Clarice Lispector é uma das escritoras mais importantes e cultuadas do Brasil. Nasceu há exatos 100 anos, mas viveu apenas (praticamente) 57 anos.
Sua vida foi marcada pela introspecção e pelo mistério, e, paradoxalmente, pela autenticidade. Considerava-se filha do Nordeste, mas na verdade nasceu na Ucrânia, com o nome de Haya (ou Chaya) Pinkhasovna Lispector, e veio ao Brasil aos 2 anos de idade, junto com sua família de religião judaica. Trabalhou como jornalista e ingressou na Agência Nacional, órgão estatal da ditadura Vargas, e precisou tomar cuidados especiais, pois muitos adeptos do presidente eram assumidamente antissemitas. Casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, passando a viajar intensamente por obrigação do ofício do marido, e teve dois filhos, Pedro e Paulo. Este último, economista, é um dos defensores do legado da mãe, pois o mais velho sofre de esquizofrenia.
Muito jovem escreveu Perto do Coração Selvagem, em 1943, e teve uma vasta produção. Os livros mais conhecidos eram Laços de Família, A Paixão Segundo G. H. e o mais famoso deles, A Hora da Estrela. Tinha muitos amigos e admiradores literatos, como Manoel Bandeira, Érico Veríssimo, Otto Lara Rezende, Cecília Meireles. Mesmo assim, sua vida foi amarga, e quase morreu num incêndio, em 1955. Um câncer no ovário, diagnosticado tardiamente, entrou em metástase, e atormentou seus últimos dias, até a data de 9 de dezembro de 1977. Faria 57 anos.
Clarice Lispector (1920-1977) nasceu há exatos 100 anos (Divulgação) |
Agora, ela virou símbolo da mulher empoderada, um simbolismo muito forte e cultuado hoje, em constraste com quem prefere defender as tradições, ou tem a coragem (ou a estupidez) de falar sobre um suposto "mimimi feminista". Mas o que ela pensaria disso, se estivesse viva? Pois nos seus escritos, existe o contraste entre as máscaras sociais e as circunstâncias que denunciam a hipocrisia. O mais conhecido dos contos presentes em Laços de Família tem o titulo de Feliz Aniversário, onde a aniversariante idosa se aborrece com a sua família, que só se reúne para fingir ter relações harmoniosas e fazer simulacros de preocupação com a velha senhora.
Uma das sentenças ditas pela escritora é:
Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar-se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue-se altiva como a de quem superou um obstáculo. A pessoa é.
Isto poderia render um conto. Feliz aniversário, Clarice.
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