segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Os protestos (e também Ferreira Gullar)

Quem achou que a sociedade ia ficar contente apenas com o impeachment de Dilma Rousseff, enganou-se redondamente. 

Milhares de pessoas deram seu recado. Estão achando que o Congresso Nacional ainda está infestado de deputados e senadores que não honram seus cargos e merecem ser punidos quando a Justiça formalizar as provas contra eles. 

Muita gente está cansada de tanta rapina, tanta desfaçatez e tantos maus feitos. Rejeitaram o que consideravam manobras de autodefesa contra as iniciativas para combater o parasitismo contra NOSSO DINHEIRO, desfigurando as medidas anticorrupção em votações na madrugada. E protestou pacificamente, sem quebra-quebra, mesmo aqueles que defendem pautas absurdas como a "intervenção militar" (QUE É GOLPE!) ou casuísticas, como a antecipação de eleições diretas sem respaldo constitucional - como fizeram alguns simpatizantes do antigo governo. 

Abaixo, algumas fotos dos protestos: 

Pelo menos 15 mil pessoas lotaram a Paulista contra a corrupção e a favor da Lava Jato (Miguel Schincariol/AFP)

Uma faixa gigante contra a corrupção no nosso parlamento (Miguel Schincariol/AFP)


Em Copacabana, no Rio, multidões foram às ruas (Divulgação)

Muitos também se reuniram em Salvador contra a roubalheira (Raul Seinassé/A Tarde)

No Recife, a palavra de ordem (Fernando Machado)

Em Brasília, os protestos no espelho d'água próximo ao Congresso (divulgação)

Milhares se reuniram em frente ao Congresso (Tomaz Silva/Ag. Brasil)

O Congresso precisa ouvir seus eleitores e ser menos tolerante com as violações à lei. Precisa fazer o seu trabalho para defender o povo e não para defender-se dele. 

Isso não significa referendar eventuais abusos por parte do Judiciário e do Ministério Público, que precisam impor a lei e, ao mesmo tempo, obedecer a ela e não caírem na tentação de culpar investigados sem provas ou se acharem os únicos a terem condições de salvarem o país. O povo já se deu muito mal ao querer um salvador da pátria, como ocorreu em 1989, durante as eleições presidenciais. Além disso, também existe muita corrupção e privilégios absurdos entre alguns juízes e procuradores também. Assim como no Executivo e no Legislativo, existem servidores do Judiciário ganhando supersalários. 

Enquanto a multidão demonstrava sua revolta, um grande brasileiro faleceu: Ferreira Gullar, um dos grandes escritores da nossa literatura. Ele foi o autor de Poema Sujo, marco do neoconcretismo, e também de uma canção famosa de Fagner (Borbulhas de Amor). Musicou em versos o Trenzinho do Caipira, das Bachianas Brasileiras N. 2, compostas por Villa-Lobos. Recebeu dezenas de prêmios. Foi ícone da chamada "esquerda" por se opor à ditadura militar e defender o socialismo. Nos últimos tempos, mostrou indignação também contra o governo Lula, por sua falta de ética. 

O poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-2016) (El País)
Abaixo, os versos do Trenzinho: 

Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar no ar no ar no ar no ar
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra
Vai pelo mar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar

No ar no ar no ar

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