Os acontecimentos desta semana mostram o Brasil tentando se ajustar à mal-ajambrada condição de país democrático.
Depois de prender os mensaleiros e impor aos chefões da quadrilha um estranho regime semi-aberto com direito a muitas visitas, tratamentos diferenciados para a saúde de José Genoíno negados a outros presos nas mesmas condições dele (ou até piores) e até uma proposta de emprego como gerente em hotel de luxo para o chefão José Dirceu, agora é a vez de resolver alguns problemas.
Um deles é a falta de transparência do Congresso. Parece que muitas votações importantes terão o voto aberto. Se por um lado irá mostrar aos eleitores e à população em geral quem estará a votar em qual proposta, seja ela benéfica ao país ou não, teme-se a interferência do Executivo, sempre presente por aqui. Esta questão é já bem antiga.
Ainda datada, mas nem tanto, é a tentativa de rever a História recente com a Comissão da Verdade, como já foi tratado em uma postagem anterior. Não se espera que séculos de governos opressivos sejam corrigidos com essa atitude, pois não se conserta o passado, apenas se aprende com ele. O país precisa viver o presente e construir o futuro.
Nova, mesmo, é a proposta de rever todos os estragos provocados pelos planos econômicos nas décadas de 1980 e 1990. Os planos Cruzado, Verão, Collor, foram verdadeiros fiascos na tentativa de conter a inflação. Não faltaram esforços dos governos para isso, mas a população sofreu demais com medidas como arrocho salarial, desabastecimento devido a congelamentos artificiais de preços e sequestro de poupança. Porém, toda a reparação custaria caro demais, estimada em R$ 150 bilhões. Todo esse dinheiro, liberado de uma vez, arruinaria todo o trabalho de conter a inflação, finalmente domada em 1994 com o plano Real, o único que surtiu efeitos positivos para a sociedade. Além disso, a reparação envolve todos os bancos, vistos como verdadeiros monstros predadores, implacáveis com o povo. É um dilema que exigirá bastante do STF, responsável por apurar o caso.
Provavelmente, eles vão deixar tudo como está, como fizeram todos os outros países que sofreram planos econômicos radicais como a Argentina da década de 1980 e a Alemanha nos anos 1920 e 1930. Caso contrário, a reparação da injustiça pode causar sérios efeitos colaterais, como o corte de financiamentos e investimentos, aumento brutal da inflação e risco de haver outro plano econômico.
Isso tudo desconsiderando outros problemas que nos impedem de ser uma democracia de fato, como a violência, a persistente desigualdade socio-econômica e a falta de respeito com as leis e com os direitos do povo em geral.
De forma peculiar, com direito a muitos e graves acidentes de percurso, mais do que um país decente poderia suportar, o Brasil continua.
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