O navio dos loucos, também conhecido como a nau dos insensatos, é uma alegoria milenar, citada até por Platão em sua obra A República. Neste navio, existe uma disputa entre grupos tentando guiá-lo, pois o comandante ouve e enxerga mal e seus conhecimentos de navegação são proporcionais às suas capacidades sensorais. A anarquia reina e todos se julgam capazes de levar o navio a um destino certo, mas estão todos à deriva.
Houve representações desse navio em diversas épocas, principalmente no final da Idade Média e início da chamada Idade Moderna, durante a crise religiosa na Europa. No entanto, a analogia do mundo com esse imenso veículo sem rumo continua valendo, e parece ser ainda mais adequada.
Grupos continuam querendo ditar os destinos do resto da humanidade, enquanto as autoridades, assim como a maioria, estão sem saber o que fazer ou, pior, estão convictos de sua sabedoria mesmo cometendo falhas conceituais. Nossa espécie parece rumar para um futuro incerto, e se essa trajetória fosse análoga a de um veículo, seria algo como um "movimento browniano", porém ainda mais caótico e difícil de modelar.
Estamos usando o pouco conhecimento sobre assuntos complexos para opinarmos como se fôssemos donos da verdade. Isso vale para adeptos da "direita", da "esquerda", e também para os que se rotulam de independentes (os "isentões"). Vale para os defensores de vacinas A, B, C ou D, ou partidários de movimentos anti-vacinas. Isso pode se estender a temas como mudanças climáticas ou religiões. E as circunstâncias muitas vezes nos obrigam a tomar uma posição em todos esses temas.
Superaremos um dia essa incômoda analogia com o navio dos loucos? Isso acontecerá quando a humanidade conseguir controlar o seu próprio destino e apresnder a resolver seus problemas crônicos. Certamente isso levará muito tempo, mesmo se pudermos erradicar a COVID-19, ou qualquer outra doença atual, ou resolvermos adotar posturas moderadas na política, ou aprendermos a resolver conflitos sem o uso da violência. Enquanto isso não acontece, continuaremos a fazer nosso papel de "tripulantes".
"Stultifera navis", de Sebastian Brant (1494) |
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