários e produtores, embora tivesse pouco tempo para falar sobre outros temas defendidos pelo seu partido, como a prisão em segunda instância e o fim do foro privilegiado. Foi criticado por errar o nome da lei Maria da Penha, contra a violência sofrida pelas mulheres, e também por seu patrimônio declarado de R$ 24 milhões, muito superior aos dos outros candidatos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Repercussão da entrevista de Lula no Jornal Nacional

A entrevista com o ex-presidente Lula deu ao Jornal Nacional rendeu 32 pontos no Ipec em São Paulo, valor um pouco inferior ao da entrevista com o atual presidente candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, na segunda, quando o noticiário da Globo ficou com 33 pontos. 

Lula estava com ar envelhecido (já tem quase 77 anos), mas ainda aguerrido (Divulgação/TV Globo)

Viu-se o ex-presidente cuidadoso com as palavras, embora com voz comprometida. Muitas questões, como a corrupção, ficaram mal respondidas, dizendo, por exemplo, que a Coaf foi criada no governo dele, quando na verdade foi em 1998, no governo FHC, e que a Lava Jato era um movimento político. Ele criticou o governo Dilma e suas desastrosas decisões sobre a economia no governo dela, assim como as ditaduras aliadas do PT, como as de Cuba e China, mas visando atrair o voto de quem não votaria no PT, e sim no PSDB, ex-partido do candidato a vice, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Acertou ao falar sobre o hábito do atual governo de impor sigilo de 100 anos em determinados assuntos, com o falso pretexto de haver risco para a honra e a vida privada do presidente ou de sua família, mas atentando contra a transparência do governo (que não houve, também, em muitas decisões dos governos Lula e Dilma, diga-se). 

William Bonner ou Renata Vasconcelos não tiveram a mesma postura dura que tiveram em relação a Bolsonaro. Governistas chegaram a dizer que a Globo estava apoiando Lula. Com Ciro Gomes, entrevistado na terça e cuja audiência não foi tão boa, a postura doPolítica, s entrevistadores era mais equilibrada. Houve também panelaços durante a entrevista, e críticas feitas por adversários do ex-presidente, como Sérgio Moro e o MBL. Por outro lado, os petistas e aliados destes também fizeram vários comentários favoráveis. 

Agora, eles vão sabatinar a candidata Simone Tebet, do MDB, vista com simpatia por muitos defensores da "terceira via", mesmo entre os que deploram o partido dela, sempre criticado por sua postura fisiológica e amorfa visando ter influência nos diversos governos. 


N. do A. 1: Hoje, na Jovem Pan, Bolsonaro também foi entrevistado, e basicamente abordou os mesmos temas da sabatina feita na Globo, na segunda, com a vantagem de estar num ambiente bem menos hostil, pois a Jovem Pan é notória pelas suas afinidades ideológicas com o atual presidente. 

N. do A. 2: Começou a propaganda eleitoral "gratuita" (paga com o NOSSO DINHEIRO via Fundo Eleitoral), com os candidatos a governadores, senadores e deputados estaduais (distritais no caso de Brasília). 

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Frutas brasileiras que os brasileiros conhecem pouco

Entre as PANCs (plantas alimentícias não convencionais), tema de uma das postagens recentes do blog, há também as frutas brasileiras, ainda mal exploradas por desconhecimento e falta de divulgação. Elas ficam fora da mídia, que prefere falar sobre a banana e a laranja, amplamente cultivadas porém não nativas do Brasil. Outras "estrangeiras" são associadas ao nosso país, como o coco, a jaca e a carambola, de origem asiática. Nossas frutas, em geral, não tiveram a "sorte" de serem comercializadas em maior escala, embora tenhamos exceções, como o maracujá, o caju, o abacaxi, a goiaba, o cacau, a castanha-do-pará, a pitanga, o pequi, a jabuticaba, o guaraná, o açaí e o cupuaçu. 

Eis as representantes da fruticultura brasileira: 

- Abiú (Pouteria caimito), presente na Amazônia; é um fruto amarelo e adocicado, com poucas e grandes sementes: 


- Bacupari (Garcinia gardneriana), fruto alaranjado encontrado no Cerrado e na Amazônia, usado na medicina popular por suas propriedades antioxidantes: 


- Bacuri (Platonia insignis), outro fruto amazônico, relativamente grande (15 cm) e com polpa branca, usado em doces: 

(Ernesto Souza)

- Buriti (Mauritia flexuosa), extraído da palmeira buritizeiro, encontrada na Amazônia e no Meio-Norte, com frutas rugosas características, ricas em ômega-3 e vitamina A: 


- Cagaita (Stenocalyx dysentericus), cujo nomes, tanto popular quanto o científico, alertam para o problema de se comer em excesso, pois tem forte efeito laxante; é rico em vitaminas do complexo B: 


- Camapu (Physalis spp.), uma solanácea parecida com um tomate, usado para fazer sorvetes e sucos; é encontrada na Amazônia, e a Colômbia é a maior exportadora mundial da fruta: 


- Cambuci (Campomanesia phaea), encontrado na Mata Atlântica, tem gosto azedo e está sendo redescoberto na produção de bebidas e doces; batiza um bairro paulistano: 


- Camu-camu (Myrciaria dubia), encontrado na Amazônia e também tem gosto azedo, devido à altíssima concentração de vitamina C; é usado em doces: 


- Feijoa (Acca selowiana), também chamada de goiaba-serrana, encontrada no sul do Brasil; possui a polpa amarelada, doce e rica em vitaminas A e C: 


- Gabiroba (Campomanesia xanthocarpa), fruta alaranjada do cerrado, consumida ao natural, ou em sucos, licores e doces: 


- Grumixama (Eugenia brasiliensis), fruta muito difícil de encontrar em seu habitat natural, a Mata Atlântica; é quase preta, arroxeada, e lembra a jabuticaba: 


- Ingá-cipó (Inga edulis), uma leguminosa, parecida com uma vagem porém com sabor doce, usada como remédio por suas propriedades terapênticas: 


- Jatobá (Hyemenaea courbaril), outra leguminosa, com polpa bem doce, porém cheiro não muito agradável; é usado em sucos, compotas e até para fazer farinha: 


- Jenipapo (Genipa americana), encontrado na América tropical e usado no sertão para fazer licor; consumido in natura, possui sabor azedo característico: 


- Juá (Ziziphus joazeiro), fruto do juazeiro, que vive na Caatinga; é pequeno, alaranjado e usado em licores e compotas: 


- Mandacaru (Cereus jamacaru), mais conhecido como um cacto que cresce no sertão nordestino; o fruto é vermelho com polpa branca e sementes minúsculas e crocantes; infelizmente, não se tornou tão procurada quanto a pitaya, originária da América Central, que é parecida com ele: 


- Pitomba (Talisia esculenta), encontradiça em quase todo o Brasil, com sabor agridoce, casca marrom-clara e polpa gelstinosa, lembrando a asiática lichia, muito mais conhecida nos centros urbanos: 


- Uvaia (Eugenia pyriformis e outras), uma drupa (fruta com caroço) alaranjada e com sabor agridoce; seu nome, em tupi, significa "fruto azedo"; quem conhece esse fruto, costuma usá-lo em sucos: 


Já foi falado sobre o baru, no artigo sobre as PANCs. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O que teria a ver a Escola Naval com a noite de São Bartolomeu

A Escola Naval do Rio de Janeiro, uma das mais tradicionais instituições de ensino superior do Brasil, é também uma das mais antigas. Era a Academia Real dos Guardas-Marinhas, fundada em 1782 por ordem da rainha de Portugal D. Maria I em Lisboa, depois transferida para o Rio de Janeiro com a vinda da família real portuguesa em 1808, recebendo o nome atual em 1887. Em 1938, foi transferida para a ilha de Villegagnon, próxima ao Aeroporto Santos Dumont, onde estava o antigo Forte Coligny. 

Esse forte foi construído pelos invasores franceses, comandados por Nicolas Durand de Villegagnon (1510-1571), vice-almirante que seguia ordens do prestigiado almirante Gaspard de Coligny (1519-1572), como parte da "França Antártica". Na época, a ilha era chamada de Sirijipe (lugar dos siris, em tupi). 

A Escola Naval, na ilha de Villegagnon, Rio de Janeiro (Divulgação)

Coligny, durante a instalação dos franceses no Rio de Janeiro, foi capturado e preso pelos espanhóis, entre 1557 e 1559, convertendo-se ao calvinismo. Libertado do cárcere, tornou-se o mais destacado dos chefes huguenotes, chamados assim porque eram partidários de Hugo Capeto, da casa dos Bourbons, e a maioria deles seguia o culto calvinista. 

As lutas religiosas entre a maioria católica e os huguenotes enfraqueceram a unidade francesa, e isso refletiu na "França Antártica". Os franceses não conseguiram se estabelecer plenamente, mesmo com o apoio dos índios tupinambás, cansados da perseguição movida pelos portugueses. Em 1560, os portugueses, comandados por Estácio de Sá (1520-1568) com o apoio do cacique Araribóia (c. 1525-1589), inimigo dos tupinambás (também chamados de tamoios), tomaram o Forte Coligny. 

Quanto ao almirante que batizou o nome do forte, ele passou a ter grande influência no reino. Carlos IX (1550-1574), o rei, era jovem e fraco de espírito, manipulado tanto pela mãe, a poderosa Catarina de Medicis (1519-1589), quanto pelos nobres, que chefiavam os grupos católicos e protestantes. Coligny era temido por seu poder, costurando alianças com a Inglaterra e a Holanda, em manobras desconhecidas até pela rainha Catarina. 

Os chefes católicos, instigados por Henrique de Guise (1550-1588), herdeiro político do duque de Guise (1519-1563), cujo assassinato teria sido a mando de Coligny, tentaram matá-lo a tiros no dia 22 de agosto de 1572, na época do casamento entre a irmã do rei, a católica Margarida de Valois (1553-1615) e o jovem nobre huguenote Henrique de Bourbon (1553-1610), então soberano do antigo reino ibérico de Navarra. Coligny sobreviveu, mas estava bastante ferido nos dois braços, e os mandantes do crime, temerosos por uma vingança dos protestantes, resolveram antecipar-se, ordenando a morte de vários líderes inimigos, e convencendo o rei Carlos IX a apoiá-los. 

