Na semana da tal 'Black Friday', criada nos EUA e imitada no Brasil como 'Black Fraude', devido às falsas promoções, houve uma quarta-feira cheia de fatalidades capazes de estragar o humor pelo resto da semana.
Primeiro, a morte de um dos maiores gênios do futebol, Nílton Santos, o lateral esquerdo polivalente que defendeu o Botafogo por duas décadas, participou de quatro Copas do mundo e ensinou a malandragem do futebol ao Garrincha. Era conhecido como "A enciclopédia do futebol", pois diziam que ele sabia de tudo sobre o futebol, dentro e fora dos gramados. Ironicamente, o mal de Alzheimer, doença impiedosa, corroeu o cérebro dele, e ele se foi aos 88 anos de idade. Este é um acontecimento inevitável, pois todos teremos de falecer um dia. Piores são as duas notícias a seguir.
Segundo, a tragédia no Itaquerão, o estádio do Corínthians. A perícia está investigando o que realmente aconteceu. Um guindaste caiu sobre o setor leste da arquibancada ainda em construção, provocando a morte de dois operários que estavam no solo, um deles dentro de um caminhão esmagado pelo aparelho. Não se sabe quanto tempo mais a obra vai levar para ficar pronta: 60 dias, com margem de erro de 30 dias (prazos, no Brasil, têm margens de erros assustadoramente grandes). Pior do que o Brasil ser visto como uma nação onde a negligência, a desídia e a roubalheira imperam, é o recorde negativo de mortes durante as obras para uma Copa. Até na África do Sul, onde o descaso com a segurança no trabalho é ainda maior que no Brasil, houve menos mortes. Até agora, cinco pessoas perderam a vida. Ainda dá tempo para os organizadores do evento mostrarem que eu estou errado, mas em um post anterior fiz alusões à Somália, como referência de país igualmente preparado para sediar uma Copa. Haverá retorno diante da torrente de dinheiro gasto nessa aventura? A imagem do Brasil irá melhorar com a Copa? Pelo menos um estrago é irreversível: para as famílias dos operários mortos.
Terceiro, e isto já não tem a ver com o futebol, é a alta da taxa Selic, voltando ao pesadelo dos dois dígitos. Agora, a taxa básica dos juros está em exatos 10%. No ano passado, a presidentA afirmou que os juros no Brasil eram inaceitavelmente altos (30 de abril de 2012, de acordo com o jornalista Josias de Souza, da Folha). Menos de dois anos depois, a fanfarronice veio abaixo, como o guindaste no Itaquerão. Realmente, era difícil de acreditar, mas muitos creram na palavra da nossa governante. A taxa básica de juros, neste período, assumiu uma trajetória hiperbólica, mas também pode ser interpretada como um sorriso de escárnio:
Gráfico da taxa de juros entre janeiro de 2012 e novembro de 2012, segundo o Estadão
Haverá consequências para a economia do Brasil devido às taxas de juros neste patamar atual. Pior para o comércio, a indústria e a sociedade em geral, principalmente os mais endividados.
2013 ainda nem acabou e parece que seus efeitos serão sentidos em 2014, e nos anos seguintes, também.
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