Em meio ao jogo de empurra entre o governo amazonense, o Ministério da Justiça, a administradora do presídio em Manaus onde 59 presos foram trucidados, num sinal de que não há inocentes entre os personagens desta história, o governo federal finalmente se pronunciou, para qualificar o fato como "acidente pavoroso".
Michel Temer deu um significado pouco usual ao termo, empregado para casos onde houve imprudência, imperícia, negligência ou algum desastre envolvendo agente não humano (animais, árvores, edificações, fenômenos da natureza). Não se costuma chamar um ato doloso, onde as facções envolvidas tinham evidente intenção de matar seus oponentes, de "acidente".
É bem diferente de um incêndio, como o ocorrido numa fábrica da Vale Fertilizantes em Cubatão, de um capotamento de ônibus em Campo Mourão onde sete pessoas morreram e outras 35 ficaram feridas, de um raio cair em um competidor da Rali Dakar (a vítima sobreviveu e se recuperou para completar a prova, no norte da Argentina).
Muitos fizeram críticas ao uso da palavra para designar aquele crime que repercutiu no mundo inteiro, e os adversários de Temer chegaram a dizer que "acidente pavoroso é o senhor (Temer) ser presidente", como chegou a escrever Fernando Brito, jornalista do Tijolaço e defensor da surrada teoria do "golpe".
O presidente da República já havia sido criticado por ter demorado demais em se manifestar sobre a barbárie ocorrida no último dia 2, quando o clima festivo de réveillon ainda não havia se dissipado.
Este infeliz detalhe no pronunciamento de Temer é mais um mau uso das palavras. Todos nós precisamos tomar cuidado com elas.
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