segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O Brasil parece uma enorme família disfuncional

Em psicologia, uma família disfuncional é aquela onde a relação entre pais e filhos é abusiva ou permissiva, gerando sequelas no desenvolvimento destes últimos, os quais se tornam adultos muitas vezes infelizes e pouco produtivos. 

Por aqui no Brasil são os raras as pessoas que não vivenciam casos assim. "Fulano bebe demais e bate na mulher", "Sicrano é um rapaz sem juízo, vive se drogando e dando problema para os pais", "Beltrana saiu de casa e abandonou os filhos", e por aí vai. 

Conflitos familiares são inevitáveis, mas quando são muito frequentes podem resultar em desastre

Essas famílias possuem uma dinâmica curiosa, onde um dos pais assume o papel do "mau patrão", o tirano, controlador e pronto para culpar todo mundo, menos ele próprio porque está "sempre certo", e o outro, menos assertivo, faz o papel do "facilitador", que assume as tarefas para a manutenção da harmonia no ambiente familiar. Os filhos podem fazer diferentes papéis. 

Um deles é o do "filho bonzinho", submisso aos pais ou substituto destes quando estão ausentes. Assumem seus trabalhos com seriedade, muitas vezes sobrecarregando-se. 

O outro é o "bode expiatório", apontado como a causa maior dos problemas, por seu comportamento contestador. Desafia o status quo e é visto como problemático, briguento, escandaloso, etc. 

Existe também o "ausente", cuja presença mal é notada. É um indivíduo isolado, quieto e aparentemente autossuficiente. 

Também há o papel do "manipulador", aquele mais esperto ou oportunista, tentando obter vantagens à custa dos irmãos ou dos pais. 

Por fim, os mais espirituosos, fazendo o papel do "palhaço", ou do "mascote", para alívio cômico dos outros membros da família. 

Muitos enxergam os brasileiros como filhos da pátria, mas, independente da boa ou má fé, omitem os papéis de milhões desses filhos, sejam eles os trabalhadores exemplares, os "maus brasileiros" que vivem afrontando a lei, os sujeitos abandonados que engrossam a "massa sem voz nem vez", os espertalhões adeptos da "lei de Gerson" e os comediantes dispostos a fazer de tudo motivo de riso. Parece um retrato mais ou menos fiel da nossa sociedade. 

Tentar resolver os problemas de uma família disfuncional é algo muitas vezes infrutífero, porque depende fundamentalmente dos atores envolvidos neste drama. Há a necessidade de cada um enxergar os problemas e estar consciente de seus papeis, algo necessário (mas não suficiente) para uma melhoria efetiva, por meio de ações conjuntas. Do mesmo modo, consertar um país como o nosso é algo inviável, sem a colaboração dos próprios brasileiros. Eles, e não os políticos, os milionários, os estrangeiros, os ETs ou os "salvadores da pátria", poderão encaminhar o Brasil para um futuro mais promissor. 

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