quarta-feira, 29 de maio de 2013

Os 100 anos de uma música revolucionária

2013 marca o bicentenário de nascimento de dois compositores eruditos que marcaram a música ocidental, particularmente o repertório lírico: o alemão Richard Wagner, criador de Tristan und Isolde e da tetralogia O Anel dos Nibelungos  e Giuseppe Verdi, autor da Aída e La Traviata

Isto muitos apreciadores da música erudita já sabem. Porém, existe outro evento menos lembrado: os 100 anos de uma composição impressionante, até hoje: é a Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky. 

Igor Stravinsky (1882-1971), um dos maiores compositores do século passado

Esta composição causou espanto, vaias, manifestações de ira, ao ser tocada pela primeira vez em 29 de maio de 1913, no Teatro dos Campos Elísios (Théâtre des Champs-Élysées), em Paris. Dizem que o compositor russo teve de sair em meio à revolta e depois comemorou a repercussão.

Ironicamente, trata-se de um balé, mas não aqueles balés do século XIX, feitos por Tchaikovsky (Lago dos Cisnes, Quebra-Nozes), atualmente postos no ridículo devido ao romantismo meloso, postura anti-natural das bailarinas e afeminada dos bailarinos.

O que Stravinsky fez foi muito diferente. Ele praticamente obrigou os Ballets Russes, comandados por Sergei Diaghlev e estrelados pelo lendário Nijinsky, a se tornarem "selvagens" no palco, representando toda a força da natureza. Não é o primeiro trabalho do compositor com o grupo: eles já haviam feito junto O Pássaro de Fogo e Petrushka, que também causaram estranheza e já afrontavam os ouvidos acostumados com as músicas "certinhas" da época.

A música começa com o tocar agudo de um instrumento normalmente usado somente para notas graves, o fagote (aquele instrumento de sopros grande que parece uma tora de madeira). Só isso fez um compositor da época, o francês Camille Saint-Saens, sair escandalizado do recinto. Depois de um início mais ou menos calmo, de repente a orquestra enlouquece com sons fortes e raivosos, e os bailarinos acompanham com gestos bruscos e igualmente "doidos". Passam a representar tribos pré-históricas. O clímax acontece no segundo e último ato, quando existe uma representação (alegórica) de sacrifício humano. E aí não se poupa trabalho para o dançarino que interpreta a vítima, com suas piruetas frenéticas, e nem para a orquestra, principalmente na percussão e nos sopros. O detalhe que deixa a obra ainda mais "esquisita" é a vítima, no caso, ser uma virgem. Originalmente quem fez o papel foi Nijinksy. Em interpretações modernas, o papel da virgem é interpretado por uma mulher.

Depois da péssima recepção inicial, o público foi se acostumando com a ousadia. Contribuíram para isso novas músicas, vindas de outros compositores (o francês Ravel, o italiano Respighi, o húngaro Bela Bartok) e na constatação de que A Sagração da Primavera não foi a mais dura afronta contra a música tradicional, e sim o sistema conhecido como serialismo ou dodecafonismo (onde as doze notas musicais - sim, são doze e não sete, como se aprende no ensino fundamental - são tratadas de maneira não-hierárquica e elaboradas de uma forma extremamente complexa), criado por Arnold Schönberg.

Melhor do que falar sobre uma música é ouví-la (clique AQUI).

2013 é um ano bastante propício à audição dessa obra e também das composições de Verdi, Wagner e também Benjamim Britten, compositor modernista inglês nascido há cem anos atrás, considerado o maior músico erudito da Inglaterra nos últimos 300 anos. Aquele país é mais conhecido por causa do pop e do rock'n roll

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