Mikhail Gorbachev (1931-2022) chegou a ser o estadista mais popular entre o final dos anos 1980 e 1990. Com seu carisma e afabilidade, ele rompeu com a tradição dos secretários-gerais da antiga União Soviética de serem mal-humorados e temidos. Ele também foi o último dirigente do "império" comunista, entre 1985 e 1991.
Gorbachev morreu aos 91 anos (Pascal Guyot/AFP) |
Durante essa época, muito se falou em "Glasnost", a política da transparência nas decisões do governo soviético, e "Perestroika", a reconstrução econômica, com maior abertura para os produtos vindos da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Isso funcionou mais como uma propaganda para angariar a simpatia dos ocidentais do que como uma melhoria real, pois a situação do povo nas repúblicas soviéticas, em geral, era precária. Essas repúblicas incluíam a Ucrânia, agora ameaçada novamente em sua soberania, as repúblicas bálticas (Lituânia, Letônia e Estônia), a Bielorússia (atual Belarus), a Moldávia (atual Moldova), os países do Cáucaso (Armênia, Geórgia e Azerbaijão) e as afastadas nações da Ásia Central (Cazaquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão, Taidjiquistão).
Mesmo assim, a liderança de "Gorby", como foi apelidado, contribuiu para a destruição da Guerra Fria, com maior pressão por liberdade nos antigos países socialistas da Europa Central e Oriental, dissolvendo a chamada "Cortina de Ferro", fronteira entre os países ocidentais e orientais. Assinou importantes acordos com Ronald Reagan, o ex-ator e presidente norte-americano, lembrado por oitentólatras (governou entre 1981 e 1989) e defensores do conservadorismo, para arrefecer a produção de artefatos nucleares, resolver os conflitos na Ásia Ocidental (Guerra Irã-Iraque) e o apartheid, o regime racista na África do Sul. Também contribuiu para a quebra (literal) do Muro de Berlim, em novembro de 1989, e as manifestações contra a ditadura chinesa em maio do mesmo ano. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1990, a maior prova de reconhecimento por seu trabalho, quando a Guerra Fria estava praticamente morta.
Gorbachev sofreu uma tentativa de golpe de Estado em agosto de 1991, provocado por quem procurava restaurar o antigo regime de força do gigante comunista. Resistiu graças à ajuda de Bóris Yeltsin, o presidente da Rússia. Percebendo que seu poder estava irremediavelmente abalado, e renunciou em dezembro. Sem ele, a União Soviética desmoronou, e as repúblicas proclamaram suas independências, mas com o compromisso de estarem filiadas à Comunidade dos Estados Independentes, a CEI. As repúblicas bálticas, primeiras a recobrarem sua plena autonomia, recusaram-se a integrar esse novo grupo.
Também num mês de agosto veio a falecer o mais popular dos dirigentes vermelhos, mais comentado pela sua careca enfeitada com uma mancha na pele, do que pelas carrancas feitas por seus antecessores, responsáveis por tornar o comunismo um pesadelo, a partir do sonho de igualdade pregado pelos líderes da Revolução Bolchevique de 1917. Ele também foi uma das personalidades mais queridas pelos saudosistas das décadas de 1980 e 1990.
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