quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma nota para o governo que vai acabar (e para os anteriores)


O governo Lula vai finalmente acabar e por isso muitos especialistas estão dando notas para o resultado de 8 anos do chefe petista no poder. 

Todos reconheceram: Lula não fez nenhuma loucura na economia. Os méritos são mais pelo que ele não fez do que pelas realizações. Ele, por exemplo, não: 
- interferiu no câmbio, que continuou flutuante; 
- mexeu nos investimentos, impondo confiscos e outras medidas tresloucadas; 
- reestatizou nenhuma empresa privatizada no governo anterior; 
- adotou nenhuma medida protecionista, e o Brasil continuou aberto às importações vindas de qualquer país. 

Isso tudo é um mérito, e poderia ser melhor se o governo tivesse cuidado melhor dos gastos públicos, isto é, do NOSSO DINHEIRO. Houve uma grande melhora na arrecadação e combate mais efetivo à sonegação, mas o expressivo aumento nos impostos foi simplesmente anulado pela ganância e avidez do aparelho estatal formado por milhares e milhares de pessoas ligadas ao governo, muitas delas ocupando cargos comissionados. 

Por falar em dinheiro público, houve escândalos demais e casos de corrupção como o mensalão e o desvio de dinheiro da saúde por "sanguessugas". A lista de desvios de dinheiro é tal que nem vou citá-las para não fazer o leitor deste blog ter vontade de esvaziar pela boca o conteúdo do estômago. Os casos de corrupção de governos anteriores também foram muito graves, mas nada se compara aos do governo atual, principalmente porque os corruptos, antigamente, costumavam agir mais "na surdina" e não se deixavam flagrar com dinheiro nas cuecas ou nas meias.

Na política externa, o Brasil tentou se impor, o que é bom, mas com forte viés ideológico, prejudicando a atuação internacional do nosso país. Gafes do Lula nas suas viagens ao exterior somadas à ação lamentável do Itamaraty diante de casos como as relações com o presidente da Bolívia Evo Morales e o ditador do Irã Mahmoud Ahmadinejad anularam, em parte, as vitórias do Brasil na defesa dos seus interesses legítimos. Lula foi o primeiro estadista a visitar países como Israel, o que é muito significativo, mas poderia ter se saído melhor se não fosse a sua tendência a falar demais e a ouvir demais os seus 'companheiros' doutrinados pelo marxismo-leninismo, trotskismo, populismo e até pelo anarquismo.

Os investimentos em necessidades básicas da população como saúde, educação, infra-estrutura e segurança foram mal gastos e insuficientes para combater efetivamente terríveis chagas na nossa história, ao contrário do que prega o governo petista. O analfabetismo funcional, isto é, a incapacidade de compreender textos escritos em manuais de instruções ou em simples cartas, ainda é muito elevado, embora seus índices tenham caído progressivamente durante a era Lula. A saúde pública e mesmo particular continua a ser uma tragédia, com vários casos de falta de atendimento e descaso. A violência nas ruas continua a fazer milhares de vítimas todos os anos, apesar da pirotecnia provocada pela ação do Bope e das Forças Armadas nas favelas do Rio de Janeiro. Nossas estradas, portos, ferrovias, continuam a ser regidas pelo acaso, com manutenção insuficiente. As fronteiras nacionais continuam a ter várias portas de entrada livres a contrabandistas, traficantes de drogas e criminosos de toda estirpe, devido à falta de fiscalização não só neste caso mas também para os serviços em geral. 

Diante dessas falhas, a distribuição de Bolsas-Família não é garantia alguma de melhoria para a população mais carente. Ela precisaria, sim, é de escolas com mais qualidade para melhor formação dos filhos, postos de saúde mais bem equipados e maiores garantias de inclusão social. A simples distribuição de Bolsas-Família, do jeito que está, representa um incremento ilusório no padrão de vida. Não dá para negar o desejo sincero do governo de acabar com a miséria no nosso país, mas a metodologia, portanto, está equivocada. Uma população sem instrução não terá condições de se manter sem ajuda alheia, ainda mais porque os bons empregos exigem qualificação.

