Pode parecer um paradoxo, mas existem aspectos perfeitamente contemporâneos nos mitos da Grécia antiga. Os grandes autores gregos - Homero, Ésquilo, Sófocles e outros - tentaram expressar ensinamentos e idéias por meio de seus personagens. Vários outros, anônimos, divulgaram os ensinamentos por meio da tradição oral e escrita, procurando explicar o porquê de tudo o que acontecia, e esta foi a origem da mitologia grega. E, mais de 2 000 anos depois, todos esses personagens continuam a ser muito falados e estudados, sobretudo por psicólogos, dramaturgos e até mesmo autores de novelas.
Vou fazer um pequeno apanhado desses personagens milenares tirados dos autores gregos:
- ULISSES (personagem da 'Ilíada' e da 'Odisséia', de Homero): o rei de Ítaca que participou da guerra de Tróia e depois empreendeu uma viagem a diversos lugares enquanto a sua fiel esposa tenta se desvencilhar dos vários pretendentes (interessados não só na rainha mas também no reino) representa o homem ávido de conhecimento e sempre disposto a explorar o desconhecido; muitos aventureiros e desbravadores atuais se encaixam neste mito;
- ÉDIPO (personagem de 'Édipo Rei' e 'Édipo em Colona', de Sófocles): foi rei de outra cidade grega, Tebas, e famoso por ser marido da própria mãe, Jocasta, e assassino do pai, Laio; ele não sabia de tudo isso e quando descobriu puniu-se vazando os olhos e virando um andarilho, acompanhado pela filha Antígona (fruto do casamento incestuoso de Édipo); este personagem, também conhecido por decifrar o famoso enigma da esfinge, foi estudado por Freud em pleno século XX, ao analisar pacientes com fixação sexual pela própria mãe; esse mito virou até tema de uma novela da Globo em 1987 (apesar de ser do grande Dias Gomes, era muito ruim, e só continua sendo lembrada por causa da Jocasta da Vera Fischer);
- ELEKTRA (personagem de uma peça do mesmo nome de Sófocles): é uma personagem antítese de Édipo, pois ela tinha desejo sexual pelo pai, o rei Agamenmon de Argos, chefe dos gregos durante a Guerra de Tróia; sedenta de vingança pelo assassinato do pai, ela instigou o irmão a matar a mãe de ambos, Clytemnestra, que traía Agamenmon; seu amante, Egisto, foi o responsável pelo crime;
- CASSANDRA (personagem da Ilíada de Homero): ela era a filha do rei Príamo de Tróia, com a capacidade de descobrir a verdade dos fatos que a cercavam; porém, toda vez que ela fazia suas revelações, ninguém acreditava nela, até que surgiu o episódio do Cavalo de Tróia; a infeliz princesa alertou sobre o perigo dessa armadilha grega, mas os troianos zombaram dela e consideraram louca; no final, Tróia foi destruída e por pouco Cassandra não teve o destino do seu pai, morto pelos gregos (foi tratada como escrava do rei Agamenmon, depois ela conseguiu fugir da Grécia após o assassinato do déspota); o mito de Cassandra lembra muita gente cujas idéias são postas em descrédito, mas que acabaram vingando, ou então fontes de informações postas para serem marginalizadas e ridicularizadas até serem finalmente consideradas verdadeiras, como num caso recente envolvendo um site famoso;
- HELENA (personagem da Ilíada de Homero): a musa da Ilíada foi a noiva do rei de Esparta, Menelau, até ser raptada pelo príncipe Páris, causando a famigerada guerra de Tróia; sua beleza encantava tanto os gregos quanto os troianos, e reforçava a idéia segundo a qual a figura feminina foi a causa do sofrimento e do infortúnio; outro mito parecido, apócrifo, foi o de Pandora, que abriu a caixa cujo conteúdo eram todos os males do mundo;
- MEDÉIA (personagem da tragédia homônima de Eurípedes): a princesa mística da Cólquida, um país extinto da Ásia Menor perto das montanhas do Cáucaso, foi um caso violento de vingança contra seu marido, Jasão, matando todos os seus filhos; é a representação de um amor destrutivo e carregado de ciúme e ressentimento.
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