A Globo continua a ser a referência em termos de novelas, um gênero que já teve dias melhores, mas ainda com admiradores no país. Mostrou isso em 2017, principalmente com o folhetim das nove A Força do Querer. Neste ano, o folhetim a ser potencialmente comentado, para o bem ou para o mal, é a recém-lançada trama das sete, Deus Salve o Rei.
Cenários aparentemente caprichados, uso intensivo da computação gráfica para criar uma atmosfera medieval e - até agora - um texto palatável feito pelo pouco conhecido Daniel Adjafre, com direção de Fabrício Mamberti (Chocolate com Pimenta), não escondem as intenções da "Vênus Plastificada". Ela quer atrair os fãs de seriados como Game of Thrones, pois a atmosfera é superficialmente parecida e os figurinos lembram os daquela série, embora esteja muito longe da sofisticação, malícia (em todos os sentidos, principalmente nas intrigas e na sensualidade) e violência, pois o horário não permite. Quer repetir outra trama de época, de muito sucesso, a setecentista Que Rei Sou Eu, em um horário destinado às comédias românticas contemporâneas, mas sem sátira política. Quer fazer os usuários de redes sociais comentarem a história, em tempos onde a televisão, principalmente os canais abertos, não atrai o público mais jovem. Tem a intenção de agradar àqueles que gostam de mulheres fortes e decididas (mesmo numa época onde elas eram forçadas à submissão), como a mocinha vivida por Marina Ruy Barbosa, a princesa vilã de Artena, interpretada por Bruna Marquezine, e a rainha de Montemor da veterana Rosamaria Murtinho.
A plebeia de Artena, Amália, é considerada a protagonista de Deus Salve o Rei (Globo/João Miguel Jr.) |
Um aspecto bastante comentado é a atuação, ainda considerada um tanto teatral, sem a naturalidade exigida pela Globo. Atores veteranos são, como se nota na maior parte das novelas da emissora, uma franca minoria, como Marco Nanini, o compassivo rei de Artena. A maior parte do elenco é formada por jovens, e eles sofrem um pouco com a trama - uma das exceções é Johnny Massaro, que vive o irresponsável e leviano Rodolfo, príncipe de Montemor.
Curiosamente, Deus Salve o Rei tem mais um paralelo com Que Rei Sou Eu: além de serem produções não-contemporâneas e se passarem em lugares totalmente ficcionais como Montemor, Artena e Avilan (um lugar onde se misturam costumes franceses e brasileiros), são transmitidas em anos de eleição presidencial. A trama de 1989 feita por Cassiano Gabus Mendes foi acusada de influenciar nas decisões dos eleitores, por mostrar um jovem, Jean Pierre, em combate contra a velha política de Avilan, dominada pela corrupção e tráfico de influência, uma alusão a Fernando Collor contra o governo Sarney. Pagamos até agora por isso. Por outro lado, apesar do título que remete ao absolutismo monárquico, considerado execrável em nosso tempo, a novela de 2018 não é nem de longe tão politizada, mas alfinetadas contra a situação atual podem ainda surgir.
Aparentemente, as intenções grandiosas mostram ser difíceis de serem atingidas, pois se no primeiro capítulo a audiência foi animadora, de 27 pontos no Rio e 29 pontos em São Paulo, no segundo o Ibope foi mais modesto na capital paulista: 27 pontos, embora no Rio tivesse aumentado. No capítulo de hoje, houve uma queda, para 25 pontos, segundo dados preliminares.
N. do A,: Hoje, o Brasil foi punido pela agência de classificação de risco S&P, que rebaixou a nota, já medíocre, de BB para BB-, com perspectiva estável. Apesar das melhorias na economia em relação ao governo Dilma, o Congresso não se empenhou em aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para o controle de gastos públicos, e resistiu às pressões do presidente Temer e do ministro Henrique Meirelles, por entender que a reforma é impopular, sobretudo entre o funcionalismo público.
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