terça-feira, 6 de julho de 2021

Primeira versão "live-action" da Liga da Justiça

Fazer a Liga da Justiça com atores de carne e osso não foi, historicamente, uma tarefa grata. Mesmo o mais recente filme, A Liga da Justiça (de Zack Snyder), passou por anos de concepção até ficar pronto, e ainda assim não ficou isento de críticas. Seu índice Rotten Tomatoes é de 75%.

Uma primeira versão do grupo formado por heróis da DC Comics com atores reais foi feita em 1979, pela Hanna Barbera, a mesma empresa responsável pelo desenho Superamigos, aquele onde a Mulher Maravilha voava no jato invisível e havia o narrador a falar "Enquanto isso, na Sala de Justiça...". O programa se chamava Legends of the Superheroes. Fizeram dois episódios em estilo besteirol para testar a aceitação do público. A resposta foi o devido esquecimento. 

Na época, havia o sucesso representado pela franquia Superamigos, principalmente no ano anterior, quando houve a terceira temporada, aquela consagrada pelo público fã dos quadrinhos por reunir o maior grupo de vilões visto em um cartoon até então, a Legião do Mal, liderada por Lex Luthor e com outros doze facínoras metidos dentro da sinistra Nave da Destruição (inspirada no capacete de Darth Vader). A versão live-action tinha pouca coisa desse grupo, limitando-se a Sinestro, Solomon Grundy, Giganta e o Charada, vivido pelo mesmo ator que fez o personagem no antológico seriado do Batman em 1966, Frank Gorshin. Este último deve ter se arrependido de participar, pois só esteve no primeiro dos dois episódios. Os demais vilões eram Mordru (supervilão futurista inimigo da Legião dos Super Heróis, grupo do século XXX raramente visto fora dos quadrinhos), o Dr. Silvana (cientista louco, inimigo de Shazam, então chamado de Capitão Marvel) e o Mago do Clima (inimigo do superveloz Flash). 

Os super heróis da trama eram liderados por Batman, vivido por Adam West, e Robin, de Burt Ward. Ou seja, os mesmos do seriado cult de 1966. Superman estrelava uma franquia de filmes com o Cristopher Reeve, e a Mulher Maravilha tinha um seriado só dela, também antológico, com a Linda Carter. Por problemas com os direitos de imagem envolvendo os dois personagens, eles foram substituídos por Shazam, Canário Negro e a Caçadora. Por sinal, esses três nunca apareceram na série animada Superamigos. Outros heróis foram o Flash, o Gavião Negro (chamado de Homem Águia pelos estúdios Herbert Richers) e o Lanterna Verde. Ainda havia um herói caquético de tão idoso, Ciclone Escarlate. 

A década de 1970 tinha muita coisa estranha, mas nada como fazer uma versão live-action dos Superamigos "com sérias restrições orçamentárias" (Divulgação)

Alex Toth (1928-2006), criador do desenho Superamigos, fez um material de campanha para promover o show (Arquivo pessoal do cartunista)


Além das caracterizações toscas, o enredo era bem estapafúrdio: primeiro, eles foram vítimas de uma trama armada pelos supervilões, que armaram uma bomba para destruir o mundo e os fizeram beber uma poção feita pelo Dr. Silvana para retirar os superpoderes. Na trama, valia todo tipo de coisa para o riso fácil, até colocar Sinestro disfarçado de cigana para tentar roubar o anel do inimigo Lanterna Verde... No segundo e último episódio, após os heróis recuperarem seus poderes e darem uma lição nos inimigos bem ao estilo mambembe do show, todos participaram de um roast (típico programa de humor no estilo "show de calouros") onde os participantes eram entrevistados pelo apresentador Ed McMahon, conhecido na época. Houve a participação de um herói negro estereotipado, o "Ghetto Man", a mãe do Gavião Negro e a criminosa Tia Minerva, inimiga de Shazam. A "cereja do bolo" foi colocar o minúsculo herói Eléktron (ou Átomo), em participação especial, namorando a Giganta.

Isso foi narrado pela voz de Gary Owens, o dublador de Space Ghost e Falcão Azul, herois da Hanna-Barbera concebidos anos atrás pelo cartunista Alex Toth, criador dos Superamigos

Este festival de sandices foi esquecido, ao contrário do desenho, mas a Warner teve a coragem de lançar em DVD, em 2010. Também não fez sucesso, ficando restrito a alguns aficcionados. 

Curiosamente, a maluquice foi exibida pela NBC, enquanto a animação era transmitida pelo canal rival ABC.

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