Fernando Lugo foi posto para fora do governo paraguaio anteontem
O agora ex-presidente Fernando Lugo foi o segundo caso de impeachment na América Latina depois de Fernando Collor, 20 anos atrás. A razão para isso foi a matança que ocorreu entre sem-terras e policiais em área ocupada por brasileiros que possuem terras por lá, os "brasiguaios".
Em um processo estranhamente rápido, o Congresso de lá fez cumprir a lei, pois Lugo teria cometido crime de responsabilidade ao permitir a tragédia. Mas esta é só a gota d'água, pois ele foi duramente criticado por sua conduta, por ter supostamente seduzido uma menor de idade quando ainda era bispo. Em 2008, ele teve de renunciar à religião para se candidatar à Presidência. Durante o exercício de suas funções eclesiásticas, nunca foi muito bem visto pelo Vaticano por causa de sua militância política. O escândalo veio à tona e ele não conseguiu dar uma resposta satisfatória. Pelo contrário, surgiram rumores de filhos, frutos de casos extraconjugais, e Lugo acabou sendo motivo de galhofa ("o bispo garanhão", entre outros termos).
O ex-presidente não era muito bem visto pelos conservadores por ter tentado implantar uma reforma agrária no país, para atender aos anseios dos sem-terra paraguaios, aguerridos como os daqui. Mas não se alinhou automaticamente com os outros presidentes considerados populistas, como Hugo Chavez e Evo Morales. E teve de enfrentar o narcotráfico, uma questão gravíssima nesta parte do mundo, perseguindo gente ligada às Farc, o grupo narcoterrorista. Porém, sua política em relação a essa guerrilha foi também ambígua, sendo ele próprio acusado de simpatizar com aquele grupo que é um dos principais responsáveis pela tensão na Colômbia.
Em 2010, teve sérios problemas de saúde devido a um câncer linfático e teve de ser operado. Ele foi um dos presidentes afetados pela doença, juntamente com Cristina Kirchner, Hugo Chavez e Lula (uma coincidência que levou muita gente a fazer associações entre populismo e câncer, o que não tem nada a ver).
Com a sua derrocada, a maior parte dos líderes da América do Sul considerou o impeachment como um golpe. A presidentA Dilma chamou o embaixador brasileiro em Asunción para consultas, embora procurasse adotar a cautela. Afinal, é por aqui que existe um certo ex-presidente que também poderia aproveitar e chamar a sua destituição de golpe, por um processo parecido, porém bem mais demorado (entre maio e dezembro de 1992 - ver aqui).
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