O Brasil possui vários veículos de imprensa, sendo a maioria defensora das ideias liberais, do capitalismo e da democracia. Esta tendência começou a firmar-se durante a abertura política (a partir de 1979), no fim do regime militar, quando muitos se cansavam do autoritarismo vigente, mas ao mesmo tempo constatavam o atraso do Brasil, frente aos países mais avançados na América do Norte e na Europa, e às economias em rápido crescimento na Ásia. Vivíamos num país fechado, com terrível desvalorização no poder de compra, desejoso de ter mais liberdades públicas e direitos fundamentais como o de votar em seus representantes.
Com os governos seguintes, o Brasil conseguiu a democracia, e a abertura econômica, culminando no Plano Real, que domou a hiperinflação. A imprensa foi favorável a este status quo, embora estivesse atenta aos desmandos dos governantes, principalmente Fernando Collor, punido por corrupção.
Mais tarde, durante os governos do PT (Lula e Dilma), as ideias moderadas perderam espaço. De um lado, as mídias autoproclamadas "independentes", mas alinhadas ideologicamente com a situação, e favoráveis às ideias consideradas "progressistas". Por outro lado, a mídia tradicional voltou a ter uma postura mais combativa, após a constatação das várias falcatruas cometidas por setores do governo, com a conivência oficial, principalmente o Petrolão, um dos maiores escândalos de corrupção da História recente.
Muitos não estavam contentes com a abordagem da grande imprensa, considerada conivente com o petismo devido aos avanços sociais, obtidos à custa da roubalheira e do populismo, segundo a visão destes críticos. Os conservadores, defensores dos valores religiosos e contrários aos que consideravam excessos, como o aborto, a liberação no consumo de drogas e a divulgação de costumes homossexuais, estavam até então marginalizados, embora sejam uma parcela importante da população brasileira. Eles ganharam força como uma oposição mais convicta ao petismo, exigindo moralidade e respeito aos valores consagrados ao longo de séculos. Apoiaram fervorosamente a Operação Lava Jato e, depois, a candidatura de Jair Bolsonaro, visto como um defensor do tradicionalismo, apesar de seu passado como capitão rebelde do Exército.
Esta tendência não surgiu sem motivo, pois parte expressiva da população se incomodou com a rápida mudança nos costumes em poucas décadas (a partir dos anos 1950) e a desvalorização de noções arraigadas como o pátrio poder e a desigualdade como fator inerente à natureza. Eles também estão cansados das políticas de segurança adotados pelos governos, considerados frouxos contra a criminalidade, e sempre foram menos tolerantes com desvios de conduta, querendo punições severas ou até a pena de morte para casos graves como estupro ou homicídio. Esta parcela não tinha apoio dos meios de comunicação, que defendiam as inovações e, em maior ou menor grau, desvalorizavam aspectos como a religião, ridicularizavam a falta de cultura (boa parte da sociedade não tinha e ainda não tem acesso adequado à educação) e comparavam os tradicionalistas (de forma generalizada) com os fascistas do passado.
Com a ascensão de Donald Trump em 2016, os grupos conservadores ganharam ainda mais alento, e passou-se a fazer críticas mais abertas ao "politicamente correto", visto como costume progressista e fomentador do vitimismo de alguns grupos sociais que se consideram marginalizados. Alguns, mais radicais, fizeram a associação do "politicamente correto" com supostas campanhas dos "progressistas" para destruírem os valores tradicionais e tentarem novas formas de implantar o socialismo, submetendo os cidadãos a um governo totalitário e implementador de um falso regime de igualdade, em detrimento da liberdade.
A eleição de Jair Bolsonaro foi ainda mais favorável à "direita" defensora do liberalismo econômico clássico combinado com o tradicionalismo cultural e social, e mesmo à "extrema-direita" defensora de atos violentos para consertar os estragos feitos pelo petismo (reais ou não). Veículos de imprensa assumiram-se claramente conservadores, como o jornal Gazeta do Povo e a rádio Jovem Pan. Surgiram revistas como a Oeste. Blogs e espaços na Internet tornaram-se mais populares, como o Brasil Paralelo. Mais jornalistas assumiram-se defensores da tradição e passaram a se expressar mais claramente neste sentido, sem medo de serem apontados como "reacionários", "golpistas" ou "(neo)fascistas" pelos colegas, como acontecia na época de Lula ou Dilma. Alguns até mostraram admiração por polemistas como o recém falecido Olavo de Carvalho, ou radicais como Steve Bannon, defensores de uma ruptura contra os sistemas políticos, para eles infestados de burocratas.
A revista Oeste é porta-voz do conservadorismo, destoando do teor liberal ou progressista das concorrentes (Divulgação/Revista Oeste) |
Atualmente, estes veículos tendem a apontar a pandemia como uma manobra dos adeptos do regime chinês, muito admirado como exemplo de pujança econômica e combate à miséria, mas criticado pela ausência de liberdade e pelo dirigismo sobre o cotidiano das pessoas. Os lockdowns adotados em países da Europa e a palavra-chave "Fique em casa" são vistos como uma tentativa de fazer as pessoas abrirem mão de sua liberdade e obedecerem às imposições estatais, tal como ocorre dentro da ditadura chinesa. Acham exagerados os temores contra o coronavírus, principalmente a variante ômicron, cuja taxa de letalidade está se revelando menor em relação às das outras cepas. Chega-se ao ponto de ignorar o perigo deste parasita, ou mesmo defender o "direito de morrer exercendo sua liberdade".
Não há nada a fazer contra a divulgação de tais pensamentos, porque as leis garantem plena liberdade de expressão. A defesa dos "cancelamentos" e dos fechamentos de contas por parte das mídias sociais ferem o espírito democrático e alimentam as acusações de totalitarismo, ainda mais porque os defensores do marxismo ou mesmo do terror como forma de "combate à opressão" não sofrem tantas retaliações. E a tendência é pela consolidação das vozes "anti-progressistas", ainda mais quando a pandemia terminar.
É saudável um ambiente com vários pontos de vista e debates entre ideologias diferentes, desde que estejam dentro dos limites impostos pela Constituição.
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