Ontem, completaram-se 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas, um dos governantes mais contravertidos da nossa República.
Getúlio até hoje é objeto de debate. Uns o consideram grande estadista, com visão de longo prazo, avesso à corrupção e defensor da industrialização. Outros o odeiam, como ditador, fascista, implantador de métodos de tortura que serviram de modelo para a atuação dos órgãos repressores no regime militar. Teria se suicidado para impor uma derrota aos oposicionistas que queriam derruba-lo, ou como medida desesperada por ver seu poder semi-absoluto ameaçado.
Durante
o seu longo mandato, entre 1930 e 1945, conquistado por força de uma
revolução e ampliado pelo Estado Novo de 1937, o Brasil mudou
radicalmente, de uma nação atrasada com economia basicamente agrária
para um país industrializado. Surgiram grandes empresas de base, como a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a Companhia Vale do Rio Doce. Houve avanços na legislação trabalhista,
ajustada para suprir as necessidades crescentes de mão-de-obra no setor
industrial, mas essa legislação foi impregnada de ideologia fascista e
corporativista. Até agora o Brasil se rege por estas regras.
O Código Penal atual também foi formulado naquela época. Houve uma revisão feita em 1998, mas o ranço fascista ainda não foi totalmente suprimido. Nova proposta está em curso, mas ela foi acusada de aumentar o viés autoritário para compensar a modernização dos costumes e dos pensamentos.
Em seu segundo mandato, quando Getúlio foi eleito, foi criada a Petrobras, ícone de empresa estatal, embora na verdade seja de capital misto (público + privado). A Petrobras atendeu ao desejo de muitos brasileiros pela autossuficiência na produção de petróleo. Agora está sucateada pela má gestão dos petistas.
Getúlio, na visão de alguns, foi o maior presidente do Brasil, mas para outros foi um dos maiores facínoras. Políticos atuais são comparados com ele, para serem aclamados ou difamados. O ex-presidente Lula foi frequentemente comparado com Getúlio. Partidos ditos 'trabalhistas' (PTB e PDT) gostam ainda de alardear a tal herança getúlista. A prática do populismo, difundida sistematicamente na época do gaúcho de São Borja, ainda é considerada uma praga, assim como o costume de se esperar tudo do governo, que não foi inventado por Getúlio mas foi amplamente praticado em seus dois mandatos.
Isso acontece porque a base do getulismo continua firme: explorar a miséria e a ignorância da maior parte da população como plataforma política.
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