O almirante, convalescendo das feridas em seu castelo, foi surpreendido em seu leito e esfaqueado por um partidário de Henrique de Guise. Seu corpo foi defenestrado, depois emasculado e decapitado. Isso e mais a perseguição aos líderes huguenotes despertou um verdadeiro frenesi em Paris, a "Noite de São Bartolomeu", em homenagem ao apóstolo de Jesus vítima, também, de uma morte terrível (ele foi esfolado vivo, segundo a tradição católica), e sua data é comemorada no dia 24 de agosto. 

Mataram tantos calvinistas, homens, mulheres e crianças, a ponto de manchar Paris com o sangue deles, inclusive o rio Sena, tingido de vermelho quando ele recebeu mais de mil cadáveres. No total, estima-se em cerca de 3.000 mortos apenas na capital francesa, enquanto em outras cidades também houve massacres entre agosto e outubro, totalizando dezenas de milhares de cadáveres (entre 10.000 e 30.000, não se sabe ao certo). Henrique de Bourbon foi um dos poucos calvinistas a escapar, e mais tarde viria a ser o rei Henrique IV, e sua esposa, da qual iria separar-se (por anulação do matrimônio), seria conhecida como "a rainha Margot". 

Tentaram trazer a cabeça do almirante Coligny para o papa, Gregório XIII (1502-1585), na esperança de conseguir o apoio do Vaticano à causa contra os "hereges". O resto mortal não cruzou as fronteiras da França. Mesmo assim, o papa encomendou um afresco a Giorgio Vasari (1511-1574), para enfeitar a sala régia do Vaticano. Nesta obra, foi representado o corpo morto de Coligny sendo jogado pela janela de seu aposento enquanto os católicos "cuidavam" dos "inimigos do papa". Foi rezado um Te Deum, como forma de louvar o rei da França e a rainha-mãe. Carlos IX mandou cunhar uma medalha comemorativa onde ele era representado como Hércules combatendo a hidra (os huguenotes). (*)

Afresco de Vasari relembrando os acontecimentos da noite de São Bartolomeu, ocorrida há exatos 450 anos (Giorgio Vasari/Domínio Público)

Assim foi o horrendo acontecimento que completa hoje 450 anos, movido pelo extremismo político (que era visto como normal na época) e pela intolerância religiosa. 

No outro lado do Atlântico, a "França Antártica" já havia perecido faz tempo, em circunstâncias bem menos dramáticas. Os franceses tentaram resistir, mas estavam divididos entre as facções católica e huguenote, e as forças de Estácio de Sá e de Araribóia conseguiram derrotá-los. Villegagnon já havia entregado o comando antes da queda do forte Coligny, pressionado pelos calvinistas, que o acusam de atrocidades contra eles. Em 1565, Estácio de Sá fundou a cidade do Rio de Janeiro, mas dois anos depois morreu em confronto com os tamoios, quando os últimos franceses foram expulsos. Mais tarde, o cacique recebeu terras no outro lado da baía de Guanabara, e sua tribo, os temiminós, fundaram uma vila, São Lourenço dos Índios, a futura cidade de Niterói. Novas invasões francesas viriam a ocorrer, no século XVII, no Maranhão (forte de São Luís, em homenagem a Luís XIII, filho do já citado Henrique IV). 

Quanto ao forte Coligny, suas ruínas deram lugar às instalações da fortaleza de São Francisco Xavier no século XVIII, aproveitada depois para abrigar a Escola Naval, responsável pela formação de vários oficiais da Marinha brasileira. 



(*) N. do A.: Os conflitos religiosos perduraram após os massacres de 1572. Após a morte precoce de Carlos IX, seu irmão Henrique III, mal visto por ser homossexual, porém bem mais firme no comando do reino, tentou se desvencilhar da influência dos chefes das duas facções em confronto, chegou a mandar matar vários deles (inclusive Henrique de Guise) e acabou sendo assassinado por um católico extremista em agosto de 1589. Catarina de Medicis perdeu influência e saúde no reinado de Henrique III, morrendo poucos meses antes do assassinato do filho. Henrique de Bourbon foi escolhido para sucedê-lo, tornou-se o rei Henrique IV, conseguiu pacificar o país com o Edito de Nantes (1598), garantindo liberdade de culto. Porém, também foi assassinado por outro fanático católico, em 1610. A paz entre católicos e calvinistas sempre foi precária, mas foi defendida por Luís XIII (e seu primeiro-ministro, o cardeal Richelieu). Seu filho e sucessor Luís XIV, o "Rei-Sol", terminou de submeter os nobres à autoridade real, mas já não tinha a mesma tolerância em relação aos huguenotes. Em 1685, vários deles, perseguidos pelo rei, fugiram do país e foram para a Inglaterra, a Prússia e outros países de religião protestante. 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Censo 2022 comprometido

O Censo era para ser feito em 2020, mas a pandemia (ainda em curso) impediu, e, dois anos depois, ele ainda corre risco de não se concluir. 

Há dificuldade em contratar recenseadores, e os existentes estão ameaçando abandonar o serviço. Houve uma assembleia na Bahia, domingo passado, e no dia 26, sexta, poderá haver um movimento de protesto em Salvador. Eles exigem maior regularidade no pagamento dos auxílios e clareza nos critérios adotados pelo IBGE na remuneração. 

Há panfletos em São Paulo e no Rio clamando por uma greve nacional no dia 1 de setembro. 

