1381. Os camponeses da Inglaterra se revoltam contra a injustiça social sob a liderança de Wat Tyler, e até obtiveram algum sucesso, aproveitando-se da fraqueza do governo, chefiado por um rei adolescente de 14 anos, Richard II. A nobreza dotada de privilégios feudais reagiu e matou Tyler e outros líderes, esvaziando o movimento.
1492. Após a morte de Lorenzo de Médici o já citado neste blog Girolamo Savonarola instituiu um governo moralista para combater a corrupção vigente em Florença, cidade da Toscana (a Itália não existia). Esta história já foi contada antes.
1525. Os camponeses se revoltaram nas cidades alemãs, tomando ideias do reformador Martin Luther. Conseguiram apavorar bastante os poderosos com suas táticas de luta, e desencadearam uma guerra terrível, mas não só não conseguiram seus objetivos como milhares deles foram mortos. Os líderes sofreram martírios terríveis.
1689. Desta vez uma revolução deu certo: a Gloriosa, na Inglaterra, que depôs James II, cuja sede de poder e religião católica o tornaram impopular. Ele tentou reimplantar o catolicismo e o absolutismo, mas não conseguiu, e os seus inimigos, chefiados por William de Orange, o depuseram após batalhas com um número relativamente baixo de mortes. A partir daí, a Inglaterra firmou o regime parlamentarista e se tornou uma nação próspera.
1776. Outra revolução deu certo: os americanos conseguiram se libertar graças a uma tenaz guerra contra os ingleses. O general George Washington liderou o exército das Treze Colônias, enquanto estadistas como Benjamim Franklin e Thomas Jefferson assinaram a Declaração de Independência. Mais tarde, Washington se tornou o primeiro presidente e a jovem nação sofreu um pouco até se tornar um grande país, conseguindo se tornar mais tarde a grande potência de hoje.
1788. O Brasil começou a viver uma época de revoltas pela emancipação política, com a Inconfidência Mineira, malograda antes de realmente ter começado, e a Conjuração Baiana, que mobilizou muito mais gente. Em ambas, a revolta com uma nobreza parasitária que concentrava os privilégios políticos e sugava o dinheiro dos impostos, e o fracasso que resultou no enforcamento de Tiradentes e dos quatro mártires baianos, enquanto os privilégios foram mantidos.
1789. Surgiu a Revolução Francesa, que depôs o rei Louis XVI e implantou a República, de início implantando a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas degenerando mais tarde em conflitos políticos e o Terror jacobino, que tentou implantar ideias radicais com o pretexto de destruir os privilégios da nobreza, do clero e dos inimigos políticos, os girondinos representantes da alta burguesia; a Revolução se tornou um festival de mortes na guilhotina e foi perdendo apoio até degenerar na ditadura napoleônica, em 1799.
1804. No Haiti, uma revolução expulsou os franceses do país e implantou uma breve monarquia sob Jacques I, um ex-escravo e partidário do líder e mártir Toussaint L'Ouverture, capturado pelos franceses em 1802. Seria a primeira nação de ex-escravos, mas deu errado: Jacques I foi assassinado e o país conheceu uma série de ditaduras e governos fracos, enquanto permanecia na miséria e na ignorância, até a dolorosa situação atual.
Início do século XIX. Na América Latina, houve uma série de revoluções para expulsar os europeus e transferir os privilégios destes para a nova elite nativa, chamada de criolla, enquanto a maior parte da população livre, embora entusiasta da independência, continuava na pobreza, sem falar nos escravos. Simón Bolívar foi o grande chefe revolucionário, ao lado de San Martin na Argentina, Artigas no Uruguai e Bernardo O'Higgins no Chile. Os países continuaram dependentes economicamente e não resolveram suas mazelas de forma satisfatória.
