segunda-feira, 19 de maio de 2014

Por que o Brasil não tem condições de ser uma Suíça?

Na Suíça, país dos sonhos de muita gente, não há miséria e nem violência. Os diversos grupos linguísticos que vivem naquele diminuto país de 41 000 quilômetros quadrados vivem em paz e harmonia. Quando há algo relevante para o país, eles sempre consultam o povo. É uma democracia, onde os cidadãos decidem e os políticos são obrigados a obedecê-los. 

Por que o Brasil não poderia adotar esse modelo?

Em primeiro lugar, porque a desigualdade social no Brasil é um desafio imenso. 10% têm padrão de vida semelhante ao país europeu, mas uma porcentagem maior (cerca de 22 milhões) é dependente do Bolsa Esmola, aliás, do Bolsa Família, sem falar de outros tantos que nem aparecem nas estatísticas e estão vivendo em condições deploráveis. Seriam necessários séculos para o Brasil atingir o patamar suíço de riqueza, mas para isso o nosso país teria que ter um crescimento econômico equivalente ao registrado na China, todo santo ano e sem exceção. 

Temos também uma diversidade cultural ainda maior do que na Suíça, apesar da língua oficial ser o português, enquanto na Suíça existem quatro línguas: o alemão, o francês, o italiano (no cantão de Ticino) e uma variante estranha do latim (no cantão oriental dos Grisões). Mesmo assim, o preconceito e o "bairrismo" paroquial impedem maior integração dos brasileiros, enquanto é difícil sequer encontrar uma piada de suíço de Zurich contra um suíço de Genebra (que falam idiomas diferentes), e vice-versa. 

O tipo de democracia na Suíça é o semi-direto, onde os cidadãos são consultados após as decisões políticas. Basta um pequeno grupo de 50 000 suíços exigir um referendo, que ele será feito. Referendos são feitos numa frequência de quatro vezes por anos, aproximadamente. Isso seria impraticável no Brasil, onde existe a democracia representativa, hegemônica em países grandes, pois a democracia direta só foi testada com êxito em territórios pequenos. Nosso país é imenso, enquanto a Suíça é um naco de terra montanhosa. 

Fazer referendos a cada assunto importante seria caro e trabalhoso. O Brasil ainda não tem condições de fazer isso, mesmo porque é um país ainda muito mal integrado, com estradas precaríssimas e telecomunicações ainda necessitadas de muito investimento. Existem estados no Brasil em extrema indigência como Piauí, Maranhão e Alagoas, enquanto boa parte do Sul, Sudeste e Centro-Oeste está em situação bem melhor. Nos cantões (espécie de micro-estados) do país alpino não se vêem grandes diferenças, e eles estão ligados por ferrovias e rodovias eficientes e sólida rede de telecomunicações. 

Na Suíça, as necessidades são satisfeitas facilmente porque o país possui uma renda per capita de US$ 75 000 em números redondos, que não é a mais alta do mundo como muitos pensam (na Noruega a renda anual é de US$ 86 000 segundo uma avaliação de 2010). Mesmo assim eles estão preocupados com o custo de vida altíssimo e o baixo crescimento econômico, de míseros 2% ao ano em 2013. É algo preocupante até mesmo lá. 

Ontem, houve o referendo que recusou o salário mínimo de 22 francos suíços por hora, ou aproximadamente 18 euros (e mais de R$ 54,00). Isso daria aproximadamente R$ 10 000,00 por mês, uma ninharia para os padrões locais mas equivalente a cerca de 13 salários mínimos brasileiros, garantindo um padrão classe média-alta por aqui. Eles estão preocupados com o risco de desemprego aumentar, devido ao aumento dos gastos das empresas. Também o povo rejeitou a compra dos jatos militares suecos Gripen, os mesmos comprados pelo governo brasileiro sem a "necessidade" de nos consultar. Acharam os aparelhos muito caros: 22 deles custando quase US$ 10 bilhões, um desperdício de dinheiro público segundo o povo de lá, atualmente com risco quase zero de serem atacados por alguma ameaça externa (fora o terrorismo). 

Se houvesse condições de fazer referendos por aqui, as decisões iriam refletir carências locais, como a falta de escolas e creches em João Pessoa, na Paraíba, que não despertariam interesse em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e isso é fato. Ou então reflexo de interesses paroquiais como a criação de novos Estados. O Pará fez um referendo para a criação de novos Estados, e para o alívio dos que prezam o NOSSO DINHEIRO a proposta foi rejeitada. 

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