Ontem e hoje a morte esteve em notícia. Como se não bastasse o julgamento do assassinato de Eliza Samudio, cometido - conforme as evidências e provas já colhidas no inquérito - pelo goleiro Bruno e seus comparsas Bola e Macarrão, a mídia se voltou para a morte de Hugo Chavez, o caudilho da Venezuela.
Ex-coronel, comandou a tentativa de golpe militar contra o governo eleito de Carlos Andrés Perez, em 1992. Nessa época, ainda não se conheciam claramente as idéias de Chavez. Ele voltaria a ser notícia em 1998, quando finalmente conseguiu chegar ao poder, pela via democrática, prometendo ser a salvação para o crônico problema da miséria na Venezuela (e de toda a América Latina), por meio de uma interpretação pessoal das idéias de Simon Bolívar, el Libertador, herói responsável pela libertação de seu país e um dos chefes do processo de descolonização da América do Sul, metade dela sob domínio espanhol.
Logo que tomou o poder, tentou implantar suas idéias populistas e logo mostrou sua veia autoritária, ao fazer aprovar uma nova Constituição em 1999 e uma lei que o permitia governar por meio de decretos, já no ano seguinte. Ele elegeu o governo americano ("imperialismo ianque") como culpado pela situação precária da Venezuela e do resto da América Latina, pretexto para tomar medidas chauvinistas e pretensamente nacionalistas.
"El líder" se calla (foto: divulgação)
Em 2002, uma tentativa de golpe de Estado conseguiu deter Chavez, mas por pouco tempo. Ele conseguiu derrotar os golpistas e voltou ainda mais forte. Manobrou para se manter indefinidamente no poder, mas não pôde calar completamente a oposição, a qual tentou, na medida do possível, neutralizar o populismo do ditador. Mas o pior inimigo do chavismo foi mesmo a própria arrogância, que impediu Chavez de enxergar suas próprias limitações como estadista. A Venezuela mergulhou em um processo inflacionário, com desabastecimento e racionamento de energia, mesmo sendo o país um dos maiores produtores de petróleo do mundo e membro da OPEP. Ele esbravejou na ONU contra os americanos, chegou a chamar o ex-presidente "ianque" George W. Bush de "diabo" e tanto falou que precisou ouvir o que não queria, principalmente vindo da boca do rei da Espanha, Juan Carlos I, irritado com os pitacos do caudilho nos assuntos espanhóis: Por que no te callas?
Nos últimos anos, um outro inimigo, diferente dos americanos, enfrentou Chavez e o venceu: foi o câncer. Como consequência disso, ele precisou viajar a Cuba para fazer quatro cirurgias, a última delas em dezembro passado. Nada disso adiantou, e ele voltou para a Venezuela após vários meses de ausência, já com novo governo de facto, feito pelo seu vice, Nicolas Maduro. E, a 5 de março de 2013, Hugo Chavez se calou neste mundo.
P.S.: E como se não bastasse a morte do Chavez, ainda noticiaram a morte trágica de Chorão, o líder da banda Charlie Brown Jr., cuja causa-mortis está no momento em processo de investigação, mas há suspeita, não confirmada, de uso de álcool e drogas. Era um dos últimos representantes da boa fase da MPB e do rock nacional, principalmente durante os anos 90. Que ano!...