quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Uma tragicomédia chamada "O caso da Cristiane"


Cristiane Brasil, quando ainda tinha as madeixas tingidas de loiro, e seu pai, o líder do PTB Roberto Jefferson (Renato Costa/Folhapress)

Cristiane Brasil, a ainda não ministra do Trabalho, é protagonista de um enredo aparentemente saído de um filme B, ou mesmo daqueles antigos filmes do saudoso Afonso Brazza, o folclórico cineasta brasileiro das películas baratas e histórias ligeiras. 

Por ser filha de Roberto Jefferson, o mensaleiro delator, e ter sido condenada a pagar R$ 60 mil numa dívida trabalhista com um ex-motorista, paga supostamente com o dinheiro de sua assessora, e não dela, ela é um nome rejeitado, mas o governo e, principalmente, o seu partido, o PTB, insistem na sua nomeação. 

O STF, fugindo às suas tarefas cotidianas, resolveu intervir e impediu a posse da ainda não ministra. Desde então, ela procura recorrer, como é o seu direito. Hoje, foi ao STF. O governo também agiu, recorrendo ao STJ.

Enquanto isso, um vídeo foi mostrado: ela, a bordo de uma lancha, defendendo a sua posição e dizendo não saber de nenhuma pendência trabalhista, cercada de uma porção de homens sem camisa, também dizendo abertamente que têm contas a ajustar com a Justiça do Trabalho. Até Roberto Jefferson se irritou, e reclamou com a filha, sem deixar de apoiá-la na luta pelo seu cargo tão desejado.



Esta trama rocambolesca acaba desgastando ainda mais a imagem do governo e atrapalhando votações decisivas para o futuro do Brasil, como a reforma da Previdência. Ela terá um desfecho um dia, quando Cristiane Brasil deixará de ser "não ministra". Quando? Nem os videntes que falaram na virada do ano sabem.

2018 repete maus começos dos últimos anos

O começo de 2018 foi marcado pelo o perigo da febre amarela se tornar uma ameaça nacional, a novela tragicômica envolvendo a Cristiane Brasil (caso a ser abordado neste blog ainda hoje), a condenação em segunda instância do ex-presidente Lula, o dramático caso de uma mulher grávida baleada em Belford Roxo, os tiroteios no Rio de Janeiro e os atentados no Afeganistão que trucidaram centenas de pessoas. 

Não se pode dizer que este ano teve o pior começo. Quase toda essa década começou com pelo menos alguma grande tragédia. 

Em 2011, foram as chuvas torrenciais que devastaram a região serrana do Rio. 

No ano seguinte, não houve grandes tragédias, apesar das tais "profecias maias" exploradas por arautos do apocalipse. 

2013 começou também com acontecimentos desagradáveis, e houve o incêndio na boate Kiss em Santa Maria (Rio Grande do Sul) e toda aquela carnificina, com mais de 240 mortos.

2014, o ano do 8/7, começou tranquilo, sem grandes tragédias, apesar das obras para a famigerada "Copa da Vergonha". Elas estavam quase todas atrasadas, e embora ficassem "prontas" (e mal acabadas) a tempo, o evento foi um fiasco e arruinou a imagem do governo (Dilma) e da Seleção da CBF.

Se 2014 não houve tragédias notáveis em janeiro, 2015 teve um evento terrível, o massacre no Charlie Hebdo, de Paris, onde cartunistas foram assassinados por terroristas do tal "Estado Islâmico", o Daesh, agora a caminho de perder todo o seu território.

2016 foi o ano do impeachment da Dilma e das Olimpíadas no Rio, duas notícias impactantes que não podem ser consideradas um desastre, mas fora isso houve uma sucessão de desgraças que fizeram este ano ser bastante duro. Em janeiro daquele ano "só" houve os atentados em Jacarta e Istambul, além das investidas do Daesh, do Boko Haram e outros grupos terroristas. No Brasil, tudo mais "tranquilo", apesar das tensões políticas e da crise institucional.

O ano de 2017 começou muito pior, com massacres nas cadeias, o acidente de avião que matou o ministro do STF Teori Zavascki e a posse de Donald Trump. 2017 inteiro foi difícil.

E, depois do que aconteceu em janeiro, outros meses não prometem moleza para nós. Aguardemos. 

