Muitos membros do Congresso, encabeçados pelo ilustríssimo presidente do Senado, José Sarney, estão querendo propor um novo referendo sobre o desarmamento, devido às atrocidades cometidas em Realengo.
Vale lançar dúvidas sobre as pretensas soluções dadas no calor das discussões.
Primeiro: o desarmemento da população. Isto terá efeito nulo sobre a criminalidade, porque os criminosos sempre arranjarão modos de se armarem. Não será com maior dificuldade em vender armas a pessoas comuns, nem com a maior exigência em obter o porte de arma, e muito menos com restrições à prática de tiro a quem não é policial ou militar. Somente a população ficaria sem acesso às armas, o que, por si só, é bom. Mas, como diria Garrincha, o gênio ingênuo do futebol, esqueceram de combinar isso com os caras, aliás, com a bandidagem.
Segundo: aumentar a vigilância sobre as fronteiras para evitar o contrabando de armas. Isto é necessário, mas seria necessário haver muito mais fiscalização e muito menos corrupção para impedir a permanência de nossas fronteiras como peneiras à entrada de todo tipo de mercadoria ilegal, inclusive as armas.
Terceiro: se todas as armas de fogo forem banidas, os psicóticos sempre darão um jeito de usarem algo para executarem seus planos. Venenos, facas, motosserras, o que for. O problema não são os instrumentos em si, e sim quem os utiliza.
Quarto: o aumento da segurança nas escolas corre o risco de inibir não os criminosos, mas sim os alunos e seus pais, sujeitos à revistas e à quebra de privacidade. É atacar apenas uma pequena parte do problema. A violência ataca as escolas, sem dúvida, mas também tudo o que as cercam. As esquinas, as ruas, as residências, estão todas à mercê dos bandidos, por causa da ineficiência do sistema de segurança neste país.
Quinto: fala-se muito na chamada lei do talião e da pena de morte, como se matar ou mutilar gente resolvesse os problemas de segurança; em muitos países da África, existe pena de morte, e mesmo assim a violência oprime as populações locais. Por outro lado, países como os do norte da Europa não têm pena de morte e seus índices de violência são irrisórios. E, para quem pensa que isso é decorrente da não existência da miséria nesses países, a Índia possui índices de criminalidade e violência bem menores do que no Brasil, e é um país onde boa parte de sua imensa população é miserável.
Sexto: muito se fala da relação entre Wellington Menezes e o terrorismo islâmico, mas será mesmo que o Brasil é um paraíso de extremistas seguidores do bin Laden como alguns andam dizendo, ou tudo não passa de atos de uma mente realmente perturbada, misturando elementos de fanáticos seguidores do Alcorão com os das Testemunhas de Jeová, religião a qual pertenceria a mãe dele; logicamente, os muçulmanos e os seguidores das Testemunhas de Jeová negam qualquer envolvimento com o atirador de Realengo, mesmo porque a grande maioria desses devotos é contrária à violência, ainda mais contra inocentes.
Tudo isso mostra que o combate à violência, algo crônico no Brasil, não vai se resolver assim tão facilmente. A pacificação do Brasil e de suas escolas exige uma série de ações conjuntas, muitas vezes exigindo esforço, muito suor, inteligência, estratégia, criatividade. Às vezes, até dor e sofrimento. Idéias mirabolantes, demagogia e tentativas de encobrir interesses políticos e econômicos continuarão aparecendo, mas se vierem a se tornar a base dessa luta, então ela estará perdida.