E os dados que indicam a saúde de uma nação, como inflação e endividamento externo, ou seja, os indicadores macroeconômicos? Pelo menos isso foi administrado, e com mãos firmes. Porém, às custas de se ter uma taxa de juros reais muito elevada. Agora está em 4,8% ao ano, segundo a Folha. Liderança absoluta no mundo. 

Contudo, apesar de tudo isso, o Brasil continua a ser um país forte e íntegro. Não houve tentativa alguma de destruir a democracia por meio de tentativas de golpe (ao contrário do que dizem certos membros do PT, inclusive o presidente, e alguns jornalistas que enxergam manobras "golpistas" da imprensa). Por outro lado, o governo é que tentou cercear a imprensa e enfraquecer as instituições, felizmente sem sucesso, pois a opinião pública está suficientemente atenta para não deixar que nossa democracia ainda incipiente seja molestada. 

A nota para o governo Lula? No geral, merece nota 5,5. Foi aprovada porque a saúde da economia e a preservação das liberdades democráticas mostraram que os petistas e os corruptos não chegaram a danificar seriamente o país.

As qualidades e defeitos de Lula também pesaram. Primeiro chefe de Estado vindo da classe operária, com educação deficiente e portanto muitos tropeços na língua portuguesa, mostrou ter articulação e sagacidade, raciocínio rápido, capacidade de persuasão e carisma. Observou muito pouco os protocolos, usou palavras chulas e termos capazes de sangrar os ouvidos dos "bem-nascidos", falou o que gostava e muitas vezes teve de ouvir o que não queria. Suas opiniões sobre assuntos pelos quais mostrou pouco domínio, como a política internacional, foram constrangedores e muitas vezes não passavam de palpites infelizes, indignos de um líder de um país emergente. Demonstrou muita má vontade com as críticas, mesmo construtivas, mas não quis usar medidas ditatoriais, ao contrário de governantes amigos dele, como Hugo Chávez. A nota 5,5 mostra que Lula mereceu a aprovação e, portanto, é digno de constar entre os estadistas da História do Brasil, mas suas falhas foram bastante graves, a ponto de impedir uma nota maior do que esta.

Aproveito a avaliação deste governo para fazer uma distribuição de notas para os governantes do período pós-ditatorial: 

- José Sarney (1985-90): gastou demais em propaganda, como Lula, e a inflação alcançou índices assustadores, mesmo com vários planos econômicos que afetaram a economia brasileira (Planos Cruzado, Bresser e Verão); houve avanço nos direitos da população, principalmente após a Constituição de 1988; muita conivência com a corrupção e pouco zelo pelo dinheiro público; foi um dos apoiadores do regime militar, do qual se opunha Tancredo Neves. NOTA 4. 

- Fernando Collor de Mello (1990-92): impõs um confisco nos investimentos que lesou seriamente a economia do país e não conseguiu controlar a inflação; a corrupção foi praticada pelo governo, não se limitando à conivência, daí o pedido de impeachment em 1992; o Brasil abriu-se às importações, vendeu estatais e ganhou competitividade, mas a infra-estrutura do país continuou abandonada; na juventude, também foi beneficiário do regime militar. NOTA 3. 

- Itamar Franco (1992-4): o vice de Collor cometeu muitas gafes durante o governo, como Lula, mas houve menos tolerância à corrupção; no final do governo, houve o Plano Real, que fez derrubar finalmente a inflação; existem poucos relatos de Itamar durante o regime militar. NOTA 6. 

- Fernando Henrique Cardoso (1995-2002): o governo do PSDB tratou com mais cuidado questões como educação e gastos públicos; o Brasil ganhou pontos em competitividade externa graças às privatizações e à maior abertura econômica, e finalmente passou um período de governo inteiro com a inflação sob controle;  o Brasil passou a ter mais voz e respeito internacional; faltou zelo por parte do governo na questão da corrupção e a saúde pública continuou a não receber a devida atenção; como Lula e Dilma, foi opositor do regime militar e defendia, na época, idéias socialistas, que ele tratou de abandonar. NOTA 7.

No final do governo da Dilma, vou fazer uma avaliação parecida. Desejo ardentemente que ela obtenha uma nota melhor do que a dos governos anteriores, mas isso depende dela, e não de mim.

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