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Está difícil

Faltando apenas um dia para terminar janeiro, está bastante difícil escolher quem vai receber o selo "Orgulho Nacional". 

Tenho apenas UM candidato. Caso não houver outros bons exemplos, ele será revelado no dia 2. Antes, será revelado quem recebeu o outro selo, o da "Vergonha Nacional". 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Da série 'Marcas famosas desconhecidas no Brasil', parte 7

Aqui no Sudeste, assim como qualquer outro lugar fora do Nordeste, apenas o setor alimentício está acostumado a ouvir o nome da marca M. Dias Branco. 

Esta é a marca associada à M. Dias Branco S.A. - Indústria e Comércio de Alimentos, sediada em Eusébio, Ceará. 



Ela é simplesmente a maior empresa de massas alimentícias do Brasil. Suas marcas comerciais são geralmente encontradas em mercados populares, como as bolachas Zabet e Vitarella, as massas alimentícias Basilar e a margarina Puro Sabor. 

Mas todo o Brasil conhece os produtos Adria, antigamente anunciados até por atores da Globo, como o saudoso Elias Gleiser (em um comercial de 1976 disponível no Youtube). A Adria foi adquirida pelo grupo cearense em 2003. 



Hoje, a Piraquê, famosa empresa de biscoitos sediada no Rio de Janeiro, foi adquirida pela M. Dias Branco, pelo valor de R$ 1,55 bilhão. Os brasileiros, sobretudo cariocas, que vivenciaram os anos 1980 e 1990 (aqui chamados de "oitentólatras" e "noventólatras", respectivamente), certamente se lembram das embalagens. 

Uma das embalagens apreciadas pelos entusiastas dos anos 1980 e 1990. Hoje, a embalagem é bastante diferente

A M. Dias Branco, com a compra da Piraquê, quer aumentar sua presença nos mercados do Sudeste. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Capas das revistas semanais

As revistas semanais, como ocorre em eventos importantes, lançaram capas com o mesmo tema. 

Como era de se esperar, a Veja e a IstoÉ, que fizeram campanhas contra o PT, mostraram um teor mais combativo, e negativo, contra o ex-presidente. A Veja foi, e continua sendo, uma revista odiada pelos simpatizantes de Lula, enquanto a IstoÉ se tornou mais crítica contra ele - e várias outras figuras políticas - nos últimos anos, com capas muitas vezes agressivas. 




Enquanto isso, a CartaCapital, simpatizante do PT, lamentava a condenação de Lula em segunda instância. 



Por fim, a revista Época, acusada pelos governistas de ser militante anti-Temer, foi relativamente equilibrada, mostrando a força de Lula mesmo condenado. A revista, em geral, também mostrou reportagens comprometedoras contra o ex-presidente, entre elas uma referente ao motivo da sentença: o triplex do Guarujá. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Breves do dia e uma boa notícia

1. Mais um Fórum Econômico Global em Davos e o que se destacou foi Donald Trump, novamente. Ele novamente defendeu o lema "A América, primeiro", o que não agradou à maioria dos conferencistas, defensores da globalização. Mais uma vez falou-se em nome da liberdade econômica e combate ao protecionismo, inclusive Michel Temer, que não despertou muito interesse, mas fez o possível para vender a ideia de um Brasil renovado, saindo da recessão econômica após a crise provocada pelo governo Dilma, PT e os quadrilheiros investigados pela Lava Jato (muitos deles integrantes deste governo, como é sabido). Temer já voltou ao Brasil, mas o Forum ainda continua.

2. Lula planejava ir à Etiópia, mas a Polícia Federal o proibiu de sair do país após ter sua pena aumentada na segunda instância, durante o julgamento da última quarta. Ele está realmente mais próximo de ir para a cadeia. 

3. O prefeito de São Paulo João Dória Jr. está em Davos, portanto não pôde participar das festividades pelos 464 anos da cidade. Ele mais falou de Lula, considerando-o politicamente arruinado, do que do município, o que é natural, devido à repercussão do caso. Enquanto isso, houve shows pela cidade, com Anitta, Gilberto Gil, Paula Fernandes e outros, e algumas manifestações insuficientes para perturbarem a normalidade, como as do Movimento Passe Livre. Nada de protestos a favor de Lula ou gente comemorando a nova condenação dele. 

