terça-feira, 4 de novembro de 2014

Dois casos de insanidade política

Vários setores políticos parecem ter perdido o pudor e, com ele, o bom senso. 

Por um lado, a direção nacional do PT divulgou um documento que deixa bem clara a não aceitação da decisão do Congresso sobre o plebiscito para a reforma política. No documentos, eles também defendem a "mídia democrática" e a "revolução cultural". (ler AQUI)

Sobre "mídia democrática", entende-se por combate aos grandes grupos de mídia, vistos pelos petistas como lacaios do conservadorismo e do anti-petismo. Eles propõem algo diferente da imprensa atuante nos países desenvolvidos, e mais semelhante ao sistema chinês, onde a imprensa é controlada pelo "governo popular". 

Por falar em China, a "revolução cultural" já foi tentada por lá, e gerou, de fato, um ódio contra a cultura e a perseguição aos intelectuais dissidentes. Essa "revolução" foi chefiada pela esposa de Mao Zedong, Jiang Qing, a líder da "gangue dos quatro". Depois da morte de Mao, o novo dirigente mandou prender Qing e seus seguidores. Ela só ganhou a liberdade em 1991, para se matar em seguida. O conteúdo da "revolução cultural" brasileira não está claro, mas se fizerem algo parecido com o fiasco chinês, poderão fazer um estrago enorme no Brasil, inclusive no próprio PT. 

Eles também escrevem sobre a "direita" (isto é, todos aqueles que se opõem ao PT, visto como "reacionários"), Aécio Neves (praticamente satanizado como machista, preconceituoso e saudosista da ditadura militar), e o conceito de governo democrático popular. Isso lembra que o nome oficial de um país muito conhecido da Ásia é "República Democrática Popular da Coréia". Não se trata da desenvolvida Coréia do Sul, e sim de seu vizinho pobre e tiranizado que já integrou o mesmo país antes da Guerra Fria. 

Por outro lado, existem supostas petições anti-Dilma na Internet pedindo a intervenção norte-americana. Uma delas pede investigações do FBI na Petrobras. Outra pede ações de Washington contra a "expansão bolivariana e comunista" no país. O governo norte-americano já se pronunciou contra esta última petição, assinada por 123 mil pessoas. Não se trata de cumplicidade com o governo Dilma, mas é questão de respeito à soberania de uma nação enorme, complexa e não tão degenerada como pensam esses milhares de nomes que temem o "bolivarianismo". Alguns desses radicais participaram das manifestações do último sábado, mas eram minoria. A maioria queria simplesmente protestar contra a corrupção e os desmandos do atual governo, que cometeu erros gravíssimos, como a deterioração da Petrobras para financiar o partido dito "dos trabalhadores" e seus aliados e, portanto, é considerado digno de um processo de impeachment, algo totalmente diferente de uma intervenção militar e já posta em prática em 1992, para tirar Fernando Collor do poder (*).

Os defensores de uma intervenção militar imaginam que o Brasil ficaria livre da corrupção e da ameaça "esquerdista", mas têm uma visão equivocada do regime militar, responsável pelo amordaçamento do país e o favorecimento de lideranças políticas carreiristas, enquanto outras, com ideias mais arejadas, eram obrigadas a se exilarem. Se os militares voltarem, quem seria beneficiado? Teríamos liberdade para protestar contra os desmandos - pois não existem governos perfeitos e infalíveis - de um hipotético regime discricionário?

Todas essas manifestações de pensamento vindas do fígado e não do cérebro são reflexo da polarização entre os defensores do PT e a oposição, cujo maior sinal foi a votação apenas ligeiramente superior de Dilma Roussef em relação a Aécio Neves. 


(*) Muitos apoiadores de Dilma foram a favor do impeachment de Collor, que não foi evidentemente um ato golpista, e perdem a calma quando alguém propõe algo semelhante para o governo atual, que, paradoxalmente, tem Collor como aliado. 

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