terça-feira, 7 de abril de 2015

7 de abril

Pode parecer estranho postar algo sobre o 7 de abril. É uma data a mais, dizem. No máximo, faz lembrar o nome de uma rua do centro da cidade, entre as estações Anhangabaú e República do metrô. 

Por que o 7 de abril se tornou uma data lembrável?

Porque, há 184 anos, em 1831, o imperador D. Pedro I renunciou ao trono brasileiro. Ele não foi encarado exatamente como um herói, como os livros didáticos tentaram mostrar até pouco tempo atrás, e sim um governante absoluto cercado de uma corte inepta e corrupta, formada na maior parte de portugueses natos. 

Apesar de ser o responsável pela independência do Brasil, ele sempre foi ligado às suas origens na família real portuguesa, e aprendeu a sua visão sobre o país e o modo de governar pelos pais, D. João VI e Da. Carlota Joaquina, assim como os ministros de Estado. Logo, segundo ele, um rei deve mandar e os súditos devem obedecer, como nas monarquias absolutas da Europa. 

Embora não fosse exatamente um tirano, em seus últimos anos era visto como um mau governante. As oligarquias brasileiras o detestavam por seu favorecimento aos lusitanos. Os liberais, pela centralização do poder e falta de liberdades públicas. Todos o achavam despreparado para governar, por sua impulsividade e pouca habilidade política. D. Pedro I achava que sempre estava fazendo o certo, quando na verdade cometia erros políticos que o deixaram isolado no governo. 

Fora isso, a economia ia mal. Excesso de burocracia e dependência de uma agricultura escravista voltada para a exportação, sobretudo o plantio da cana para a produção de açúcar e aguardente, mas também o café, que começava a despontar. Não havia praticamente manufaturas no país, naquela época, e a industrialização só ganhou corpo com a República. A infra-estrutura era precária, por estradas de terra e uso de animais de tração e escravos. Ferrovias, invenções muito recentes em 1831, só viriam depois, no reinado de D. Pedro II. 

Na Europa, os governantes absolutos eram mal tolerados, principalmente na França, que já experimentou uma revolução, que descambou para o uso sistemático da guilhotina (inclusive contra o rei Luís XVI), a ascensão de Napoleão e a volta da família real deposta, os Bourbons. O último rei absoluto da França, Carlos X, irmão de Luís XVI, foi deposto no ano anterior (1830). 

Diante disso, muitos queriam D. Pedro I fora do poder. Protestavam. Houve inclusive violência, como na "Noite das Garrafadas" (13 de março de 1831)

Sem saída, ele teve de abdicar, voltando para a Europa. O Brasil passaria por um relativamente longo período regencial, pois o filho do imperador, D. Pedro II, tinha pouco mais de cinco anos. Viria a reinar com 14, em 1840. 

Arnaud Julién Palière (1784-1862), discípulo do pintor oficial do Império em seus primeiros anos, Jean-Baptiste Debret, retratou D. Pedro II na época da abdicação do pai. 

Essa falta de apoio político e a precariedade de um governo com falhas graves lembra a situação atual. Dilma Roussef está tentando reatar relações com o PMDB, que vinha a ser uma grande ameaça a seu governo, colocando o vice Michel Temer na articulação política. Porém, boa parte da opinião pública está descontente com ela e a economia está mal, encolhendo e assolada por uma inflação que pode ultrapassar 8% segundo as estimativas. 

Dilma tem muitas diferenças em relação a D. Pedro I, entre as quais os fatos (alguns bem óbvios) de ser mulher, eleita pelo povo e (até certo ponto) respeitar as liberdades públicas, que seus colegas do PT estão querendo limitar a pretexto de calar os "golpistas". Estes querem ver a "rainha" sofrer o mesmo destino do antigo soberano: a "abdicação" ao cargo. 

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