4. Finalmente, uma boa notícia: o Brasil tornou-se integrante da elite entre os inovadores em matemática. O Impa, Instituto de Matemática Pura e Aplicada, informou nesta quinta feira. Mesmo com o contingenciamento de recursos para pesquisa e ciência, o país conseguiu publicar mais artigos científicos. No ano passado, foram 2.349. Contudo, o ensino da disciplina no país ainda tem muito para melhorar, devido ao fraco desempenho dos estudantes nos ensinos fundamental e médio. Com a devida correção nesta falha terrível, haverá ainda mais progresso. A situação mereceu o devido destaque em 2014, quando Arthur Ávila ganhou a medalha Fields por seus trabalhos sobre os sistemas dinâmicos.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Da série 'Tirinhas', parte 5

Clique na imagem para ampliar

N. do A.: Aconteceu tudo o que o PT não queria: a condenação do ex-presidente Lula em segunda instância, pela oitava turma do TRF-4. Aumentaram, ainda, a pena, para 12 anos. Como a decisão foi unânime, diminuiu bastante a margem de manobra da defesa para tentar garantir a candidatura do ex-presidente a um novo mandato, e aumentou a probabilidade do líder do PT ser preso. Felizmente não houve violência nas manifestações a favor ou contra Lula. 

Plantão do Assuntos 1000 (Mais um...)

Enquanto o TRF-4 está decidindo a sorte do ex-presidente Lula, outra decisão judicial repercutiu. O apresentador Zeca Camargo foi condenado a pagar R$ 60 mil ao pai do cantor sertanejo Cristiano Araújo, morto num acidente em 2015, e ao empresário dele. 

A sentença: ele foi enquadrado por "ofensa" à família do cantor, desrespeitando a comoção causada pela tragédia que o vitimou. 

O fato: ele expressou a sua opinião por não entender como pessoas que não conheciam o cantor estavam chorando pela morte dele; ele lamentava a falta de ídolos e referia-se a Cristiano como "tão famoso e tão desconhecido". 

Não é nenhuma ofensa à memória do cantor. Apenas uma opinião de alguém, nada mais. Infeliz e sem tato, mas não tinha a finalidade de difamar a memória de alguém morto tão cedo, numa forma tão brutal e, ao mesmo tempo, estúpida. Acidentes de trânsito ceifam milhares de vítimas todos os meses, famosas ou não. 

Este é mais um caso de sentença questionável, onde os juízes não se prenderam aos fatos. Quem tem a responsabilidade de julgar deve considerar as provas, e sua interpretação deve se ater à legislação vigente e aos fatos, não meramente à comoção provocada por eles ou a certos fatores, como poderio econômico, influência política ou o fato da vítima (ou o acusado) ser famosa. Isso vale no caso de Zeca Camargo ou de Lula, ou de qualquer outro réu.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Ao invés de narrar

Amanhã, este blog vai lançar uma tirinha sobre o desfecho da decisão do TRF-4, em Porto Alegre, independentemente do resultado. 

Coxinhas, mortadelas e outros petiscos intragáveis (inclusive os isentões, que chegam a ser ainda mais indigestos, principalmente quando se dizem apolíticos julgando-se acima da "ralé"), aguardem. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Enquanto o julgamento do ano não acontece

Nesta semana, o TRF-4, em Porto Alegre, vai julgar o ex-presidente Lula em segunda instância, por uma das acusações contra ele: a de ser o dono do triplex em Guarujá, recebido como propina da OAS, uma das principais investigadas pela Operação Lava Jato. 

Basta confirmar a sentença dada por Sérgio Moro e a candidatura Lula se torna irregular, pois ele passa a ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa, mesmo que a prisão não venha tão cedo. Caso o ex-presidente ainda insista, o risco de impugnação é considerável, e para o PT restam dois caminhos: expor Lula como mártir e investir para valer na tese do "golpe", ou escolher outro candidato. Os mais aguerridos apostam todas as suas fichas na primeira alternativa, a mais arriscada para o futuro do país - e do próprio PT. Enquanto isso, os militantes pró e contra Lula se manifestam, como torcidas organizadas: de um lado, a santificação do "pai dos pobres", de outro, a demonização da "jararaca". 

