quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Tratamos muito mal os rios

Por aqui, o Tietê é famoso mundialmente por ser um esgoto a céu aberto, comprometido por décadas de descaso, esgotos não tratados, resíduos industriais, e ser cercado por uma cidade impermeabilizada e sem áreas verdes. Vai ficar desse jeito por décadas, a despeito das pífias tentativas do governo paulista em despoluí-lo. O Tietê é o rio mais poluído do Brasil, e boa parte de sua extensão, de Mogi das Cruzes até Porto Feliz, o torna motivo de vergonha para os paulistas. Infelizmente, não é um caso isolado. 

Em Minas Gerais, o rio Doce ficou ainda mais próximo de ter a qualidade da água parecida com a do Tietê no trecho da Grande São Paulo, devido à terrível catástrofe provocada por negligência das autoridades e descuido da Samarco, a joint-venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, que realizou obras na barragem sem um plano de segurança em caso de acidentes. O resultado é um "tsunami" fluvial que afetou quase todo o rio, além de trabalhadores desaparecidos e moradores mortos. O rio Doce já sofria com o descaso devido aos esgotos sem tratamento e às obras de mineração, que já o tornavam comprometido em toda a sua extensão mesmo décadas antes da calamidade.

Esse rio imundo que banha Colatina, no Espírito Santo, é o Doce. Detalhe: a foto foi tirada muito antes da tragédia em Mariana, em 2001 (Margi Moss/Terra)

Temos ainda o Paraíba do Sul, também vítima da seca anormal dos últimos anos, além dos tradicionais problemas de falta de cuidados, esgotos, ocupação irregular, negligência nas atividades agropecuárias e dejetos industriais, pois o rio passa por várias indústrias na região leste de São Paulo e oeste do Rio (o Vale do Paraíba). 

No Sul, o caso mais grave é o rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, que por décadas sofreu com os esgotos vindos de São Leopoldo e outras cidades. A situação ficou bem pior depois de 2006, quando a poluição causou mortandade de peixes. Este rio gaúcho pode agora ser considerado tão degradado quanto o Tietê. 

Ainda no Sul, o rio Iguaçu é outra vítima da ocupação irregular e sem critérios. Banha boa parte do centro, sul e oeste do Paraná, antes de desaguar no Rio Paraná, na famosa cidade de Foz do Iguaçu. Dejetos e a atividade agropecuária feita sem cuidado provocaram uma poluição crônica no rio, considerado um dos mais sujos do país. 

Outros casos tristes são os rios Ipojuca e Capibaribe, em Pernambuco, o rio Caí, que banha Porto Alegre, e o rio das Velhas, principal formador do maior curso d'água totalmente brasileiro, o São Francisco. Por falar nele, os efeitos da transposição do rio só agora estão começando a aparecer, mas ainda é cedo para dizer se a população local irá ser efetivamente beneficiada. Há registros, apenas, de contaminação das águas, devido ao contato com os esgotos não tratados vindos de regiões anteriormente não banhadas pelo "Velho Chico", e agora são áreas de interligação com outros rios. 

Todos estes e mais milhares de outros sofrem com a falta de planejamento, as licenças ambientais - mal feitas, forjadas ou emperradas pela burocracia - e a péssima educação ambiental recebida por nós, brasileiros, ainda viciados na "arte" de fazer de nossos rios meio de transporte para nosso lixo, fezes e urina. Teme-se que essa lição seja aprendida por nós da pior forma, quando nossos rios se tornarem iguais ao Tietê e ao rio Doce no trecho da pior catástrofe ambiental de Minas Gerais. Será que ainda dá tempo para reverter essa tendência e fazer desse cenário, definitivamente, apenas um sonho ruim?

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