Após a renúncia de D. Pedro I, seu
filho, também chamado Pedro seguido de vários outros nomes, como rezava a
tradição dos Bragança, passou a reinar após alguns anos de regência.
Seu governo era tido como favorável ao progresso, devido ao fascínio de
D. Pedro II pela ciência. Apesar disso, muitos estavam descontentes com a
escravidão, a base econômica da época, e da excessiva dependência dos
produtos agrícolas, primeiro a cana-de-açúcar e depois o café. A filha
de D. Pedro, princesa Isabel, era tida como uma carola casada com um
francês, o Conde d'Eu, que desprezava os costumes locais. Mesmo assim
ficou conhecida como a Redentora, por ter assinado a Lei Áurea, em 1888,
quando todos os outros países já haviam abolido a escravatura. Os
escravos foram libertados mas continuavam à margem da sociedade, e os
grandes fazendeiros retiraram o apoio à monarquia.
Alguns
devem ter imaginado o que aconteceria se o marechal Manuel Deodoro da Fonseca, diga-se de passagem um militar leal à monarquia praticamente pressionado na última hora a aderir ao movimento,
não tivesse proclamado a República e chefiado o golpe militar de 15 de
novembro de 1889.
Existem vários defensores de uma cabeça coroada ainda no Brasil, mesmo desconsiderando os adeptos de D. Lula I. Eles diriam que o Brasil seria uma nação ainda mais forte e respeitada, temida pelos argentinos e outros vizinhos, e respeitada pelas potências ocidentais, com Forças Armadas poderosas, prestigiadas desde a Guerra do Paraguai, e um governo estável.
Outros poderiam argumentar: o trono iria para o Conde d'Eu, e isso seria uma catástrofe. Se D. Pedro II morresse naturalmente como monarca, e passasse o trono para o seu genro, tendo Isabel de Bragança como consorte, haveria muito descontentamento, e a família imperial iria para o exílio de qualquer modo.
Já os adeptos do monarquismo não pensariam assim. Alguns diriam que a rainha seria D. Isabel, e o conde d'Eu seria um mero consorte, repetindo a experiência britânica. Os ingleses, escoceses e galeses se curvaram à rainha Elizabeth I no século XVI e à rainha Vitória, contemporânea de D. Pedro II. O problema seria vencer a tradição machista do Brasil. No entanto, a Inglaterra da mesma época ainda negava muitos direitos às mulheres, também. D. Isabel passaria o trono ao seu filho, D. Pedro, que seria coroado como D. Pedro III do Brasil. Isso se as turbulências políticas permitissem.
De qualquer forma, segundo a maioria dos defensores do monarquismo, os Bragança deixariam o governo nas mãos dos primeiros-ministros, embora o Poder Moderador, visto como um ranço absolutista por dar poderes extras ao Imperador, às vezes viria a ser usado. Os brasileiros aprenderiam a não se valer do "jeitinho", e respeitar mais as autoridades. Entretanto, muitos diriam que os brasileiros demorariam mais para exigir seus direitos, já que uma monarquia, segundo eles, tolhe as forças democráticas. Por outro lado, os monarquistas contra-atacam dizendo que até agora muitas nações européias avançadas possuem tronos. A corrupção continuaria a ser uma chaga para o Brasil: não seria escancarada como realmente acontece, porém seria bem mais velada. Nada de "mensalão" ou dinheiro escondido em roupas íntimas, coisa de gente ignóbil, mas os bancos suíços continuariam a ter muito dinheiro guardado de origem brasileira.
Nas comunicações, os Marinho iriam ganhar ainda mais prestígio. Roberto Marinho seria elevado á categoria de Duque de Jacarepaguá. O tão falado monopólio da Rede Globo iria ser ainda mais sólido, sendo uma espécie de Televisa na América do Sul. A cultura brasileira, de qualquer forma, continuaria a produzir a Bossa Nova e o Tropicalismo, embora não as canções de protesto, pois não haveria ditadura militar, na hipótese remota da monarquia sobreviver até os nossos dias. No máximo, letras ousadas pregando a destruição do regime, mandando a realeza para o paredón. Provavelmente as hediondas modas do "sertanejo universitário" e do funk mal cantado não teriam tanto sucesso. O consumo de drogas por artistas - e não artistas - seria um problema de toda forma.