Com esses transtornos, os trabalhos de recenseamento podem atrasar ou serem abortados. O término dos trabalhos é previsto para outubro. Foram selecionados cerca de 180 mil recenseadores e 23 mil agentes censitários (supervisores), número considerado insuficiente para um país tão grande em prazo tão curto. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Bolsonaro entrevistado no Jornal Nacional

O JN já teve dias bem mais gloriosos no passado, quando a Globo dominava a televisão, mas agora amarga índices de audiência nada invejáveis, com 21,4 pontos na média do primeiro quadrimestre de 2022, e 35,4% de share (participação de um programa entre os domicílios com televisão ligada no horário). 

Graças ao presidente Jair Bolsonaro, inimigo declarado da emissora, a audiência aumentou em agosto, quando o principal jornal dos Marinho transmitiu a briga entre o presidente e o youtuber, ex-apoiador, Wilker Leão, que o chamou de "tchutchuca do Centrão" por sua aliança com o bloco fisiológico e adesista, sem o qual não há apoio do Legislativo ao Executivo, e hoje, quando Bolsonaro finalmente concordou em ser entrevistado por William Bonner e Renata Vasconcelos. 

Na entrevista, ele disse confiar no papel das Forças Armadas como "auxiliadoras" na apuração das eleições, e também afirmou ter harmonizado as relações com o TSE. Minimizou o conflito com o Judiciário, enquanto os insultos dele dirigidos a ministros como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso ainda repercutem. Voltou a defender o agronegócio, como principal gerador de riquezas do Brasil e minimizou as acusações de favorecer os desmatamentos. Falou sobre a aliança com o Centrão, motivo pelo qual foi criticado por Wilker Leão na semana passada. Também defendeu sua postura diante da pandemia de COVID-19, como notório opositor das recomendações da OMS em favor das atividades normais sem o uso de máscaras e dos tratamentos questionáveis com produtos destinados a outras parasitoses (a hidroxicloroquina contra o protozoário da malária e o vermífugo ivermectina). Ele também falou sobre o crescimento da economia, o Auxílio Brasil e a diminuição recente no preço dos combustíveis, mas não deu muito destaque às dificuldades para comprar alimentos neste ano. 

Enquanto isso, a oposição critica o teor das conversas e, nas grandes cidades, houve panelaços.

O presidente controlou seu temperamento impulsivo e procurou defender seus pontos de vista durante entrevista no JN (TV Globo/Divulgação)

 

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Querem ressuscitar marsupial extinto

Em 1936, o último lobo da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus), um marsupial carnívoro, morreu confinado num zoológico australiano. Ele já era raro quando os primeiros aborígenes habitaram a atual Austrália, e mesmo assim foi considerado uma praga em potencial durante a colonização europeia. Com isso, ele foi caçado até a extinção. 

Atualmente, alguns biólogos querem usar o material genético do animal e também células tronco do "parente" vivo mais próximo, o diabo-da-tasmânia, para trazê-lo de volta à vida, mas a comunidade científica ainda considera isso uma quimera, pois não há células vivas disponíveis e o genoma deste estranho mamífero ainda não está totalmente decodificado. Mesmo assim, a Universidade de Melbourne recebeu um donativo de R$ 5 milhões, de fontes não informadas, para continuar as pesquisas e tentar "ressuscitar" o bicho, que não tem parentesco algum com os lobos, e sim com os cangurus. 

Uma das últimas fotos de um Thylacinus cynocephalus vivo, há quase 100 anos atrás, no zoológico de Hobart, na Austrália (Divulgação)


Há alguns registros do comportamento do lobo da Tasmânia. Ele caçava sozinho ou em pares, atacando roedores, aves, cangurus e, às vezes, animais de criação, e sua mandíbula podia abrir-se largamente. Fazendeiros os acusavam de matar ovelhas, embora haja questionamentos sobre isso, pois estudos indicam que a mandíbula deste predador não era forte o bastante para abater animais grandes. Fora isso, eles eram noturnos, e as fêmeas mantinham os filhotes recém-nascidos em uma bolsa (marsúpio). Sua pelagem marrom-clara e listrada podia oferecer certa camuflagem, e devido às listras ele também foi chamado de tigre da Tasmânia. 

Sua "recriação" poderia ser um grande feito para o conhecimento humano, mas os críticos acham que os investimentos utilizados nesta aparente aventura seriam mais úteis para a preservação das espécies ainda vivas, mas ameaçadas de ter o mesmo triste destino deste curioso marsupial. 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

STF faz retroceder a punição para maus serviços públicos

O STF aprovou, por 7 votos a 4, a validade da nova lei da Improbidade Administrativa, considerada branda para delitos culposos (aqueles provocados por imperícia, negligência ou imprudência, mesmo com consequências graves para o serviço público), para casos ainda em andamento, mesmo iniciados antes da aprovação da lei no Congresso. 

André Mendonça, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski queriam retroagir a aplicação dos benefícios para casos já encerrados. Pensamento oposto tinham Luís Fux, Luís Roberto Barroso, Carmen Lúcia e Edson Fachin, que inicialmente eram a favor da aplicação da lei em casos ocorridos após a aprovação da lei.

Embora nada mude para casos dolosos, o projeto 14.230/21 foi criticado por setores do Ministério Público e por defensores da finada Operação Lava Jato, por facilitar a não punição de funcionários públicos envolvidos em casos de corrupção e outros delitos contra o NOSSO DINHEIRO, mas considerados "culposos" nos inquéritos. Eles simplesmente não são enquadrados com base nessa lei. Nas empresas privadas, delitos semelhantes resultam em demissão com frequência bem maior, guardadas as devidas diferenças, previstas na Constituição, entre estas empresas e as autarquias e órgãos governamentais. 