1817. No Brasil, surgiram revoluções contra os privilégios da elite escravista e da nobreza em torno dos monarcas, em boa parte com o intuito de implantar repúblicas nos Estados de origem, como a Revolução Pernambucana e, mais tarde, a Confederação do Equador no Nordeste, a Cabanagem no Pará, a Sabinada na Bahia, a Farroupilha no Rio Grande do Sul, a Balaiada no Maranhão e a Praieira novamente em Pernambuco. Todos estes movimentos anti-monarquia fracassaram.
1830. Na mesma França, houve uma revolta contra o rei Charles X, irmão de Louis XVI (a dinastia dos Bourbons foi restaurada após a queda de Napoleão em 1814-1815) e que representava a manutenção dos privilégios dados aos nobres. Conseguiram depô-lo sem muito esforço, para colocar no lugar Louis Philip, que atendeu aos anseios da incipiente indústria francesa, mas manteve os privilégios e os políticos corruptos, até...
1848. O rei Louis Philip é derrubado numa série de revoltas populares, insatisfeitos com a enorme desigualdade social que teimava em persistir na França. Foi instituída uma nova República, a "Segunda", que não durou muito tempo e permitiu a ascensão de um salvacionista, sobrinho de Napoleão Bonaparte, coroado mais tarde com o nome de Napoleão III (o II, filho do primeiro, nunca foi efetivamente um monarca, morrendo muito jovem) e fez um governo desastroso.
1871. Ainda na França, sempre ela, Napoleão III foi derrotado na guerra contra a Prússia e obrigado a abandonar o poder. Houve uma revolta chamada de "Comuna de Paris", muito exaltada pelos marxistas até hoje, mas fracassada. Tentaram implantar o socialismo a partir de uma Paris cercada por barricadas, mas logo as elites recobraram o controle e instituíram a Terceira República.
1910. No México, uma Revolução derrubou a ditadura de Porfírio Diaz e tentou corrigir a corrupção e a imensa desigualdade social vigentes, mas houve um período de forte instabilidade política, com governantes depostos e mortos, ou simplesmente assassinados enquanto exerciam o poder, até a normalização política, com o PRI, Partido Revolucionário Institucional, que não significou o fim dos problemas na vida mexicana. Ainda houve líderes guerrilheiros como Emiliano Zapata e Pancho Villa, fatores de instabilidade institucional e alimentados pela miséria e desespero do povo.
1911. A China derruba uma monarquia decadente, representada por uma criança, Pu'Yi, e implanta um regime nacionalista, chefiado por Sun Yat Sen, que tenta resolver os gravíssimos problemas sociais do país, ainda ameaçado pelas intervenções das potências ocidentais e do Japão. Logo, houve conflitos entre os nacionalistas e os comunistas, com a vitória destes últimos após a invasão japonesa e a II Guerra Mundial, com a consequente expulsão dos invasores. Mao Tsé Tung implantou um regime que minorou sensivelmente as desigualdades sociais, mas à custa de uma tirania onde as liberdades políticas não tinham espaço, e a morte de milhões de pessoas.
1917. Na Rússia, a carcomida monarquia absolutista dos czares foi derrubada pelos socialistas: é a conhecida Revolução Russa. Após breve governo dos moderados "mencheviques", os "bolcheviques" os tiraram do poder e, com Lênin, criaram a União Soviética, a maior potência comunista. A opressão dos czares deu lugar à do Partido Comunista, e isso piorou muito com a ascensão de Stalin, responsável pelos expurgos e pela coletivização forçada na economia, resultando em milhões de mortes.
1936. Na Espanha, os socialistas e anarquistas tentaram implantar um governo pretensamente igualitário após a queda da monarquia, mas houve a reação dos falangistas, nacionalistas alimentados pela ideologia nazi-fascista, e a revolução se transformou na Guerra Civil Espanhola, vencida pela Falange. Francisco Franco veio a ser o ditador do país por quase 40 anos, sufocando a liberdade.
1956. Na Hungria, estudantes queriam liberalizar o regime comunista, e depois de uma revolta severamente reprimida, conseguiram derrubar o governo. A União Soviética interveio e esmagou a Revolução, colocando um político leal à Moscou, Janos Kadar. Imre Nagy, apoiado pelos revolucionários, acabou fuzilado.