Enquanto isso, o presidente Michel Temer está empenhado na reforma da Previdência, cuja resistência é grande, principalmente entre os funcionários públicos, principais afetados pela decisão do Congresso. Temer, por enquanto, não consegue emplacar Cristiane Brasil, a filha de Roberto Jefferson, como ministra do Trabalho, por decisão do STF, que ainda vai avaliar se a nomeação fere princípios legais - e a nomeação por critérios meramente políticos é perfeitamente legal (e feita em toda parte do mundo), embora inaceitável e demasiado aética para muitos.

Por falar em dificuldades, outro presidente, dos Estados Unidos, Donald Trump, conseguiu a proeza de não conseguir aprovação do Orçamento, mesmo com os republicanos formando maioria nas duas casas do Capitólio. Como resultado, houve o shutdown, a paralisação de serviços não essenciais, para não haver comprometimento de um Orçamento ainda não aprovado. A pendenga aconteceu por causa da questão dos filhos de imigrantes ilegais nascidos por aqui, os chamados dreamers ("sonhadores"). E o governo Trump completou um ano no último sábado.


N. do A.: Com tantas questões mais importantes, poucos ficaram sabendo que os brasileiros Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin estavam entre os campeões do rali Dakar, que terminou ontem. Eles venceram a prova na categoria UTV, pequenos veículos off-road com quatro rodas, versões aperfeiçoadas e mais reforçadas dos quadriciclos. 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Já temos um forte candidato ao selo de janeiro

Neste ano haverá dois tipos de selo. Um deles ainda não tem um candidato certo. 

 
Este selo é destinado a quem merece a admiração dos brasileiros.

O outro, destinado a apontar para quem merece as manifestações contrárias, já tem um forte candidato. Obviamente, o responsável pelo atropelamento em Copacabana, ferindo 16 pessoas e matando um bebê. Não se trata de criminalizar alguém que teve uma crise gliscróide, como portador de epilepsia, mas de lamentar os efeitos dessa crise mal tratada. 

É este aqui, já utilizado em 2017: 


O ex-governador do Rio Sérgio Cabral, transferido do Rio para Curitiba em situação degradante (algemado pelas mãos e pelos pés, como se fosse um escravo), é condenado pela Justiça, sendo portanto isento do selo da "Vergonha". O outro selo não pode nem mesmo ser cogitado para ele, evidentemente. Quem mandou algemá-lo daquela maneira, porém, definitivamente não é nenhum "orgulho nacional" porque numa democracia não se trata preso algum desse jeito: nem Fernandinho Beira-Mar foi tratado assim.

Também o presidente Temer, por ser hors concours, não pode ser selado de forma alguma, nem se fizer algo mais nobre do que entregar um projeto de privatização da Eletrobras (se houver bom gerenciamento, beneficiará o país), nem algo mais ignóbil do que responder perguntas da Polícia Federal por suspeita de corrupção relacionada ao Quadrilhão (ex-Petrolão) e ao ex-deputado e ex-assessor Rodrigo Rocha Loures (leia AQUI para as perguntas e as respostas).

E, não querendo ser repetitivo (mas sendo) falta ainda avaliar quem merece levar o selo do "Orgulho", neste mês.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Eleições não animam

As eleições para 2018 são uma oportunidade para o Brasil escolher os candidatos certos para acelerar o processo de melhoria da nossa condição, de um imenso território escravizado pelo atraso e pela ignorância para um lugar mais justo com menos corrupção e mais oportunidades para todos. 

Não se pode dizer que o panorama ajuda. Este país ainda é uma vítima em potencial dos demagogos e populistas, como o ex-presidente Lula e o "ídolo da direita" Jair Bolsonaro. Contra isso existem outros, tão carismáticos como ovo de galinha na época da Páscoa, como Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin, cujos perfis, no entanto, seriam mais próximos do liberalismo. Existem ainda quem defenda a candidatura de Luciano Huck ou outros outsiders, julgando que o Brasil está tomado por uma espécie de "aumento da entropia social", termo alternativo para outros mais agressivos: anarquia, anomia, bagunça, desordem, etc. 

Precisamos ainda nos conscientizar da importância de se escolher deputados e senadores realmente sintonizados com as exigências dos eleitores, pois eles não vão ocupar cargos menores. Eles representarão o Congresso, e o repertório de notícias a respeito dele, desde a redemocratização, é farto em exemplos de sua importância. E ainda continuamos a negligenciar isso. Seria mais fácil e eficiente se o sistema eleitoral fosse outro, distrital misto e não proporcional, para melhorar a representatividade, mas a situação atual não justifica uma visão fatalista, como achar que eles vão continuar a dilapidar avidamente o NOSSO DINHEIRO.  

