A visita do presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil faz deste dia, 19 de março, um marco na história moderna do país, ísso não se pode negar. Porém, por trás da forte simbologia há motivos mais pragmáticos.
Obama não decidiu visitar o nosso país de um dia para o outro. Ele planejava isso desde o ano passado, mas as relações bilateriais azedaram depois do famigerado acordo Brasil-Turquia-Irã. Acusaram o governo Lula e o Itamaraty de amadorismo excessivo e atuação envenenada por razões ideológicas e anti-americanas. E pensar que, quase dois anos atrás, Obama havia chamado Lula de 'the man' ('o cara').
Porém, Lula não é mais o presidente. Os EUA vêem Dilma como uma pessoa menos voltada para o sectarismo ideológico, Deram à primeira mulher a governar o Brasil a honra de ser visitada por um presidente americano logo no terceiro mês de mandato. E mais: é a visita do primeiro presidente americano negro, ou afro-descendente, como preferem o patrulhismo politicamente correto...
Os governos não estão interessados em meras simbologias. Precisam cuidar dos interesses de seus países. Por um lado, os EUA querem impor ao Brasil, se possível 'enfiando goela abaixo', a compra dos caças norte-americanos, numa disputa comercial e militar ainda muito longe de terminar, apesar da anunciada contenção de gastos por parte do governo petista. Eles estão de olho no nosso pré-sal, na Amazônia, nas grandes obras de infra-estrutura com emprego de capitais estadunidenses, na maior concordância do Brasil em apoiar a política exterior americana.
As aspirações de Dilma também não são nada modestas. Querem um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, melhorar o saldo comercial com os EUA, atualmente deficitário, devido não só ao protecionismo americano, mas também pelas deficiências econômicas do Brasil, que insiste em concentrar suas exportações em commodities, matéria-prima para indústrias de fora. O Brasil quer aumentar sua influência no cenário político internacional, e capital para tocar as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Com base nisso tudo, mal o homem chegou, com direito a tiros de canhão, revista das tropas, Dragões da Independência e tudo o mais, o seu pessoal tratou de conversar com Antônio Patriota, ministro das Relãções Exteriores do Brasil, para a assinatura de 10 acordos, que preparam o terreno para assuntos mais espinhosos. Os temas variam do citado apoio aos grandes eventos esportivos à biodiversidade, passando pelos bicombustíveis e às pesquisas científicas.
O incômodo, gigantesco e até invasivo aparato de segurança montado pela Casa Branca tanto em Brasília quanto no Rio de Janeiro para a visita, e até um suposto discurso de Obama na Cinelândia, são no fundo apenas detalhes.
Por trás do inusitado encontro entre um presidente negro de um país marcado pelo racismo, e uma presidenta de uma nação onde as mulheres sofrem vários tipos de preconceito e até agressão, está o conflito de interesses entre a grande águia e o canarinho que sonha em voar alto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário