O presidente do STF Luiz Fux, ao iniciar seu mandato no ano passado, prometeu "desmonocratizar" o STF, após os nefastos acontecimentos envolvendo decisão de Marco Aurélio Mello e o traficante "André do Rap", solto e agora foragido da Justiça, em outubro passado. A tomada de decisões monocráticas, feitas por apenas um dos membros, continua a deixar ainda menos normal a rotina de um país acostumado às disfuncionalidades, longe de um regime republicano mais maduro.
Ontem à noite o ministro Alexandre de Moraes mandou prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), ex-policial conhecido entre seus pares por seu comportamento truculento, por declarações hediondas defendendo o AI-5 e agressões aos membros da Corte. Mesmo repulsivas, inaceitáveis e irresponsáveis, as palavras do deputado não deixam de ser uma opinião, e ninguém pode ser preso por isso. Por outro lado, o colega Luís Roberto Barroso permitiu a volta à atividade parlamentar do senador Chico Rodrigues, aquele dos R$ 30 mil na cueca.
São dois exemplos de decisões relacionadas a parlamentares, membros de outro Poder, mas há outras atingindo o Poder Executivo, as unidades de federação, os cidadãos comuns e os sentenciados por instâncias inferiores da Justiça. Não há paralelo em outros países relevantes no mundo.
Pode-se questionar o grau de interesse de Fux em fazer o STF tomar decisões colegiadas, para diminuir a interferência da Corte na vida conturbada do país, mas há resistência dos colegas em abandonar essas práticas, exercidas há muito tempo mas só recentemente ganharam a devida atenção na sociedade em geral e não apenas entre os poderosos.
Contudo, a prisão do deputado bolsonarista ainda fez a opinião pública discutir menos o modus operandi do STF e mais a polarização política, entre apoiadores e opositores ao presidente Jair Bolsonaro. Este já há muito se incomodava com os procedimentos do STF, chegando a exigir as decisões colegiadas junto aos seus acólitos naquela declaração do "acabou, p*##a", mas agora não se pronuncia sobre isso, preferindo alardear as "vantagens" de alterar a legislação sobre os armamentos com seus decretos.
Decisões monocráticas são exemplos de abuso do poder no Brasil, e acabam dando holofotes imerecidos aos seus alvos.
Há meios legais para exigir que o Supremo tome menos decisões baseadas em vaidades pessoais e afirmações de autoridade pessoal, e passe a se preocupar mais com a harmonia entre os Poderes (isso vale para congressistas e o presidente, também). Porém, adotar esses meios exige menor uso do fígado para as tarefas próprias do cérebro.
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