Aeroportos vendidos

Por um valor de R$ 2,45 bilhões, a Aena Desarollo Internacional, empresa da Espanha, comprou os direitos de administração de 11 aeroportos de Minas Gerais, Pará, Mato Grosso do Sul e São Paulo, entre os quais Congonhas, o segundo mais movimentado do país. A Aena já opera em aeroportos do Nordeste, como o de Recife. Apesar de ser a única interessada no negócio, o valor supera em muito os R$ 745 milhões do lance inicial. 

O Campo de Marte também foi vendido, mas para o consórcio formado pela XP Investimentos e pela francesa Egis, juntamente com o aeroporto de Jacarepaguá. O valor foi muito próximo do lance mínimo: R$ 141 milhões. 

Enquanto isso, os aeroportos de Belém e Macapá (este último na capital do Amapá) foram arrematados por R$ 125 milhões pela Socicam e Dix Empreendimentos (Consórcio Novo Norte), valor bem acima dos R$ 56,9 milhões iniciais. 

Especialistas creem na melhoria nos serviços oferecidos, atualmente bem abaixo do desejável, mas valores de tarifas como o de embarque podem aumentar. Os preços das passagens dependem mais da disponibilidade de voos, que pode aumentar com reformas estruturais nas pistas de pouso, e da concorrência entre as companhias aéreas, algo que os consórcios dos aeroportos não controlam. 

Já o Sindicato dos Aeroportuários (SINA) tentou resistir contra os leilões, alegando precarização dos serviços e aumento no risco de acidentes provocados pelo aumento no número de voos, principalmente em Congonhas, engolfado pela cidade de São Paulo, e com histórico de acidentes graves. 

Defensores da venda de Congonhas (e de outros aeroportos) esperam ver melhoras nos serviços (Divulgação) 


terça-feira, 16 de agosto de 2022

Breves no meio de agosto

1. Começa oficialmente a campanha eleitoral, durante a qual os candidatos poderão divulgar suas propostas (pelo menos é esta a ideia) pelos meios de comunicação e redes sociais. A partir do dia 26, começará a propaganda eleitoral obrigatória, execrado por uns e visto como programa humorístico por outros. Este é o calendário oficial, pois os políticos começaram a caça aos votos bem antes. 

2. Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet, os candidatos principais à Presidência, não perderam tempo. O atual ocupante do Planalto foi até Juiz de Fora, local onde sofreu o atentado. Lula foi até a cidade onde começou sua carreira política (São Bernardo do Campo). Ciro foi até Guaianazes, na zona leste paulistana. Simone participou de reunião com representantes da Cultura em São Paulo. 

3. Alexandre de Moraes fez um duro discurso contra as fake news e o que ele define como "liberdade de agressão", ao ser empossado como presidente do TSE. O presidente Jair Bolsonaro e os ex-presidentes Lula, Dilma, Temer e Sarney comparecerem à cerimônia. Apenas Bolsonaro não aplaudiu. 

4. Bia Haddad, após fazer bonito no Aberto de Toronto, conseguindo ser vice-campeã do torneio, enfrentou a algoz, a letã Jelena Ostapenko, logo na estreia do Aberto de Cincinatti, e sofreu com o jogo agressivo da rival, perdendo por 2 sets a 0, ambos por 6/4. Bia é a número 16 da ATP, melhor posição de uma brasileira em anos.

5. Finalmente, vão fazer novo leilão para o trecho norte do Rodoanel. Uma das obras mais caras e intermináveis do Brasil poderá começar a retomada no ano que vem, mas sabe-se-lá-quando irá terminar. O risco é ver a obra terminada após 2026. Este blog vai abordar o assunto em breve. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Mais uma empresa lembrada pelos saudosistas irá acabar!

A empresa de chocolates Pan, responsável pelos antigos "cigarrinhos", pode ter a sua falência decretada a qualquer momento. 

Com uma dívida estimada em R$ 3 milhões, a empresa já não tinha uma situação financeira muito boa, devido à concorrência com as grandes empresas do setor (Nestlé, Lacta, Arcor) e aos problemas administrativos, não resolvidos com a venda ao Grupo Brasil Participações, após ficar desde 1935 nas mãos da família Falchero. A pandemia de coronavírus agravou o quadro. 

Dentre os produtos fabricados pela veterana empresa, localizada em São Caetano do Sul, estão os já citados "cigarrinhos", as moedas também famosas na segunda metade do século XX e as balas "Paulistinha", estas já bem mais antigas.

A fabricante dos antigos "cigarrinhos de chocolate" está com os dias contados (Divulgação)

Antes da possível "morte" da fábrica, o principal garoto-propaganda, o ator e diretor Paulo Pompéia, que estampou as embalagens dos "cigarrinhos", faleceu em 2021, aos 72 anos, vítima de problemas cardíacos. Ele tinha apenas 9 quando este produto "politicamente incorreto" começou a ser vendido.  Depois de 1996, a campanha antitabagista obrigou a Pan a mudar o nome para "rolinhos" de chocolate. Ainda existem no mercado os "chocolápis", praticamente a mesma coisa, mas com outra embalagem. Curiosamente, Paulo Pompéia nunca fumou e não era um grande apreciador de chocolate. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Uma das histórias mais doidas feitas pela Marvel

Recentemente, este blog escreveu algo sobre a origem do looking do cantor Elvis Presley, baseado nas antigas histórias em quadrinhos do Capitão Marvel Jr., personagem da antiga Fawcett Comics, atualmente na DC como Shazam Jr. 

