segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Uma notícia que conseguiu quebrar o clima de Carnaval

Precisa ser algo muito forte para a mídia brasileira deixar de abordar o Carnaval durante os dias de folia. A notícia em questão veio de fora, do Vaticano:

BENTO XVI VAI RENUNCIAR AO PAPADO!

É apenas o quinto caso de renúncia ao papado em toda a História.

O primeiro papa a renunciar foi São Ponciano, quando o catolicismo ainda não era a religião oficial de Roma, então dominada pelos imperadores pagãos. O papa foi forçado a renunciar em 235, após cinco anos como chefe da Igreja Católica, por forças do imperador Maximino, que o haviam subjugado. Ponciano acabou seus dias fazendo trabalhos forçados numa mina na Sardenha.

Depois, já na Idade Média, num dos períodos mais infames para o papado, havia a forte influência das famílias nobres da Itália. Era tradição colocar os filhos não-primogênitos dos nobres na carreira eclesiástica. Um desses filhos de nobres, vindos da cidade de Tusculum, conseguiu virar papa com menos de 20 anos, e adotou o nome de Bento IX. Seu papado foi marcado por escândalos financeiros e sexuais, inclusive com a influência de cortesãs em decisões importantes do papa. Por incrível que pareça, ele foi papa três vezes. Na primeira, foi em 1032, sendo deposto em 1044, por seus inimigos. Conseguiu recuperar o trono, mas teve de renunciar em 1045. Por fim, em 1047, ele voltou, mas foi de novo deposto no ano seguinte, e depois excomungado e "convidado" a não tentar mais retornar à Santa Sé.

O terceiro caso foi o do monge beneditino Pietro Angeleri, eleito com o nome de Celestino V, que ficou apenas alguns meses no cargo em 1294 e foi forçado a renunciar pelos membros da família Caetani, da qual fez parte o sucessor, Bonifácio VIII. Foi o início de um período de crise na cúpula da Igreja Católica, inclusive a submissão do papado ao reino da França, já ocorrido após a agressão dos franceses ao próprio Bonifácio VIII, em 1303, que morreu em decorrência dos ferimentos. A crise piorou em 1378 com a existência de um papa em Avignon, considerado um "antipapa" pela tradição, e outro em Roma. O período ficou conhecido como o "Grande Cisma do Ocidente".

Em 1415, houve a quarta renúncia, o de Gregório XII, para resolver de vez por todas o Grande Cisma. Por meio do Concílio de Constança, realizado na cidade alemã do mesmo nome, os antipapas (na época haviam dois, um em Avignon e outro em Pisa) foram derrubados do poder e o papa de Roma foi forçado a abdicar. O episódio ainda ficou conhecido pela execução na fogueira do teólogo da Boêmia Jan Hus, que combatia a abjeção moral da Santa Sé naquela época. 

Embora os casos de renúncia só ocorressem em casos tão graves como os expostos acima, nada impede que um papa deixe voluntariamente o trono de São Pedro. A renúncia está prevista pelo Código de Direito Canônico. Bento XVI alegou a idade avançada e as limitações físicas decorrentes dos seus quase 86 anos. Ele já tinha 78 quando sucedeu ao memorável papa João Paulo II em 2005. Antes era conhecido como o cardeal alemão Joseph Ratzinger, aguerrido clérigo conservador, adversário das visões liberais sobre temas como anticoncepcionais e homossexualidade, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé e uma das pessoas mais próximas do antigo sucessor de São Pedro.

Ratzinger não sofrerá qualquer sanção por esta atitude, muito pelo contrário. A grande maioria dos membros da Igreja Católica, e mesmo gente de outras religiões, mais os chefes de Estado, mostraram consternação com a notícia. O Brasil teve, em geral, boas recordações com o papa alemão, responsável pela canonização de São Frei Galvão (1739-1822) durante a sua visita ao país em 2007.

Joseph Ratzinger subiu ao trono com a morte de João Paulo II, em 2005, com o nome de Bento XVI

Se a renúncia de Bento XVI, também conhecido como "papa Ratzinger" pelos adversários, vai desencadear nova crise na Igreja, isso o tempo dirá. A Santa Sé está já bastante desgastada pela perda de fiéis e acusações de escândalos sexuais envolvendo padres em todo o mundo. Fontes dizem que nada disso motivou uma decisão tão grave, e provavelmente a escolha poderá ser rápida, talvez até antes da Páscoa. Mais uma notícia a marcar este torturante ano de 2013.

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