sexta-feira, 24 de abril de 2015

Genocídio armênio é tabu na Turquia

Não existe sequer um país do mundo que não tenha sua história maculada por guerras, massacres e atos considerados repulsivos e monstruosos para os padrões atuais, mas vistos na época como necessários ou justificáveis. 

No entanto, a maioria dos países cometeu crimes oficiais em tempos bem mais remotos do que 100 anos, quando o império turco fez uma "limpeza étnica" no que restava de seu território, à beira do desmembramento. Comandando um regime decadente e corrompido que logo iria ruir, o sultão turco foi o responsável pelo extermínio de 1,5 milhão de armênios. 

O genocídio armênio foi apenas o primeiro do século XX. Logo viriam o Holocausto, o stalinismo, o regime de Pol Pot, a "Revolução Cultural" na China, as "limpezas étnicas" na Sérvia e em Ruanda, etc. 

Um dos responsáveis pelos atos cruéis, relatados por vários historiadores, foi o coronel Mustafá Kemal, que mais tarde iria derrubar a monarquia e adotar o pseudônimo de Atatürk, "Pai dos Turcos", como ditador do país entre 1923 e 1938. Atatürk foi a base do pensamento político da Turquia moderna: secularização e vínculos com o Ocidente. Mesmo um islâmico como Tayyip Erdogan segue muitos desses princípios. 

O presidente turco vem combatendo tenazmente todos aqueles que relembram o massacre dos armênios, desde o Papa Francisco até o Parlamento Europeu, que pressiona Ancara para reconhecer o genocídio. 

Erdogan alega que reconhecer a barbárie cometida pelo governo turco contra os armênios daria pretexto a outro povo, os curdos, para as suas aspirações a um Estado independente. A maior parte do Curdistão se encontra em território turco. Outro motivo seria por sentimentos supostamente nacionalistas. 

Por outro lado, outros povos cometeram atrocidades semelhantes, como os alemães no Holocausto, e os russos no stalinismo, e reconheceram seus erros. Muitos turcos acham que seria melhor para a imagem de Erdogan e da nação turca fazer o mesmo. 

E é bom que outros países também reconheçam esta "limpeza étnica". Não fazem isso para preservarem as relações econômicas e políticas com a Turquia, como é o caso dos Estados Unidos e do Brasil. Apenas 20 nações, além da própria Armênia (reduzida a um território minúsculo no Cáucaso, a leste da Turquia), admitem um ato que não pode se repetir novamente em nenhuma parte do mundo: Alemanha, Argentina, Bélgica, Chile, Chipre, Canadá, Eslováquia, França, Grécia, Holanda, Itália, Líbano, Lituânia, Polónia, Rússia, Suiça, Suécia, Uruguai, Vaticano e Venezuela.

Hoje, 100 anos depois, o mundo relembra este triste episódio. Em Yerevan, capital da Armênia, autoridades da Europa Ocidental e da Rússia prestaram homenagem simbólica às vítimas. Muitos sobreviventes fugiram para outros países. No Brasil, há uma comunidade armênia importante, que também relembra o episódio e espera uma posição oficial mais favorável por parte de nosso governo. 

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