Até mesmo a repercussão para os cargos de governador é chocha demais, mostrando novamente a nossa república centralizadora com um federalismo de araque. Quem está mais próximo de nós para resolver nossos problemas, em teoria, são os governadores dos Estados, e não o presidente da República. Estamos ainda com a velha mentalidade da ditadura militar e seus governadores subservientes, quando não impostos por Brasília no tempo dos "biônicos". 

Precisamos apoiar os esforços para debelar a corrupção em nosso país, mas isso não bastará se continuar a estrutura do poder, os privilégios, os relacionamentos de compadrio e a visão patrimonialista, confundindo o patrimônio público, que é de todos, com algo potencialmente a ser usado a bel-prazer de governantes. Isso não dependerá da vontade de um suposto "salvador da pátria" e sim de nós, os eleitores do Brasil.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Da série 'Noventolatria', parte 12 - Comerciais inviáveis atualmente

Os anos 90 tinham muita coisa duvidosa, como qualquer outra época, e mesmo assim possuem muitos seguidores. Nesta década, a noção de "politicamente correto" era incipiente, e por aqui só começou a ser aceita a partir de 1995, sem ditar normas informais de comportamento como agora. 

Naquela época os comerciais estavam infestados de cigarros, mas a diferença em relação aos anos 80 e anteriores era a presença do anúncio obrigatório: "O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde". Também havia muitos comerciais de bebidas alcoolicas mesmo em horários destinados às crianças, sem falar nas propagandas picantes, com nudez e sexo, principalmente no começo da década, de tal forma a merecer até um amplo debate sobre o controle do conteúdo na TV, com muitos temendo a volta da censura, posta fora da lei no final da década anterior com a Constituição de 1988. Também havia muita propaganda infantil, inclusive mostrando crianças se comportando de maneira inadequada.

Eis algumas pérolas: 

 
Comercial da Garoto (1995), marca famosa pelos chocolates, mostrando crianças sexualizadas


Outro comercial da marca (c. 1990), empregando hipnose para consumir o produto Batom; seria considerada uma tentativa de "lavagem cerebral", além de usar crianças

Este comercial de 1992 já irritava na época, mostrando um moleque para lá de chato dizendo "eu tenho, você não tem!", para vender as tesouras do Mickey. 

Para encerrar a parte de propagandas com crianças, algo bastante difícil de fazer hoje em dia, um comercial de sandálias da Xuxa (c. 1994), com meninas dizendo frases próprias de estrelas pornô

Ninguém reclamava, na época, de mulheres objeto; a agora sumida Virgínia Nowicki fez um comercial de sucesso em 1991, mas realmente um produto de seu tempo

Ainda existia um vídeo com a atriz Mônica Carvalho, que apareceu nua na abertura de uma novela das 6 (!!!), Mulheres de Areia; o comercial de 1993 foi veiculado até em horários impróprios; é o primeiro comercial que aparece neste intervalo do Festival Primavera, da Globo.

Por falar em comercial de ducha, a cantora Sula Miranda foi a estrela deste reclame, contemporâneo daquele feito pela Mônica Carvalho, também veiculado, às vezes, em horários acessíveis às crianças. 

Num cinema, um cara sem noção gritava para a imagem do galã do filme: "Dá-lhe Dallas logo aí, pô!"; a marca era de cigarros, muito popular em 1995. 

Já no final dos anos 1990, mais uma marca de chocolate, a Tortuguita, da Arcor, que seria considerada excessivamente agressiva. 

Por falar em tartarugas, o jabuti da Brahma apareceu em 1999, fez sucesso, e poderia ser considerado atraente para as crianças, mas como é um comercial de cerveja...

 Nos comerciais dos anos 90, os "brancos" ainda eram hegemônicos, e outras etnias apareciam de forma caricata, como no comercial do sabão Quanto (1992) com o dono da lavanderia Toshiro. Atualmente, isso seria visto como racismo.

Na mesma época, havia um anúncio de um negro contando piadas "de preto", lembrando o caso do jornalista William Waack, perseguido atualmente pelo atual establishment; o anúncio terminava com o homem, com semblante sério, dizendo que é piada não haver racismo no Brasil, e concluindo com a frase "Boa essa, né?". Infelizmente, é difícil encontrar esse vídeo no Youtube.


Nenhum desses comerciais seria aceito nestes tempos atuais, mas de vez em quanto é possível notar um ou outro reclame, como um da operadora Vivo, bastante frequente na Globo, onde um garoto era chamado de "tampinha", gíria usada antigamente para uma pessoa de estatura muito baixa.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Da série 'Mondo Cane', parte 51

Outra vez tenho que escrever algo sobre o Mondo Cane. Essa série terá vida longa. 

Desta vez, foi por culpa de um acontecimento na Califórnia, Estados Unidos. Não foi culpa do presidente Trump ou das fake news, e sim de um casal psicótico que manteve cativos seus 13 filhos. 

Esta história felizmente teve um desfecho, os criminosos foram presos e as vítimas foram libertadas. O escândalo teve repercussão mundial. É curioso isso acontecer em território da maior potência mundial, apesar do grande apreço dos americanos pelo respeito à privacidade alheia. Também é terrível constatar como eles conseguiram manter a farsa por tanto tempo, ainda mais porque utilizaram as redes sociais para mostrarem imagens de uma família supostamente harmoniosa.

Foto exibida em 2016 mostrando a farsa montada pelo casal para simular uma família harmoniosa (David Allen/Louise Turpin/Facebook)

David Allen e Louise Turpin, presos por torturarem seus próprios filhos (Getty Images)

Para saber mais desta história, clique AQUI e AQUI (em inglês).

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Quando discussões ideológicas são descabidas

Existem situações onde a abordagem de fatos deve prescindir de elementos que podem resultar em digressão. Uma delas é a cobertura de crimes. 

Ontem, a carreta com equipamentos de Caetano Veloso foi roubada quando se deslocava da Bahia para um show no Rio de Janeiro. Foram roubados figurinos, tecidos, equipamentos e instrumentos musicais, entre os quais um teclado da marca Rhodes e um violoncelo. 

Qualquer alusão à orientação ideológica de Caetano Veloso é desnecessária e não ajuda em nada a solucionar o roubo. Todos estamos sujeitos a esse tipo de violência, não importa a ideologia. Também a divulgação de boatos (as famigeradas "fake news") a respeito é descabida e inoportuna.

Cabe à polícia e à Justiça encontrar os equipamentos e prender os ladrões. Quem puder fornecer informações, pode, por exemplo, acionar o Disque Denúncia.

Publicação de Caetano Veloso no Facebook aludindo ao roubo sofrido ontem, dia 14

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Da série 'Tirinhas', parte 4

Clique na tirinha para ampliar (ainda mais) a língua do presidente Trump


quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Novela do momento tem muitas ambições

A Globo continua a ser a referência em termos de novelas, um gênero que já teve dias melhores, mas ainda com admiradores no país. Mostrou isso em 2017, principalmente com o folhetim das nove A Força do Querer. Neste ano, o folhetim a ser potencialmente comentado, para o bem ou para o mal, é a recém-lançada trama das sete, Deus Salve o Rei

Cenários aparentemente caprichados, uso intensivo da computação gráfica para criar uma atmosfera medieval e - até agora - um texto palatável feito pelo pouco conhecido Daniel Adjafre, com direção de Fabrício Mamberti (Chocolate com Pimenta), não escondem as intenções da "Vênus Plastificada". Ela quer atrair os fãs de seriados como Game of Thrones, pois a atmosfera é superficialmente parecida e os figurinos lembram os daquela série, embora esteja muito longe da sofisticação, malícia  (em todos os sentidos, principalmente nas intrigas e na sensualidade) e violência, pois o horário não permite. Quer repetir outra trama de época, de muito sucesso, a setecentista Que Rei Sou Eu, em um horário destinado às comédias românticas contemporâneas, mas sem sátira política. Quer fazer os usuários de redes sociais comentarem a história, em tempos onde a televisão, principalmente os canais abertos, não atrai o público mais jovem. Tem a intenção de agradar àqueles que gostam de mulheres fortes e decididas (mesmo numa época onde elas eram forçadas à submissão), como a mocinha vivida por Marina Ruy Barbosa, a princesa vilã de Artena, interpretada por Bruna Marquezine, e a rainha de Montemor da veterana Rosamaria Murtinho. 

