segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Petrobras volta a sofrer nas mãos do governo

Antes, a Petrobras, considerada um orgulho nacional por muitos brasileiros, particularmente os nacionalistas, havia sido dilapidada pelo governo petista, durante a vigência do chamado "Quadrilhão" ou "Petrolão", enquanto eram realizadas políticas equivocadas onde o preço dos combustíveis não seguia a realidade do mercado. Como resultado disso, a estatal do petróleo foi arruinada. 

Depois do impeachment, a Petrobras recuperou-se e houve incremento na extração do petróleo e gás natural, mas os preços passaram a seguir a cotação em dólar. De acordo com o site da Petrobras: 

"Os preços para a gasolina e o diesel vendidos às distribuidoras tem como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais destes produtos mais os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias, por exemplo. A paridade é necessária porque o mercado brasileiro de combustíveis é aberto à livre concorrência, dando às distribuidoras a alternativa de importar os produtos. Além disso, o preço considera uma margem que cobre os riscos (como volatilidade do câmbio e dos preços)."

O cenário é um pouco mais complicado do que muitos pensam. O Brasil é quase autossuficiente em petróleo, mas não utiliza seu potencial para refiná-lo plenamente e precisa importar gasolina e diesel, enquanto exporta o petróleo cru. Uma parte desses produtos vem de fora, devido a problemas na quantidade (e qualidade) refinada por aqui. Além disso, parte da gasolina contém álcool, cuja dinâmica de preços segue outros fatores, como a sazonalidade na safra de cana-de-açúcar. Não justifica, portanto, atrelar todo o combustível consumido ao dólar como se todo ele fosse importado. 

Roberto Castello Branco foi demitido do cargo que ocupava desde final de 2018 (Divulgação)

Recentemente, a Petrobras voltou a sofrer com o governo Bolsonaro. O presidente, como boa parte dos brasileiros, acha a gasolina e o diesel muito caros, ainda mais depois dos frequentes aumentos. Para "corrigir" isso, Bolsonaro usou um recurso já muito conhecido: fez uma intervenção direta na diretoria e demitiu o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, para colocar o general Joaquim Silva e Luna. Como pretexto, além da política de preços, está o salário do executivo, considerado muito alto enquanto ele estava em home office devido à pandemia de COVID-19. Aliás, o salário da alta cúpula sofreu aumento em plena pandemia, quando a situação exigia sacrifícios e muitos trabalhadores perdiam seus empregos ou tinham seus vencimentos reduzidos. 

Por causa da intervenção, Bolsonaro foi comparado ao ditador venezuelano Nicolas Maduro e outros governantes populistas, e acusado de tirar de vez o verniz liberal do governo - algo posto em dúvida desde o começo do mandato. Isto provocou intensa especulação, com as ações da Petrobras derretendo mais de 20%, o dólar e o risco país (atualmente em 186 pontos, 14% a mais em relação à semana passada) aumentando fortemente. 

Para muitos, a saída é privatizar a Petrobras, embora muitos políticos, principalmente os apoiadores dos governos anteriores - entre eles os que se beneficiaram da sangria causada pelo "Petrolão" - não queiram nem ouvir falar. Em tese, isso significa deixar de sustentar uma gigante cara de manter, além de atrair capital estrangeiro para aumentar a exploração e o refino do nosso petróleo, com custos menores e a possibilidade de fazer cada abastecimento nos postos doer menos no bolso. Por outro lado, há o temor de vender a estatal a preço aviltante ou gerar demissões e desemprego, além de outras consequências ainda no terreno da especulação, como paralisar as pesquisas de novas áreas do pré-sal ou aumentar o risco ambiental durante a prospecção ou o transporte do petróleo. 

E o consumidor, vítima maior dessa bagunça? Continuará a justificar a velha máxima de Horácio, o poeta romano da Antiguidade: "Quidquid delirant reges, plectuntur Achivi" (Quanto mais os reis deliram, mais os gregos são açoitados).

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