Após sua morte, Elvis também acabou aparecendo como personagem de quadrinhos, geralmente como "convidado especial". Contudo, uma das histórias mais famosas publicadas envolvendo o "rei do rock" não veio da DC, e sim da maior concorrente, a Marvel. Foi em 1992, 15 anos após a morte precoce do ídolo, numa daquelas histórias What if..., contadas por Uatu, o Vigia. 

O título era "What if Thanos Changed Galactus Into a Human Being?" (O que aconteceria se Thanos transformasse Galactus em um ser humano?, em tradução livre). A história, para lá de maluca, conta uma hipotética derrota do devorador de mundos para o poderoso titã louco, armado com a manopla e todas as joias do infinito. O vilão roxo transformou o ser cósmico em um frágil humano, com as feições de Elvis Presley, e uma fã do cantor o recebeu em sua casa. Pensando que ele estava desmemoriado, a mulher mostrou toda a coleção de discos, pôsteres e filmes, e assim Galactus acabou assumindo seu novo papel. Quando Adam Warlock, o poderoso herói cósmico (ele vai aparecer no próximo filme dos Guardiães da Galáxia), foi resgatá-lo após ter derrotado Thanos, Galactus se recusou a voltar à sua antiga vida, mostrando mais uma vez que Elvis "The Pelvis" não morreu. 

A história publicada em 1992 mostrou Galactus se tornando um "Elvis" numa realidade alternativa, e até o Uatu foi comparecer a um show dele (CBR/Marvel Comics)


N. do A.: Mais doida do que um enredo de história em quadrinhos, só a mente de certos fanáticos. Um deles tentou assassinar o escritor indiano Salman Rushdie, autor do livro Versos Satânicos, considerado insultuoso contra o Islã, durante uma palestra em Nova York. O escritor, de 75 anos, levou 15 facadas, e seu estado inspira cuidados. Ele pode ficar sem um olho e perder o movimento de um dos braços, graças ao criminoso, que teria agido sozinho, mas o governo islâmico xiita do Irã é visto com suspeita, pois em 1989 o então líder do país asiático, aiatolá Khomeini, ofereceu uma recompensa a quem matar o escritor, e isso não foi revogado até agora. 


quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Nossa democracia resiste

O ato deste 11 de agosto no Largo São Francisco merece ser lembrado, dentro do contexto no qual está inserido. 

Milhares foram até o entorno da Faculdade de Direito da USP para ouvirem a leitura da Carta às brasileiras e aos brasileiros pela defesa do Estado Democrático de Direito, com a participação ativa da reitoria da USP e da diretoria da Faculdade. Juristas, empresários, artistas e pessoas comuns comparecerem para dar um recado a quem tiver a insolência de afrontar o regime democrático e o atual sistema eleitoral baseado nas urnas eletrônicas. A manifestação foi também um ato de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro, e serviu para defender o STF, o STJ e, principalmente, o TSE, dos ataques. 

Abaixo, o vídeo transmitido pelo canal USP do Youtube: 


Presidenciáveis de oposição, como Lula, Ciro Gomes, Simone Tebet, aproveitaram o momento para se beneficiarem do evento, assim como as lideranças sindicais, os movimentos sociais que gritaram "Fora, Bolsonaro" e artistas como Daniela Mercury, Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Fernanda Montenegro e outros, para aumentar a semelhança deste ato com os antigos protestos contra o regime militar, principalmente a Carta aos Brasileiros de 1977. Houve faixas com os dizeres "Ditadura nunca mais", "Para que jamais aconteça" e "Estado de Direito sempre".   

Cartaz afixado no prédio da Faculdade de Direito da USP durante a leitura da carta (Cecília Bastos/USP Imagens)

A carta da USP passou a ter mais de 1 milhão de assinaturas. Ultrapassou o Manifesto em Defesa das Liberdades, com seus 860 mil assinantes. 

Por outro lado, o presidente minimizou, lembrando a redução de 4,07% no preço do diesel às distribuidoras, a segunda neste mês, consequência da queda do ICMS e do preço do barril nos últimos meses, após a loucura vista nos postos no primeiro semestre do ano causada pela invasão da Rússia à Ucrânia e pela pandemia de coronavírus. Bolsonaro também atacou a carta, dizendo ser um "pedaço de papel", e tentou demonstrar tranquilidade.

Vale ainda registrar a votação do STF, unânime, para aumentarem os próprios salários em 18%, enquanto o povo em geral passa por dificuldades financeiras e a fome ameaça milhares de famílias no país. Essas circunstâncias prejudicam a repercussão da manifestação pró-democracia. 

