segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O fim abrupto do governo Evo

Depois de um processo eleitoral confuso e considerado suspeito, durante o qual 83% das urnas estavam apuradas e, após uma pausa inquietante, voltou com um salto para 95% na apuração, Evo Morales, o atual dirigente boliviano, teve a sua vitória contestada, e a oposição protestou. 

Por aqui muitos imaginavam que Evo iria endurecer o regime e conseguir reunir um número suficiente de adeptos, entre sindicalistas, mineradores e plantadores de coca, para resistir à crescente insatisfação contra ele. Não conseguiu. A polícia e as Forças Armadas negaram-lhe apoio depois que a OEA comprovou fraudes na eleição, e a oposição se enfureceu, deixando definitivamente de acreditar em qualquer mudança pela via politica. Setores radicais promoveram badernas e vandalismo, chegando a incendiar a casa de uma irmã do "ditador". Cresceu a influência do opositor mais intransigente de Evo, o empresário Luís Fernando Camacho, assumidamente conservador e comparado até aos bolsonaristas, seguidores do presidente do Brasil. 

O presidente boliviano tentou uma última cartada, anunciando novas eleições. Os militares sugeriram a renúncia, e Evo, notando a perda do controle em suas mãos, atendeu. Não sem antes dizer-se vítima de um golpe de Estado promovido pelas "forças oligárquicas". O ex-presidente do Brasil, Lula, também abraçou a tese do "golpe". 

Evo Morales pouco antes da renúncia; ele poderá encontrar refúgio no México enquanto a Bolívia mergulha na anomia (Enzo de Luca/AFP)

Mesmo com a renúncia, os ânimos não arrefeceram. Muitos queriam o agora ex-mandatário na prisão. O vice-presidente Álvaro Garcia Linera e os presidentes das Câmaras dos Deputados e dos Senadores também renunciaram, deixando um vazio de poder. 

Os países vizinhos precisarão preparar-se, pois partidários de Evo organizam feroz resistência para se contrapor aos inimigos, e ambos estão dispostos a matar e a provocar uma guerra civil potencialmente difícil de controlar. A pseudo-democracia boliviana, "bolivariana", populista, pró-indígena e "cocalera" pereceu. O que eles colocarão no lugar não será nem um pouco melhor. 


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