segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Uma eleição contestada antes de acontecer... no Quênia

Amanhã, haverá a eleição presidencial no Quênia, um dos países menos pobres e mais democráticos da África. Os favoritos são o ex-opositor Raila Odinga, apoiado pelo atual presidente Uhuru Kenyatta após anos de campanha contra ele, e o ex-aliado William Ruto, eleito vice-presidente na última eleição. Ruto passou para a oposição após desentender-se com Kenyatta. 

O atual presidente Uhuru Kenyatta foi impedido de concorrer a um terceiro mandato (Monicah Mwangi/Reuters)

Lá, o sistema de votação foi revisto, após uma eleição anulada em 2017 pelo equivalente ao Tribunal Superior Eleitoral. Naquele ano, o chefe da seção de tecnologia, Chris Misando, foi sequestrado e assassinado. Mesmo assim, boa parte dos quenianos não se sente confiante, e o temor de fraudes é grande. Amanhã vão utilizar urnas convencionais, em papel. 

Nas eleições anteriores, em 2007, 2013 e 2017, empregaram uma tecnologia semelhante às urnas eletrônicas no Brasil, mas o resultado foi sempre contestado. Votos duplos ou de pessoas falecidas eram tratados como se fossem válidos, algo inaceitável em outras partes do mundo (mesmo no Brasil). Chris Misando tentou melhorar o sistema eletrônico de votação, mas foi morto, e a realização do pleito foi acidentada. Há exatos cinco anos, a Justiça queniana anulou o resultado, atendendo a uma reivindicação do então oposicionista, Raila Odinga, então com 44,74% contra 54,27% de Uhuru Kenyatta, e nova votação foi realizada, mas os resultados foram ainda menos convincentes: Kenyatta recebeu 98% dos votos na segunda votação, com 62% de abstenções, contra apenas 21% na primeira vez. 

Embora seja uma das poucas democracias na região, chamada de "Chifre da África", o Quênia sofre com a corrupção política, a falta de transparência nas doações eleitorais e as deficiências em assegurar as liberdades democráticas, com frequentes perseguições a jornalistas. Além disso, a crise econômica agravada pela pandemia, a seca no norte do país, a dependência crescente em relação à China, o terrorismo islâmico vindo da vizinha Somália e as desigualdades entre as várias etnias do país são considerados problemas sérios. 

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