A plebeia de Artena, Amália, é considerada a protagonista de Deus Salve o Rei (Globo/João Miguel Jr.)

Um aspecto bastante comentado é a atuação, ainda considerada um tanto teatral, sem a naturalidade exigida pela Globo. Atores veteranos são, como se nota na maior parte das novelas da emissora, uma franca minoria, como Marco Nanini, o compassivo rei de Artena. A maior parte do elenco é formada por jovens, e eles sofrem um pouco com a trama - uma das exceções é Johnny Massaro, que vive o irresponsável e leviano Rodolfo, príncipe de Montemor. 

Curiosamente, Deus Salve o Rei tem mais um paralelo com Que Rei Sou Eu: além de serem produções não-contemporâneas e se passarem em lugares totalmente ficcionais como Montemor, Artena e Avilan (um lugar onde se misturam costumes franceses e brasileiros), são transmitidas em anos de eleição presidencial. A trama de 1989 feita por Cassiano Gabus Mendes foi acusada de influenciar nas decisões dos eleitores, por mostrar um jovem, Jean Pierre, em combate contra a velha política de Avilan, dominada pela corrupção e tráfico de influência, uma alusão a Fernando Collor contra o governo Sarney. Pagamos até agora por isso. Por outro lado, apesar do título que remete ao absolutismo monárquico, considerado execrável em nosso tempo, a novela de 2018 não é nem de longe tão politizada, mas alfinetadas contra a situação atual podem ainda surgir. 

Aparentemente, as intenções grandiosas mostram ser difíceis de serem atingidas, pois se no primeiro capítulo a audiência foi animadora, de 27 pontos no Rio e 29 pontos em São Paulo, no segundo o Ibope foi mais modesto na capital paulista: 27 pontos, embora no Rio tivesse aumentado. No capítulo de hoje, houve uma queda, para 25 pontos, segundo dados preliminares. 



N. do A,: Hoje, o Brasil foi punido pela agência de classificação de risco S&P, que rebaixou a nota, já medíocre, de BB para BB-, com perspectiva estável. Apesar das melhorias na economia em relação ao governo Dilma, o Congresso não se empenhou em aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para o controle de gastos públicos, e resistiu às pressões do presidente Temer e do ministro Henrique Meirelles, por entender que a reforma é impopular, sobretudo entre o funcionalismo público. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Inflação de 2017 e algumas breves considerações

Devido à queda do preço dos alimentos básicos, que compensou os aumentos nos combustíveis, gás de cozinha, tarifas de energia e planos de saude, a inflação do ano passado ficou em 2,95% pelo indice oficial (IPCA), abaixo até do piso imposto pelo Banco Central, que é de 3%. 

É certamente um grande trunfo do governo Temer e isso certamente será explorado pelos aliados e eventuais candidatos situacionistas. Também ficará mais difícil para os adversários, que deverão explorar outros temas: os mais alinhados com o conservadorismo ainda apontam o gigantismo estatal, os defensores da Lava-Jato continuarão a dizer que este governo é dominado pelos corruptos, e os partidários de Lula e Dilma, também apontados como os principais responsáveis pela deterioração moral de um governo antes já muito longe da austeridade ética, provavelmente vão atacar as reformas trabalhista e previdenciária, além de manter a tese do "golpe". 

O índice de 2,95% é o segundo menor da era do Real, marcado pelo controle da hiperinflação. Ou seja, um dos menores da História. É comparável somente ao índice obtido em 1998 (1,66%), o menor da história recente, mas também ao patamar de 2006 (3,14%).

Vale registrar que os maiores responsáveis por esse índice baixo da inflação, os alimentos, estarem em um patamar muito alto nos últimos anos, principalmente em 2015, quando a taxa de corrosão no valor do Real ultrapassou os 10%.