1959. Para derrubar uma ditadura cleptocrática, os revolucionários cubanos se mobilizaram sob a chefia de Fidel Castro. Fulgêncio Baptista refugiou-se na República Dominicana, para depois embarcar para a Espanha franquista, enquanto Fidel, de libertador, tornou-se um ditador, prendendo e fuzilando vários opositores, enquanto a ilha passou a sofrer um embargo imposto pelos Estados Unidos.
1968. Em outro país socialista, a então Tchecoslováquia, realizaram a Primavera de Praga, um movimento para democratizar o regime, comandado por Alexander Dubcek. A liberdade durou pouco, e tropas soviéticas invadiram o país, massacrando centenas de pessoas. Gustav Husák tomou o poder, e Dubcek foi abduzido pelas forças de Moscou, retornando anos depois sem direitos políticos.
1974. Após anos de ditadura sufocante, os portugueses organizaram a Revolução dos Cravos, uma revolta pacífica que colocou em fuga o sucessor de Antônio Salazar e fez voltar a democracia no país. Portugal ainda hoje se ressente do atraso imposto pelo regime salazarista, e mesmo integrado à União Européia é um dos membros mais frágeis, social e economicamente.
1979. Setores progressistas da sociedade iraniana tiveram de se aliar aos islâmicos xiitas para derrubarem o corrupto e ditatorial xá Reza Pahlevi, governante do Irã. A roubalheira do antigo regime deu lugar a uma teocracia anti-ocidental e moralmente rígida, abolindo quase todos os costumes ocidentais. O chefe xiita, aiatolá Khomeini, tornou-se inimigo do Ocidente e fez o país entrar em guerra com o Iraque, governado pelo ditador Saddam Hussein, aliado dos ocidentais.
1989. No mundo socialista, vários países quiseram se libertar do jugo soviético, e conseguiram. Queriam o direito de se expressarem livremente, terem liberdade política e econômica, como nos países ocidentais, e estavam cansados dos abusos de poder enquanto a maioria da população estava na pobreza, apesar do apregoado "igualitarianismo socialista". Na Alemanha Oriental, derrubaram o Muro de Berlim. Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo. Na Polônia, o movimento Solidariedade derrubou o governo. Somente na Romênia houve violência, com a execução do tirano Nicolae Ceaucescu. Estes países se livraram do comunismo, mas ainda permaneceram muito atrasados em relação ao Ocidente e seus povos não se livraram da corrupção política e dos abusos, apesar dos progressos.
Década de 2010. A "Primavera Árabe" tomou conta de muitos países da Ásia Ocidental e da África, derrubando regimes de força como o de Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia, Muhammar Ghaddafi na Líbia e Hosni Mubarak no Egito. Porém, ao invés da democracia, até agora só conseguiram a anarquia, criando vácuos de poder e dando espaço a movimentos fundamentalistas islâmicos como a al-Qaeda e o Daesh, vulgo "Estado Islâmico". Um dos regimes que resistem à liberalização, o da Síria, se vale do genocídio contra seu povo. A Arábia Saudita resiste em manter sua teocracia islâmica, e o Iêmen está na mão dos xiitas houthis, sendo submetido aos bombardeios sauditas.
N. do A.: Diante deste quadro, é necessário pensar e refletir muito bem antes de querer fazer uma revolução no Brasil. A tentação é muito grande, e não faltam motivos para isso. A corrupção, o desprezo pelos eleitores, a desfaçatez mais deslavada, a demagogia e as atitudes mais vis e torpes cometidas por quem deveria zelar pela sociedade mas acabam por quererem manter suas regalias a qualquer custo induzem os brasileiros a quererem vingança e pensarem num salvador da pátria. Contudo, as consequências, como se pode ler acima, podem ser terríveis.
1956. Na Hungria, estudantes queriam liberalizar o regime comunista, e depois de uma revolta severamente reprimida, conseguiram derrubar o governo. A União Soviética interveio e esmagou a Revolução, colocando um político leal à Moscou, Janos Kadar. Imre Nagy, apoiado pelos revolucionários, acabou fuzilado.
1959. Para derrubar uma ditadura cleptocrática, os revolucionários cubanos se mobilizaram sob a chefia de Fidel Castro. Fulgêncio Baptista refugiou-se na República Dominicana, para depois embarcar para a Espanha franquista, enquanto Fidel, de libertador, tornou-se um ditador, prendendo e fuzilando vários opositores, enquanto a ilha passou a sofrer um embargo imposto pelos Estados Unidos.
1968. Em outro país socialista, a então Tchecoslováquia, realizaram a Primavera de Praga, um movimento para democratizar o regime, comandado por Alexander Dubcek. A liberdade durou pouco, e tropas soviéticas invadiram o país, massacrando centenas de pessoas. Gustav Husák tomou o poder, e Dubcek foi abduzido pelas forças de Moscou, retornando anos depois sem direitos políticos.
1974. Após anos de ditadura sufocante, os portugueses organizaram a Revolução dos Cravos, uma revolta pacífica que colocou em fuga o sucessor de Antônio Salazar e fez voltar a democracia no país. Portugal ainda hoje se ressente do atraso imposto pelo regime salazarista, e mesmo integrado à União Européia é um dos membros mais frágeis, social e economicamente.
1979. Setores progressistas da sociedade iraniana tiveram de se aliar aos islâmicos xiitas para derrubarem o corrupto e ditatorial xá Reza Pahlevi, governante do Irã. A roubalheira do antigo regime deu lugar a uma teocracia anti-ocidental e moralmente rígida, abolindo quase todos os costumes ocidentais. O chefe xiita, aiatolá Khomeini, tornou-se inimigo do Ocidente e fez o país entrar em guerra com o Iraque, governado pelo ditador Saddam Hussein, aliado dos ocidentais.
1989. No mundo socialista, vários países quiseram se libertar do jugo soviético, e conseguiram. Queriam o direito de se expressarem livremente, terem liberdade política e econômica, como nos países ocidentais, e estavam cansados dos abusos de poder enquanto a maioria da população estava na pobreza, apesar do apregoado "igualitarianismo socialista". Na Alemanha Oriental, derrubaram o Muro de Berlim. Na Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo. Na Polônia, o movimento Solidariedade derrubou o governo. Somente na Romênia houve violência, com a execução do tirano Nicolae Ceaucescu. Estes países se livraram do comunismo, mas ainda permaneceram muito atrasados em relação ao Ocidente e seus povos não se livraram da corrupção política e dos abusos, apesar dos progressos.
Década de 2010. A "Primavera Árabe" tomou conta de muitos países da Ásia Ocidental e da África, derrubando regimes de força como o de Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia, Muhammar Ghaddafi na Líbia e Hosni Mubarak no Egito. Porém, ao invés da democracia, até agora só conseguiram a anarquia, criando vácuos de poder e dando espaço a movimentos fundamentalistas islâmicos como a al-Qaeda e o Daesh, vulgo "Estado Islâmico". Um dos regimes que resistem à liberalização, o da Síria, se vale do genocídio contra seu povo. A Arábia Saudita resiste em manter sua teocracia islâmica, e o Iêmen está na mão dos xiitas houthis, sendo submetido aos bombardeios sauditas.
N. do A.: Diante deste quadro, é necessário pensar e refletir muito bem antes de querer fazer uma revolução no Brasil. A tentação é muito grande, e não faltam motivos para isso. A corrupção, o desprezo pelos eleitores, a desfaçatez mais deslavada, a demagogia e as atitudes mais vis e torpes cometidas por quem deveria zelar pela sociedade mas acabam por quererem manter suas regalias a qualquer custo induzem os brasileiros a quererem vingança e pensarem num salvador da pátria. Contudo, as consequências, como se pode ler acima, podem ser terríveis.
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