Ainda assim, os acontecimentos do dia 11 de agosto dão alento às liberdades e à democracia no Brasil. Os descontentes têm direito a voz, assim como os apoiadores do atual governo. E isso precisa continuar. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Dia de futebol

O Palmeiras acabou de eliminar o Atlético-MG nos pênaltis pela Copa Libertadores da América, mesmo com dois expulsos, Danilo e Gustavo Scarpa. Hulk desperdiçou uma chance no final do jogo, e o time mineiro pagou caro, nos pênaltis. Houve boas cobranças, sem chance para Weverton ou Everson, inclusive de jogadores cujo forte não são os penais (caso do próprio Hulk ou de Raphael Veiga) mas o jovem Rubens, na sexta rodada, pôs tudo a perder, e Murilo acabou com a história do Verdão se dar mal em jogos terminados dessa forma. 

O time de Cuca estava em vantagem numérica, com dois a mais, mas não soube aproveitar e recebeu o castigo no jogo contra o Palmeiras na Libertadores (Pedro Souza)

Na Sul-Americana, o São Paulo também sofreu e apanhou do Ceará por 2 a 1, mesmo placar do jogo de ida, Mendoza e Guilherme Castilho fizeram para o time nordestino, e Igor Vinicius descontou no segundo tempo. A partida também foi para os pênaltis, e as cobranças não foram tão caprichadas quanto no jogo da Libertadores. O mesmo Igor Vinicius cobrou mal e a bola foi para a trave. Patrick fez o gol da classificação do Tricolor na sexta rodada de cobranças, fazendo 4 a 3. 

Na Supercopa da Europa, o Real Madrid, campeão da Champions League, não teve o mesmo sofrimento contra o Eintracht Frankfurt, campeão da Europa League, e venceu com gols de Alaba e Benzema. 

Enquanto isso, no mercado da bola, Willian, criticado por sua atuação no Corinthians e sofrendo com dores, rescinde contrato com o clube e deve voltar para a Europa. Soteldo, o maior (no sentido figurado) jogador da Venezuela, vai ser emprestado pelo time mexicano Tigres ao Santos, onde se destacou nos últimos anos. Oscar, lembrado pelo gol de honra do Brasil na "Copa da Vergonha" durante aquele 8/7 contra a Alemanha, pode reforçar o time de medalhões do Flamengo, que está com a vaga assegurada nas semifinais da Libertadores após eliminar o Corinthians. Ele vai se encontrar com colegas da Seleção como David Luiz (outro nome do 8/7), Filipe Luís, Diego e Everton Ribeiro, mais Gabigol e Rodrigo Caio, e estrangeiros como Arrascaeta e Vidal. 

E finalmente falaram algo sobre a Copa do Mundo no Qatar. O torneio vai começar no dia 20 de novembro, um domingo, e não mais no dia 21, atendendo aos pedidos dos organizadores. Já a data do término continua sendo no dia 2 de dezembro. 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Deflação em julho

Em julho, houve uma deflação de 0,68%, causada pela queda nas alíquotas do ICMS e no menor impacto do dólar nos preços. 

Quem foi abastecer sentiu a queda nos preços dos combustíveis, estimada em 14%, embora boa parte da imprensa, notavelmente contra o governo, não tenha destacado isso. 

Há expectativas de nova deflação em agosto, motivada pelos efeitos do ICMS e pela menor alta no preço dos alimentos, com maior equilíbrio entre oferta e procura e menor pressão do dólar. A safra de grãos (milho, arroz, soja) promete bater recorde em 2022, e boa parte continuará a ser exportada, impedindo quedas consideráveis de preço no mercado interno. 

Isso aumenta as probabilidades da inflação em 2022 fechar em menos de 10%. O índice acumulado em 12 meses ficou em 10,07%, ainda muito pesado para o bolso de qualquer um. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Uma eleição contestada antes de acontecer... no Quênia

Amanhã, haverá a eleição presidencial no Quênia, um dos países menos pobres e mais democráticos da África. Os favoritos são o ex-opositor Raila Odinga, apoiado pelo atual presidente Uhuru Kenyatta após anos de campanha contra ele, e o ex-aliado William Ruto, eleito vice-presidente na última eleição. Ruto passou para a oposição após desentender-se com Kenyatta. 

O atual presidente Uhuru Kenyatta foi impedido de concorrer a um terceiro mandato (Monicah Mwangi/Reuters)

Lá, o sistema de votação foi revisto, após uma eleição anulada em 2017 pelo equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral. Naquele ano, o chefe da seção de tecnologia, Chris Misando, foi sequestrado e assassinado. Mesmo assim, boa parte dos quenianos não se sente confiante, e o temor de fraudes é grande. Amanhã vão utilizar urnas convencionais, em papel. 

Nas eleições anteriores, em 2007, 2013 e 2017, empregaram uma tecnologia semelhante às urnas eletrônicas no Brasil, mas o resultado foi sempre contestado. Votos duplos ou de pessoas falecidas eram tratados como se fossem válidos, algo inaceitável em outras partes do mundo (mesmo no Brasil). Chris Misando tentou melhorar o sistema eletrônico de votação, mas foi morto, e a realização do pleito foi acidentada. Há exatos cinco anos, a Justiça queniana anulou o resultado, atendendo a uma reivindicação do então oposicionista, Raila Odinga, então com 44,74% contra 54,27% de Uhuru Kenyatta, e nova votação foi realizada, mas os resultados foram ainda menos convincentes: Kenyatta recebeu 98% dos votos na segunda votação, com 62% de abstenções, contra apenas 21% na primeira vez. 