Quanto à economia, há contravérsias. Poderiam apostar na continuação da agropecuária como base da economia, mas a modernização, com o fim dos latifúndios, poderia ser inevitável. Contudo, poderia demorar mais para diminuir a exploração excessiva dos trabalhadores. Movimentos sociais poderiam ser resolvidos na base da força policial, mas provavelmente Sua Majestade teria de agir de modo mais democrático conforme os anos passassem. O petróleo seria, inexoravelmente, descoberto em alguma parte da imensa terra brasileira. Haveria, também, uma industrialização, embora não se saiba até que ponto. Provavelmente não passaríamos por um período de inflação tão galopante causado por aventuras econômicas. Aliás, nem conheceríamos uma moeda chamada Cruzeiro. Talvez o nome da moeda atual sob uma monarquia Bragança teria o nome de... Real.
A Guerra de Canudos poderia ser inevitável, e Antônio Conselheiro, o líder messiânico que dirigiu a cidade baiana desde antes de 1889, não seria visto como um monarquista lunático. Seria simplesmente considerado um "doido furioso" e seus seguidores seriam igualmente massacrados por ordem do imperador (ou da imperatriz). O Brasil não passaria por revoltas como a da Armada, movida pelo descontentamento de setores da Marinha contra o governo militar de Deodoro e Floriano. Talvez relutasse menos em apoiar os americanos contra Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, os Braganças teriam de se preocupar com novas tentativas de emancipação do Rio Grande do Sul.
Quanto às grandes cidades? Elas se desenvolveriam, de toda forma, tanto o Rio de Janeiro quanto São Paulo e outras capitais. Se haveria favelas ou não, é algo difícil de dizer, e isso dependeria de vários fatores pouco mensuráveis, como o empenho do governo em diminuir a miséria, promover obras de infra-estrutura e coibir as ocupações irregulares. A imigração aconteceria de qualquer modo, para "embranquecer" o povo e fornecer mão-de-obra para a agricultura, pois não se cogitaria a volta da escravidão. O racismo continuaria a ser um problema sério.
Por fim, a capital poderia ser, de todo modo, no Planalto Central, mas dificilmente o autor seria Oscar Niemeyer, um comunista de traços ousados demais para o gosto da família real. Possivelmente vão satirizar as cabeças coroadas, apontadas como "os reis do sertão" e ocupantes do "palácio a milhares de quilômetros de lugar nenhum".
Se o Marechal Deodoro não tivesse proclamado a República...
Existem vários defensores de uma cabeça coroada ainda no Brasil, mesmo desconsiderando os adeptos de D. Lula I. Eles diriam que o Brasil seria uma nação ainda mais forte e respeitada, temida pelos argentinos e outros vizinhos, e respeitada pelas potências ocidentais, com Forças Armadas poderosas, prestigiadas desde a Guerra do Paraguai, e um governo estável.
Outros poderiam argumentar: o trono iria para o Conde d'Eu, e isso seria uma catástrofe. Se D. Pedro II morresse naturalmente como monarca, e passasse o trono para o seu genro, tendo Isabel de Bragança como consorte, haveria muito descontentamento, e a família imperial iria para o exílio de qualquer modo.
Já os adeptos do monarquismo não pensariam assim. Alguns diriam que a rainha seria D. Isabel, e o conde d'Eu seria um mero consorte, repetindo a experiência britânica. Os ingleses, escoceses e galeses se curvaram à rainha Elizabeth I no século XVI e à rainha Vitória, contemporânea de D. Pedro II. O problema seria vencer a tradição machista do Brasil. No entanto, a Inglaterra da mesma época ainda negava muitos direitos às mulheres, também. D. Isabel passaria o trono ao seu filho, D. Pedro, que seria coroado como D. Pedro III do Brasil. Isso se as turbulências políticas permitissem.