Abaixo, os indices de inflação oficiais desde 1998, de acordo com os dados do BC e do IBGE:

 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Grandes contrastes

Em Las Vegas, começou a CES 2018, reunindo inovações do século XXI, como a tecnologia 5G para a telefonia, eletrodomésticos inteligentes baseados em IoT (Internet of Things), malas programáveis para irem sozinhas até seus donos e robôs. É certo que a apresentação de um deles, o CLOi, da LG, foi um fiasco, pois o robô se recusava a atender às ordens, mas tudo o mais aponta para um caminho irreversível, rumo ao futuro. Para ler mais, clique no site oficial do evento AQUI

Por outro lado, no Brasil, mesmo no Estado de São Paulo, convivemos com uma doença típica do século XIX, a febre amarela silvestre. Novas mortes ocorreram por esta doença causada pelo mosquito Heamagogus, em Mairiporã, a poucos quilômetros da maior metrópole brasileira. Macacos também foram mortos pela doença, e os sobreviventes, por profunda ignorância, chegaram a ser perseguidos, como se eles fossem os responsáveis, e não os mosquitos. Devastar áreas silvestres piora o problema, pois os mosquitos passam a atacar O risco pode se tornar maior quando atingir áreas urbanas, e neste caso o vetor passa a ser o conhecido Aedes, transmissor da dengue, zika, chikungunya e outras ameaças à saúde humana. O Ministério de Saúde, em caráter emergencial, irá impor a vacinação fracionada, em doses menores, para maior rendimento dos estoques. A grande desvantagem é o período de imunização: as doses não fracionadas oferecem imunidade permanante, enquanto as fracionadas só protegem por oito anos. 

Enquanto o mundo desenvolvido mostra o futuro, nosso país mostra características do atraso típico do passado.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

2018 começa com tudo

Este blog, após uma semana de inatividade, ainda está em ritmo de férias (agravado por problemas técnicos na Internet durante este periodo) e vai postar textos mais curtos na segunda semana de 2018, que promete ser intenso no bom e no mau sentido, mas não tanto como foram 2016 e 2017. 

Aconteceram: 

- tragédias como a do menino morto por bala perdida no Réveillon; 

- atos escandalosos feitos pelos políticos, como o acordo entre Rodrigo Maia e Henrique Meirelles para tentar burlar a Lei da Responsabilidade Fiscal em pleno ano eleitoral (ou seja, querem gastar mais o NOSSO DINHEIRO) e visto naturalmente com grande interesse pelos candidatos e seus correligionários; 

- atividades dos advogados de Maluf para soltá-lo da prisão, de Lula para enfrentar a decisão de julgá-lo em segundo instância no dia 24 deste mês, de Bolsonaro para defendê-lo das acusações de enriquecimento ilícito feitas pela imprensa, e dos investigados pela Polícia Federal;

- a posse de Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, como ministra do Trabalho; ela já foi condenada por ação trabalhista a pagar R$ 60 mil, algo considerado bastante ameno em tempo de crimes ignominiosos e hediondos cometidos por pessoas públicas, como fez o suplente da atual ministra, Nelson Nahim, irmão de Anthony Garotinho e condenado por estupro e exploração sexual de meninas; 

- o sistema judicial voltou a mostrar sua falência, com a luta pelo poder entre facções criminosas em cadeia de Aparecida de Goiânia, resultando em mortes e decapitações, e a greve de policiais no Rio Grande do Norte que ameaça a segurança pública naquele Estado;

- o evento do Globo de Ouro, marcado menos pelos filmes e séries premiados e mais pela atitude contra os abusos sexuais, apoiado por muitas atrizes de Hollywood e pela influente apresentadora Oprah Winfrey; 

- o início de eventos esportivos, como o Rali Dakar (novamente na América do Sul e sem a mesma repercussão de quando as edições eram feitas em solo africano) e a Copa São Paulo de Futebol Jr.;

- no mercado da bola, o Barcelona pagou uma fortuna ao Liverpool (130 milhões de ouro) para ter o meia Philippe Coutinho, da Seleção, e muitos veem isso como uma extravagância em tempo de jogadores supervalorizados; 

- o começo das cobranças no IPVA e no seguro obrigatório de veículos; logo teremos IPTU, material escolar, matrículas...

- já entra em vigor a nova tarifa de ônibus em São Paulo, agora valendo R$ 4,00; 

- finalmente, para quem quer notícias mais amenas (e gosta de nerdices), um funcionário público do Tennessee (Estados Unidos) descobriu o maior número primo conhecido, com mais de 23 milhões de dígitos; números primos são aqueles que são divisíveis apenas por 1 e por eles próprios, entre os números inteiros maiores que zero (ou números naturais).