quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

De Midas a Sadim

Nos últimos dias, tivemos de aguentar uma torrente de notícias ruins, ou no mínimo desagradáveis, e não só os atos do presidente americano Donald Trump. Febre amarela voltando a nos atacar, bala perdida matando crianças de novo, Brasil péssimo como sempre no mais novo ranking da corrupção, o AVC da Marisa (não deixa de ser uma notícia desagradável e digna de lamento, mesmo sendo ela esposa do ex-presidente Lula) e até o Usain Bolt perdeu uma medalha de ouro por culpa de seu companheiro pego no doping

No meio disso tudo, a derrocada na vida de um ex-mega bilionário, que parecia transformar tudo em ouro ao se tornar o homem mais rico do Brasil, e depois, como se fosse o oposto, perder quase tudo. Graças à Polícia Federal, por ordem do delegado Marcelo Bretas - responsável pela prisão do ex-governador Sérgio Cabral - ele irá também perder a liberdade, ainda que por alguns dias. 

Eike Batista em foto emblemática (divulgação)
Eike Batista, o Sadim (Midas, de trás para a frente) tupiniquim, vai ter de cumprir prisão temporária pois é alvo de várias investigações, como ajuda financeira milionária ilegal a Sérgio Cabral Filho (a velha propina, no valor de R$ 16 milhões em 2010, quando isso ainda era pouco para Eike). Seu ex-sócio da empresa EBX, e agora vice-presidente do Flamengo, Flávio Godinho, também foi detido para cumprir prisão temporária, até Bretas dar a ordem para soltá-lo. 

Não era para ser dessa forma a vida de quem já teve cerca de US$ 34 BILHÕES em 2012. Segundo consta, ele começou a enriquecer explorando ouro, como garimpeiro.

Abandonara a faculdade de engenharia na Alemanha.

Conseguiu o suficiente para investir em máquinas de extração do precioso metal amarelo, tornando-se magnata e dono de minas. Foi o marido da Luma de Oliveira, musa dos anos 1980 e 1990, Cansou-se do negócio de ouro e partiu para o minério de ferro, fundando a MMX. Depois, para exploração de energia termoelétrica, a MPX. Aventurou-se também no petróleo, fundando a OGX, inicialmente como empresa virtual mais tarde, com grande alarde, estreante no mercado de ações (em 2008, auge da era Lula), antes de ser de fato uma petroleira (e um calcanhar de Aquiles, como se pode notar mais adiante). Essas empresas X, no entanto, nunca tinham o poderio econômico da Vale e da Petrobras, e mesmo assim Eike, milagrosamente, ficava cada vez mais rico. Foi diversificar os negócios, indo para o escoamento de minérios via portos de navios. Fez a LLX. Criou também a CCX, para extrair o carvão necessário para a MPX continuar a produzir energia elétrica e a MMX beneficiar o ferro. Também fundou a OSX, estaleiro para construir navios transportadores de petróleo.

Por contar com um império autossuficiente na extração de minérios, sempre segundo fontes oficiais, Eike se tornou o homem mais rico do Brasil. Parecia ter o toque do lendário rei Midas.

Mas o mercado estava atento aos acontecimentos. A OGX ainda era uma empresa que, na prática, não funcionava, apesar da grande movimentação na Bovespa. Só se tornou operacional em 2013, e se tornou a maldição que tornou o Midas um Sadim: 25% apenas na produção de petróleo, e prejuízo de mais de R$ 800 milhões. As ações da OGX derreteram naquele ano. Investidores se viram lesados ao colocar dinheiro numa petroleira sem futuro, e houve fuga de capitais em outras empresas "X". Eike foi deixando de ser um bilionário.

Em 2015, após vender boa parte de seu patrimônio, a OGX ficou em regime de recuperação judicial.  Boa parte do que restou de seus bens foram bloqueados, inclusive uma Lamborghini, como garantia de pagamento aos credores. Era o fim do império de Eike. (*)

Ainda havia alguns realces: quando Eike enriqueceu, ele tinha relações políticas com o ex-governador Sérgio Cabral Filho, financiando sua campanha pela reeleição em 2010 (R$ 750 mil devidamente declarados ao TSE). Ofereceu-se para participar de uma licitação pela reforma do Hotel Glória, venceu mas não entregou a obra pronta a tempo de entregá-la antes da Copa do Mundo, evento que ocorreu - com suas tempestuosas consequências, dentro e fora dos estádios - graças ao empenho de Lula, com quem é acusado de ter relações também muito próximas. Seu nome está ligado a acusações de propina envolvendo o mercado de navios petroleiros, e também no financiamento de campanhas de forma clandestina, como provavelmente foi o caso de 2014. Isso teria a ver com o depoimento do ex-bilionário em 2016 denunciando Guido Mantega por este supostamente cobrar ajuda financeira para o Partido dos Trabalhadores, quando ainda estava no auge da riqueza (2012). Naquela época, o PT já trabalhava para tentar a reeleição de Dilma Rousseff.

São estas relações com o poder que o levarão a uma prisão temporária - e, talvez, à cadeia por um tempo bem maior do que alguns dias. Como foi escrito no meio dessa postagem, ele abandonou a faculdade. Dessa forma, ele pode até ser colocado numa cela comum. Pobre ex-bilionário!



(*) Este seria o resumo de um conto da carochinha, tendo certas semelhanças com a história de outro grande magnata, o Barão de Mauá, para muitos considerado um precursor do empreendedorismo no Brasil e o primeiro impulsionador do progresso tecnológico numa época pós-colonial, meados do século XIX, criando indústrias para fundição de ferro e produção de trilhos, ferrovias, postes para iluminação artificial, peças mecânicas e navios transportadores de café. Também faliu depois de ter seu próprio - e deficitário - banco, somado ao envolvimento político até em países vizinhos, entraves enormes para a industrialização e construção de navios em solo brasileiro, e às ações de seus inimigos, desacostumados à ideia de transformar o agrário Brasil numa nação capitalista. Mauá, promovido a visconde, perdeu aos poucos seu império e sofreu para saldar todas as suas dívidas antes de morrer em 1889. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário