A obra Figuras en la playa, de Picasso, foi ousadíssima em sua época. Ainda causa estranheza, mas não deveria ser assim, pois foi feita em 1931, ou seja, 80 anos atrás!
O século XXI é marcado pelo avanço tecnológico acelerado e pelas conquistas da Internet, principalmente das redes sociais como o Facebook, o Twitter e o Orkut. No entanto, culturalmente estamos estagnados.
Não há nenhuma manifestação cultural capaz de diferenciar este nosso tempo do século XX. Pelo menos nenhuma realmente relevante, a não ser celebridades polêmicas como Amy Winehouse. Lady GaGa não se encaixa no conceito da inovação, porque ela é fortemente influenciada pela Madonna, ícone do final do século passado. Rihanna, Beyoncé, Avril Lavigne e outras celebridades do mundo artístico usam concepções vindas do fim do século passado, e fazem sucesso com isso.
Vivemos a cultuar Elvis Presley, John Lennon e, principalmente, Michael Jackson. Fala-se com admiração das inovações feitas por Miles Davis no jazz. Para os amantes do rock'n roll, um gênero bem típico das décadas de 1950 a 1980, nomes como Rolling Stones, Jimmy Hendrix, Sex Pistols ainda encontram milhares de seguidores. No Brasil, enquanto milhares falam dos sucessos tocados nas rádios, tipo Restart, 'Rebolation' e Luan Santana, outros se debruçam sobre as conquistas da Bossa Nova e do Tropícalismo.
Na música erudita, a coisa é muito pior. Comenta-se a respeito do vanguardismo até da Grande Fuga de Beethoven, uma obra de 1826 (século XIX!), enquanto a crítica musical elogia o maestro venezuelano Gustavo Dudamel, cujo repertório revela bom gosto, mas tudo muito tradicional, isto é, o velho repertório do romântico século XIX. As inovações pararam depois de Igor Stravinski, do complicado sistema musical de Arnold Schönberg e de outros trabalhos feitos por nomes como Karlheinz Stockhausen. Esses últimos nomes são do século passado.
Nas artes plásticas, ainda achamos que Pablo Picasso, Juan Miró, Salvador Dali, René Magritte, são de vanguarda, quando na verdade deveriam ser considerados clássicos. O século XX foi rico em tendências na pintura e na escultura. Depois do impressionismo de Monet, vieram a arte desesperada do Expressionismo, o 'louco' Cubismo, o irreverente Dadaísmo, o Surrealismo, o Concretismo, o Abstracionismo e outros 'ismos'. Tudo isso contribuiu para fazer a arte evoluir, mas no século XXI, neste tópico, não se vê coisa alguma neste sentido. A ausência quase completa da divulgação dos novos talentos se deve à falta de interesse da indústria cultural e da mídia.
A arquitetura vive um caso semelhante, e tudo o que há de inovação é reflexo de idéias do século XX. Não há nenhuma contribuição, por enquanto, de idéias vindas nos últimos 10 anos. Ainda achamos Brasília uma obra ousada, quando não se fala mal dela, mas isso é assunto para a política e não para a arte. Por falar nisso, o Oscar Niemeyer ainda continua produzindo, apesar de sua idade. Suas obras são ainda mais inovadoras do que muita gente jovem com idéias consideradas ousadas. Prédios, casas e outras obras construídas atualmente não diferem conceitualmente em nada de trabalhos semelhantes da década de 1990 e, como são executadas em conjunto por arquitetos e engenheiros, quando não somente por estes últimos, são pautadas mais pela funcionalidade do que pela arte em si.
Pode parecer injusto fazer essas cobranças num século ainda inicial, mas se a estagnação cultural perdurar por mais quatro ou cinco anos, o século XXI será considerado, pelo menos artisticamente, perdido.
Pode parecer injusto fazer essas cobranças num século ainda inicial, mas se a estagnação cultural perdurar por mais quatro ou cinco anos, o século XXI será considerado, pelo menos artisticamente, perdido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário