Uma das representações de Tiradentes. Neste desenho, ele não aparece como um Cristo personificado como nas visões idealizadas do passado
Quer dizer que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, deu a vida pela independência do Brasil, para virar apenas um feriado?
Isso virou até um motivo de piada por parte do José Simão, o humorista que trabalha na Folha, e ele aproveitou o fato do dia de Tiradentes cair bem na Semana Santa. Pior, na véspera do feriado de Sexta Feira santa. O vídeo dele pode ser assistido aqui.
Por falar nisso, ainda é feita muita confusão em torno da figura semilendária do grande mineiro. Pelo menos já se sabe que ele não era mesmo parecido com Cristo, mas existem poucos relatos sobre sua verdadeira aparência. Também está documentado que ele não foi enforcado de barba e cabelo comprido, como se fosse uma personificação de Jesus, pois o costume era raspar o cabelo dos prisioneiros para evitar a infestação de piolhos, e a barba tinha de ser aparada às vésperas da execução pois atrapalharia a ação da corda. Ainda existe a questão da 'túnica', aliás, a roupa branca chamada de 'alva' dos condenados à forca, como era costume da época. Este tipo de camisolão serve para aumentar a humilhação dos condenados, já que as execuções eram em público. Parecia mesmo com a túnica que Jesus vestia muitos séculos antes.
Feita essa observação, volto ao assunto principal.
Tiradentes é uma figura complexa que não merece virar apenas um feriado. Por um lado, era visto, muito romanticamente, como um líder que visava libertar o Brasil de Portugal e tinha uma coragem e um idealismo sobre-humanos, a ponto de assumir sozinho a culpa pelo movimento. Por outro, não passava de um pobre coitado que serviu como bode expiatório por ser pobre e pouco instruído no meio de gente importante e influente, como Tomás Antônio Gonzaga, Paula Freire de Andrade, Cláudio Manuel da Costa e José Álvares Maciel. Seja lá como for, sua figura foi aproveitada de todas as formas: como anti-monarquista ao querer implantar uma República como nos Estados Unidos, que já havia se tornado independente na época do dentista que virou mártir. Foi incansavelmente usado por positivistas, pelo movimento republicano, pelos políticos de agora.
De qualquer forma, foi uma importante figura do processo de independência do Brasil, e uma voz contra a injustiça representada pela Coroa portuguesa, uma monarquia absolutista e incompetente, em parte responsável por deixar Portugal como uma nação atrasada e a então colônia brasileira uma terra explorada impiedosamente. Não um Jesus personificado. Muito menos uma figura inventada que possa dar pretexto a um feriado.
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