No dia 29 de janeiro de 1905, morreu José do Patrocínio, um dos maiores abolicionistas.
Alegoria de José do Patrocínio, por Rodolfo Amoêdo |
Sofreu na pele os horrores da escravidão, pois nasceu na senzala, filho de uma jovem escrava, no dia 9 de outubro de 1853. Portanto, teve uma vida curta mesmo para a época, apenas 51 anos. Conseguiu a liberdade aos 14 anos, após sofrer nas mãos do pai, um sacerdote católico, que, no entanto, deixou-o ir ao Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como servente. Apesar dos preconceitos, não se deixou abater e se tornou jornalista, farmacêutico, político e ativista.
Como jornalista, exerceu intensa pressão para acabar com uma vergonha nacional da época. O Brasil, em sua época, era o único país oficialmente escravista das Américas. Conta-se que, após a assinatura da Lei Áurea, ele fez breve discurso e exclamou aos presentes: "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão!". Também foi um divulgador dos ideais republicanos. Durante uma reunião do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, logo após o marechal Deodoro mandar prender o primeiro-ministro, visconde de Ouro Preto, durante o golpe militar do dia 15 de novembro de 1889, Patrocínio declarou que estava instalada a República no Brasil. Sofreu, porém, com o regime, pois foi preso por ordem do Marechal Floriano Peixoto, sucessor de Deodoro, por atrever-se a fazer oposição aberta ao governo, considerado uma tirania. Em 1896, colaborou para a fundação da Academia Brasileira de Letras, junto com outro famoso descendente de escravos - Machado de Assis - e seu companheiro de lutas pela Abolição - Joaquim Nabuco.
Seu último artigo não tratava de política, e nem do racismo. Em um artigo no jornal A Notícia, ele escreveu, prenunciando outra causa para ser debatida muitos anos depois, os direitos dos animais:
“Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro...”
Consta-se que ele, pobre e tuberculoso, não terminou o artigo acima. Teria morrido após uma forte hemorragia. Foi chamado de "O Tigre da Abolição", por um jornal da época (ler AQUI).
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