Embora seja uma das poucas democracias na região, chamada de "Chifre da África", o Quênia sofre com a corrupção política, a falta de transparência nas doações eleitorais e as deficiências em assegurar as liberdades democráticas, com frequentes perseguições a jornalistas. Além disso, a crise econômica agravada pela pandemia, a seca no norte do país, a dependência crescente em relação à China, o terrorismo islâmico vindo da vizinha Somália e as desigualdades entre as várias etnias do país são considerados problemas sérios. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Jô Soares se despede de nós

 

Jô Soares (1938-2022), humorista, apresentador, jornalista, escritor, político, inesquecível, teve sua morte lamentada por artistas, intelectuais, políticos e até pelo presidente Jair Bolsonaro. Vida eterna ao Gordo! (Divulgação/Vírgula)

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Da série "Noventolatria", parte 29

Em 1993, muita gente se divertiu ao assistir na MTV uma animação deliberadamente mal traçada com dois personagens idiotas e sacanas que adoram assistir videoclipes de rock pesado e provocarem o caos por onde passam com suas atitudes desprovidas de qualquer escrúpulo ou brilhantismo intelectual, totalmente sem noção. 

Beavis e Butt-Head voltaram hoje às telinhas pela Paramount+, mas apenas nos Estados Unidos, após estrelarem um filme em streaming pela mesma plataforma, onde eles acabam parando em 2022 após passarem por um buraco negro e encontrarem versões mais velhas deles próprios. 

Ainda não há previsão de quando o desenho dos dois "aborrecentes" será exibido no Brasil. 

Ver os dois lembra que o humor politicamente incorreto ainda continua arranjando espaço nos tempos atuais, cheios de cancelamentos e ofensas por qualquer motivo. Por outro lado, há a sensação incômoda de ver o mundo ficar infestado de gente tão - ou mais! - prejudicada mentalmente do que essa dupla, na vida real. 

Os traços bizarros se mantiveram no filme e nos episódios mais recentes de Beavis and Butt-Head (Divulgação/Detalhe do cartaz da Paramount+)


quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Câmara aprova projetos para endurecer medidas contra o crime


Hoje, a Câmara dos Deputados aprovou o fim da saída temporária de presos que cumprem pena em regime semiaberto e em dias específicos, como Dia das Mães ou dos Pais, Páscoa e Natal. Esta é a famigerada "saidinha". Para isso, foi necessário alterar o texto de 2013 em vigor, que já limitava a prática, mas não se mostrou suficiente para minimizar o não retorno de muitos presos após o período determinado pela Justiça. O relator do texto é o Capitão Derrite (PL-SP), e o texto vai para o Senado. 311 votaram a favor e apenas 91 contra. 

Também houve aprovação em tornar crime hediondo a prática de certas quadrilhas em dominar cidades, impondo o terror e causando mortes e destruição. Esta prática é conhecida, algo romanticamente, como "novo cangaço". Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, tentou incluir no texto as manifestações violentas de movimentos sociais, mas Arthur Lira, o presidente da Casa, impediu. O texto é de Neucimar Fraga (PP-ES), e prevê aumento em um terço na pena de quem praticar atos como sequestro de moradores ou bloquear aeroportos e estradas. A votação foi simbólica, sem registro nominal de votos, e também vai ser analisada pelos senadores. 

Lagoa Nova (RN) foi a mais recente cidade a ser vitimada por quadrilhas praticantes do "novo cangaço" (PMRN). 


Com estas medidas, os parlamentares ocupantes da cúpula convexa do Legislativo mostra sintonia não só com o presidente Jair Bolsonaro, mas com a maioria da população brasileira, cansada de tanta violência. 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Outro manifesto faz mais assinantes

O Movimento Advogados de Direita ADBR escreveu uma carta em reação àquela feita pela Faculdade de Direito da USP, que já reúne 640 mil assinaturas. Na carta da ADBR há a defesa da liberdade de expressão para fazer críticas a qualquer um, até mesmo ao STF, acusado de cercear as opiniões contrárias e impor um "pensamento único". 

Para ver o documento, clique AQUI

Este manifesto conseguiu reunir, até o momento, 732 mil assinaturas, portanto mais do que a carta da USP. Não muito mais, é verdade, indicando uma polarização política acentuada, mas ainda não em processo de degenerar em violência sistêmica. Isso indica a não existência de um pensamento unico, realmente nocivo à democracia e à civilização. 

Veremos quem chega a 1 milhão de assinaturas primeiro. E ninguém pode melar esse jogo. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Duras verdades no início de agosto

 Durante a décima conferência dos países signatários pela Não Proliferação de Armas Nucleares, o secretário-geral da ONU Antônio Guterres falou sem rodeios: 


"A humanidade está a um mal-entendido, a um erro de cálculo da aniquilação nuclear".

"Tivemos uma sorte extraordinária até aqui. Mas sorte não é estratégia nem escudo para impedir que as tensões geopolíticas degenerem em um conflito nuclear".

Dono do maior arsenal nuclear do mundo, o presidente da Rússia Vladimir Putin acrescentou que no mundo não haverá vencedores em caso de guerra nuclear. 

Há quase 77 anos, houve o primeiro bombardeio desse tipo, resultando em dezenas de milhares de mortes em Hiroshima. Três dias depois, Nagasaki foi arrasada com outro ataque. O mundo espera nunca mais presenciar algo assim, apesar do imenso perigo, devidamente alertado por Guterres e pelo ditador russo.