De qualquer forma, segundo a maioria dos defensores do monarquismo, os Bragança deixariam o governo nas mãos dos primeiros-ministros, embora o Poder Moderador, visto como um ranço absolutista por dar poderes extras ao Imperador, às vezes viria a ser usado. Os brasileiros aprenderiam a não se valer do "jeitinho", e respeitar mais as autoridades. Entretanto, muitos diriam que os brasileiros demorariam mais para exigir seus direitos, já que uma monarquia, segundo eles, tolhe as forças democráticas. Por outro lado, os monarquistas contra-atacam dizendo que até agora muitas nações européias avançadas possuem tronos. A corrupção continuaria a ser uma chaga para o Brasil: não seria escancarada como realmente acontece, porém seria bem mais velada. Nada de "mensalão" ou dinheiro escondido em roupas íntimas, coisa de gente ignóbil, mas os bancos suíços continuariam a ter muito dinheiro guardado de origem brasileira.
Nas comunicações, os Marinho iriam ganhar ainda mais prestígio. Roberto Marinho seria elevado á categoria de Duque de Jacarepaguá. O tão falado monopólio da Rede Globo iria ser ainda mais sólido, sendo uma espécie de Televisa na América do Sul. A cultura brasileira, de qualquer forma, continuaria a produzir a Bossa Nova e o Tropicalismo, embora não as canções de protesto, pois não haveria ditadura militar, na hipótese remota da monarquia sobreviver até os nossos dias. No máximo, letras ousadas pregando a destruição do regime, mandando a realeza para o paredón. Provavelmente as hediondas modas do "sertanejo universitário" e do funk mal cantado não teriam tanto sucesso. O consumo de drogas por artistas - e não artistas - seria um problema de toda forma.
Quanto à economia, há contravérsias. Poderiam apostar na continuação da agropecuária como base da economia, mas a modernização, com o fim dos latifúndios, poderia ser inevitável. Contudo, poderia demorar mais para diminuir a exploração excessiva dos trabalhadores. Movimentos sociais poderiam ser resolvidos na base da força policial, mas provavelmente Sua Majestade teria de agir de modo mais democrático conforme os anos passassem. O petróleo seria, inexoravelmente, descoberto em alguma parte da imensa terra brasileira. Haveria, também, uma industrialização, embora não se saiba até que ponto. Provavelmente não passaríamos por um período de inflação tão galopante causado por aventuras econômicas. Aliás, nem conheceríamos uma moeda chamada Cruzeiro. Talvez o nome da moeda atual sob uma monarquia Bragança teria o nome de... Real.
A Guerra de Canudos poderia ser inevitável, e Antônio Conselheiro, o líder messiânico que dirigiu a cidade baiana desde antes de 1889, não seria visto como um monarquista lunático. Seria simplesmente considerado um "doido furioso" e seus seguidores seriam igualmente massacrados por ordem do imperador (ou da imperatriz). O Brasil não passaria por revoltas como a da Armada, movida pelo descontentamento de setores da Marinha contra o governo militar de Deodoro e Floriano. Talvez relutasse menos em apoiar os americanos contra Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, os Braganças teriam de se preocupar com novas tentativas de emancipação do Rio Grande do Sul.
Quanto às grandes cidades? Elas se desenvolveriam, de toda forma, tanto o Rio de Janeiro quanto São Paulo e outras capitais. Se haveria favelas ou não, é algo difícil de dizer, e isso dependeria de vários fatores pouco mensuráveis, como o empenho do governo em diminuir a miséria, promover obras de infra-estrutura e coibir as ocupações irregulares. A imigração aconteceria de qualquer modo, para "embranquecer" o povo e fornecer mão-de-obra para a agricultura, pois não se cogitaria a volta da escravidão. O racismo continuaria a ser um problema sério.
Por fim, a capital poderia ser, de todo modo, no Planalto Central, mas dificilmente o autor seria Oscar Niemeyer, um comunista de traços ousados demais para o gosto da família real. Possivelmente vão satirizar as cabeças coroadas, apontadas como "os reis do sertão" e ocupantes do "palácio a milhares de quilômetros de lugar nenhum".
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