quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Balanço do primeiro ano

O ano que está se esvaindo mostrou aspectos positivos e negativos para a presidente Dilma Rousseff. 

Após tomar posse, a primeira mulher a ocupar a Presidência da República passou por um ano difícil. Mas já é possível prever que o Brasil vai sobreviver a ela, apesar de tudo. 

 2011 deu muito trabalho à nossa presidentA

Os pontos negativos foram muitos, mas não o suficiente para destruir o Brasil. Ei-los:

Primeiro: Ela agradou o quanto podia o PT, o PMDB, o PR, o PDT e outros partidos aliados, em nome da "governabilidade". É certo que, com uma maioria no Congresso, é mais fácil governar, mas tais aliados mostraram ser, em boa parte, culpados por todos os escândalos políticos do governo. Nada menos que seis ministros escolhidos pela base aliada e por Lula mostraram o seu poder de estragar a administração Dilma. Deram-lhe maior ou menor trabalho, mas nunca foi pouco. Os piores foram o ministro dos Esportes, Orlando Silva (PCdoB), e do Trabalho, Carlos Lupi (PDT). Os dois recorreram a bravatas para mostrar sua vontade de não se apartarem do poder, e foram acusados de graves delitos envolvendo ONGs e tráfico de influência. Outro caso sério foi Antônio Palocci (PT), da Casa Civil, reincidente em atos alheios à dignidade de seu cargo. Ele teria aumentado de forma anormal seu patrimônio, de R$ 375 mil em 2006 para R$ 7,5 milhões. O caso ainda não foi explicado como deveria, mas Palocci desde junho não é mais ministro. 

Segundo: O Brasil está mal no IDH, o índice de desenvolvimento humano, no qual ocupa o vergonhoso octagésimo quarto lugar. Apesar da "Bolsa Família", é difícil acreditar numa melhora. Isso tudo é por conta da educação muito deficiente, analfabetismo funcional, saúde pública catastrófica e avanços ainda pouco consistentes em infra-estrutura e saneamento básico; não há dúvida que os brasileiros estão vivendo melhor, ou menos pior, mas as políticas sociais da presidente ainda não garantem, nem a longo prazo, o ingresso do país entre as nações desenvolvidas. 

Terceiro: Dilma teve de se comprometer com as obras da Copa do Mundo de 2014 e com as Olimpíadas de 2016, mas o ritmo das obras, além de lento, está marcado por fortes suspeitas de desvio de dinheiro e superfaturamento (mais uma vez, o crônico problema da corrupção). Para piorar, a Lei Geral da Copa está demorando para sair, e se fizer muitas concessões à Fifa, farão a Constituição em pedacinhos. 

Quarto: As polêmicas ambientais lançaram mais confusão do que certezas. O Código Florestal é um amontoado de leis que favorecem demais os grandes produtores rurais em detrimento das áreas a serem preservadas para manutenção da biodiversidade e do abastecimento de água (mananciais e nascentes). Para piorar, a responsabilidade pelo esclarecimento à população caiu nas mãos de leigos, isto é, de artistas e outras pessoas estranhas à questão ambiental, como Fernando Meirelles, por meio de seus vídeos. Outro ponto polêmico foi a construção de usinas hidrelétricas em locais como a Amazônia, e mais uma vez o caminho seguido foi errado, com mais artistas e poucos técnicos para tentar explicar os impactos de Belo Monte e outras futuras fontes de energia. O que fez Dilma? Ela aparentemente não se interessa muito pela questão ambiental e deixou os acontecimentos fluirem. 

Quinto: A segurança pública continua a ser um dos pontos mais frágeis do governo. Se há uma política de segurança, ela ainda não surtiu efeito, pois muitos crimes, alguns deles escandalosos, foram cometidos neste ano. O poder público foi inútil para deter o avanço de novas drogas, como o óxi, pior do que o crack. A crônica lentidão da justiça mais a infame lei que não pune mais com a cadeia crimes puníveis com menos de 4 anos de prisão aumentaram a sensação de impunidade, já enorme entre os brasileiros.


Agora, as coisas não tão ruins assim:

Primeiro: A economia do Brasil deu mostras de solidez diante da crise econômica internacional e segue o caminho do crescimento, embora pudesse fazer isso de maneira menos tatibitate. O governo está inchado e entende de forma bem peculiar o significado de 'responsabilidade fiscal', e isso se refletiu num PIB de pouco mais de 3% no ano e uma inflação pouco acima do teto da média. Pode-se culpar, mas só em parte, a crise. Apesar de tudo, o Brasil terminou o ano como a sexta maior economia do mundo, maior até que a do Reino Unido. Não se pode deixar de comemorar este fato, mas também não se pode esquecer dos motivos: os países ricos estão em crise e houve retração no PIB (a famosa recessão) em muitos deles.

Segundo: Dilma corrigiu em parte a capenga política externa de Lula, que acertou em fazer o Brasil aparecer mais no mundo mas errou em fazê-lo da pior maneira possível, cortejando tiranos como Gaddafi, Hugo Chavez e Ahmadinejad por similaridades ideológicas. Agora o Brasil não diz mais amém às atrocidades do Irã, um país que oprime as mulheres (assim como todas as nações muçulmanas com exceção da Turquia) e procura agir de forma mais prudente nas questões internacionais, principalmente ao lidar com EUA, China e Europa. Também a sobriedade está no lugar da indiscrição lulista. Ainda resta um forte ranço ideológico ao se abstiver na questão síria, apesar de todas as evidências de genocídio perpetradas pelo ditador Bashar al-Assad, e continuar a tratar bastante cordialmente o caudilho da Venezuela. Um ponto a favor de Dilma foi seu discurso na abertura da Assembléia Geral da ONU, em setembro.

Terceiro: O perfil de gerentona austera garantiu boa presença de Dilma junto ao povo. Apesar das broncas dadas aos seus subordinados não serem uma garantia de qualidade, elas garantem uma imagem de menos conivência com a roubalheira.

Quarto: O último ponto trata da redução da miséria, um dos males crônicos do Brasil. Lula reduziu significativamente o número de pessoas passando fome, e Dilma continuou essa política social. A miséria extrema pode vir a ser algo administrável no curto prazo, mas é necessário garantir educação, moradia e saúde pública de qualidade para essas pessoas, e isso infelizmente ainda não existe.


Resumindo: o primeiro ano de Dilma poderia ser bem melhor. Mas não foi um desastre.

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