Pode-se alegar que 100 dias é muito pouco para avaliar um governo, ainda mais no Brasil, onde os rumos tomados parecem mudar de forma às vezes drástica. De fato, nesse período de tempo não se pode fazer mesmo muita coisa, apenas novas diretrizes para o curto e médio prazo, na maioria das vezes peças da mais pura ficção.
Este terceiro mandato do presidente Lula, ao contrário do primeiro, não se deu em "lua de mel" com os grandes agentes: o mercado financeiro, a imprensa e o povo. O primeiro está apreensivo, o segundo muitas vezes apresenta-se hostil (principalmente as mídias conservadoras, que ganharam força a partir de 2018) e o último, ainda esperando alguma melhoria na qualidade de vida. As críticas não são nada lisonjeiras, devido à insistente briga do atual governo com o Banco Central, o legado deixado por Jair Bolsonaro (que não é dos melhores, mas também não foi uma herança tão "maldita" quanto eles querem expor), a realidade e o bom senso. Os desafios são muitos, e para enfrentá-los o governo repete fórmulas já tentadas anteriormente, como o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. A Bovespa, indicativo do humor financeiro brasileiro, vem reagindo com certa ferocidade, como se pode ver nos dados abaixo:
Da lista, a única a cair durante os 100 dias de 2023 foi justamente a Bovespa (Divulgação / Poder 360) |
Boa parte da oposição continua a lembrar da péssima relação do PT com a ética, enquanto o Partido dos Trabalhadores às vezes esquece de enaltecer as realizações do tempo no qual ele dava as cartas no país para tentar anular as marcas do bolsonarismo, insistindo em temas polêmicos como a regulação das mídias sociais, sob o pretexto de combater as mentiras ("fake news") que as infestam, partindo do pressuposto que os usuários são incapazes de se defender delas.
O governo, em conjunto com o STF, também quer colher os frutos da atuação contra os arruaceiros de 8/1, que ainda deixam sequelas profundas, como os objetos de valor que estão passando por um longo e custoso processo de restauração, mas ambos, Executivo e Judiciário, confirmam a péssima fama da baixa tolerância com vozes discordantes, ainda mais com manifestantes pacíficos presos, sob alegação de "golpismo". Não há distinção clara de tratamento entre eles e os verdadeiros vândalos, muitos deles possivelmente à solta.
Também não se deve esquecer os constantes desentendimentos entre os integrantes do governo, agravados, e não amenizados, pela tendência de Lula em centralizar as decisões.
Por último, a sensação de insegurança aumenta com a barbárie no Rio Grande do Norte e os acontecimentos de Blumenau, sem falar nas intermináveis notícias sobre roubos e assassinatos.
Brasília está a fazer jus à avaliação recebida. Assim como os governos estaduais, muitos deles sendo tratados de forma bem mais elogiosa. É o caso do governo Tarcísio de Freitas, que está tratando de projetos muito importantes como a conclusão do Rodoanel, o Trem Intercidades e a despoluição do Rio Tietê, mas está enfrentando problemas com as falhas no transporte público (principalmente na Capital) e, também, as discordâncias entre os componentes do governo, uma maioria de perfil técnico contra a minoria fiel ao bolsonarismo.
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