O clima de Carnaval está se dissipando. Ainda se fala da apuração na Sapucaí, da comemoração da Unidos da Tijuca, que ano sim, ano não, ganha um título com seu desfile espetacular, principalmente na comissão de frente. Mas agora tratemos de voltar à realidade. E ela é dura, assolada por vários motivos, entre os quais o risco iminente de faltar água.
Segundo a Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp), o desperdício hídrico em São Paulo, estado que agora enfrenta uma grande crise de abastecimento, é de 32,1%. Ou seja, de cada 100 litros que deveriam chegar às fontes de consumo (residências, fábricas, lavouras), menos de 68 chegam até o destino. Outros 32 litros se perdem, por falta de manutenção ou desvios provocados por moradias em situação irregular (os "gatos").
Isso tudo sem considerar o mau uso de boa parte da água que consegue chegar às residências, em banhos demorados demais e limpezas de calçadas com mangueiras. Ou, nas indústrias, devido aos métodos pouco eficientes para reaproveitamento da água consumida. A água está precisando urgentemente ser tratada como bem precioso que é. Mas estamos falando de água que não é usada por ninguém, e isso mereceria outro post.
Alguns podem alegar que 32,1% é abaixo da média no Brasil - 38,8%, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento - mas comemorar esse fato é um sinal de alguém que precisa de tratamento psiquiátrico. Nos Estados Unidos, o desperdício é em torno de 15%. Falar do excesso de consumo dos americanos é também algo para outra postagem, mas pelo menos muito mais água chega para ser usada. Na França, as perdas são de 9%, e no Japão, país com escassez crônica de quaisquer recursos, não passa de 4%. E nesses países os cidadãos não estão nada satisfeitos.
Diminuir o enorme desperdício no Brasil é um desafio. A correta manutenção dos encanamentos, válvulas e tubulações do sistema de distribuição é necessária mas não suficiente. Diminuir a incidência de "gatos" implicaria em mandar desocupar várias moradias irregulares, e isso não é uma medida nada popular, mas tudo isso é porque o poder público não consegue ou não quer evitar a ocupação irregular e a exploração eleitoral desses novos "bairros". Acidentes como, por exemplo, o rompimento de tubulações subterrâneas devido a obras, precisam ser enfrentados com planejamento e estudo do terreno.
A meta das autoridades paulistas é baixar o desperdício para 20%, uma meta palpável a médio prazo, mas ainda é elevadíssima. Enquanto isso, o sistema Cantareira continua a ter seus níveis de água cada vez menores. Agora, são 16%.
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