sábado, 7 de agosto de 2010

Nossos carros são gastões

Nunca se vendeu tanto carro no Brasil como nestes últimos anos. As razões são múltiplas, não só devido às facilidades de financiamento até a sensação de status que o automóvel dá.

Porém, os testes dos carros atuais preocupam. Não é exatamente com a qualidade do acabamento, que já foi melhor antigamente, para não dizer que os carros vão se desmanchar por dentro em poucos anos, devido à "qualidade" dos revestimentos. É um fator crucial: consumo de combustível.

A indústria automobilística deveria se preocupar um pouco mais com a economia tanto do álcool quanto da gasolina.

O álcool depende da plantação de cana de açúcar, e seu fornecimento é limitado mesmo se o Brasil fosse um imenso canavial e desmatasse até o último hectare da floresta amazônica para plantar a gramínea. Isso porque há um período onde não é possível a colheita da cana (a entressafra), nos meses mais frios. Neste período, os estoques começam a diminuir e os preços aumentam.

Já a gasolina é um subproduto do petróleo, um recurso sabidamente não-renovável e cujas reservas vão se exaurir. A tendência foi, até certo ponto, agravada com os vazamentos no Golfo do México. Mesmo as outras reservas podem se esgotar um dia, inclusive as que existem sob a camada de sal no Oceano, em território brasileiro. Vale lembrar que o petróleo não é uma coisa baratinha. São cerca de US$ 80 por barril (em Nova York), o equivalente a 159 litros do líquido. O petróleo ainda depende do humor dos países produtores vinculados à OPEP, o cartel que controla o preço desse produto tão indispensável à humanidade apesar de ser escuro, viscoso e fedorento.

Os testes dos carros nacionais confirmam: economia de combustível não é o forte de nenhum modelo nacional. Nenhum! Nem mesmo os modelos pequenos, como o Gol ou o Palio. A indústria prefere valorizar fatores como a potência dos motores, na grande maioria bicombustíveis.

E por serem bicombustíveis, eles foram calibrados num patamar que não privilegia nem a potência, e nem o rendimento do tanque. Os motores a álcool são mais potentes e gastões do que os equivalentes à gasolina, para a mesma cilindrada, devido à maior taxa de compressão (em geral, 12:1). Os motores a gasolina funcionam melhor em uma taxa de compressão bem mais baixa, 9:1. Já os bicombustíveis ficam numa taxa de compressão intermediária, ou seja, sem conseguir o máximo rendimento em nenhum dos dois combustíveis. Resultado: um assalto ao bolso do consumidor na hora de reabastecer, e mais poluição do que deveria, principalmente por gás carbônico.

Não se deseja a volta de motores fracos e ultrapassados, do tipo os CHT da Ford que equipavam os modelos dos anos 80 da marca (Corcel, Del Rey e Escort), mesmo porque, apesar de serem econômicos, equipavam carros bem mais leves e eram muito poluentes. Entretanto, não é o caso de questionar se o consumidor merece gastar tanto em combustível, a ponto de pagar o valor do carro em três ou quatro anos, só nos postos?

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