sexta-feira, 26 de abril de 2013

Da série 'Oitentolatria', parte 16

Oitentolatria tem limites. Muita gente idolatra aquela época brega, mas nem mesmo o mais fanático adepto quer certas coisas de volta. Vou listar algumas.

1. Inflação. Era um tormento na vida dos brasileiros, durante toda a década de 1980. Tentaram controlá-la por meio de dois grandes planos econômicos, o Cruzado, de 1986, e o Verão, de 1989, todos fracassados. No primeiro caso, cortaram três zeros da moeda, que também mudou de nome: de cruzeiro para cruzado. No segundo, o cruzado virou cruzado novo, perdeu mais três zeros, mas continuou a ser corroído. No final das contas, a moeda nacional perdeu SEIS zeros à toa, pois um cruzado novo, que em teoria valia um milhão de cruzeiros antigos, passaria a ter o mesmo poder aquisitivo, ou seja, nada. Acabou sendo, na prática, substituída pelo dólar em muitas transações comerciais. Agora, a inflação ameaça voltar, mas ninguém mais a quer, pois a "cultura inflacionária", espécie de jeitinho brasileiro adaptado à economia, está morta e mal enterrada.

2. Certas marcas de tênis, muito famosas na época, como o Montreal ("anti-microbial"), anunciado pelo Programa Sílvio Santos, e outras fábricas de chulé como o Bamba e o Conga; saudade, mesmo, só do Kichute. Para se ter uma idéia, tinham qualidade inferior até às porcarias fabricadas na China hoje em dia.

Certas coisas a gente não entende por que fizeram sucesso. O tênis Montreal era bem feioso (do blog "É da sua Época?" - http://edasuaepoca.blogspot.com.br)

3. Jejum de títulos da Seleção Brasileira: em 1982 e 1986, o futebol brasileiro tentou reviver o futebol-arte presente nas décadas de 1950, 1960 e na Copa de 1970, mas fracassou, diante da Itália de Paolo Rossi e da França de Platini. A Seleção só viria a ganhar uma Copa do Mundo em 1994, jogando de forma mais pragmática (e mais feia, também), graças ao estilo imposto por Parreira. O técnico nas copas de 1982 e 1986 foi o mestre Telê Santana. Com o atual marasmo, corre-se o risco de haver uma nova década perdida, mesmo considerando a próxima Copa, de 2014, em pleno Brasil.

4. Cortes de cabelo de gosto duvidoso, lançados pela Cyndi Lauper, pelo personagem McGyver do seriado "Profissão, Perigo" e pela dupla Chitãozinho e Xororó, entre outros. É difícil dizer o que é pior: aqueles montes de mato crescendo naquelas cabeças ou as seguidas cabeleiras do Neymar.


O engenhoso McGyver e a cantora Cyndi Lauper (fotos: blog Anos 80 - www.anos80.com.br)

5. Epidemia de AIDS. Naquela época, uma estranha doença atacou homossexuais e usuários de drogas, e depois se espalhou; era conhecida como "peste gay", mas isso só no começo, pois a doença também era transmitida pelo sangue, agulhas contaminadas, e relações sexuais sem o uso da camisinha, tanto homo quanto heterossexuais. Naquela época muita gente morreu por causa do HIV. Aparentemente, a doença perdeu seu aspecto letal nos dias de hoje, porém ainda não tem cura. 

6. Certos brinquedos eram o cúmulo da bizarrice, como o boneco do Fofão, que era monstruoso e alimentava lendas sobre poderes malignos. Ou o nojento boneco extraterrestre Neb, que estimulava as crianças a reproduzirem a suposta cena de Roswell, dissecando um cadáver alienígena. 

As estranhas deste "alien" eram uma gosma só... (também do blog "É da sua época?")

7. Não havia Internet, nem redes sociais, nem blogs. Os computadores eram pouco mais do que meros instrumentos caros para guardar receitas de culinária e outras banalidades nos disquetes (lembram-se daqueles quadradinhos de 5 polegadas que estragavam após 2 ou 3 anos de uso?) e substituir as velhas máquinas de escrever, pois eram mais "chiques".

8. Como já havia citado num post anterior da série, falei sobre os carros da época, que eram verdadeiras carroças. Deixei de citar com mais detalhes o Fiat 147, aquele italianinho feioso, e a Brasília, produzida até 1982, para me concentrar naqueles dez carros. Um aspecto naquela época foi o lançamento da medonha Kombi movida a diesel, cujo motor era lentíssimo, rugia como louco e era um atentado ao meio ambiente de tanta fumaça e óleo que soltava. Podia-se argumentar que duravam muito mais do que as aberrações atuais, também muito aquém da qualidade dos carros estrangeiros, mas matavam do mesmo jeito quando colidiam. 

9. Aquelas boy bands eram um pé no saco, e isso já citei em outro post anterior. Estavam para aquela época como o funk horroroso (do tipo "lelek lek lek lek" e outras cacofonias) de agora. A diferença é apenas no nível de testosterona dos intérpretes.

10. Os enredos de novelas eram, em geral, mais simplistas e muita asneira era escrita - e o telespectador achava o máximo. Está certo que os folhetins atuais são uma porcaria, mas pelo menos se livraram de algumas idéias arcaicas, como a da suposta incompetência das mulheres para gerir empresas e a caipirice parva dos moradores da periferia, temas explorados por um grande sucesso da época, a hilária Guerra dos Sexos, de 1983. Um "remake" dessa novela foi feito, mas a história, muito datada, não podia ser atualizada. O autor Sílvio de Abreu bem que tentou, mas a novela passou a ter o pior ibope do horário em todos os tempos. Terminou hoje, e mesmo com um elenco afiado (Tony Ramos, Irene Ravache, Glória Pires, Drica Morais, etc.) não vai deixar saudade.
A novela original (foto do blog "Mundo Novelas") deixou saudade. Já o seu "remake"...

Obs.: Já escrevi a respeito das novelas dos anos 80 em posts anteriores, falando de Guerra dos Sexos, Roque Santeiro, Vale Tudo e Ti-Ti-Ti. Esta última também virou remake em 2010 e também não fez lá muito sucesso

Um comentário:

  1. Valeu pela referencia do blog Fábio!
    Um abraço

    Eric Luciano
    Blog É da sua Época

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