quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A consciência negra de José do Patrocínio

No dia 29 de janeiro de 1905, morreu José do Patrocínio, um dos maiores abolicionistas. 

Alegoria de José do Patrocínio, por Rodolfo Amoêdo

Sofreu na pele os horrores da escravidão, pois nasceu na senzala, filho de uma jovem escrava, no dia 9 de outubro de 1853. Portanto, teve uma vida curta mesmo para a época, apenas 51 anos. Conseguiu a liberdade aos 14 anos, após sofrer nas mãos do pai, um sacerdote católico, que, no entanto, deixou-o ir ao Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como servente. Apesar dos preconceitos, não se deixou abater e se tornou jornalista, farmacêutico, político e ativista. 

Como jornalista, exerceu intensa pressão para acabar com uma vergonha nacional da época. O Brasil, em sua época, era o único país oficialmente escravista das Américas. Conta-se que, após a assinatura da Lei Áurea, ele fez breve discurso e exclamou aos presentes: "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão!". Também foi um divulgador dos ideais republicanos. Durante uma reunião do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, logo após o marechal Deodoro mandar prender o primeiro-ministro, visconde de Ouro Preto, durante o golpe militar do dia 15 de novembro de 1889, Patrocínio declarou que estava instalada a República no Brasil. Sofreu, porém, com o regime, pois foi preso por ordem do Marechal Floriano Peixoto, sucessor de Deodoro, por atrever-se a fazer oposição aberta ao governo, considerado uma tirania. Em 1896, colaborou para a fundação da Academia Brasileira de Letras, junto com outro famoso descendente de escravos - Machado de Assis - e seu companheiro de lutas pela Abolição - Joaquim Nabuco. 

Seu último artigo não tratava de política, e nem do racismo. Em um artigo no jornal A Notícia, ele escreveu, prenunciando outra causa para ser debatida muitos anos depois, os direitos dos animais: 

“Fala-se na organização de uma sociedade protetora dos animais. Tenho pelos animais um respeito egípcio. Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que têm conscientemente revoltas contra a injustiça humana. Já vi um burro suspirar depois de brutalmente espancado por um carroceiro que atulhava a carroça com carga para uma quadriga, e que queria que o mísero animal a arrancasse do atoleiro...”

Consta-se que ele, pobre e tuberculoso, não terminou o artigo acima. Teria morrido após uma forte hemorragia. Foi chamado de "O Tigre da Abolição", por um jornal da época (ler AQUI). 

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