segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Getúlio ainda assombra o Brasil

Ontem, completaram-se 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas, um dos governantes mais contravertidos da nossa República. 

Manchete do jornal 'Última Hora', cujo dono foi o getulista Samuel Wainer, a 24 de agosto de 1954

Getúlio até hoje é objeto de debate. Uns o consideram grande estadista, com visão de longo prazo, avesso à corrupção e defensor da industrialização. Outros o odeiam, como ditador, fascista, implantador de métodos de tortura que serviram de modelo para a atuação dos órgãos repressores no regime militar. Teria se suicidado para impor uma derrota aos oposicionistas que queriam derruba-lo, ou como medida desesperada por ver seu poder semi-absoluto ameaçado.

Durante o seu longo mandato, entre 1930 e 1945, conquistado por força de uma revolução e ampliado pelo Estado Novo de 1937, o Brasil mudou radicalmente, de uma nação atrasada com economia basicamente agrária para um país industrializado. Surgiram grandes empresas de base, como a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a Companhia Vale do Rio Doce. Houve avanços na legislação trabalhista, ajustada para suprir as necessidades crescentes de mão-de-obra no setor industrial, mas essa legislação foi impregnada de ideologia fascista e corporativista. Até agora o Brasil se rege por estas regras. 

O Código Penal atual também foi formulado naquela época. Houve uma revisão feita em 1998, mas o ranço fascista ainda não foi totalmente suprimido. Nova proposta está em curso, mas ela foi acusada de aumentar o viés autoritário para compensar a modernização dos costumes e dos pensamentos.

Em seu segundo mandato, quando Getúlio foi eleito, foi criada a Petrobras, ícone de empresa estatal, embora na verdade seja de capital misto (público + privado). A Petrobras atendeu ao desejo de muitos brasileiros pela autossuficiência na produção de petróleo. Agora está sucateada pela má gestão dos petistas. 

Getúlio, na visão de alguns, foi o maior presidente do Brasil, mas para outros foi um dos maiores facínoras. Políticos atuais são comparados com ele, para serem aclamados ou difamados. O ex-presidente Lula foi frequentemente comparado com Getúlio. Partidos ditos 'trabalhistas' (PTB e PDT) gostam ainda de alardear a tal herança getúlista. A prática do populismo, difundida sistematicamente na época do gaúcho de São Borja, ainda é considerada uma praga, assim como o costume de se esperar tudo do governo, que não foi inventado por Getúlio mas foi amplamente praticado em seus dois mandatos. 

Isso acontece porque a base do getulismo continua firme: explorar a miséria e a ignorância da maior parte da população como plataforma política.

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